Objetivo não é derrotar Dilma, mas a esquerda, diz Roberto Amaral

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Amaral: ‘Alvo do golpe não é o governo Dilma, mas toda a esquerda’
 
Ex-dirigente do PSB diz que governo carrega ônus de erros do PT. Presidenta do PCdoB defende “luta de conteúdo” e alerta que golpe inviabilizaria agenda de esquerda. Tarso vê captura da política pela economia
 
Por Eduardo Maretti
 
Amaral, Luciana e Tarso participaram de debate ontem, promovido pelo Centro Barão de Itararé e Fórum 21

São Paulo – A atual crise política brasileira “não é exclusiva do PT e pode comprometer um projeto de esquerda para o Brasil”. A luta poderá ser perdida pelo campo progressista se as forças populares não se unirem em torno da defesa do mandato de Dilma Rousseff. A opinião é da deputada federal Luciana Santos (PE), presidenta nacional do PCdoB. “Temos de ter a dimensão da batalha que estamos vivendo. Eles perderam eleição mas querem impor a agenda deles”, disse.

A deputada participou de debate promovido pelo Centro de Estudos de Mídia Barão de Itararé e pelo Fórum 21, na noite de ontem (28). O evento fez parte do lançamento do livro A Serpente Sem Casca (Ed. Altadena), reunião de artigos do ex-presidente do PSB Roberto Amaral, presente ao debate.

Segundo Luciana, a atual luta política é “adversa” para a esquerda. “Temos de fazer a luta de conteúdo, defender imposto sobre grandes fortunas, a repatriação de remessas feitas ao exterior e outras bandeiras progressistas. Mas, para isso, precisamos fazer a defesa do governo Dilma. Do contrário, não haverá alternativa à esquerda. Se hoje não está bom, (se Dilma cair) ficará pior”, disse.

A deputada afirmou que o momento não é de “críticas e diferenças” entre membros das esquerda, incluindo Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT). “São atores importantes. Ciro foi solidário a Lula no primeiro mandato, no auge das denúncias de corrupção em 2005. É contra o golpe e contra o impeachment. Marina tem tido uma posição firme contra o impeachment.”

Para a parlamentar, o “defeito” da esquerda em 12 anos de governo – desde o primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2006) – foi não ter feito “nenhuma reforma estruturante”. Ela mencionou as reformas política, tributária e dos meios de comunicação como as que faltaram no período, apesar dos avanços sociais e de setores estratégicos como o da indústria naval. Na economia, “o país anda é dependente das commodities e não inovou tecnologicamente”.

Segundo ela, o descuido com a politização da população durante os governos recentes da esquerda faz com que as pessoas sequer atribuam a evolução social e sua entrada no mercado de consumo às políticas públicas. “Pesquisas mostram que as pessoas atribuem suas conquistas a si mesmas.”

Repetição da história

Roberto Amaral disse que os ataques da direita contra o governo Dilma, com o apoio ostensivo dos meios de comunicação, repete historicamente o que aconteceu em 1954 (com o suicídio de Getúlio Vargas) e 1964 (com o golpe militar). Segundo ele, o objetivo dos grupos de direita hoje, no Brasil, assim como naqueles momentos da história, está além da atual chefe do Executivo.

“Dizem que o objetivo é derrotar a Dilma. Não creiam nisso. O grande alvo é a esquerda (como um todo), não só a esquerda partidária”, afirmou Amaral. “Há companheiros que dizem que é impossível defender o governo Dilma, mas com todos os seus defeitos é o nosso governo. Culpa-se a Dilma, mas não se diz que Dilma carrega consigo os erros do PT”.

Amaral afirmou que a grande diferença entre 1954 e 1964 e a crise atual é que “hoje, os militares estão calados”. “Mas em 1964 o cantochão era o mesmo. Vemos de novo os liberais, de novo a classe média, de novo a unanimidade dos jornais.” O dirigente lembrou que em 1954 os setores golpistas usaram contra Vargas o mesmo argumento de combate à corrupção, que na época era chamado pela imprensa de “mar de lama”.

Segundo Amaral, o “mar de lama” não existia, e os ataques tinham relação com a mesma Petrobras que hoje é o centro da crise política com a operação Lava jato. A Petrobras foi fundada em 3 de outubro de 1953, menos de um ano antes do suicídio de Vargas.

