Os trinta anos do Plano Cruzado, por Diogo Costa

TRINTA ANOS DO PLANO CRUZADO – Relembrar daquele tempo é importante pois muita gente insiste em dizer que “no passado é que era bom.” 
 
Evidente que todo mundo tem saudade dos tempos de infância, etc., mas em termos econômicos o passado recente do Brasil não era nada bom. Vejamos o contexto:
 
Há 30 anos, em 28 de fevereiro de 1986, o então presidente José Sarney lançava o Plano Cruzado, que tentou debelar a grande inflação daqueles tempos. 
 
Seguem algumas das medidas adotadas pelo Plano Cruzado:
 
1. Congelamento de combustíveis, serviços, alimentos e produtos de higiene e limpeza, etc
 
2. Corte de três zeros e mudança da moeda de Cruzeiro para Cruzado
 
3. Fim da correção monetária
 
4. Criação do seguro-desemprego
 
5. Congelamento do câmbio a preços fixos
 
6. Tabela da Sunab publicada nos jornais e afixada nos mercados (sim, o governo tabelou os preços dos produtos)
 
7. Fiscais do Sarney 
 
8. Confisco de boi no pasto
 
9. Fim da Obrigação Reajustável do Tesouro Nacional (ORTN), título da dívida pública instituído em 1964, e criação da Obrigação do Tesouro Nacional (OTN)
 
10. Gatilho salarial 

 
A inflação foi de 215,26% em 1984 (último ano da ditadura militar) e de 242,23% em 1985, primeiro ano do governo Sarney. <–break->
No início o plano foi um sucesso de público (o consumo subiu vertiginosamente e a inflação foi debelada pelo congelamento). 
 
Sarney era aplaudido em todo o país e o PMDB se refestelou, elegendo 22 dos 23 governadores na eleição de 1986. 
 
Com o tempo as prateleiras e gôndolas dos supermercados começaram a esvaziar e a escassez de alguns produtos se tornou crônica. 
 
Gerentes de supermercados eram presos e estabelecimentos eram sumariamente fechados se violassem a tabela da Sunab (bastava a denúncia de um dos ‘fiscais do Sarney’).
 
As mercadorias que sumiam das prateleiras e gôndolas eram vendidas no mercado clandestino a preços exorbitantes. 
 
O câmbio fixo acabou com as reservas internacionais do país e a taxa real de juros, que ficou negativa, estimulou o consumo além daquilo que se conseguia produzir (ainda mais com o congelamento de preços). 
 
Logo após o pleito de 1986 o Plano Cruzado entraria em colapso e em fevereiro de 1987 o Brasil declararia a falência (pedido de moratória). 
 
Praticamente todos os economistas que fizeram o Plano Cruzado se reuniram depois, entre 1993 e 1994, para criar o Plano Real de Itamar Franco. 
 
Olhando para aqueles tempos não se pode deixar de tecer alguns paralelos com a situação atual da Venezuela. 
Redação

13 Comentários

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  1. E quem como eu tenho ação na

    E quem como eu tenho ação na justiça para recebimento do que me foi tungado pelos planos econômicos,

    devo fazer o quê após estes 30 anos. Me sugeriram ir ao cartório, e já deixar pronto para a próxima certidão

    de nascimento, quando da minha reencarnação, ter o mesmo CPF, endereço, Carteira de Identidade,etccc  que

    assim talvez tenha uma esperança de ver a côr  do que os cérebros da economia me levaram. O roubo contra

    o povão é mole. Gostaria de saber, como estariam estas ações, se fossem os bancos os credores.

  2. Há que se considerar as

    Há que se considerar as condições de financiamento internacional completamente diferentes entre os anos de 1986 e 1994. Em 1986, o país só tinha acesso a bancos internacionais com linhas escassas de crédito por conta da crise da dívida enquanto que em 1994, já havia um enorme mercado de hot-money (uma variada gama de investidores à procura de arbitragem de juros) disponível para o país. Em 1986, quando a balança comercial começou a pender para o déficit, a única alternativa que o país tinha era entrar em recessão ou utilizar as reservas. Já em 1994, era possível se financiar com a entrada de hot-money elevando-se a taxa de juros, sem se preocupar (muito) com a balança comercial. Mas isso só falando de economia. A  história do cruzado não pode ser contada só por este ponto de vista porque 1986 era um ano de eleição da constituinte e ao que parece, o governo Sarney apostou todas as suas fichas em tentar eleger um congresso mais governista possível com um quadro de governadores favorável. De certa maneira, havia uma preocupação evidente também em 1994 com a eleição presidencial, mas com um calendario eleitoral diferente. Basta ver que o cruzado inicia em fins de fevereiro a 9 meses da eleição enquanto que o real inicia a fins de junho a 3 meses do primeiro turno da eleição.

