A delação premiada e o “Dilema dos Prisioneiros”

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Por Ivanisa Teitelroit Martins
 
 
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Texto parcial de Luiz Carlos Azedo que nos remete à lógica do inconsciente ao tratar da Operação Lava Jato a partir de o “Dilema dos Prisioneiros”.
 
O “Dilema dos Prisioneiros” adota uma lógica semelhante aos paradoxos do ensino de Lacan sobre o inconsciente. Ler em Escritos “O tempo lógico e a asserção da certeza antecipada”. É o que nós, psicanalistas, procuramos adotar na prática clínica e mesmo nós nem sempre somos bem sucedidos quando há resistência do próprio psicanalista.
 
“Dilema dos Prisioneiros”
 
1- Se um dos prisioneiros confessar (trair o outro) e o outro permanecer em silêncio, o que confessou sai livre enquanto o cúmplice silencioso cumpre 10 anos.
 
2- Se ambos ficarem em silêncio (protegerem um ao outro), a polícia só pode condená-los a 1 ano cada um.
 
3- Se ambos confessarem (traírem o comparsa), cada um leva 5 anos de cadeia.
 
Cada prisioneiro faz a decisão sem saber a escolha do outro — eles não podem conversar. Como o prisioneiro vai reagir? Os prisioneiros não podem combinar a decisão (estão em salas isoladas e sem comunicação) e devem escolher simultaneamente. Cada jogador quer ficar preso o menor tempo possível, ou seja, maximizar seu resultado individual. Qual a melhor decisão? Considerando os incentivos oferecidos, a mais racional é trair.
 
Trair é uma solução de equilíbrio, já que cada um pegará 5 anos de pena. Se o prisioneiro A mudar unilateralmente para colaborar, sai perdendo (15 anos); o mesmo ocorrendo com o prisioneiro B. A melhor solução no “Dilema dos Prisioneiros”, porém, é ficar em silêncio: cada um cumpriria apenas um ano de prisão. Ou seja, a escolha da melhor solução individual conduz à traição mútua, enquanto que o silêncio, isto é, a solução coletiva, proporcionaria melhores resultados. Foi a estratégia adotada pelos réus do “mensalão”.
 
No “Dilema dos Prisioneiros”, os incentivos e a racionalidade induzem a um resultado pior porque as pessoas não podem conversar e combinar as ações. Se fizessem acordo prévio, tudo se resolveria, certo? Errado. Isso não é necessariamente verdade. Se um suspeito quer ficar em silêncio, ninguém garante que o seu parceiro fará o mesmo? É o que está acontecendo na Operação Lava-Jato. Daí o dilema posto para a presidente Dilma Rousseff em plena campanha eleitoral.
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

9 Comentários

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  1. Desculpe mas não tem nada a ver

    O dilema é apenas uma ficção criada para elaborações filosóficas e psicológicas. Utilizar no caso de Dilma é uma leviandade, em primeiro lugar porque no caso real NÃO existe nenhuma comprovação de culpa. Em segundo lugar porque existe a possibilidade não de confissão, mas de mentira. O texto parece mesmo é coisa de aecista.

  2. Era uma boa idéia

    A tal delação premiada era uma excelente idéia, até cair na mão de uma autoridade irresponsável e virar um confissão solicitada sob tortura. Diga o que eu quero e eu paro de lhe torturar(ou condenar a tantos anos).

    A delação premiada virou decisão de quem vai ou não governar o país. Espero que o tse feche as portas, dianre desta realidade, é um despesa inútil só para ficar condenando quem entrega santinho na boca de urna.

    Que o tse aja e me desminta ou é isto aí.

  3. Dilema do Prisioneiro

    Acho que a Sra. Dra. Ivanisa se confundiu ou ultrapassou a própria proposição. 

    Tentou fazer transposição em planos assimétricos, não paralelos, e acabou se embrulhando.

    Releia, reveja e terá uma excelente oportunidade de evoluir um conceito que pouco domina.

  4. A cooperação surgiu por evolução biológica

    Teroriza-se, com bons fundamentos, que no processo de evolução biológica grupos de animais e humanos com tendência genética para coloborar com os colaboradores, mas não com os egoístas, acabaram sendo favorecidos e o instinto para colaborar acabou se desseminando. Ao contrário do que se pensa, o altruísmo é mais comum do que o egoísmo entre os animais sociais, e na verdade sem esse fato o comportamento social nunca teria evoluído. No caso dos animais eusociais como formigas, abelhas, cupins e outros, o altruísmo é extremo. Isso é admirável, o processo cego de seleção natural deu origem à cooperação mesmo que o comportamento egoísta favoreça o indivíduo. Muitos autores acham que grande parte da moralidade humana deriva de soluções puramente darwinistas para variações do dilema do prisioneiro. Uma boa fonte sobre as estratégias de jogo no dilema é o livro The Evolution of Cooperation, de Robert Axelrod

  5. “Considerando os incentivos

    “Considerando os incentivos oferecidos, a mais racional é trair.”

    Errado. Pode dizer que essa será a escolha mais provável, se o experimento for repetido inúmeras vezes, mas não é a mais racional.

    A mais racional é que ambos fiquem em silêncio. Cada um ficará preso por, no máximo, 1 ano.

    No caso da escolha mais provável, a traição, ocorrerá um erro dos dois, pois ambos tenderão a trair, e ficarão presos por 5 anos cada.

    Portanto, a escolha mais racional é que ambos os prisioneiros fiquem em silêncio.

     

     

  6. Exercício de lógica

    O ensino de Lacan trabalha com paradoxos. Não cabe uma posição subjetiva. O núcleo da posição subjetiva de um psicanalista subtrai a linguagem simbólica que inclui a ideologia, a lei e a religião. Somos como Mao revolucionários radicais.

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