País passa por uma tentativa revanchista de antecipar 2018, diz Wagner Moura

Jornal GGN – Em artigo publicado na Folha de S. Paulo, o ator Wagner Moura analisa a atual crise política, diz que “ser legalista não é o mesmo que ser governista”, afirmando que tentativa de tirar a presidente Dilma Rousseff do poder é um “golpe clássico”. O ator ressalta que nos últimos anos tem feito críticas públicas ao governo Dilma e acredita que o “esfacelamento das ideiais progressistas” é reflexo, também, da decadência do PT.

Moura critica o juiz federal Sergio Moro, dizendo que ele age como promotor, e diz que o país vive um “Estado policialesco movido pelo ódio”. Ele lembra que o processo de impeachment é movido pelas ‘pedaladas fiscais’ e não pelos fatos investigados na Operação Lava Jato, afirmando que “mpeachment sem crime de responsabilidade provado contra a presidente é inconstitucional”. Leia mais abaixo:

Da Folha

Pela legalidade
 
Wagner Moura

Ser legalista não é o mesmo que ser governista, ser governista não é o mesmo que ser corrupto. É intelectualmente desonesto dizer que os governistas ou os simplesmente contrários ao impeachment são a favor da corrupção.

Embora me espante o ódio cego por um governo que tirou milhões de brasileiros da miséria e deu oportunidades nunca antes vistas para os pobres do país, não nego, em nome dessas conquistas, as evidências de que o PT montou um projeto de poder amparado por um esquema de corrupção. Isso precisa ser investigado de maneira democrática e imparcial.

Tenho feito inúmeras críticas públicas ao governo nos últimos 5 anos. O Brasil vive uma recessão que ameaça todas as conquistas recentes. A economia parou e não há mais dinheiro para bancar, entre outras coisas, as políticas sociais que mudaram a cara do país. Ninguém é mais responsável por esse cenário do que o próprio governo.

O esfacelamento das ideias progressistas, que tradicionalmente gravitam ao redor de um partido de esquerda, é também reflexo da decadência moral do PT, assim como a popularidade crescente de políticos fascistas como Jair Bolsonaro.

É possível que a esquerda pague por isso nas urnas das próximas eleições. Caso aconteça, irei lamentar, mas será democrático. O que está em andamento no Brasil hoje, no entanto, é uma tentativa revanchista de antecipar 2018 e derrubar na marra, via Judiciário politizado, um governo eleito por 54 milhões de votos. Um golpe clássico.

O país vive um Estado policialesco movido por ódio político. Sergio Moro é um juiz que age como promotor. As investigações evidenciam atropelos aos direitos consagrados da privacidade e da presunção de inocência. São prisões midiáticas, condenações prévias, linchamentos públicos, interceptações telefônicas questionáveis e vazamentos de informações seletivas para uma imprensa
controlada por cinco famílias que nunca toleraram a ascensão de Lula.

Você que, como eu, gostaria que a corrupção fosse investigada e políticos corruptos fossem para a cadeia não pode se render a esse vale-tudo típico dos Estados totalitários. Isso é combater um erro com outro.

Em nome da moralidade, barbaridades foram cometidas por governos de direita e de esquerda. A luta contra a corrupção foi também o mote usado pelos que apoiaram o golpe em 1964.

Arrepio-me sempre que escuto alguém dizer que precisamos “limpar” o Brasil. A ideia estúpida de que, “limpando” o país de um partido político, a corrupção acabará remete-me a outras faxinas horrendas que aconteceram ao longo da história do mundo. Em comum, o fato de todos os higienizadores se considerarem acima da lei por fazerem parte de uma “nobre cruzada pela moralidade”.

Você que, por ser contra a corrupção, quer um país governado por Michel Temer deve saber que o processo de impeachment foi aceito por conta das chamadas pedaladas fiscais, e não pelo escândalo da Petrobras. Um impeachment sem crime de responsabilidade provado contra a presidente é inconstitucional.

O nome de Dilma Rousseff não consta na lista, agora sigilosa, da Odebrecht, ao contrário dos de muitos que querem seu afastamento. Um pedido de impeachment aceito por um político como Eduardo Cunha, que o fez não por dever de consciência, mas por puro revide político, é teatro do absurdo.

O fato de o ministro do STF Gilmar Mendes promover em Lisboa um seminário com lideranças oposicionistas, como os senadores Aécio Neves e José Serra, é, no mínimo, estranho. A foto do juiz Moro com o tucano João Doria em evento empresarial é, no mínimo, inapropriada.

E se você também achar que há algo de tendencioso no reino das investigações, não significa que você necessariamente seja governista, muito menos apoiador de corruptos. Embora a TV não mostre, há muitos fazendo as mesmas perguntas que você.

