Quem tem medo das reservas internacionais?, por Laura Carvalho

Jornal GGN – Em sua coluna na Folha de S. Paulo, a professora da FEA-USP, Laura Carvalho, analisa as diferentes propostas para que o Banco Central diminua, deliberadamente, o nível de reservas internacionais. Entre os objetivos de tais propostas, estão a contenção da desvalorização do real e do aumento da inflação, a utilização das reservas para quitar a dívida pública, ou para a realização de investimentos públicos.

Para a professora, os riscos de todas essas propostas são similares. Ela diz que a utilização das reservas pode ser fundamental para “absorver choques maiores e impedir uma eventual crise agravada pelo aumento das dívidas de empresas brasileiras em dólar”. Por último, ela afirma que, se o objetivo é estabilizar a dívida bruta e abrir caminho para a retomada dos investimentos públicos, o melhor seria que o Banco Central não continuasse com o ciclo da alta de juros. Leia mais abaixo:

Da Folha

Quem tem medo das nossas reservas?

Laura Carvalho

Desde o ano passado, diversas propostas vêm surgindo para que o Banco Central reduza deliberadamente o seu nível de reservas internacionais.
 
Na primeira delas, da qual já tratei na coluna “Versão Brasileira”, de 8/10/2015, a ideia era utilizar todas as reservas em um curto espaço de tempo para frear a desvalorização da taxa de câmbio e a aceleração da taxa de inflação.
 
Na segunda, parte das reservas deveria ser utilizada para quitar a dívida pública, já que o governo paga juros maiores sobre a dívida que emite do que é remunerado pelas reservas que mantém.
 
Na terceira proposta, as reservas poderiam ser usadas para a realização de investimentos públicos. Apesar dos objetivos distintos —salvo se o que se quer, ao fim e ao cabo, seja simplesmente acabar com as reservas—, os riscos envolvidos são similares.

 
O debate sobre qual é o nível adequado de reservas cresceu na literatura econômica a partir do seu acúmulo rápido por muitos países emergentes na última década.
 
Por um lado, as reservas apresentam custo de oportunidade, pois em geral rendem menos do que a dívida emitida para comprá-las. Por outro lado, as reservas funcionam como um colchão para absorver choques externos e reduzir os danos sobre a economia quando há forte fuga de capitais (“Sudden Stops”). Reduzem ainda o risco de default sobre a dívida externa e, assim, a própria probabilidade de que um “Sudden Stop” ocorra.
 
Há relativo consenso na literatura de que as reservas acumuladas por países emergentes pré-2008 foram fundamentais para amenizar os efeitos da crise nessas economias. No entanto, a pergunta sobre se o nível de reservas já teria atingido um patamar excessivo originou uma série de estudos recentes. Mesmo nos trabalhos que consideram ser esse o caso de alguns países asiáticos, como o de Calvo, Izquierdo e Loo-Kung (2012) publicado pelo “National Bureau of Economic Research”, as reservas brasileiras ainda estariam abaixo do nível ótimo.
 
No ano de 2015, a valorização das nossas reservas em dólar, que enquanto ativos do governo reduzem a dívida pública líquida, quando combinada à quase inexistência de dívida externa soberana, foi fundamental para manter baixo o risco de default sobre títulos brasileiros e, assim, para impedir que a forte volatilidade financeira nos mercados internacionais precipitasse uma crise cambial.
 
O contexto continua sendo dos mais arriscados. A ameaça de elevação da taxa de juros americana e a turbulência na China continuarão a desencadear fortes movimentos especulativos no mercado internacional, o que, na falta de controles de capital, inevitavelmente golpeia os mercados emergentes. O uso de reservas poderá ser fundamental para absorver choques maiores e impedir uma eventual crise agravada pelo aumento das dívidas de empresas brasileiras em dólar.
 
Se o objetivo é mesmo o de estabilizar a dívida bruta e supostamente criar espaço para a retomada dos investimentos públicos, melhor seria se o Banco Central não continuasse a elevar a taxa de juros em meio a uma economia deprimida e com taxa de inflação que já sinaliza uma desaceleração. Mas, se o objetivo é nos deixar reféns do FMI e forçar novas privatizações em um futuro próximo, queimar as reservas é um bom começo. 
Redação

6 Comentários

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  1. não é swap

    Quase 100% de certeza que não é swap.  Swap você troca uma taxa (DI, SELIC) por outra. Acho que nem é lançado na BM&F.

