O que está atrasando a economia mundial? Por Joseph E. Stiglitz e Hamid Rashid

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
[email protected]

Jornal GGN – Sete anos após a crise financeira de 2008, a economia global seguiu tropeçando em 2015. Relatório elaborado pelas Nações Unidas mostram que, desde a crise, a média de crescimento das economias avançadas decresceu mais de 54%, e estima-se que 44 milhões de pessoas estejam desempregadas nos países desenvolvidos, perto de 12 milhões mais do que em 2007, enquanto a inflação atingiu o seu nível mais baixo desde o início da crise.

“O mais preocupante é que as taxas de crescimento dos países avançados também se tornaram mais voláteis. Isto é surpreendente, porque sendo economias desenvolvidas com contas de capital completamente abertas deveriam ter beneficiado do livre fluxo de capital e da partilha internacional do risco, e consequentemente deveriam ter sofrido pouca volatilidade macroeconômica”, dizem os economistas Joseph E. Stiglitz e Hamid Rashid, em artigo publicado no site Project Syndicate. “Além disso, as transferências sociais, incluindo os subsídios de desemprego, deveriam ter permitido que as famílias estabilizassem o seu consumo”.

Com o setor financeiro norte-americano à beira do colapso, a Lei de Estabilização Econômica de Emergência de 2008 acabou por adiantar a data efetiva para o pagamento de juros sobre as reservas em três anos, para 1º de Outubro de 2008. Como consequência, as reservas excedentes detidas pelo Fed dispararam, de uma média de US$ 200 bilhões entre 2000 e 2008 para US$ 1,6 trilhão entre 2009 e 2015. As instituições financeiras decidiram manter o seu dinheiro no Fed em vez de emprestá-lo à economia real, auferindo perto de US$ 30 bilhões, completamente livres de risco, durante os últimos cinco anos. “Isto equivale a um subsídio generoso, e em grande parte oculto, do Fed para o setor financeiro. E, como consequência da subida da taxa de juro ditada pelo Fed no mês anterior, o subsídio aumentará cerca de US$ 13 bilhões este ano”, dizem os articulistas.

Stiglitz e Rashid afirmam que os incentivos são apenas uma das razões pelas quais não se materializaram muitos dos benefícios das taxas de juro reduzidas. “Como a FQ conseguiu sustentar taxas de juro próximas de zero durante quase sete anos, deveria ter encorajado os governos dos países desenvolvidos a contrair dívida e a investir em infraestruturas, educação e nos setores sociais. O aumento das transferências sociais durante o período pós-crise teria impulsionado a procura agregada e suavizado os padrões de consumo”.

Outro ponto é que o volume de investimento privado no mundo não avançou conforme o esperado, por conta das taxas de juros reduzidas. Em 17 das 20 maiores economias desenvolvidas, o crescimento do investimento permaneceu menor no período pós-2008 que nos anos anteriores à crise; destas, cinco registraram um declínio no investimento entre 2010 e 2015.

“Globalmente, os títulos de dívida emitidos por corporações não financeiras (que se supõe serem destinados a investimento fixo) aumentaram significativamente durante o mesmo período. De forma consistente com outras evidências, isto implica que muitas corporações não-financeiras se endividaram, aproveitando as baixas taxas de juro. Mas, em vez de investirem, usaram o dinheiro emprestado para recomprar os seus próprios títulos ou adquirir outros ativos financeiros. Assim, a FQ estimulou aumentos acentuados da alavancagem, da capitalização de mercado, e da rentabilidade do setor financeiro”.

Em contrapartida, quando o Banco Mundial ou o FMI (Fundo Monetário Internacional) emprestam dinheiro barato aos países em desenvolvimento, impõem condições quanto ao que podem fazer com ele. “Para ter o efeito desejado, a FQ deveria ter sido acompanhada não apenas pelos esforços oficiais de restauro dos limitados canais de crédito (especialmente os dirigidos às pequenas e médias empresas), mas também por objetivos de crédito específicos para bancos. Em vez de encorajar os bancos a não emprestarem dinheiro, o Fed deveria ter penalizado os bancos por deterem reservas em excesso”, dizem os articulistas.

Ao mesmo tempo em que as taxas de juro ultrabaixas geraram poucos benefícios aos países desenvolvidos, foram colocados custos significativos sobre as economias em desenvolvimento e dos mercados emergentes. Uma consequência involuntária, mas não inesperada, da flexibilização monetária consistiu nos fortes aumentos dos fluxos de capital – o volume de capital voltado para os países em desenvolvimento subiu de aproximadamente US$ 20 bilhões em 2008 para mais de US$ 600 bilhões em 2010.

“Nessa altura, muitos mercados emergentes tiveram dificuldades em gerir o aumento súbito dos fluxos de capital. Uma parte muito pequena dos mesmos foi aplicada em investimento fixo. Com efeito, o crescimento do investimento nos países em desenvolvimento abrandou significativamente durante o período pós-crise. Espera-se que este ano os países em desenvolvimento, considerados conjuntamente, registem a sua primeira saída líquida de capital (no total de US$ 615 bilhões) desde 2006”.

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

4 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. O sistema capitalista, isto é

    O sistema capitalista, isto é o dinheiro, em termos de conversão interpretativa de fontes que deram origem a justificação das nações, e o capital que centraliza dividas das nações como empresas, deve ser encarado como um desenvolvimento inversamente proporcional ao sentido desta nação – para os EUA -, com uma recomendação política.  

    Na verdade são duas fontes de conversão: uma centraliza a escravidão do povo, através do crédito que a sociedade dá aos bancos, para reproduzir o movimento objetivo do valor do trabalho; a este respeito é que o Estado é abolido, para o anarquismo referir que a burocracia estatal é demasiado grande para produzir qualquer significado privado.

    Considerando uma correlação entre infraestrutura de governo e formações econômicas, outras instituições sociais do governo modelou o mercado financeiro à divisão do valor do trabalho.  

    Com a parte mais essencial do aparelho do Estado (a sua base real), os bancos acham se contidos para não fazerem ascenção absoluta do dinheiro digital sem a unidade comum ao endividamento externo (crise).

    Portanto, dado à força progressiva da moeda digital que destruiu grande parte da fonte de dinheiro físico, a competição do capitalismo nas duas frentes de endividamento (Estado e sociedade como um todo), está travada na dependência da classe dominante que responde pelas reservas internacionais participar de infraestruturas e fazer privatizações.

     

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador