Programa do PMDB é para já. Mas será para valer?, por Helena Chagas

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por Helena Chagas

No Fato Online

Já ficou claro para todo mundo que o bem recebido programa econômico do PMDB, que encantou a mídia e o PIB, é coisa para já, e não para uma hipotética candidatura presidencial em 2018. Até porque dificilmente um candidato do partido apresentar-se-ia às urnas propondo aumentar a idade mínima para aposentadoria ou acabar com gastos obrigatórios para a Saúde e a Educação. Poderia acabar em suicídio eleitoral, pois são reformas estruturais importantes, mas de difícil assimilação por parte da maioria das pessoas. Então, fica a pergunta: é para já, mas é para valer?

Seria necessário um megaconsenso político para aprovar as propostas peemedebistas no Congresso, algo que só se obtém em raros momentos de crise ou de ruptura, quando se juntam governo, oposição e outros bichos para salvar o país.

O que o PMDB não diz explicitamente, mas está nas entrelinhas, é a insinuação de que o governo Dilma Rousseff – alvo das críticas do documento por seus excessos na economia – talvez não tenha mais fôlego para aprovar tudo isso, já que nem um ajuste fiscal básico para resolver o problema emergencial de suas contas ele tem conseguido tirar do Congresso.

Mais: ao situar suas propostas no extremo mais liberal – que, aliás, nunca esposou – o PMDB tenta confrontar o governo do PT com sua impossibilidade visceral de convencer a própria base a aceitar mudanças desse tipo. Não há possibilidade de os petistas aceitarem a desvinculação orçamentária para a  área social, as privatizações e o fim de indexações como a que permite que o salário mínimo tenha aumentos reais.

Não se trata, portanto, de um programa para Dilma – e ela, obviamente, já terá percebido isso. A jogada do PMDB é apresentar ao PIB, à mídia e a outros setores importantes do establishment uma espécie de cartão de visitas de Michel Temer, como se dissesse: é isso que faremos se assumirmos a presidência da República.

Mas será que é mesmo? Sucessores de presidentes afastados costumam receber crédito de confiança das forças políticas, dos agentes  econômicos e da sociedade em seus primeiros tempos. Ainda que a hipótese do impeachment hoje seja remota, Temer talvez tivesse mesmo melhores condições políticas do que Dilma para aprovar seus projetos no Congresso.

Pelo menos, é isso que o PMDB, ou parte dele, quer que todo mundo pense neste momento em que a situação da presidente melhorou mas o afastamento não é ainda carta totalmente fora do baralho. A intenção clara é se credenciar como alternativa política e programática, e não apenas constitucional – coisa que, até hoje, o peemedebista Temer não fez.

Há, porém, muitas pedras no caminho da estratégia peemedebista, e a principal delas está em casa, ou seja, na natureza do próprio PMDB. Basta lembrar que, por trás das matérias da pauta-bomba aprovada nos últimos meses no Congresso, estão os deputados do partido, comandados pelo também peemedebista Eduardo Cunha, que, acuado pela Lava-Jato, preside a pauta da Câmara segundo os próprios interesses. O PMDB apoiou a aprovação de uma alternativa ao fator previdenciário, o que poderia piorar o rombo da Previdência, e o desastroso aumento do Judiciário, contribuindo bastante para o naufrágio da primeira versão do ajuste fiscal.

Situação que levou o Planalto, no melhor modelo do toma lá dá cá, a dar os ministérios da Saúde e da Ciência e Tecnologia à bancada do PMDB da Câmara. E não há, por enquanto, sinais de que essa ala do partido esteja disposta a devolver os cargos recém-adquiridos, obrigação que se seguiria ao rompimento do partido com o Planalto para trabalhar pela substituição de Dilma por Michel.

Tendo como pano de fundo a tradicional disputa pela hegemonia partidária, está claro que nem todo peemedebista quer ver Michel Temer presidente da República. Podem até não gostar de Dilma, mas acham que têm melhor qualidade de vida hoje, com uma presidente fraca que tem que ceder e negociar a cada votação, do que com a ascensão de um adversário interno que vai ficar poderoso e forte.

Pode ser o caso, por exemplo, dos senadores peemedebistas liderados por Renan Calheiros, que sempre disputaram o controle do PMDB com o grupo de Temer. Esses senadores hoje articulam a saída do vice da presidência do partido e parecem ainda interessados na salvação de Dilma e em tudo o que ela pode lhes oferecer.

O que não quer dizer que os ventos não possam virar. Mas pautas impopulares não combinam com anos eleitorais, como serão 2016 e 2018, já muito próximos. Difícil acreditar que, até lá, o PMDB esteja disposto não só a votar, mas a articular e a convencer as outras forças políticas a aprovar a reforma estrutural profunda que está propondo.

