Aldo Fornazieri
Cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política.
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Os intelectuais de esquerda e os Black Blocs

Pesquisa do Datafolha, com uma margem de erro de 4%, publicada no final de semana, mostra que 95% dos paulistanos rejeitam as táticas violentas dos Black Blocs nas manifestações de rua e que apenas 4% apoiam. A margem de erro parece ser demasiado elevada para validar a pesquisa acerca da importância política dos manifestantes mascarados, já que um estudo recente, feito por um instituto de pesquisa dos Estados Unidos, a partir de modelos computacionais e levando em conta eventos históricos, indica que uma organização ou movimento precisa atingir 10% de apoio para ter uma efetiva capacidade de mudar a opinião da sociedade. Há um dado paradoxal no levantamento, na medida em que 15% dos entrevistados avaliam que os protestos estão sendo violentos na medida certa. A pesquisa diz ainda que o apoio às manifestações caiu de 74% em setembro para 66% em outubro. A violência, certamente, é um fator que tira apoio às manifestações.

A atual onda de violência nos protestos teve início no dia 13 de junho com a  violenta repressão da Polícia Militar paulista à uma manifestação pacífica. Esta onda deve continuar e não se sabe como e quando vai terminar. Há evidentes extrapolações dos dois lados – tanto dos jovens, quanto da polícia. A violência contra o coronel Reynaldo Rossi não se justifica, assim como as bombas e a repressão contra manifestantes pacíficos não se justificam. Nesse confronto entre Polícia Militar e Black Blocs, os menos responsáveis pela violência são as duas partes. As principais responsabilidades devem ser buscadas em quem comanda o poder: os políticos e os partidos.

Violência Estrutural e Violência Política

A violência das ruas é sintoma de uma violência mais profunda e mais grave: a violência da precariedade dos serviços públicos, a violência da falta de segurança pública, a violência dos acidentes no trânsito e a violência da corrupção. A violência criminal e a violência do trânsito, no Brasil, matam mais do que muitas guerras que estão em curso. Entre as duas formas de violência algumas estimativas indicam que morreram cerca de 96 mil pessoas em 2012. Aqui não estão contabilizadas as pessoas que morrem por falta de atendimento à saúde. Se existissem políticas públicas adequadas, o número de mortes violentas seria sensivelmente menor. Na Síria se produziu um número aproximado a este de mortos em dois anos de guerra. O problema é que a sociedade e a intelectualidade absorveram essa tragédia como algo normal e a naturalizaram.

Alguns intelectuais de esquerda, e mesmo militantes, classificam os Black Blocs como agrupamentos neofascistas. A qualificação (ou desqualificação) se assenta em dois argumentos. O primeiro é o argumento do uso da violência sob o regime democrático. O regime democrático, de fato, é um sistema que busca solucionar os conflitos através das leis, das instituições, das negociações e das votações. Mas dizer e aceitar isto não significa dizer que não existe violência nas sociedades democráticas. Como se sabe, o próprio Estado democrático tem o monopólio do uso legal da violência. E mesmo nas sociedades democráticas mais avançadas – a exemplo de Estados Unidos e Europa – a violência em protestos de rua, o confronto entre manifestantes e policiais, é algo recorrente. Nem por isto lá se vê a democracia ameaçada e nem por isto todos os manifestantes que usam a violência são classificados como neofascistas.

O uso de táticas de violência em protestos não fundamenta razão suficiente para caracterizar um movimento como neofascista. Ondas de violência política sempre existiram em qualquer época histórica e em todos os tipos de regimes – democráticos ou não. Por exemplo: boa parte de pessoas que estão no poder hoje lançaram mão da luta armada contra o regime militar. Mesmo nos períodos democráticos ocorreram choques violentos entre manifestantes e as forças da ordem. A Paz Perpétua só existe no livrinho de Kant e na vida eterna.

Antipoliticismo é Igual a Fascismo?