      1. .

        O que se desmanchou foi a artificial e perniciosa paridade cambial entre o dólar e o real, em janeiro de 1999 (depois, evidentemente, de FHC conseguir a sua reeleição). 

    1. .

      Talvez um câmbio flutuante tivesse dado uma sobrevida ao Plano Cruzado. O Plano Real só não foi completamente destruído porque se acabou com a maluquice da paridade cambial em janeiro de 1999.

  3. Sarney, o socialista

    Não, não estou ironizando. O Plano Cruzado corresponde estritamente aos primeiros passos que todo regime socialista que chegou ao poder fez em sua transição. É a etapa de eliminação da economia de mercado, com o tabelamento dos preços. Essa etapa tem também a utilidade de atrair o apoio popular, pois a ilusão de ter dinheiro suficiente para comprar todos os ítens que deseja induz o cidadão a consumir mais do que pode, até acabarem os estoques das lojas. Finda a farra, vem a etapa seguinte: estatização dos meios de produção, racionamento e repressão. Mas o Brasil não entrou nessa segunda etapa porque Sarney não era um socialista de verdade, mas apenas um político que queria garantir o “pudê” para a sua curriola: vencida a eleição, voltou tudo.

    Mais curioso ainda foi que Sarney realizou outra tradicional reinvindicação das esquerdas: o não pagamento da dívida externa, medida que os socialistas tupiniquins sempre garantiram que seria a nossa indepedência das grandes potências. Não tenho dúvida de que Sarney foi o maior socialista de nossa história.

    1. O socialismo deve ser um

      O socialismo deve ser um fracasso mesmo.

      Deve ser por isso que a antiga URSS, uma ditatura que praticava uma caricatura de socialismo, mesmo sendo destruida pelas duas maiores guerras da humanidade e sendo vitima de uma coletivizacao forcada que matou milhoes de pessoas, logrou o feito de se tornar a 2a maior potencia do mundo em menos de 20 anos.

      Mais incompetentes ainda devem ser os CHineses, que desde o advento do governo Deng Xiao PIng, em menos de 30 anos se tornaram a maior potencia industrial do planeta.

      Isso sem falar na Alemanha, paises escandinavos, Inglaterra e Franca. Todos praticantes do socialismo.

      Vc tem razao, socialismo eh um atraso!

    2. .

      Nunca houve um período com maior estatização da economia no Brasil quanto no período dos militares golpistas, entre 1964 e 1985. Criaram mais de 300 empresas estatais e isso é mais do que a soma daquilo que foi criado nos governos de Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, João Goulart, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.

  4. Agradeça aos desenvolvimentistas

    Interessante você mencionar isso.

    O receituário em questão é a cartilha do desenvolvimentismo. O Bresser-pereira e o Belluzo andam por ai advogando o tabelamento do câmbio, a redução forçada dos juros e o fim da correção monetária.

    O Belluzo, inclusive, diz que o problema da inflação brasileira é de inércia, de modo que é necessário acabar com a correção a fim de desindexar a economia.

    Mas eu tenho certeza de que o povo aqui vai dizer que o Plano Cruzado era fruto de políticas liberais – é claro, afinal, a culpa é sempre do mordomo.

     

  5. Historia que não se deve esquecer

    Nossa Diogo, trinta anos do Plano Cruzado me lembra que eu ainda era uma menina e que achava muito engraçado senão estranho aquela historia de que todos éramos fiscais do Sarney! Foi uma loucura aquilo. Era briga em supermercado, na feira, gente dizendo que iria chamar a policia etc. Erraram na dose e o Pais quebrou. Ai, alguns anos depois, ja vacinados, criaram o Plano Real e a catapulta para a ala que saiu do PMDB, o PSDB anos 90, chegar ao poder.

     

    1. Bem lembrado: foi uma vacina

      Você se recorda bem do clima de euforia da época, não sem motivo: o Cruzado era tudo que o povo brasileiro sempre sonhou. Um solução mágica saída do bolso do governo, nada de austeridade, nada dessa bobagem de disciplina fiscal, cruzes! Nada de fazer despesas iguais à receitas, só gastar, gastar, gastar… foi uma farra boa.

      Foi mesmo necessário que o povo se desapontasse com o Cruzado para entender a necessidade do Real. Valeu como uma vacina.

  6. Como se fosse possível

    levantar-se do chão puxando pelos próprios cabelos.

    A moratória no Cruzado era inevitável. Quando começou o plano já não havia $$$$!!!!

    Ja no Real devia ter os seus  “criadores” levantado uma estátua do Brady ( Nicholas Brady).

     

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