Por que é a hora de falarmos de Lula?, por Wadih Damous

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Do blog de Marcelo Auler

Por que é a hora de falarmos de Lula?

por Wadih Damous

O estado de degradação moral, de corrompimento institucional e de dissolução social do Brasil, com destruição de ativos estratégicos em escala nunca dantes vista, é consequência da ruptura do consenso político construído após a ditadura militar e consolidado com a Constituição de 1988.

A ruptura se deu num processo iniciado com o chamado caso do “mensalão” e se completou com a destituição da Presidenta Dilma Rousseff. Para rasgar o voto de 54 milhões de eleitores, recorreu-se fraudulentamente ao instituto constitucional do impedimento. Armaram-se os golpistas com uma maioria de ocasião no parlamento, cevada com recursos públicos desviados por Eduardo Cunha e sua organização de trombadinhas espalhados por partidos sem conteúdo programático nem militância espontânea. O impedimento foi dinamizado pelos perdedores das eleições de 2014 e só logrou ser bem-sucedido graças à omissão imprópria do Ministério Público e do Judiciário.

Eis-nos agora sentados, desorientados, sobre os escombros da nossa recente e promissora democracia inclusiva. Não foi perfeita, pois nada neste mundo o é. Equilibrou-se sobre um pacto entre forças progressistas e os velhos agentes do atraso, com suas tradicionais práticas patrimonialistas. Mas, no sistema político vigente, foi a única receita institucional para garantir governabilidade a quem quisesse levar adiante transformações de cunho ético, social e geoestratégico. Mudanças na cultura política precisam de tempo e decorrem de pressões sociais resultantes das adversidades dessa cultura.

Um dos problemas mais sérios da nossa jovem democracia foi, porém, o crescente corporativismo de carreiras da elite do funcionalismo, expressão da mesma natureza patrimonialista de nossas práticas políticas. As carreiras melhor remuneradas atraíram para seus quadros os velhos sujeitos do privilégio. Transformaram instituições em instrumentos de sua própria valorização, para alavancagem de seus ganhos. A fronteira entre o institucional e o corporativo desapareceu. 

O Estado não foi apropriado apenas por políticos que se serviram de recursos públicos para garantir sua perpetuação no poder, mas também por agentes públicos que usaram de suas graves atribuições para colocar o governo sob pressão e assim lograr a consolidação de sua posição de poder e de privilégio na máquina administrativa. Não há diferença nenhuma entre a “corrupção” de uns e a de outros. O resultado é um Estado fraco, fragmentado entre diversos polos políticos, em permanente conflito, presa fácil de forças externas interessadas nos ativos de nosso país.
 
Com a administração pública sob crescente cerco de suas elites e a classe política extorquindo prebendas e cargos em troca de apoio, o único ator capaz de garantir um mínimo de reequilíbrio seria o Supremo Tribunal Federal.
 
Ocorre que há algum tempo essa corte perdeu sua capacidade de ação contramajoritária, preferindo, nos casos de elevado impacto sobre o sistema politico, seguir a “opinião pública”, mostrando-se mais preocupada com o eventual desgaste de seus membros do que com a catástrofe político-institucional que se abateu sobre o País.
 
Campanha midiática – A dita “opinião pública” não representa nada a não ser os formadores de opinião, leia-se: a mídia comercial. Não tem mandato para falar em nome da sociedade e, pelo contrário, vive da manipulação remunerada. Notícia, já se disse alhures, é que nem jabuti em árvore: como não sobe sozinho, só chega à altura se alguém o colocar lá. Quem não conhece a estória por trás da notícia está sendo sistematicamente engambelado. Todas têm estória: por que foram colocadas lá, na primeira ou na segunda ou na terceira página? Por que lhe deram esse título e não aquele? Quem solicitou a notícia? E por aí vai… Corretamente formuladas e respondidas, tais perguntas descortinam um cenário de conspirações e engodos. 
 
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Redação

6 Comentários

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  1. corrupção do outro lado também

    Muito boa lembrança de Wadih Damous quando mostra que os funcionários públicos do MP e do Judiciários também são corruptos ao usarem seus cargos para benefício próprio. O que acusam nos políticos de desviar em algumas ações se compara ao que eles mesmos obtem a longo prazo com o crescimento nas suas carreiras, decorrente do prestígio que angariam sem merecer.

