Polícia Federal como cereja do bolo do dia 13, por Armando R. Coelho Neto

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Polícia Federal como cereja do bolo do dia 13

por Armando Rodrigues Coelho Neto

Desde que o Partido dos Trabalhadores assumiu a gestão do Pais, um mantra passou a ser repetido pela dita “grande imprensa” – o tal “aparelhamento do estado”. Logo, os seus seguidores passaram a repeti-lo, inclusive dentro da Polícia Federal, mesmo que nenhum cargo de confiança tenha sido entregue a qualquer petista ou simpatizante. O detalhe é que, quando é usado tal argumento para demonstrar a inconsistência dessa assertiva, leia-se, mantra, a resposta que se ouve é um lacônico “graças a Deus”.

O oportunismo classista de uma entidade de classe dos delegados federais, na manifestação de ontem, demonstra a clara falta de isenção. Reflete, no fundo, o sentimento de uma categoria, que de há muito já mostrou preferências eleitorais. Desse modo, a palavra isenção não vai além de uma simples retórica, dentro da Polícia Federal. Basta um simples olhar nas páginas de muitos delegados federais nas redes sociais.

Abro espaço para falar de um aparente perfil dominante da Polícia Federal.

Não preciso falar do perfil policial da época da ditadura, sobejamente conhecido ou presumido. Quero lembrar que nesse mesmo espaço, deixei documentado que em diversas oportunidades a PF não realizou concursos em São Paulo, porque até cobrador de ônibus tinha um salário melhor do que o de um agente ou escrivão. Assim, em que pese o grande número de vagas existente em São Paulo, os policiais vinham de outras regiões mais pobres.

Desse modo, o que atraiu o atual contingente da PF foram os salários, substancialmente melhorados, diga-se de passagem, na gestão do Partido dos Trabalhadores. A propósito, o salário de um policial da PF era uma ninharia e o restante eram gratificações e mais gratificações, criadas e extintas conforme a conveniência do gestor de plantão.

Por que falo disso? Porque bons salários atraem outro tipo de público. Leia-se, só os que estudaram em escolas particulares, universidades caras ou públicas, versado em uma ou mais línguas e outras habilidades é que passaram a ter acesso à PF. Disso se deduz que são pessoas egressas predominantemente da classe média, alta ou baixa, que compõem o novo perfil.

A PF, predominantemente, é formada por classe media, aquela na qual predominam determinados valores elitizados. E, sequer pode-se falar tanto em vocação, já que, segundo a lenda dos “canas-duras”, a categoria agrega procuradores da República e juízes frustrados. A prevalecer o raciocínio dos “canas-duras”, ser delegado federal “foi o que deu pra hoje”, sempre ressalvando as exceções, conjecturas e elucubrações.

Sob qualquer ângulo que se analise esse perfil, a conclusão óbvia é da predominância dentro da PF dos denominados valores “classe média”, aquela classe social sobre a qual ironicamente se diz que, “compra o que não precisa com o dinheiro que não tem, para se exibir para pessoas das quais não se gosta”. É, pois, de se imaginar, que respeitadas as exceções, que a influência desse ideário sobre qualquer operador do Direito pode arranhar a imparcialidade.

Desse modo, bom ficar claro que os ocupantes de cargos da PF, Ministério Público e Justiça Federal seguem a mesma linha e não vêm de outro planeta. São egressos da sociedade com suas contradições. Assumem funções públicas com a bagagem cultural socioeconômica de suas respectivas origens. No caso, ficam explicados os tratamentos reverenciais, tais como “excelência”, as mesas e cadeiras mais altas e os ternos olhares do “você sabe com quem está falando?”.

A imparcialidade é uma utopia humana. Presa na subjetividade, ela exige um permanente exercício para que não se exteriorize o inverso – a parcialidade. Não é o que temos visto. O juiz Sérgio Moro, por exemplo, apesar da atribulada agenda e do volumoso processo que se presume compor a Lava Jato, ele não mede esforços para aceitar convites para receber prêmios, fazer palestras, com invitáveis pronunciamentos de conotação política. Até sua genitora vem sendo homenageada por ter trazido ao mundo um novo Messias.