WAGNER MOURA, 39, é ator. Protagonizou os filmes “Tropa de Elite” (2007) e “Tropa de Elite 2” (2010). Foi indicado ao prêmio Globo de Ouro neste ano pela série “Narcos” (Netflix) 

 

Redação

8 Comentários

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  1.  Wagner Moura foi muito feliz
     Wagner Moura foi muito feliz no seu texto. Parabéns pelo exemplo e pela lucidez.Também não ligo para partidos ou pessoas, mas para a democracia e justiça.Mas não a justiça promotorial e arrogante de Sérgio Moro, que mais lembra os tempos da Inquisição.Não sei se a Opus Dei defende a Inquisição. Observe como a Folha de São Paulo – tal como hoje – em 20 de março de 1964 promoveu o Golpe fazendo a defesa da “Constituição”.Apoiou o Golpe militar e depois o resto a gente sabe muito bem: 21 anos de ditadura.O modo de apoio é o mesmo. Capa da Folha de 20/3/1964: “São Paulo parou ontem para defender o regimeA disposição de São Paulo e dos brasileiros de todos os recantos da pátria para defender a Constituição e os princípios democráticos, dentro do mesmo espírito que ditou a Revolução de 32, originou ontem o maior movimento cívico j´pa observado em nosso Estado: a “Marcha da Família com Deus, pela Liberdade”.””Com vivas à democracia e a Constituição, mas vaiando os que consideravam “traidores da pátria”, concentraram defronte da catedral e nas ruas próximas” Ver:http://acervo.folha.uol.com.br/fsp/1964/03/20/2//4447893 No dia anterior, na capa, a Folha promovia a manifestação do dia 20:”Hoje às 16 horas passeata em defesa da Constituição” Ver:http://acervo.folha.uol.com.br/fsp/1964/03/19/2//4447821

  2. Excelente texto.
    Disse

    Excelente texto.

    Disse muito…

    É a primeira vez neste país que a corrupção tem sido combatida pra valer. Sonegação dos grandes empresários, esquemas dentro de estatais, CBF/FIFA/Rede Globo, desvios de merendas, compras de votos, dentre outros… E aí, os investigados estão patrocinando a derrubada daquela pessoa que está deixando acontecer tudo isso. Opa, não era pra pegar tão pesado? Ixe, agora a coisa saiu do controle? O Brasil só pode ser o país da piada pronta…

    Lamentável aqueles que querem o combate à corrupção, por ódio a um partido e ojeriza a pobres, não perceberem isso. E se percebem, deve ser em silêncio, com vergonha. Pois no fundo, no fundo, sabem que o PMDB assumindo o poder, via golpe branco, tudo será como antes na terra do abrantes…

  3. Caro Sr Wagner Moura.
    “Um

    Caro Sr Wagner Moura.

    “Um impeachment sem crime de responsabilidade provado contra a presidente é inconstitucional.”

    Pergunto: Onde é feita a prova do crime de responsabilidade senão no julgamento?

    Quem vai decidir se as pedaladas e outros atos praticados pela Dilma, objeto do pedido de impechment são ou não crimes é justamente o Congresso Nacional, julgando em suas duas casas para condenar ou absolver.

    Cabe a ele (congresso nacional) e somente a ele dizer se foi ou não crime.

    É da sentença do congresso que saberemos se são crimes ou não.

    Se o congresso condenar, significa que são crimes. Se o congresso absolver, significa que não são crimes.

    Se for essa a sua preocupação fique tranquilo. A única coisa que não vai acontecer é o congresso dizer que não houve crime e condenar.

     

     

     

     

    1. Caro Sr. Benedito,
      O Sr. sabe

      Caro Sr. Benedito,

      O Sr. sabe o que é pedalada fiscal? Se sabe, me responda se pedalada fiscal pode ser enquadrada como crime de responsabilidade. O Sr. sabia que as tais pedaladas fiscais foram praticadas por diversos governos, como de FHC? Não me lembro de indignação, pedido de impedimento pelo fato de cometer um crime de resposabilidade. O sr. sabia que atualmente 16 governadores (entre eles, o de São Paulo) praticam as tais pedaladas? Mas o que eu gostaria que o sr.  me respondesse mesmo é: pedaladas fiscais podem ser classificadas como crime de resposabilidade?

    2. O sr. Disse tudo !

      As pedaladas da Presidente vão ser “julgadas” pelo “Congresso Nacional”. Esse é exatamente o perigo, julgada por um grupo comandado pelo probo maior, que nem se precisa dizer o nome, até minhas cachorrinhas sabem. Aquele mesmo que vem adiando o próprio julgamento desde setembro de 2015 e está querendo parar de novo , pq houve uma troca de partidos.

      E o sr. confia que  pode ser um julgamento honesto? É ainda tem gente que usa argumentos como o seu! Pobre país !

  4. É um erro grosseiro achar

    Que é a câmara que define o que é crime de responsabilidade pois no impeachment se julga e não se legisla. A definição de crime de responsabilidade está na constituição federal. Se fosse a câmara que tivesse que dizer se a conduta é crime ou não nenhum presidente ficaria a salvo de possíveis golpes desta feita ilimitados

  5. patrulha ideológica

     

      Bravas as pessoas que se colocam e tentam de alguma forma denunciar esse golpe covarde em curso.Bravo principalmente os artistas e intelectuais pela visibilidade que têm . Temos que nos posicionar sem medo da patrulha ideológica que assola a sociedade brasileira. Nossa sociedade retroagiu e perdeu o bom senso. Uma pena!!!!

     

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