O nosso pragmatismo queixoso

Um dos atos exigidos para o exercício eficiente da política é o da escolha do melhor discurso, ou seja um discurso que se adeque aos anseios da maioria da população. Cobramos, a população da qual constantemente esquecemos fazer parte, coerência no discurso político que é, ironicamente, baseado e calcado na “voz das ruas”.

Pois bem, num primeiro momento, a fala de Marina sobre “chavismo do PT” seria um mau começo. Digo seria, pois não creio que a sua aliança com Campos vá privilegiar esta via. Campos tem sido cuidadoso neste sentido. Ele parece perceber que os seus votos não virão majoritariamente de eleitores do PSDB. Sua trajetória política está intimamente ligada ao PT. Creio que aposta em parte dos eleitores do PT que estão insatisfeitos, mas não enxergam no PSDB uma alternativa possível.

Ora, Marina e Campos estão numa enrascada. Campos controla o partido e Marina, até aqui, tem a preferência nas pesquisas (o que é diferente de tê-las na urna!). Qual será o discurso que prevalecerá? Creio que este assunto terá feito parte do processo de filiação de Marina Silva no PSB.

Embora, segundo fala do aliado Sirkis, Marina “As vezes falha com operadora política comete equívocos de avaliação estratégica e tática, cultiva um processo decisório ad hoc e caótico e acaba só conseguindo trabalhar direito com seus incondicionais”, ela não está mais entre seus “incondicionais”. Sua fala sobre o “chavismo do PT” deve contar com o aval de Campos.

Observamos então, possivelmente, uma espécie de aplicação da política do morde assopra. Marina ficaria com o morde e Campos com o assopra. A Marina cabe atrair o espectro mais à direita e Campos o à esquerda. Tenta-se então, algo que me parece difícil, de agradar a petistas e a esquerda descontente (Campos) e a um espectro de centro direita (Marina). Uma espécie de retomada da ideia presente na aliança PSD e PTB em torno de Getúlio? Em torno de qual nome será esta nova aliança? Qual dos dois será capaz de superar o ego?

Na realidade, Campos se mostra um aplicado aluno de Lula. Sabe da impossibilidade de crescer suficientemente, para almejar voos mais altos, assumindo um discurso radicalmente à esquerda. O Brasil hoje, apoia um governo com viés social mas mantém, em parte, fidelidade a uma grande parte do discurso conservador. Isto se verifica em questões como a valorização das trajetórias individuais, conservadorismo nas questões religiosas, uma certa rigidez moralista que não encontra correspondência na prática cotidiana. Uma contradição entre uma excessiva preocupação com a violência e a prática cotidiana da mesma, uma cobrança enorme do estado combinada com nenhuma contribuição concreta à ele.

Como insistir que queremos o novo se oferecemos, concretamente, enorme resistência à ele? Permanecemos fiéis e, ambiguamente, críticos a uma pragmatismo que consegue colocar em um mesmo campo políticas opostas e conflitantes. A esquerda brasileira continua dependendo do “aval” de uma direita retrógrada e ou de uma figura “neutra”: O velho PP de Maluf, o PSD atual de Kassab, a Rede Sustentabilidade de Marina e a miscelânea de todos estas tendências alojadas no limbo do PMDB. 

Redação

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