O novo no Brasil passa pela inclusão social e pela maturidade da classe média, por Assis Ribeiro

Por Assis Ribeiro

Comentário ao post “O xadrez da Carta aos Brasileiros de Dilma”

O novo no Brasil passa pelo velho, testado e aprovado, modelo da social democracia.
 
Muito se debate sobre o que pode advir para que o Brasil avance. Uns apostam na ruptura, outros em um pacto.
 
Formulações de projetos, não são achados, nem passes de mágica. Para vislumbrar o que seria o “princípio” há que se perguntar o que nos falta, as carências e vazios; e imprescindível perscrutar a história na busca do que democracias mais avançadas realizaram para alavancar os seus desenvolvimentos.
 
Há, de logo, algumas constatações que afloram de forma clara e que não fazem parte, pelo menos como condição princípua, do debate, e que diferenciam o Brasil das democracias referenciais:
 
Injustiça social, desequilíbrio abissal entre classes, – o estudado modelo “casa grande e senzala”, desprezado na formulação de planejamentos, e que impede a realização de pactos sérios e profundos. Podemos apontar o indicador e citar a falta das reformas de base, ou reformas estruturantes, as reconhecidas como imprescindíveis desde antes da ditadura, as reformas fiscal e tributária, a reforma política e todas aquelas que modifiquem a estrutura colonialista e coronelista da nossa sociedade.

 
Fica claro até para qualquer amador que nossa economia não evoluiu de sua base no setor primário, de fornecedores de commodities, desde o Brasil colônia.
 
Fica claro o conhecimento de que continuamos sendo uma sociedade de divisão classista injusta e predatória, mesmo estando entre as dez maiores economias do mundo há mais de 50 anos. O bolo cresceu e não foi repartido como prometeram os da “casa grande” para pacificar toda a população.
 
Fica claro para qualquer principiante em história que os maiores avanços econômicos se deram concomitantemente com avanços democráticos de inclusão social e redistribuição de riqueza. Foi assim na Revolução Francesa, no “new dial” americano, na social democracia européia, e até na política pós guerra no Japão e na Alemanha.
 
Outro fator que não se pode esconder é que o único pacto feito no Brasil com vistas ao aprimoramento democrático foi o que resultou na Constituição de 1988, onde foram traçadas linhas mestras para a inclusão social, respeito as minorias com a ampliação de direitos, e raízes para com o federalismo diminuir as diferenças regionais. Estas últimas, de logo, demostraram – se inócuas com os coronéis do nordeste preferindo manter as condições cruéis de desequilíbrios que facilitavam o domínio por meio da chibata e promessas vãs. Quanto aos avanços sociais, esses se limitaram mais aos aspectos conceituais de reconhecimento de direitos do que propriamente na inclusão prática com melhorias salarias, escola pública de qualidade e demais políticas sociais.
 
O lulismo, ouso discordar da academia, foi menos um pacto e mais como uma permissibilidade da “casa grande” de ser fazer, de forma tímida, limitada e de dependência, a inclusão, resguardando o aumento da riqueza da elite . O próprio Lula afirmava que “os banqueiros nunca ganharam tão dinheiro como em meu governo”, e pela constatação da forma com que está sendo desmontado, com imensa facilidade, os avanços.
 
Não é preciso grande esforço mental para se perceber que um pacto não será possível. Primeiro, pela leitura histórica de que as democracias avançadas citadas só se desenvolverem com as rupturas apontadas. Segundo, pela constatação de que a direita, a Casa Grande, no momento atual, se encontra com uma força tão intensa, poucas vezes vista, como fica demonstrado pela sordidez do nosso parlamento, pela prepotência do Judiciário, pelo arrogante Ministério Público, violência das polícias, pelo pensamento hegemônico redistribuído pela mídia. Terceiro, por nenhum dos nossos líderes, desde a nossa formação, ter conseguido realizar avanços via pactos, quem tentou foi deposto, “suicidado”, renunciado, ameaçado por impeachment ou por CPI’s, ou ainda amordaçados e amarrados pelo congresso.
 
