Para a turma do impeachment, delações não são mais motivo para parar o Brasil

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – Será que os apoiadores do impeachment agora acham que delações não são suficientes para derrubar um presidente e parar um país? É o que questionado Celso Rocha de Barros na Folha desta segunda (15). Segundo o autor, depois de andar ao lado de patos infláveis cobrando “Justiça” como se estivessem fora de si, a turma de impeachment decidiu cruzar os braços agora que a lama da corrupção respingou em Michel Temer e seus aliados.  

Aparentemente, só a moralidade seletiva explica essa inércia. “Temer venceu, é do jogo, e seus apoiadores podem debater entre si sobre quem estava entre os bêbados e quem estava entre os cínicos”, disparou Barros.

Por Celso Rocha de Barros

O benefício da dúvida voltou depois que o PT foi retirado da Presidência

Na Folha

Ah, ser jovem e ser capaz de ressuscitar um movimento pelo impeachment porque a “IstoÉ” denunciou que Dilma tentou interferir em um julgamento do STF! Eram tempos mágicos, março de 2016, e éramos ousados: argumentávamos que delação premiada era prova suficiente (se o delator estivesse mentindo, afinal, seria punido severamente). Era tudo febril. Foi como Woodstock: se você lembra do entusiasmo punitivo que teve em março de 2016, você não estava lá. Também como em Woodstock, as coisas eram conduzidas por uns sujeitos que só foram confundidos com líderes de verdade porque todos estavam em um estado mental alterado em que nos parecia inteiramente natural que patos gigantes caminhassem entre nós.

Agora os delatores dizem que Michel Temer e José Serra pediram milhões em contribuições ilegais de campanha. E aí, derrubaremos o presidente, inflaremos os bonecos, bateremos as panelas, botaremos a Janaína para dublar Iron Maiden, teremos uma nova capa de “O Globo” comparando passeatas pelo impeachment à eleição de Tancredo? Quantos meses de revistas semanais teremos com as denúncias contra Temer e Serra na capa? Ao menos teremos curiosidade de perguntar em troca de que favores foram feitas as doações?

Não, hoje somos dezenas de dias mais velhos do que em março, nos tornamos burgueses e acomodados. Agora suspendemos o sabático do benefício da dúvida.

O sabático do benefício da dúvida foi longo, mas terminou quando o PT foi retirado da Presidência. Para a turma que apoiou o impeachment, delações premiadas não são mais motivo para se parar o país, como paramos naquelas semanas loucas de março. Vamos deixar que o governo faça seu trabalho e que a Justiça faça o seu, dizem. Vamos nos limitar a fiscalizar e deixar que as autoridades acusadas se defendam na Justiça.

Essas seriam posições inteiramente razoáveis, se não fossem agora propostas por pessoas que, não faz seis meses, cuspiam na cara de quem as defendesse.

Nenhum benefício da dúvida foi oferecido ao PT, muito menos a Dilma Rousseff, pelos defensores do impeachment. Diante das denúncias da “IstoÉ”, menos graves do que as que agora há contra Temer e Serra, aceitou-se parar o governo. Aceitou-se derrubar o governo. Mas esse radicalismo todo acabou no dia seguinte à distribuição de cargos e verbas pelo presidente agora acusado.

Cada um terá sua opinião sobre o equilíbrio ideal entre benefício da dúvida e a necessidade de afastar suspeitos de cargos de responsabilidade. Cada um terá sua própria opinião sobre o equilíbrio entre governabilidade e contestação de um governo que responde a acusações sérias.

Mas é muito pouco provável que essas opiniões tenham mudado tão radicalmente no campo conservador desde março. Ninguém acredita nisso, como ninguém acredita que Dilma só descobriu que precisava fazer o ajuste no dia seguinte à reeleição.

O que é indiscutível, portanto, é que todos precisam revisar para baixo o quanto consideram que havia de convicção moral no movimento que derrubou Dilma. Se as convicções fossem aquelas, as atitudes diante de Temer e Serra não seriam estas.

Mas é isso, Temer venceu, é do jogo, e seus apoiadores podem debater entre si sobre quem estava entre os bêbados e quem estava entre os cínicos.

Celso Rocha de Barros é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford, com tese sobre as desigualdades sociais após o colapso de regimes socialistas no Leste Europeu. É analista do Banco Central. Escreve às segundas.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

9 Comentários

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  1. Na verdade continua a mesma

    Na verdade continua a mesma sanha pela moralidade, só que pelo lado do PT.  Tirar Dilma definitivamente já é certo, mesmo sem provas. Prender Lula por barco de lata e fazenda chinfrim fecha o golpe. E viveremos felizes para sempre.