O segundo argumento se assenta na tese de que os Black Blocs, enquanto autonomistas, são antipolíticos e que o antipoliticismo leva ao fascismo. É certo que o anarquismo histórico e seus sucedâneos contemporâneos, pós-anarquistas e autonomistas, avessos às organizações, ao Estado e ao poder centralizado, na essência, são expressões de visões antipolíticas. Em nome da liberdade e do igualitarismo, o anarquismo figurou nos séculos 19 e 20 como expressão de movimentos libertários, que resultaram quase sempre em fracassos pelas suas incapacidades inerentes ou foram violentamente massacrados, muitas vezes com a conivência da esquerda marxista. Mesmo sendo a expressão de uma visão de mundo antipolítica, o anarquismo não deixou de escrever importantes páginas de história política. E mesmo sendo os Black Blocs antipolíticos estão eles inscritos em ações políticas que a história haverá de julgar.

Mas todo antipoliticismo é neofascista? Ora pois! O que é a filosofia da história marxista senão uma filosofia antipolítica ao preconizar o fim do Estado após o momento de transição socialista? Anarquismo e marxismo, no final das contas, têm o mesmo ideal utópico. O que é diferente é o caminho e o momento temporal em que essa epifania se realiza. O próprio liberalismo radical (neoliberalismo), ao propor a dissolução de muitas funções políticas no mercado, reduzindo o Estado a um mínimo necessário, é expressão de um forte conteúdo antipolítico. Desta forma, fica anulado também o argumento de que o antipoliticismo é razão suficiente para classificar um agrupamento como neofascista. A corrente histórica do politicismo é aquela que se filia a Aristóteles, a Maquiavel, aos Federalistas e a Hegel, que sustentavam a necessidade do Estado.

Intelectuais e militantes de esquerda precisam ver até que ponto os seus argumentos não flertam com os argumentos do conservadorismo validador do atual sistema capitalista mundial, dominado pelo capital financeiro. O que parece é que parte da esquerda aderiu a um poder que não é dela e que nele fica enquanto serve aos interesses desse sistema que seqüestrou a democracia em benefício próprio. É sempre conveniente lembrar que o poder é efêmero e que se hoje ele oferece luzes, amanhã poderá oferecer esquecimento, quando não degredo.  

Se alguém vai pagar caro por este momento histórico, inclusive possivelmente a esquerda, não é por aquilo que está acontecendo nas ruas, mas por aquilo que está acontecendo (ou deixando de acontecer) nos palácios governamentais. As ruas são a voz das urgências sempre prometidas, sempre esperadas e sempre adiadas. As ruas expressam o limite da suportabilidade de um Estado que arranca 35% do PIB da sociedade para não entregar o que os políticos prometem. Dizer que não tem recursos, tornou-se uma falácia, pois o poder público brasileiro gasta, em vários setores, mais do que muitos países gastam para manter serviços universais e de alto padrão. Parece que a esquerda precisa deixar de olhar as ruas só a partir dos palácios. É preciso que volte a olhar também os palácios a partir das ruas.

A violência Black Blocs certamente não conduzirá a uma solução, pois ela é um sintoma e uma ilusão. Mas ela é também um fato e um impasse. Um fato, porque produz conseqüências políticas que precisam ser levadas em conta. Um impasse, porque ela veio para ficar até que o Estado e os políticos cumpram as suas funções e entreguem o que prometem. Como isto não parece ser uma coisa rápida, o melhor aprender a viver com o impasse e compreender as ruas e seus grupos e buscar soluções ao invés de, simplesmente, desqualificar.

Aldo Fornazieri é cientista político e professor da Escola de Sociologia e Política

Aldo Fornazieri

Cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política.

11 Comentários

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  1. Artigo Black Blocs

    Esse movimento por vezes mostra a bandeira do Anarquismo, mas quem de fato financiou os treinamentos deste grupo? Eles sabem como botar fogo no carro da polícia, como quebrar um vidro blindado com uma tecnica bem rápida, conhecem táticas de ataque e defessa que são dignas de manobras guerrilheiras.  Em um site de investigativo li que empresas ligadas a Gerge Soros estão por tras. Alguém com alguma informação mais concreta?

    1. ISSO EXPLICA TUDO

      Isto explica tudo. Se os vândalos são financiados pelo Soros, então está comprovado que são agentes da construção do caos. Basta lembrar o que dizia o tal magnata no começo da crise que resultou na tragédia vista na ex-Iuguslávia. As cicratizes da guerra genocida na Bósnia e região mostram a gravidade dos riscos. BLACK BLOC = FASCISMO.