Por outro lado, temos uma população, incluindo os grupos que foram às ruas pedindo a derubada de Dilma, e a exemplo do que ocorre pelo mundo, em grave crise existêncial. Sem saber exatamente o que querem, negam a política sem perceber que estão fazendo política. Criam o caos das deficiências e trazem o risco de trocarem por algo ainda pior.
 
Pelo mundo democrático, a elite soube, em momentos de graves crises, ceder, pactuar, e fazer a avançar os direitos, trazendo mobilidade social e redistribuição econômica.
 
Esses avanços ocorreram quando a classe média de descolou como babadora de ovos da elite, reconhecerem que as migalhas concedida pelos “senhores” aos capatazes, aos Capitães do Mato, e negadas aos mais pobres, eram insuficientes para trazer um sentido mínimo de paz e harmonia, quando então se uniram aos pobres e conseguiram os recomeços da história.
 
Então, a “carta” de Dilma terá que ser direcionada com foco preciso, a classe pobre e a classe média, chamando, finamente, a nossa Revolução. Teria alcançado, a nossa classe média, a maturidade para entender o quanto ela é sacrificada para garantir a riqueza da nossa”casa grande”?
Redação

5 Comentários

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  1. Nunca estivemos tão atrasados

    O que ocorre no Brasil é impensável. Depois dos avanços da primeira década, é inadmissível o espetáculo de fascismo apresentado pela nossa classe média. É difícil acreditar em alguma coisa que dependa de um mínimo de discernimento e cidadania desse contingente de brasileiros que parece continuar no século XIX. 

  2. Nunca estivemos tão atrasados

    O que ocorre no Brasil é impensável. Depois dos avanços da primeira década, é inadmissível o espetáculo de fascismo apresentado pela nossa classe média. É difícil acreditar em alguma coisa que dependa de um mínimo de discernimento e cidadania desse contingente de brasileiros que parece continuar no século XIX. 

  3. Será que é esse mesmo o

    Será que é esse mesmo o discurso e o problema correto? Se virmos a minissérie “Liberdade, Liberdade”, da tv golpe, já se falava assim desde os anos 1800.. 

  4. Conto (?) muito antigo.

    Conta-se que numa época em que as coisa falavam uma com as outras, houve uma enchente avassaladora. Não sobrou nada nos seus lugares.

    Nesta enchente enorme haviam coisas que boiavam: eram as coisas (ou pessoas) de valor, assim  julgadas pela importante elite  das coisas desta época. No auge da enchente haviam  melancias lindas, laranjas doces, cachos de uva verdes e roxas, melões aromatáticos,  moveis de estilo importados, sendo que até porcelanas desde que das indias,  tudo isto boiava. Era uma maravilha de se ver. Os demais coisas de classe média e pobre ficavam no fundo.

    Num momento de puro esforço e persistencia um vaidoso trôço da classe média boiou, com um imenso triunfo.

    A elite das coisas ficou estupefata com este fato e discutiam uns com os outros sobre de como poderia,  justamente um cocô,  boiar  junto com a nossa elite !

    Para completar o desenlaçe, aquele cocô vaidoso da classe média, suspenso com brutal força de vontade de boiar junto com seus pares, pensando estar numa passeata, chegou perto de uma laranja,  exultante com a  sua condição de “boiante” e  com  aquela sua voz com sotaque (para  a elite) de nordestino com caipira falou: ” E nóis em laranja, como somos bãos”! Tomada de choque a laranja entrou em choque e afundou!

    Logo após, como não conseguia continuar como “boiante”,  o trôço afundou tambem , desaparecendo, para, talvez aparecer novamente em um momento de grande comoção, como uma enchente fenomenal ou numa passeata de coxinhas! 

    Moral da história: em enchete grande e passeata de coxinhas, até trôço da classe média boia, porem não será nunca considerado igual pela elite das frutas. Será sempre um trôço! 

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