Os dois maiores erros de política econômica da gestão Dilma, por Douglas Alencar

A escolha de nomes como Arno Augustin e Joaquim Levy estão na origem de equívocos como a segunda redução do IPI, quando se deveria investir em infraestrutura, e no tamanho e velocidade do ajuste fiscal de 2015

do Brasil Debate

Os dois maiores erros de política econômica da gestão Dilma

por Douglas Alencar

As análises ex post são sempre mais fáceis de serem realizadas se comparadas com análises da política econômica no momento em que estas estão sendo executadas. Contudo, é importante fazer um exercício de apontar os erros das políticas realizadas pelas diferentes equipes econômicas durante os dois mandatos da presidente eleita Dilma Rousseff.

O primeiro grande erro da presidente, no primeiro mandato, foi a escolha de conselheiros de política fiscal, com Arno Augustin sendo mais importante que Nelson Barbosa durante o ano de 2012, quando este era secretário no Ministério da Fazenda. O segundo grande erro foi a escolha de Joaquim Levy para assumir a pasta da Fazenda no início do segundo mandato. Esses dois erros não apenas contribuíram para a crise no Brasil como foram impulsionadores da quebra de constitucionalidade por meio de um impedimento duvidoso.

A crise financeira internacional, que foi iniciada em 2007/08, atingiu o Brasil em 2009. Nesse período, o secretário do Ministério da Fazenda era o Nelson Barbosa, doutor em economia pela New School em Nova York. O que se sabe de bastidores é que o Barbosa havia sugerido a política de redução do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI), e o resultado dessa política foi o crescimento de 7,5% do PIB em 2010. O segundo impacto importante da crise financeira internacional foi em 2012. Nessa época, a presidente Dilma já estava seguindo os conselhos de Augustin, e Barbosa havia perdido espaço no governo.

Era claro o constrangimento de Barbosa quando perguntado sobre a contabilidade criativa (que ajudou a minar a credibilidade do governo na época). Nesse segundo impacto da crise financeira internacional, o trio Augustin/Mantega/Holland decidiu, com o apoio da Dilma, reduzir novamente o IPI, na tentativa de manter a demanda agregada. Nesse período, Barbosa deixou o governo, a perda de espaço foi insustentável.

Cabe ressaltar que essa foi uma decisão da presidente, e a responsabilidade por isso cabe apenas a ela. O problema de reduzir o IPI novamente nessa segunda fase da crise internacional foi que as firmas apenas aumentaram a margem de lucro, com baixo impacto sobre os preços dos produtos. Ademais, os consumidores já passaram 2009/10 e 2011 trocando eletrodomésticos e, é claro, não iriam voltar a consumir. A redução do IPI apenas aumentou as margens de lucros das empresas.

O segundo grande erro da presidente tem nome: Joaquim Levy. Com a crise brasileira se aprofundando, em parte por conta de escolhas da presidente, ela convoca Levy como ministro da Fazenda que, em poucos meses, cortou certa de R$ 30 bilhões em investimentos. Com a economia dando sinais de desaquecimento, esse corte jogou a demanda agregada para baixo, o que resultou no aumento do déficit primário e a pressão sobre o governo aumentou.

Somando-se a isso, a presidente iniciou a discussão sobre a reforma da Previdência. Tudo isso fez com que ela perdesse a base social que a elegeu. Grande parte dos economistas concorda que algum ajuste fiscal era necessário, dado que aumentos demasiados na relação dívida/PIB poderiam reduzir a nota do Brasil pelas agências de risco internacional, o que impactaria na desvalorização da taxa de câmbio e, consequentemente, na inflação. Contudo, isso não significava que o ajuste deveria ser feito em grande velocidade.

Em suma, uma política fiscal equivocada no segundo momento da crise financeira internacional, em que deveriam ter sido realizados investimentos em infraestrutura, levou à redução do IPI, o que não surtiu efeito sobre o crescimento econômico. Somando-se a outra política equivocada, a de ajuste fiscal, o resultado foi o aprofundamento da crise brasileira com um final trágico para a presidente eleita, que sofre o impedimento.

Douglas Alencar – É professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Pará (UFPA)

Redação

6 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. O erro maior foi virar as

    O erro maior foi virar as costas para o movimento social que se ferrou e, infelizmente, será o mais prejudicado.

    Agora uma curiosidade: a pintura é de Salvador Dali? Qual título dessa obra? Pq não foi dado os devidos créditos?