    Estes nossos funcionários, nossos pois são públicos, são tão corruptos quanto os políticos a quem querem atribuir toda a responsabilidade por nossas mazelas. Cumpre a nós, como seus patrões, enquadra-los.

    1. PT não governou com liberdade…….

      Acredito que os canalhas que lá estão e que no fundo sempre estiveram, mesmo no governo de Lula sempre fizeram as falcatruas, mas para não deixar na vista deixaram o PT governar com as mão amarradas, tanto que o Lula a muito tempo chegou a declarar, para conseguir a governabilidade neste país tinha que ceder em momentos e até se abraçar com o diabo, nas entrelinhas o que isto significa, iscaram alguns do PT com misérias, comparado com o que fazem, para julgarem que o os homens e o PT são corrupto. A Dilma já não queria dar abraços no diabo, então lhe deram o impeachment………..Temos sim, uma mídia que protege os burgueses das justiça, da política e dos que detem o poder ecônomico. Neste país não haverá solução democrática, perdi a esperança, e isto vai demorar muito tempo, só após derramamento muito sangue e o país começar do ZERO e serem banidos os canalhas que mandam neste país.   

  2. Respeito e mudança

    Em primeiro lugar, total respeito ao valoroso Wadih Damous, uma das pouquíssimas vozes do PT que ainda mantém uma credibilidade e um respeito por parte dos progressistas.

    Mas (sempre tem um, não é mesmo?) chega de culto da personalidade, chega de salvador da pátria.

    Lula é e sempre será um nome de destaque na História do Brasil, por todas as suas qualidades e liderança.

    Só que deixou de atacar as estruturas que vieram por destruir o projeto de emancipação nacional que teve breves pinceladas em seus mandatos e no primeiro da DIlma.

    O PT, com suas sabujices incompreensíveis aos barões da mídia e próceres do mercado financeiro perdeu a alma do povo e não merece outra chance. Para que? Para deixar lambuzarem-se à vontade em nosso patrimônio e rechearem as burras com juros e mais juros enquanto 9/10 da população conta moedas para poder comer e se vê obrigado a aceitar esmolas oficiais?

    Chega de Humbertos Costas e Josés Dirceus inebriados com o poder e com olhos brilhantes por luzes da ribalta.

    Que a busca seja de programa e idelogia contra a desigualdade, sem “republicanismos” e “governabilidades” de fancaria.

    1. “Só que deixou de atacar as

      “Só que deixou de atacar as estruturas que vieram por destruir o projeto de emancipação nacional que teve breves pinceladas em seus mandatos e no primeiro da Dilma.”

      Perfeito comentário. É por isso que eu batizei o Lula de Lulinha paz e amor (o republicano). É impressionante como o Lulinha paz e amor (o republicano) e o PT sempre subestimaram a direita fascista. Um dos maiores erros do PT foi o rompimento com as bases.  

  3. Concordo em parte, o PT nos
    Concordo em parte, o PT nos ficou devendo ir mais fundo na reforma agrária, conclamar a nação e envolver quando estivesse passando por algum problema em aprovar medidas junto ao concresso, senado que fossem a favor do povo só assim teria toda a população envolvida e participante, isso daria força, mas em termos de comunicação o PT sempre pecou. Agora não temos a quem recorrer, só greve geral
    Mariângela Cicconi

  4. É hora?

    Será que não já passou da hora? Toda a estrutura jurídica-midiática que condenou o Lula está montada. Por que? Porque a reação ficou no blá blá blá do próprio Lula, da Dona Dilma, do PT e da CUT. Só dois exemplos: A UERJ e as universidades federais estão sendo desmontadas, por ondas a UNE? Blá blá bla e tome blá bla. Todos os trabalhadores vem perdendo os seus direitos, por onde andas a CUT? Blá blá blá.. Quando não fica no blá blá, tem-se um orgasmo falando para a Veja ou fica de compadrio com os tucanos de SP. Portanto, vão sim tirar o Lula do páreo, e não haverá reação popular.

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