  2. O NEO MACARTISMO DE TEMER

    Não sei se a mídia se deu conta desse fato, está em andamento uma caixa às bruxas (supostos petistas) nos cargos em comissão do governo federal. O que pode parecer uma óbvia troca de nomes, já que se trocou de partido, na verdade, está sendo feito de uma forma e extensão que se assemelha ao Macartismo… Normalmente, estas trocas se dão no alto e médio escalões, e atingem ministros, secretários e diretores… Porém, a ordem que foi dada foi para demitir todos os comissionados de todos os níveis, sem nenhum critério, ou melhor, com o critério de antiguidade no cargo: Quem tiver mais de três anos de função, ou seja, ou qualquer possibilidade de ser um petista, será guilhotinado sem chance de provar o contrário. Um dos primeiros ministérios a sofrer essa limpa foi o MInistério da Saúde, com a demissão de mais de 60 comissionados em uma canetada. Agora a faxina está a todo vapor na CGU, um órgão técnico que sempre primou por ser apolítico.

  3. Excelente notícia. É melhor
    Excelente notícia. É melhor mesmo que o golpe seja escancarado, escandaloso e sem qualquer aparência de legalidade.  Quanto mais a Lei para os “bandidos amigos” (Michel Temer/José Serra) for diferente do simulacro da Lei aplicada aos “inimigos inocentes” (Dilma Rousseff​), mais ficará caraterizado o golpe. E maiores serão as possibilidades do novo regime ser reprovado abertamente pela OEA e pela ONU. Um governo declarado “fora da Lei” pelos organismos internacionais pode ser derrubado pelo seu povo? Esta meus caros é a questão que a esquerda terá que se preparar para responder em breve. 

  4. De tão ridículo virou piada

    E Sérgio Moro já virou merecidamente piada. Por Paulo Nogueira

     Postado em 15 Aug 2016por :  no Diário do Centro do Mundo Palhaçada

    Palhaçada

    A última etapa da respeitabilidade de um juiz é quando ele se transforma em piada.

    Foi o que aconteceu, merecidamente, com Sérgio Moro.

    Neste final de semana, Zé Simão postou nas redes sociais uma frase que viralizou. Moro contratou Bolt para pegar Lula e Rubinho para pegar a mulher do Cunha.

    Os historiadores do futuro poderão usar a tirada de Simão no capítulo em que tratarem de Moro e da Lava Jato.

    É, numa palavra, uma vergonha a conduta de Sérgio Moro.

    Ele age como se os brasileiros fôssemos idiotas. É como os juízes de futebol que cometiam barbaridades antes que chegasse a televisão para fiscalizá-los.

    Todos conhecem a grande máxima política. Você enganar algumas pessoas algum tempo, mas não todo mundo o tempo todo.

    Eis Moro.

    Tinha que virar piada algum momento.

    A má vontade abjeta com que ele trata a delação da Odebrecht é um escândalo. A única explicação é que nela você encontra Serra, Aécio et caterva.

    E é um escárnio ele dizer que não consegue achar o endereço de Claudia Cruz. Até Rubinho já teria encontrado faz tempo.

    Era mais honesto dizer: “Não encontro porque não quero, senhoras e senhores.” Ou então: “Não encontro porque tenho medo de Eduardo Cunha”.

    Claudia Cruz está em algum lugar remoto no planeta? Passou pela Suíça para sacar dinheiro de mais uma conta secreta, fez uma plástica e está se passando por uma turista escandinava na Rússia?

    Não.

    Com irritante regularidade, você a vê na companhia do infame marido em restaurantes de luxo em fotos de colunas sociais.

    Tinha que virar piada. Moro tinha que virar piada.

    É uma boa notícia para o Brasil.

     

  5. Nós precisamos ouvir o que os

    Nós precisamos ouvir o que os cavalheiros e damas bem nascidos, que até outro dia eram um poço de indignação com “toda essa roubalheira”, têm a dizer sobre isso!     H I P Ó C R I T A S ! ! !

  6. Parabéns, Os coxinhas foram

    Parabéns, Os coxinhas foram para a rua como se estivessem indo para um convescote, eles são entreguista, fascista, isso sim.

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