Análise

O tamanho da tragédia brasileira. Nunca foi uma escolha difícil, por Eliara Santana

O tamanho da tragédia brasileira. Nunca foi uma escolha difícil

por Eliara Santana

Entre 44 países mais ricos do mundo, o Brasil de Jair Bolsonaro tem a quarta pior taxa de desemprego. Dito de outra forma, para ficar mais claro, o desemprego no Brasil é o quarto maior numa lista de 44 principais economias do mundo. Os dados fazem parte de um estudo divulgado pela  agência de classificação de risco Austin Rating. Segundo o levantamento, o desemprego no Brasil de Bolsonaro supera a média do desemprego mundial em mais de duas vezes. Ou seja, o desemprego no Brasil é mais do que o dobro  da média mundial. Levando-se em conta as 20 maiores economias do mundo, o número de pessoas  sem trabalho no Brasil é a mais alta. De acordo com o IBGE, há quase 14 milhões de pessoas desempregadas no Brasil, ou 13,7% de desemprego. Em 2014, governo Dilma Rousseff, essa taxa era de 4,8%, uma situação de quase pleno emprego.

Confiram a taxa de desemprego divulgada pela Austin Rating (e lembrem-se: todos os países enfrentaram a pandemia):

Costa Rica: 15,2%

Espanha: 14,6%

Grécia: 13,8%

Brasil: 13,2%

Colômbia: 12,7%

Turquia: 12,1%

Itália: 9,3%

Suécia: 8,8%

Índia: 8,3%

Chile: 8,2%

França: 8%

Zona do euro: 7,5%

Finlândia: 7,2%

Lituânia: 7,2%

Canadá: 7,1%

Letônia: 7,1%

Eslováquia: 6,5%

Irlanda: 6,5%

Bélgica: 6,4%

Portugal: 6,3%

Indonésia: 6,3%

Estônia: 6,0%

Áustria: 5,9%

Luxemburgo: 5,5%

Islândia: 5,4%

Estados Unidos: 5,2%

China: 5,1%

Israel: 5,0%

Austrália: 4,5%

Dinamarca: 4,5%

Reino Unido: 4,5%

Rússia: 4,4%

Hungria: 4,1%

México: 4,1%

Noruega: 4,0%

Eslovênia: 3,9%

Alemanha: 3,4%

Polônia: 3,4%

Holanda: 3,2%

Coreia do Sul: 2,8%

Japão: 2,8%

República Tcheca: 2,8%

Suíça: 2,7% Singapura: 2,6%

PIB vai desacelerar, alerta o Deus Mercado

Outro levantamento, feito a partir de um compilamento do jornal O Estado de S. Paulo de dados do Fundo Monetário Internacional e de consultorias e bancos, mostra que o Brasil terá o pior desempenho entre 12 grandes países emergentes. As consultorias e os bancos que fizeram também o levantamento – Bradesco, Goldman Sachs, Capital Economics, Fitch e Nomura – têm previsões bastante pessimistas sobre o desempenho da economia brasileira. Eles projetam um crescimento do PIB entre 0,8% e 1,9%. O FMI faz uma projeção de 1,5%, sendo que a média mundial prevista é de  5,1% entre os emergentes. O relatório Focus, do Banco Central, prevê crescimento de 0,93%. O banco Itaú – realista ou pessimista? – prevê retração de 0,5%, ou seja, o PIB vai encolher. 

Trocando em miúdos: chegaremos a 2022 num cenário de país arrasado, com o tecido social já muito esgarçado, as pessoas sem perspectiva de renda, morando nas ruas, a fome voltando, e tudo isso num contexto de desemprego galopante, economia sem reação e inflação sem controle. A pergunta que nunca vai calar: o golpe foi dado para isso?

O medo que o deus mercado já deixa transparecer não é um bom indicativo, é um sinal de que a coisa está muito ruim mesmo. Porque ocultaram – a mídia corporativa incluída – a situação até onde foi possível para blindar o desastroso e incompetente Paulo Guedes e fingir que as coisas estavam sob controle e que, após o golpe patrocinado pelo mercado financeiro, tudo ia se reerguer. Mas nada está sob controle, e o país afunda a cada dia. O cenário exposto mostra apenas a deterioração gigantesca da situação econômica; os números do esgarçamento da condição social não estão mostrados.