A deputada do PCdoB chamou a atenção para as dificuldades que serão impostas à esquerda se as forças conservadoras lograrem êxito na tentativa de golpe. “Foram 21 anos de período ditatorial (de 1964 a 1985) e, com toda a nossa luta, qual foi o desfecho e onde a ditadura foi derrotada? No Colégio Eleitoral. Isso é para mostrar como a luta é complexa.”

O ex-governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), presente ao debate, disse que o Brasil vive um fenômeno grave e global, que ele chama de “uma captura da política pela economia financeira”.

Para Tarso, o capital financeiro “captura” também o Estado, o que seria demonstrado pelas decisões do Judiciário. O petista afirmou que o sistema financeiro é representado pelos bancos centrais. “No caso da Europa, o Banco Central europeu, leia-se BC alemão. No caso do Brasil, o Banco Central.”

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

6 Comentários

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  1. Da coluna do Cacau Menezes de

    Da coluna do Cacau Menezes de SC:

     

    Postado por Cacau, às 12:34

    Categorias: Sem categoria

    TROCARAM AS PASTAS

    29 de setembro de 20150

    Do jornalista Celso Vicenzi, exercitando a sua sempre fina ironia no twitter: “No último debate presidencial, à saída, na confusão, Dilma pegou por engano a pasta com o plano de governo do Aécio. É a única explicação!

     

  2. Grande erro

    Concordo totalmente com a afirmação de que a esquerda ainda não fez nenhuma reforma importante nas estruturas brasileira. Se a crise se aprofundar poderemos perder todas as conquistas sociais dos últimos 10 anos.

  3. Ministério de Jesus: “Zelai por vossa casa”

    Objetivo não é derrotar Dilma, mas a esquerda, diz Roberto Amaral

    com certeza! sabichão…

    porque vocês não amam o poder

    no poder falta-lhes o sagrado zelo com a coisa pública

    são campeões do desmazelo com os impostos e dízimos do povo galileu.

    Ministério de Jesus: Zelai por sua casa: está escrito: “A minha casa será chamada casa de oração para todas as nações. Mas vós fizestes dela um covil de ladrões.”

    A GÊ ENE PÊ

    … velhas questões requentadas das esquerdas unidas jamais serão vencidas! desde sempre a se lambuzarem se revelarem deslumbradas nos recônditos (da alma anima) obscuros insanos: os desejos burgueses de lumpemproletariado y lumpemcampesinato, quando então no poder da grana y cartão corporativo sem limite, por cima da carne seca y da tapioca:

    “Durante aquele jantar Luis Miguel, com aquele finíssimo instinto que o caracteriza e o cinismo do qual faz alarde, certamente com o intuito de se proteger e se garantir, prognosticou – a Domingo e a mim – um imediato desengano no caso de vitória dos nossos. “Vocês não amam o poder – dizia Luis Miguel – mas é o poder a única coisa que importa. Vocês são visceralmente homens da oposição, da luta contra o poder e não da luta pelo poder. Hoje vocês estão contra Franco, amanhã estarão contra Carrillo se este vier a encarnar o poder. Comigo dá-se o contrário: sou sempre do lado do poder. Porém não se preocupem; tal como agora, eu posso intervir em favor de vocês junto a meu amigo Camilo Alonso Vega, intervirei amanhã para defendê-los quando Carrillo se tornar amigo meu e quando vocês forem perseguidos.”

    Autobiografia de Federico Sánchez. Jorge Semprún. Trad. Olga Savary. Ed. Paz e Terra, 1984. (edição comprada na bacia das almas… a 1,99 na ótima Livraria MST, no Bixiga).

     

     

  4. A Dilma está ferém dos

    A Dilma está ferém dos corruptos do pmdb, porque as esquerdas mequetrefes(psol e tais) sempre apoiaram os golpistas. Não há governo de esquerda que resista a traição dos “pares”. A nossa esquerda é muito maria vai com as outras, sempre pendendo para os interesses da direita corrupta. Com todos os problemas do PT, continuo achando que foi o único que me representou como esquerda. Com os golpistas de esqeurda unidos aos corrutpos golpistas da direita, não há condições para governar sem ficar refem do capital.

  5. Roberto Amaral, parece, ser

    Roberto Amaral, parece, ser gente boa. Mas tem, ou fez, um discurso viesado. O PT nunca foi aliado com a esquerda.

    O PT tentou sr um partido, aderido ao modelo de mercado/capitalista, porém gerido pela base operária e de trabalhadores de classes salariais inferiores. Fracasou, Só isso.

     

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