O programa apresentado pelo PMDB contém medidas importantes e necessárias. Nada indica, porém, que, seja com Dilma ou com Michel, será aprovado por um Congresso à beira da desmoralização e às voltas com impopularidade semelhante à da presidente da República. Será preciso esperar por 2018, e pela legitimidade que apenas as urnas conferem aos eleitos, para botar o país no trilho das reformas e do necessário convencimento da sociedade que deve precedê-las. Até lá, vamos sobreviver de meia-solas. 

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

6 Comentários

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  1. O PMDB nunca é pra valer.

    O PMDB nunca é pra valer. Notou que esqueci a palavra ”programa”

       Ele não disputa eleição pra presidente. Ele se alia.Mesmo que tenha apoiado outro candidato.

        A última vez que disputou a presidência, Ulysses teve uns 5 por cento. E o cenário era favorável.

         Mas depois , nada que não fosse presivível, se aliou ao governo.

           Só pra esclarecer : Posso até errar, mas acho que Romero Jucá é líder do governo desde Deodoro da Fonseca.

      Só a Marta não sabe disso.

  2. É inacreditável que Helena

    É inacreditável que Helena Chagas tenha estado na SECOM até outro dia.

    Pensa em golpe dia e noite, seus textos já nem se preocupam mais em disfarçar a tara golpista.

    Seu sonho é a deposição da Presidente Dilma e o consenso em torno do ultraliberalismo que “salvaria” o País.

    Diante dessa constatação, fica a pergunta: O que essa sra. fazia na comunicação do governo?

  3. os pmdb e o inerte

    Nassif,

    Os diversos PMDB estão como sempre estiveram, no governo qualquer que seja ele e também na oposição, ou seja, o partido é um grupo político que atende a deus e ao outro.

    Ao menos um dos PMDB flertou permanentemente com o golpe paraguaio para obter a ração que alimenta o partido, vantagens a rodo a partir do governo federal. O PMDB agora parece ter resolvido tentar o que nunca almejou, o trono.

    Junto com os partidos de oposição forma o conjunto de vermes que está se lixando para a situação da sociedade brasileira, ou será que alguém é capaz de acreditar que Carlos Sampaio, Mendonça Filho, Agripino Maia, o notável Pauliho da Força, Ronaldo Caiado e tantos outros nobres V.Excia estão preocupados com a situação do país ? 

    Reconheço que hoje ficou fácil conspirar, pois o governo já demonstrou de modo inequívoco que somente optará pela tal posição republicana e o resto kisif….

    O primeiro ano do segundo mandato já era, agora será a vez da sociedade preparar o lombo para os três restantes, pois a dupla JLevy/Tombini ainda tem muito veneno no bolso e o governo deverá permanecer praticamente inerte durante os 36 meses, pois republicano é.

  4. Temer pode ter caído em uma

    Temer pode ter caído em uma aventura, ao endossar esse “programa”, algo que não tinha feito anteriormente.  Mas, relembrando a História pregressa desse personagem, ele bancou a famosa convenção do pmdb em que Itamar Franco foi vaiado, em 1998, e o partido se negou a ter candidato às eleições presidenciais na ocasião, apoiando fhc de maneira informal. Do mesmo modo, é de sua lavra e do mesmo grupo que hoje o segue, junto com Moreira Franco, o apoio a Serra em 2002, com Rita Camata de vice. Talvez seja bom que isso ocorra, que o PT seja forçado a desembarcar dessa situação de carregar um partido (ou melhor, um agrupamento de políticos) que nada tem feito para dar sustentação ao governo em seus mais diversos momentos de crise.  

  5. Tsc… se Dilma for deposta…

    … pode esquecer 2018.  O Brasil ficaria 20 anos na merda.  Quem levaria a sério um país destes?

    Entraria aventureiro atrás de aventureiro na presidência.  Candidatos como Datena ou Russomano chegariam fácil no segundo turno.

    Por 10 anos, a mídia culparia o PT por tudo de ruim que aconteceria no país.  Os governos fariam medidas populistas para ajudar setores e mascarar o desemprego de 18%.

    Depois de 10 anos, seria o novo governo neo-liberal do PSB que endividaria o país.  Chegaríamos a 20% de desemprego, mas o PT não poderia ser mais culpado pela mídia bandida (que a esta hora já estaria livre do Netflix censurado).

    Depois de 20 anos desse cenário terrível, o povo elegeria novamente a esquerda para salvá-los da miséria.

    Depois de 12 anos, o povo sai da miséria e começa a batalhar pela queda do governo que os tirou da miséria…

    E começaríamos tudo de novo…

    Portanto, amigo… se Dilma cair, já sabemos o final dessa história.

    Salve-se quem puder!

     

  6. O PMDB….
    Foi o lixo que a ditadura colocou debaixo do tapete. …
    É uma federação de interesses oligárquicos espalhados pelo Brasil. …
    Se rastrear seu DNA, saberá-se que foi tudo culpa do rei de Portugal e suas capitanias hereditárias….
    Este câncer só sairá do corpo brasilienses a custa de muita quimioterapia. …

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