PF prepara armação federal no caso do grampo clandestino, por Marcelo Auler

Do blog de Marcelo Auler

Armação federal (I)

por Marcelo Auler

Por cerca de um ano, o Departamento de Polícia Federal (DPF) escondeu o resultado da sindicância 04/2015 que investigou a existência de uma escuta clandestina na cela do doleiro Alberto Youssef, na Superintendência Regional do DPF no Paraná (SR/DPF/PR), descoberta em março de 2014, na primeira fase da Operação Lava Jato. Agora, com a participação do seu diretor-geral, Leandro Daiello Coimbra, e do corregedor-geral da instituição, Roberto Mario da Cunha Cordeiro,  aprontam uma verdadeira “Armação Federal”.

Como noticiou em CartaCapital desta semana – edição nº 940, nas bancas desde sábado (18/012) – Maurício Dias, na coluna Rosa dos Ventos, a culpa pela existência do tal grampo foi atribuída à parte mais fraca da história- “o mordomo”, na classificação de Dias. Ou seja, ao agente de Polícia Federal Dalmey Fernando Werlang que confessou ter instalado o aparelho. Mas, apesar dele explicar que cumpriu ordens da cúpula da Superintendência, isso não foi avalizado pelo sindicante. Assim, os delegados por ele nominados – Rosalvo Ferreira Franco, o superintendente do, Igor Romário de Paulo, o Delegado Regional de Combate ao Crime organizado, e Marcio Adriano Anselmo, então à frente das investigações da Lava Jato – poderão sair ilesos dessa história ainda muito mal contada/esclarecida.

Nas conclusões da Sindicância 04/2015, o delegado Alfredo José de Souza Junqueira, Coordenador de Assuntos Internos (Coain) da Coger/DPF – por muitos considerado ético como este Blog mesmo admitiu diversas vezes – considerou que se é certo que Werlang instalou o grampo e coletou gravações das conversas entre os presos da cela 5 da custódia por 12 dias (de 17 a 28 de março), não ficou provada a origem da ordem superior para que agisse assim.

Ao contrário do que o Blog anunciou em 12 de outubro de 2015 em Surgem os áudios da cela do Youssef: são mais de 100 horas,  a perícia da Polícia Federal resgatou 263 horas e 41 minutos de gravações. Confirmou que as conversas eram entre presos da Lava Jato ao confirmarem as vozes, tais como as de Carlos Alberto Pereira da Costa, Carlos Alexandre de Souza Rocha e Alberto Youssef. Mas, conforme as informações passadas ao Blog por fonte de Brasília que acessou cópia de toda essa documentação, segundo a sindicância, não houve conversas relevantes com relação à Operação Lava Jato.

O Blog não conseguiu confirmar se a sindicância presidida por Junqueira apresentou transcrições dessas conversas. Mas, não deixa de ser curioso que os cinco presos na primeira fase da operação Lava Jato – que teve ampla repercussão -, nos seus 12 primeiros dias na custódia da SR/DPF/PR, tenham falado sobre situações irrelevantes à investigação.  Só falta dizer que discutiam futebol ou trocavam receitas culinárias.

Youssef e o grampo que descobriu na cela da SR/DPF/PR cuja sindicância que apurou responsabilidades vem sendo mantida na gaveta.

Youssef e o grampo que descobriu na cela da SR/DPF/PR cuja sindicância que apurou responsabilidades vem sendo mantida na gaveta.

Convém lembrar que, em agosto de 2015, na reportagem Lava Jato revolve lamaçal na PF-PR, o advogado de Youssef, Antônio Augusto Lopes Figueiredo Basto, admitiu que o doleiro tinha indícios de que os assuntos conversados com os companheiros de cela chegavam aos delegados, pois eram por eles abordados em conversas informais:

“Tivemos alguns indícios disso sim, Houve indícios, isso não tem dúvida. Mas, não em interrogatórios. Em conversas assim…  que não tem como serem recuperadas. Eles nunca interrogaram diretamente sobre isso, mas os assuntos acabavam sendo abordados pelos delegados”, explicou à época.

O fato concreto é que graças a Werlang, a partir de um depoimento prestado ao delegado Mario Renato Castanheira Fanton, em 4 de maio de 2015, se soube que o grampo foi instalado quando das primeiras prisões da Operação Lava Jato e se derrubou a falsa versão, montada pela cúpula da Superintendência do DPF no Paraná, na sindicância 04/2014, presidida pelo delegado Maurício Moscardi Grillo.

Essa apuração apontou a aparelhagem encontrada por Youssef como sendo a usada na época em que o preso Fernando Beira-Mar esteve naquela custódia (entre 01 e 03 de abril de 2008). Versão tão mal engendrada que não levou em conta que o grampo achado na custódia em março de 2014, que pertence à própria Polícia Federal, só chegou a Curitiba em setembro de 2008, cinco meses depois da passagem do traficante por ali.

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Redação

6 Comentários

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    1. Não há conciliação possível.

      Tá bom. La vem novamente a conversa da conciliação. Então, Marcos, nós que não acreditamos na conciliação! É impossível!! Propomos o que? Confronto? Armado, ou no braço, mesmo? Ora, se não há tema melhor sobre o qual chorar a nossa incompetência, fragilidade e covardia, choremos sozinhos em algum canto sem querer jogar a nossa culpa nas costas de outrem!! Quem lutou o bom combate e logrou vencer algumas vitórias por meio de um PACTO político e social com esse inimigo irreconciliável merece um busto e o nome na história. E não chorumelas de covardes que se esconderam.

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