A situação econômica é gravíssima e deteriora ainda mais a já dolorosa situação social. Além da fome que volta ao Brasil e da realidade dos brasileiros que comem pé de galinha, vemos políticas de inclusão que foram exitosas nos governos petistas serem esculhambadas e detonadas. Como o Enem, por exemplo, que foi realizado neste domingo (21/11). Em outros tempos, quando ainda se comia picanha no Brasil, o Exame chegou a ter quase 9 milhões de inscritos. Jovens que estavam dando vazão ao sonho, ao desejo de ingressarem no ensino superior para terem uma carreira, uma profissão, uma vida diferente, novas perspectivas. Hoje, a edição 2021 do Exame teve pouco mais de 3 milhões de inscritos. Porque os jovens, no governo Bolsonaro, não podem mais sonhar, eles têm de trabalhar, muitas vezes em subempregos, para ajudarem nas despesas da casa. Ou mesmo para assumirem as despesas da casa, pois os pais podem estar desempregados. Nem vou comentar aqui que o compromisso dos governos petistas era destinar parte do lucro do pré-sal para a educação. Mas a Lava Jato, do ex-juiz golpista Sergio Moro, cuidou de destruir a Petrobras.

Além dos números que aparecem com força agora, há ainda o desmonte deliberado que este governo genocida e corrupto está fazendo em amplos setores, das conquistas sociais ao meio ambiente, e que ainda não está muito bem dimensionado.

Todo esse cenário precisa ser escancarado e precisa estar claríssimo para 2022, para que as pessoas não caiam em cantos de falsos e hipócritas heróis. Aqueles que, na verdade, são responsáveis diretos por essa tragédia nacional.

Eliara Santana é uma jornalista brasileira e Doutora em Linguística e Língua Portuguesa pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), com especialização em Análise do Discurso. Ela atualmente desenvolve pesquisa sobre a desinfodemia no Brasil em interlocução com diferentes grupos de pesquisa.

Este texto não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Eliara Santana

Eliara Santana é doutora em Linguística e Língua Portuguesa, com foco em Análise do Discurso. Ela é pesquisadora associada CLE/UNICAMP, onde participa do projeto Pergunte a um/uma Cientista. É integrante do Observatório das Eleições. Desenvolve pesquisa sobre desinformação, desinfodemia e letramento midiático no Brasil.

Eliara Santana

Eliara Santana é doutora em Linguística e Língua Portuguesa, com foco em Análise do Discurso. Ela é pesquisadora associada CLE/UNICAMP, onde participa do projeto Pergunte a um/uma Cientista. É integrante do Observatório das Eleições. Desenvolve pesquisa sobre desinformação, desinfodemia e letramento midiático no Brasil.

View Comments

  • São 91 anos desta tragédia. Como mostra a foto, Brasileiro que nasceram muito antes do atual Governo. Que esta Presidência, que inaugurou um novo Brasil exterminado a Indústria do Atraso, do Analfabetismo, da Desindustrialização, da Favelização consiga colocar esta Nação Potência novamente em pé. É um trabalho difícil depois de quase 1 século andando de quatro.

Recent Posts

Governo federal faz mais um aceno às Forças Armadas com acordo

Ministério da Defesa e BNDES fecham convênio para otimizar imóveis das Forças Armadas, com foco…

10 horas ago

Justiça reflete valores e necessidades pela lente do homem branco

“Ele [homem branco] reflete o repertório dele, mesmo tendo empatia, mas não traz a visão…

10 horas ago

Manifestos pela universidade pública tomam a Argentina

Enquanto Milei diz que manifestos tem "causa nobre, motivos obscuros", milhares de estudantes tomam as…

11 horas ago

Preços chineses são baixos demais para se preocupar com tarifas

Em feira comercial, visitantes se dizem otimistas com exportações e destacam vantagem competitiva em meio…

12 horas ago

O desafio real do futuro do Brasil, por Ricardo Berzoini e Guilherme Lacerda

Uma questão que necessita de um olhar mais profundo é a correlação entre o crescimento…

14 horas ago

Câmara dos Deputados homenageia Acampamento Terra Livre

A pedido da deputada federal Célia Xakriabá, o maior evento de articulação indígena no país…

14 horas ago