Com esse perfil classe média, visível na PF e noutras instituições, soa natural a  identificação de tais servidores com políticos conservadores. Mas não para por aí. A  PF também abriga um segmento de delegados mais radical ainda. Nesse outro grupo, constata-se uma verdadeira paranóia anticomunista e grandiloquências politiqueiras exteriorizadas por muitos em redes sociais. O exemplo mais visível estaria em um servidor que, segundo a lenda,  almejava um cargo nos Estados Unidos. Como teria sido preterido, hoje, não poupa ofensas à Presidente Dilma Rousseff e aqui ali mostra os “avanços do comunismo no Brasil”.

Sem isenção aparente, se o tal aparelhamento da PF existe, ele está pelo avesso. O verdadeiro aparelhamento da instituição é outro, marcado pelo perfil não isento de muitas de suas autoridades.

Desse modo, a presença de delegados federais no protesto de ontem não parece ser novidade. Fatos que pareciam isolados, simples fogueiras de vaidade, como as duas investidas contra o ex-Presidente Lula, se afiguram compor um mesmo universo. Serviram, na prática, para reacender a indignação dos derrotados nas últimas eleições presidenciais. Tudo em sintonia com o insuflar da dita “grande mídia”. Não deu outra. O movimento de ontem ganhou expressão numérica, mas permanece vazio de conteúdo. Mas a PF não perdeu a condição de cereja desse bolo.

Armando Rodrigues Coelho Neto – jornalista e advogado, delegado aposentado da Policia Federal, ex-representante da Interpol em São Paulo

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

9 Comentários

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  1. Artigo demolidor. Muito

    Artigo demolidor. Muito lúcida e oportuna análise. E quem a fez conhece bem as entranhas da PF. Quero ver os delegados aecistas refutarem, com boa argumentação, o que Armando R. Coelho Neto mostrou e demonstrou neste texto.

  2. Comando

    Perfeita a análise. Aliás, Armando vem contribuindo com o blog de maneira exemplar e patriótica. Não é nenhum zé ninguém.

    Mas se tudo isso é verdade, e não temos dúvidas que é, essa corporação deveria ter freios, obedecer hierarquias, ter comando, o que automaticamente levaria a corporação não ser partidária.

    Cada brasileiro tem as suas preferências políticas, mas elas não devem interferir nas suas funções, principalmente numa corporação tão importante e que tiveram nos governos Lula/Dilma a sua real dimensão de importância.

    O rigor dentro dessa instituição e do MPF deveriam estabelecer, mais do que em quaisquer outras instituições, um rígido sistema, sobre os quais Ministro da Justiça e a PGR deveriam atuar e punir os excessos e proibir manisfestação pública das suas preferências partidárias.

    Mas o Zé da justiça ficou lá por mais de cinco anos. Deixou rolar solto e os Japas da Federal tomaram conta do pedaço.

    A culpa é do governo.

    Na PGR, idem. Reconduziu Janot ao cargo e as mesmas lambanças praticadas na PF parecem combinadas com a PF.

    Culpa também do governo.

    Durante as manisfestações de ontem ( não quis arriscar um palpite), não deu outra. Ficou claro o regime de arpartheid instalados pela elite branca desde a posse de Lula.

    O Brasil dos negros e pardos, que são a maioria, não estiveram ontem, no carnaval fora de época.

    Quero ver no dia 18.

  3. Delegados da PF pedem apoio em manifestações

    Intenção era angariar assinaturas para projeto que garante autonomia ao órgão

    Valor -14/03/2016

     

    Delegados da Polícia Federal se juntaram no domingo às manifestações pelo país para pedir apoio a um projeto que garante autonomia ao órgão. Segundo o presidente nacional da entidade, Carlos Eduardo Sobral, foram centenas de delegados que estiveram nos protestos nas principais cidades do país.