  2. Engana-se o professor.

    Engana-se o professor. Análises de políticas econômicas são mais difíceis a posteriori, quando as cartas já estão todas na mesa e a obrigação de acêrto beira os 100%. Falar de investimentos em infraestrutura, em qualquer país do mundo é falar práticamente sem margem de êrro, no Brasil muito mais. Quanto às reduções do IPI, bem mais provável que “todas” sempre foram muito mais para os bolsos dos fabricantes / comerciantes do que para os dos consumidores. Essas reduções, acreditamos que aumentaram / mantiveram o consumo enquanto novidade geradora de sensação de vantagens, potencializada por conta do impacto das saraivadas publicitárias. Acompanhando alguns outros raciocínios, tambem acreditamos na escassez de políticas econômicas voltadas para o povo de menor renda. Não faltaram oportunidades, e deveriam ser uma constante desde o primeiro dia do primeiro mandato, mas, muito em parte perderam a vez para os embates políticos provocados por uma oposição altamente golpista. Finalizando, nada contribuiu mais para a crise no Brasil do que as intervenções sócio político econômicas dos oposicionistas patronais golpistas, iniciadas em 2012, mas mais lembrada por junho de 2013, chegando ao absurdo de um impedimento. A nação ficou práticamente 100% nas mãos das instituições mais poderosas conluiadas entre sí, não denotando impedimento duvidoso, como o Sr Professor diz, mas sim um impedimento aviltante a qualquer democracia, portanto altamente criminoso. Abaixo a ditadura!

  3. Análise completamente

    Análise completamente equivocada.

    Nelson Barbosa tem seus méritos, sem dúvida, mas é um engano a análise do professor, muito similar ao que já vi o Nassif escrever por aqui outras vezes, ignorando certos detalhes dos bastidores.

    Augustini não propos a contabilidade criativa. Dilma exigiu uma soluçao para nào apresentar déficit, ela se recusava essa possibilidade, o secretário do Tesouro apenas apresentou uma resposta a isso.

    Além disso, o que nós tanto chamamos de “Plano Levy” na verdade foi formulado por Barbosa e Mercadante. Quando Levy chegou, as propostas já estavam prontas, o novo ministro foi escolhido só para ser um rosto palatável ao empresariado.

     

    Além disso, um outro erro importante da presiddenta Dilma foi logo no começo do seu primeiro mandato, quando ela cortou fortemente o investimento público (comparem os dados de 2010 com 2011) e iniciou essa política economica de que era responsabilidade do setor privado dali em diante puxar o crescimento, enquanto ela se focava no combate a inflaçao. Por mais absurdo que possa parecer, a reduçao do IPI nesse período também visava evitar que as montadoras aumentassem os preços dos carros.

  4. O professor chama de duvidoso

    O professor chama de duvidoso o que afrontou a lei. Espero que os alunos desles façam melhor: chamem ilegalidade de ilegalidade e não de dúvida.

    Quanto à análise dos dois maiores erros da gestão Dilma, partindo de um professor, esparava mais contextualização.

  5. os erros de Dilma, o Erro de Dilma e os nossos erros

    Eu concordo com a análise. É suscinta, mas correta. Os gatilhos da crise foram uma politica fiscal recessiva combinada com juros elevados. A economia já mostrava sianis de desaquecimento. O trem já estava diminuindo e meteram o pé no freio, sem dó nem piedade. Esses foram os erros.

    O ERRO, não foi proposital nem sequer evitável. A Presidenta, independentemente do seus indiscutíveis méritos de caráter, não tem a liderança como predicado. O momento exigia um Líder. Natural, aglutinador, motivador e capaz de transmitir confiança e esperança aos brasileiros. Enfim, capaz de definir um rumo e conduzir essa nau de insensatos pela tempestade. Lamentavelmente isso não foi e não era possivel. A Presidenta, com uma tarefa além da sua possibilidade enquanto líder, cometeu todos os erros de navegação possíveis até que o barco ficou batendo vela em plena ventania. Mas, o ERRO não foi ERRO, foi impossibilidade de fazer diferente.

    Quanto à equipe, não creio que nominar fulano ou beltrano apontando culpas pontuais seja o caso. A culpa pelos erros da equipe é do líder. A Presidente, como toda pessoa que assume liderança para a qual não está pronta, teve uma equipe cujo desempenho foi insuficiente. Isso se deu, e sempre se dá, quando se tem as pessoas erradas no lugar certo, as certas no lugar errado e todas envolvidas em um diálogo de surdos, onde todos falam e ninguém ouve.

    Quanto à evolução dos fatos e seus desdobramentos, no atual momento e além, não há como culpá-la. A culpa é nossa. Uns por terem apoiado o golpe, outros por terem se acomodado, Outros mais por fingirem que estão fazendo algo, como nós, lendo e escrevendo em mídia independente, onde se prega a convertidos com a impressão de se estar a combater o arbítrio, o facismo e essa corja que assumiu o poder.

    Os unicos que fazem algo estão na rua, apanhando da polícia. São os únicos que merecem respeito e perante os quais eu me envergonho da minha própria covardia e omissão.

     

     

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador