Para quem diz que não tem nada a esconder, Flávio Bolsonaro adota posturas suspeitas

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Foto: Agência Brasil
 
Jornal GGN – Flávio Bolsonaro está na defensiva. Faltou ao depoimento do Ministério Público do Rio de Janeiro e o Brasil ficou sem saber por que o ex-motorista recolhia, em sua conta bancária, parte do salário de outros 9 assessores parlamentares do ex-deputado estadual que ascendeu a senador. 
 
Por estratégia de sua defesa, Flávio, que foi convidado pelo Ministério Público ainda em 2018, esperou chegar o exato dia de prestar os esclarecimentos aos promotores, em janeiro, para informar que não iria. Só vai se manifestar quando os advogados tiverem acesso aos autos. 
 
Foi também por estratégia da defesa que Flávio Bolsonaro recorreu silenciosamente ao Supremo Tribunal Federal e conseguiu, como divulgado só nesta quinta (17), suspender a investigação contra Queiroz – que é amigo da família Bolsonaro há mais de uma década.
 
Para quem diz que não tem nada a esconder e que pretende colaborar com as autoridades, Flávio adota uma postura contraditória e que só fomenta as suspeitas de que ele detinha, em seu gabinete, um funcionário que possivelmente lavava dinheiro usando um esquema muito conhecido nos Legislativos de todo o País.
 
Queiroz, segundo o Coaf, não tinha renda nem patrimônio para movimentar R$ 1,2 milhão em 13 meses. Seus vencimentos como motorista e agente da Polícia Militar somavam R$ 24 mil ao mês. Totalizam R$ 312 mil, bruto, no intervalo investigado.
 
A primeira entrevista que deu ao SBT – emissora amiga de Bolsonaro, que evitou perguntas muito difíceis para Queiroz – passou longe de esclarecer a origem e o destino desses R$ 1,2 milhão. Tampouco explicou por que ele recolhia parte do salário dos funcionários de Flávio.
 
É preciso que o número de assessores seja evidenciado para que Flávio Bolsonaro sinta a necessidade de ser mais comprometido com a total transparência. Pois, ao contrário do que ele gosta de repetir em entrevistas, não parece ser apenas um “caso isolado”, em que ele não sabia o que Queiroz fazia fora do gabinete.
 
No caso de Nathália Queiroz – a filha que estava lotada no gabinete de Jair Bolsonaro, em Brasília, mesmo morando no Rio – o Estadão revelou que mais de 97% do salário foi parar na conta de Fabrício Queiroz, levantando a possibilidade de ela ser mais uma funcionária fantasma no gabinete de Jair.
 
Vale lembrar: Nathália foi demitida do gabinete de Jair no mesmo dia em que Queiroz foi exonerado do gabinete de Flávio. Isso há poucos dias da Operação Furna da Onça dar uma batida policial na Assembleia do Rio e prender uma dezena de parlamentares e assessores. À época em que o caso de Queiroz veio à tona, parte da imprensa se perguntou se os Bolsonaro tiveram informações privilegiadas.
 
Não é como se as explicações dos Bolsonaro, até aqui, tenham sido satisfatórias.
 
Se comprava e revendia carros para somar na renda de R$ 24 mil ao mês, isso tinha a ver com os R$ 1,2 milhão? Se tinha, por que Queiroz não fez a associação diretamente? Se tinha, por que não apresentou um relatório com a quantidade de veículos vendidos ao longo dos meses investigados pelo Coaf?
 
Aliás, se a compra e revenda de carros é algo que aconteceu dentro da total regularidade e explicaria parte das transações que somam R$ 1,2 milhão, por que o banco não identificou isso e acabou delatando Queiroz para o Coaf, que igualmente não observou essa suposta atividade?
 
Queiroz, por estratégia da defesa, faltou duas vezes às convocações do Ministério Público. E outras duas por motivos de saúde.
 
Sua esposa e filhas, ex-funcionárias dos Bolsonaro, deveriam ter se explicado no dia 8 de janeiro, mas deixaram para comunicar em cima da hora que decidiram se mudar por tempo “indeterminado” para São Paulo, para acompanhar tratamento de saúde do Queiroz, que foi internado no Albert Einstein para remover um câncer no cólon.
 
Ao SBT, ele ainda disse que queria se submeter a outros procedimentos para sustar uma dor que sente na clavícula. Só depois disso é que se está revigorado e disposto a ir ao encontro dos procuradores, afirmou. 
 
Até lá, ficamos com o vídeo de Queiroz sambando na nossa cara.
 
 
 
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

6 Comentários

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  1. A confissão de culpa

    As consequências políticas do pedido de Flavio Bolsonoro ao STF são graves e imediatas;

    1. O pedido, por parte de quem “não estava sendo investigado” (informação do Ministério Público) e de quem “queria o esclarecimento” do motorista na Justiça, equivale a uma confissão pessoal de culpa.

    2. O próprio Flavio vive dizendo que “fala com o pai diariamente”. Só os ingênuos acreditarão que Flavio e seus advogados decidiram-se pelo pedido sozinhos. Obviamente, o pai deu o aval a essa medida.

    3. Isso equivale a uma confissão coletiva de culpa, isto é, do próprio clã Bolsonaro. Se investigarem, dançaremos todos.

    4. Com o pedido, Flavio rifa a própria candidatura a presidente em 2022, algo mais do que sabido no meio político. Ora, para alguém tomar uma medida que mata o seu maior sonho político, obviamente havia algo mais importante a se perder, na avaliação dos prós e contras. Esse “algo mais importante”, provavelmente, é a liberdade.

    5. O caminho de Moro à presidência, agora, só tem Eduardo Bolsonaro como obstáculo dentro do próprio governo. Mas como ele faz parte do clã, que certamente será atingido como um todo por uma investigação profunda e isenta, Moro deve estar rindo sozinho (João Dória Jr. também).

    6. Ao mesmo tempo, a própria situação política de Moro se complica: que justificativa dará ao país, permanecendo num governo marcado pela corrupção na sua esfera mais alta? Quanto maior o tempo, maior o desgaste.

    7. Por outro lado, uma saída do governo, assim que se tornar clara a culpa do clã, tornaria Moro praticamente imbatível em 2022 (caso Lula não venha a concorrer, o que parece claro). Seria um golpe de mestre para manter intocada a sua máscara de herói nacional da luta contra a corrupção.

    8. O desgaste político de Jair Bolsonaro ante seus próprios eleitores é inédito na história brasileira. Estamos há apenas 17 dias da posse.

    9. Será interessante observar para quem se voltarão os ex-eleitores do falso mito, e quão rapidamente irão reconhecer que foram enganados infantilmente por mais um falso político incorruptível.

    10. Mais uma vez comprovou-se a sabedoria da máxima (que eu acabo de inventar): “Quem muito ostenta, é o contrário daquilo que ostenta”.

    E segue imbatível o lema deste governo: “Make mamata great again!”.

  2. depois do mensalão infame e

    depois do mensalão infame e do golpe com o supremo e tudo,

    o que esperar de fux e da justiça?

    vão (se) ESCONDER tudo….

    mente-se pela omissão….

  3. Meninos, eu vi

    Alguns comentaristas da Globo fazendo malabarismos para justificar a ação do Fux ante o pedido. Eles são insuperáveis. Absolutamente nada envolve o Jair ou seu filho, nem a grana depositada, que foi da esposa. “mero” acaso o Queiroz ser assessor.

  4. Não tem nada a esconder mas tem muito a revelar

    O Flávio Bolsonaro não tem nada a esconder, pois tudo está escondido. Ele tem muito é a revelar.

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