  2. Não-violência

    Discordo do contorcionismo do texto, tentando justificar o injustificável.

    “E mesmo nas sociedades democráticas mais avançadas – a exemplo de Estados Unidos e Europa – a violência em protestos de rua, o confronto entre manifestantes e policiais, é algo recorrente.”

    Sofisma. A violência de lá não justifica a violência daqui. Mesmo em democracias avançadas, há resquícios de barbárie.

    Talvez fosse o caso de comparar BBs com neonazistas e neofascistas europeus. Ambos são jovens; ambos são contra tudo o que aí está; ambos semeam o ódio e dizem que a culpa é “dos políticos e dos partidos”. Ambos destroem e fogem.

    O país e suas instituições não estão à beira do colapso, como clamam mascarados nas ruas e psicopatas nos blogs de esgoto.

    O Brasil profundo já deu seu veredito nas urnas, ao escolher Lula 2 vezes e Dilma mais uma: quer mudança sem derramamento de sangue. É tão difícil assim aceitar isso?

  3. É sempre perigoso falar o que

    É sempre perigoso falar o que o “povo” brasileiro pensa ou deixa de pensar. Ainda mais um grupo que não tem um fala que se faça oficial pelos métodos conhecidos. Liga-los a outros grupos de qualquer natureza é fugir da questão e generalizar. Dizer que estão contra os problemas apenas dos políticos e partidos brasileiros é querer justificar um ponto de vista muito tendencioso.

    Assim mesmo, na minha humilde suposição, a frente na qual os bb atuam é diretamente contra o governo, mas indiretamente contra os grandes capitalistas (vide depredação de bancos) que manipulam tanto a “direita” ou “esquerda”, e não só no Brasil. É contra a mídia, que santifica a dominação e domestica o povo, contra o sistema financeiro, contra os abusos de autoridade, contra o cerceamento da liberdade de expressão, política ou cultural.

    No meu ver, a questão é essencialmente supranacional e anárquica. A violência é contra a ordem que gere o sistema e contra as relações de poder que o estruturam, enquanto os pontos levantados no texto são, para mim, objetivos muito rasos.

  4. o autor comete um equivoco ao

    o autor comete um equivoco ao classificar o marxismo de ‘apolitico’. Na verdade a grande divergência, embora nao a única , entre marxistas e anarquistas e justamente o ‘apoliticismo’ dos ultimos. Se o Estado nao e algo natural e eterno na filosofia marxista, ele nao desaparece de um dia para outro, pela simples vontade. Em um texto  chamado justamente de ‘apoliticismo’ Marx sugere como tatica o combate a sociedade  capitalista com as armas que ela mesma oferece. Seguindo o espirito anarquista o autor do artigo confunde teoria com tatica ao classificar o marxismo de apolitico. E justamente a confusão de tatica com estratégia e teoria que leva ao autoritarismo, inclusive no marxismo. Mas em uma coisa concordo, o anarquismo esta do mesmo lado do neoliberalsimo radical ao propor o fim do Estado aqui e agora. Um cientista politico da Universidade Austin propos o anarco-liberalismo para solucionar os problemas da democracia no livro ‘Democracy – the god that failed’. Indo no popular: me diga com quem andas que te direi que és.

  5. Um pouco de lucidez

    Enfim um opinião lúcida que vê que é preciso dar uma resposta melhos aos black blocs do que porrada e prisão. Pena que haja gente que insista em não querer enxergar a realidade

  6. Festival de impropriedades

    Como ninguém está aqui para defender as práticas odiosas da polícia; como ninguém em perfeita consciência desconhece ou naturaliza a violênca inerente ao padrão de desigualdade que a séculos caracteriza a sociedade brasileira, vamos tomar por acertado que é bem pouco provável que “a intelectualidade”, o que auer que se queria identificar com isso, naturalize essas mesmas desigualdades e suas consequências. Esse tipo de afirmação não passa de anti-intelectualismo reles. Aliás, somar violência criminal e violência no trânsito, nessa discussão específica, para fazer comparação numérica com paises em guerra é, digamos, tergiversar para dizer o óbvio 

    Em segundo lugar, qual é a relevância em se identificar a existência de atos violência em manifestações no países sob regimes democráticos. Isso legitima o que? Lá também tem atos terroristas, LOGO….vamos experimentar o terrorismo político, já que ele subsiste naquela democracais! Qual o sentido desse tipo de argumentação? Talvez eu tenha de me consultar com o professor para saber qual grau de violência ele considera razoável, segundo a legislação não escrita, não votada, que não sabemos na cabeça de quem está.