    Policiais federais foram vistos em alguns dos atos do ano passado contra o governo da presidente Dilma Rousseff (PT), mas não era uma presença organizada como a de ontem. “A presença foi muito mais ostensiva desta vez”, disse Sobral ao Valor.

    Delegados montaram quiosques em praças e avenidas onde os manifestantes se concentravam para colher assinaturas e tentar pressionar a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 412, que tramita no Congresso desde 2009.

    Sobral diz que os policiais conseguiram um apoio expressivo nos protestos e em alguns lugares houve fila nos quiosques. Em outros, como e, Belo Horizonte, delegados chegaram  a subir em carros de som dos movimentos organizadores dos protestos para fazer uma defesa da autonomia real da PF e pedir apoio.

    Sobral  disse também que atualmente a Polícia Federal tem liberdade de atuação, mas não é algo expresso na Constituição. “Não queremos correr o risco de o governo tirar essa autonomia, por isso que queremos que isso seja consolidado na Constituição”, disse ele.

    O estopim para a movimentação dos delegados foi a troca de ministro da Justiça.

    “O ministro [José Eduardo Martins Cardozo] saiu reclamando de pressões ter sofrido fortes por causa da Operação Lava-Jato. E se isso levou à mudança de ministro, nossa avaliação é que a PF está diante do risco de interferência política”, afirmou Sobral. Ele cita ao menos um caso em que um delegado que estava sendo cotado para ocupar uma diretoria, mas que, segundo Sobral, foi vetado por ter conduzido uma investigação contra um auxiliar de Dilma. O veto ocorreu no primeiro mandato dela, disse.

    A campanha para coleta de assinaturas foi lançada no dia 9. A PF tem 2.200 delegados pelo país.

    Carlos Eduardo Sobral  – que está licenciado do posto de delegado para exercer a presidência da Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal –  diz que o que ocorre atualmente é que, apesar da autonomia de investigação, é o Poder Executivo quem no final decide quem são os nomes que ocupam cargos de direção, coordenação, delegacias regionais. “Isso significa que há um filtro político”, disse.

    Os delegados também querem ter mais liberdade para manejar o orçamento da PF e decidir como gastar os recursos destinados pela Lei de Diretrizes Orçamentárias. Sobral fala que a PF sofre hoje de dificuldades estruturais, como redução de verba para passagens hotéis para policiais em investigações pelo país.

    “O nosso Orçamento é insuficiente para as nossas necessidades. Paramos várias investigações para realocar para continuar a Lava-jato e a Operação Zelotes [que investiga supostas irregularidades envolvendo incentivos fiscais para montadoras]. Poderíamos estar fazendo muito mais”, disse Sobral.

  4. Bastava o governo medroso

    Bastava o governo medroso usar a caneta e mandar uns delegados passear pelo país, e é isso que vai ocorrer quando o governo voltar a ter um ministro da justiça, quando não couber um PA mosntro e expulsão, basta usar o poder que a lei lhes confere.

  5. Hoje o principal problema  do

    Hoje o principal problema  do País é este.

    Em última instancia talvez até tenha que se fazer o uso do exército para dar fim nesse pessoal.

    Nenhum País do mundo consegue conviver com partes do Estado sem controle, ainda mais quando essas partes são armadas.

     

    Ou seja, as alternativas seriam.

    1) Dilma ir para cima, antes tarde do que nunca.

    2) Dilma chamar Lula e dar carta branca para ele negociar, inclusive tentar se safar.

    3) Dilma renunciar.. E ai poderá tentar algum acordo para se safar juntamente com Lula.

    4) Continuar a pasmaceira de sempre, mesmo que consiga se livrar do impedimento, ficará acuada até 2018, com denuncias e delações sem fim e o País deve cair de 10 a 20% do PIB até lá.

    A meu ver, a opção 4 é o pior dos mundos por isso o Governo deveria reagir.

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