Enviado por aliancaliberal
Comentário ao post “O uso panfletário das pesquisas eleitorais“
Do blog Vida Colectiva
O paradoxo de Abilene define uma situação em que um grupo de pessoas se vê forçado a agir de uma forma oposta às suas preferências. No paradoxo de Abilene todos os membros do grupo deixam-se levar por uma determinada preferência, apesar de não estarem de acordo, porque pensam que todos os outros membros concordam.
O nome do paradoxo surge a partir de uma estória em que todos os membros de uma família, estando sentados confortavelmente em sua casa, decidem ir passear a Abilene (uma cidade no Texas). A viagem foi um inferno para cada um deles, apesar de nenhum mencionar tal facto, pensando que os outros estavam a gostar. Só no regresso o problema foi levantado, mas aí era tarde de mais…
Este paradoxo tem sido bastante estudado e explica como muitas empresas, e até mesmo países, apesar de terem recursos e boas ideias, não conseguem funcionar da melhor forma.
No paper “The Abilene Paradox: The Management of Agreement” (pdf), de Jerry B. Harvey, é apresentada uma lista de sintomas que se revelam quando este paradoxo está instalado numa organização:
- Existem conflitos na organização
- Os membros da organização sentem-se frustrados, impotentes e infelizes quando tentam lidar com os conflitos. Muitos deles estão à procura de saídas. Poderão evitar reuniões onde os conflitos são discutidos, poderão estar à procura de outros empregos, ou poderão estar fora do escritório o máximo tempo possível (chegar tarde e sair cedo, baixas, viagens desnecessárias, conferências, acções de formação, etc.).
- Os membros da organização deitam as culpas ao chefe ou a outros departamentos ou grupos. Em conversas de corredor entre amigos o chefe é visto como incompetente, ineficaz e indisponível. Na sua presença nada é dito. Na melhor das hipóteses apenas são dadas vagas referências à sua posição relativamente aos conflitos da organização.
- Pequenos grupos de amigos e associados encontram-se informalmente fora da organização para discutir os conflitos. Existe bastante acordo nas ideias apresentadas para solucionar os conflitos. Estas conversas usam normalmente termos como “Devíamos fazer…”, “Se tivessemos…”, etc.
- Em reuniões dentro da organização esses mesmos membros não revelam totalmente as suas opiniões. Até chegam a revelar opiniões inversas só para ir ao encontro do que pensam ser a “opinião global”.
- Depois dessas reuniões os membros arrependem-se de não terem dito tudo o que queriam e apresentam uma lista de razões convincentes para não terem conseguido revelar as suas verdadeiras opiniões.
- Todas as tentativas de resolver os conflitos não resultam. Em alguns casos até pioram o problema.
- Fora da organização as pessoas dão-se bem, são mais felizes e mais eficazes do que dentro da organização.
Atrevo-me a dizer que Portugal inteiro vive neste paradoxo. Toda a gente sabe o que está mal e fala disso, mas quase ninguém se queixa aos responsáveis. Pegando na letra da música “Toda a Gente” dosDa Weasel:
(…)
Toda a gente critica
Toda a gente tem muita pica,
Mas é na mesa do café que toda a acção fica,
Não há dinheiro que pague este solzinho…
Manda mas é vir mais um cafézinho
(…)
Qual é então a solução? Segundo Jerry B. Harvey, é necessário que um dos elementos da organização fale abertamente dentro da organização. Claro que este acto traz consequências, tanto boas como más, para esse elemento.
Será que compensa arriscar e tentar quebrar o paradoxo?
Escrito por Bruno Pedro
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Muito interessante esse
Muito interessante esse paradoxo, sr. Aliança. Isso explica porque o Brasil continua melhorando, com valorização dos salários, mais empregos, inflação controlada e etc, e derrepente todo mundo acha que o país está uma merda. A pessoa acha “porque acha que o outro acha”. É outra forma de ver o “efeito manada”, de que fala o Nassif
No entanto desconfio que não era exatamente essa mensagem que o senhor queria passar. Mas essa mensagem, o “paradoxo de Aliança”, não me interessa, ao contrário do paradoxo de Abilene. Esse é muito útil, obrigado por trazê-lo ao blog.
Aliança Liberal também é cultura!
Juliano nem tudo é guerra
Juliano nem tudo é guerra politica.
O PARADOXO DE ABILENE
O PARADOXO DE ABILENE
http://vimeo.com/51392763
Expectativas
Esses e outros paradoxos demonstram que a lógica da ação individual é uma e da ação coletiva é outra. Sabe-se disso desde Condorcet, pelo menos.
São coisas distintas, portanto. Tentar reduzir uma á outra quase sempre se faz por erro metodológico ou ideologia barata.
Tanto o individualismo metodológico quanto o “holismo” ou estruturalismo respondem, cada um, bastante coisa. Mas nenhum responde tudo. O modo como se define ou constrói o problema e o objeto de estudo é que vão exigir, ou exigiram, uma ou outra abordagem específica.
Em linha gerais os modelos individualistas não são muito bons para demonstrar como a ordem social é construída à partir de decisões tomadas por desejos e interesses individuais particulares. Por outro lado, os modelos que enfatizam o coletivo precedendo o individual não são muito bons para explicar o desvio a essa ordem na medida em que compreeendem a dimensão individual como “resultante” dessa ordem.
Vários esforços de conjugar essas perspectivas já foram feitas com maior ou melhor talento ou gênio. Mas a questão ainda está, no meu entender, subordinada à definição do objeto de estudo e do probleama aser estudado.
Em outras palavras, vejo os maiores avanços serem identificados por meio da pesquisa empírica, e não das elaborações teóricas.
Dito isso, um questionamento imediato é que a argumentação em bases individualistas parece querer dar suporte para teorias da organização. Logo no início, portanto, não fica claro a justifitativa para tal na medida que a organização É uma instituição social com procedimentos coletivos institucionalizados e legitimados.
Um dos pontos é claro: questiona-se o chefe. Ora o chefe não é um indivíduo que dá ordens e toma decisões solipsistas. O cargo de chefia é uma instituição no universo daquela coletividade Portanto, os modos de construção dessa “ordem” não foram expostos, de molde que o “salto” da formulação do paradoxo para a aplicação ao problema ficou inconsistente.
Numa imagem: a ocular e a objetiva ainda não deram foco. Mas fica a curiosidade.