    Que diferença faz – para além de uma discussão conceitual – se é fascismo ou não? Discussões intermináveis foram travadas para saber se o salazarismo, o Estado Novo, o peronismo e o escambau a quatro eram fascistas? Mas e daí? Para nossa discussão basta assinalar que a franquia blequebloque é essencialmente autoritária e a sua anti-política usurpa e cancela fatias mais que substancias da arena política legítima. Seu comportamento criminoso anda de mãos dadas com aqueles mais que dispostos a criminalizar os movimentos sociais. E não ao contrário, que isso fique bem claro!. Nisso a sua ineficácia política e o seu carater contraproducente se tornam inquestionáveis. Regra geral, nas democracias, a radicalização, com recurso a violência, se transforma em uma enxurrada de votos na direção contrária, quando não desembocam em estados autoritários pura e simplesmente.

    Que o marxismo político compartilhou e compartilha, em varias das suas variantes, proposições autoritárias é novidade para quem? Isso autoriza alguém a ter um comportamento anti-democratico e a definir em seus próprios e exclusivos termos o que é ou deve ser A Política? Isso obriga a quem está à esquerda a ser necessariamente autoritário? Isso é um debate entre anarquismo e ditadura do proletariado? Sobre o comunismpo como imagem objetivo utópico? Coisíssima nenhuma camarada!  Isso é uma discussão sobre a democracia e sobre o Estado de Direito e tudo isso é muito coisa para ser emporcalhado por espasmos de violência delirante!

     

    .

  7. Falou, falou, pra finalizar o

    Falou, falou, pra finalizar o texto com o mesmo tom dos intelectuais de esquerda que critica!

    É fácil pro SR. DR. falar que está sendo feito nas ruas só é uma “ilusão”? Só pode ser fácil pra quem vive fechado em uma universidade e só fala entre seus pares.

    Não queremos soluções para a violência que resolvemos vomitar nesse Estado e em quelquer Estado que venha se impor sobre nós. A violência É a solução. Uma delas. O começo.

    O fim dos privilégios está próximo. Inclusive da esquerda arrogante e higienista que sonha em moralizar o anarquismo.

  8. Black bloc

    O texto de Fornazieri toca em assuntos importantes, mas comete  alguns erros.

    Quando ele diz:

     

    “É certo que o anarquismo histórico e seus sucedâneos contemporâneos, pós anarquistas  e autonomistas, avessos as organizações, ao estado e ao poder centralizado, na essência, são antipolíticos”.

     

    Fornazieri repete o erro em outro trecho:

    “Mesmo sendo a expressão de uma visão antipolítica ……………………”. 

     

    Pois bem, o importante é definir qual é acorrente anarquista que Fornazieri se refere quando acusa o anarquismo de antipolítico. O anarquismo, como sabem alguns que estudam seriamente essa questão, é múltiplo e tem muirtas faces. Proudhon, talvez o pensador mais denso do movimento, escreveu em suas obras várias concepções e desenvolveu estudos profundos e bastante avançados para época, de modalidades de frentes de organização federalista (prontas para negociação) que inspiraram os modernos movimentos sindicais que, infelizmente as subverteram, além de diferentes modelos de propriedade privada e pública que deveriam ser analisadas pelos anarquistas sérios.

     

    Segue outro grave erro que Fornazieri cometeu em seu texto:

    “Anarquismo e marxismo, no final das contas (sic), tem o mesmo ideal utópico”.   

     Creio que no “final das contas”, Fornazieri fez as “contas” erradas. Anarquismo e marxismo tem “ideais utópicos” bem divergentes. Quem leu um pouco a respeito, sabe muito bem disso, e não cabe aqui apontar essas diferenças.   

     

    Por  fim, Fornazieri aponta errôneamente em seu texto a permanência do “impasse”.

     

    Para mim, não há qualquer impasse, e sim a incompetência e impotência desses novos movimentos, bem como  da esquerda “old school”, em repensar e ressignificar modelos de organização pós protestos e pós vandalização no método  Black bloc. A juventude indignada deveria estabelecer formas de práticas institucionais alternativas,   após as passeatas, seja através de conselhos de participação popular de pressão em espaços públicos, num exercício, ainda que precário, de democracia direta,  questionando radicalmente o arranjo institucional que predomina no país de partilha de estado por quadrilhas travestidas de partidos políticos que formam a coalizão da farsa de esquerda montada pelo PT e, que inviabiliza qualquer práxis política legitimamante ética. É difícil, mas é fundamental encontrar saídas políticas altenativas pós mobilização. Não adianta manter o enfrentamento permanente com as forças de coerção do estado a serviço da máfia. O alvo deve ser as próprias quadrilhas corruptas de políticos congressistas, protegidos pelo circo fascista do sistema judiciário espetaculoso, que comandam  e legitimam o sistema policialesco violento e despreparado oriundo da ditadura,  para manter seus privilégios na corte do presidencialismo de coalisão da imperatriz Dilma controlada como uma marionete,   por sua “Eminência Parda”, na política populista e demagógica de “pão (bolsa família) e circo (copa do mundo, olimpíada, novelas da globo etc)” que o governo mantém. Nesse processo, a radicalização e intransigência Blac block, contribui para favorecer o poder estabelecido e enfraquecer as mobilizações.   

      

       

     

  9. sobre black blocs e fascismo

    O texto é em parte interessante por causa do balanço de conjuntura (ainda que despreze que uma pesquisa de opinião da folha é baseada no barulho gerado em torno da agressão exclusiva ao coronel e que pode possuir distorções especialmente no caso de uma pesquisa feita pelo mesmo instituto que gera distorçoes bizonhas durante campanhas eleitorais) e especialmente na crítica à tese da associação entre black bloc e fascismo, muito ruim a meu ver ao associar um fenômeno historicamente estatal (e principalmente mesmo quando mobilizada fora do estado, é mobilizada a seu favor em nome de uma organização horizontal da sociedade que anula qualquer possiblidade de contestação) aos anarquistas e black blocs por parte da Marilena Chauí (a meu ver com uma inspiração terrivelmente rasa no atual ruifaustismo e demais neo-mencheviques).

    Mas além disso, a tese é ainda pior por causa da tese anti-estado =  anti-política que dissocia qualquer esquerda revolucionária da política e pressupõe algo a meu ver autoritáro na medida em que associa imediatamente sociedade civil e estado. Ele aventa uma análise, mas ela erra na medida em que coloca expulsa praticamente toda mobilização política fora do estado também para fora da política, ainda que, mais ainda, discorde que as manifestações, apesar do uso de táticas anti-blaclblocs sejam de algum modo anti-estado já que elas se dirigem geralmente a mais direitos sociais e ao estado (crítica da execução sumária no caso Amarildo, diminuição da passagem e direitos sociais em geral).

    Os símbolos do capitalismo atacados são simbolicamente aquilo que seria para os manifestantes a causa dos governos se tornarem parecidos e não realizarem aquilo que deveriam realizar. O que parece acertado em abstrato, no entanto, mesmo simbolicamente a classe média é grande parte da esquerda defende os símbolos da propriedade privada. Em outro contexto talvez isso gerasse maior apoio popular, mas no caso barram nesse limite moral da população, no que erram. Do mesmo modo, isto não impediria os gestores púlicos de saberem se apropriar ou negociar com esta situação, o que falta é vontade ou melhor, sobra talvez rabo preso, pois ninguém quer lidar com financiamento dos partidos (que são os símbolos atacados) nem com a repressão policial (como muito bem o autor destaca em outro texto).

    A ambos, Marilena e Fornazieri, eu recomendaria uma lida no Lefort da Invenção Democrática e mesmo a introdução escrita pela Marilena Chauí, caso ela tenha esquecido. 

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