    É dívida. Os caras só estão pagando cupom cambial (na forma de desconto). São títulos de dívida pública.

    Os caras estão violando o art. 34 da LRF “na moral”. Eles podem tudo !!

    detalhamento: (http://www.bcb.gov.br/?SELICEDITAL) ou procurar google “leilões swap cambial banco central resultados dos leilões”

    Tem que botar essa gente em cana…

    é, Gonzaguinha (infelizmente ela continua exposta…)

    1. equivoco

      A porcaria é sim um swap, não tem adiantamento de valor, mas o juro pago pelo lado do hedgeado é bem inferior à SELIC. Depois consegui acessar os comunicados correlatos.

      Mas não muda o fato de ser uma roubalheira. Só há um pouco mais de disfarce

  2. lfts e armínio

    É aquele mesmo esquema do Armínio, disfarçado.

    É dívida sim. O sujeito vem, aplica nas compromissadas e trava na BM&F. Os malandros sofisticam para disfarçar.

    A fórmula que dá o juro em dólar pago pelo BACEN, se a cotação do dólar se mantiver constante, é essa (isso se o camarada, ao invés de aplicar em compromissadas, não aplicar em letras de câmbio, etc, etc):

    V = valor inicial investido nas compromissadas;

    t = taxa juro compromissadas;

    D = cupom cambial(a tal da taxa linear informada no resultado); 

    V +  t + D * (V +  t) – (V + t) * t

    Se a taxa de compromissadas for 0,1415 ao ano, com cupom a 0,0445 (4,45% ao ano):

     1 + 0,1415 + 0,0445 * (1 + 0,1415) – (1 + 0,1415) * 0,1415

    que é igual a uns três por cento ao ano

    Se a taxa for de 30% (letra de cambio após IRRF)

    1 + 0,30 + 0,0445 * (1 + 0,30) – (1 + 0,1415) * 0,1415

    que dá uns 19% livre (um pouco menos, se tiver IRRF de 15% no ganho com o cupom – presumindo sempre cambio inalterado)

     

    1. Uma correção sem importância,

      Uma correção sem importância, mas só para a coisa ficar exata

      A fórmula certa quanto à letra de câmbio é:

      1 + 0,30 + 0,0445 * (1 + 0,30) – (1 + 0,30) * 0,1415

      e não

      1 + 0,30 + 0,0445 * (1 + 0,30) – (1 + 0,1415) * 0,1415

      Mesmo assim, dá mais de 17% livre.

       

       

       

  3. As crises de liquidez no mercado internacional são cíclicas

    As Reservas tem que ser utilizadas para manter uma relativa estabilidade cambial, mesmo em situação de crise de liquidez internacional, comprando na baixa para impedir uma queda acentuada do dólar, e vendendo na alta para evitar altas exageradas da taxa de câmbio, é um movimento e idas e vindas.

    Um dos principais erros do Banco Central do Brasil foi vender swaps cambiais, sem vender parte dos dólares das Reservas Cambiais no mercado à vista, este erro permitiu aos especuladores comprar swaps cambiais e ao mesmo tempo comprar dólares no mercado à vista para puxar a taxa de câmbio e ganhar nos contratos de swaps cambiais.

    O Banco Central vem atuando como se o Brasil não tivesse Reservas Cambiais de quase US$ 400 bilhões, apenas quando o dólar bateu em R$4,25, ele passou a vender dólar com compromisso de recompra para financiar exportadores, o que é muito pouco diante da mudança na política monetária americana.

    Mas para poder resgatar os títulos públicos em poder do mercado é necessário vender antes os dólares das Reservas Cambiais, mas se for vendido tudo de uma vez o dólar volta a cair no Brasil, e em uma velocidade bem maior do que levou para atingir os atuais R$ 4,03(cerca de 15 meses)

    A venda tem que ser feita de forma gradual aproveitando os períodos de queda da liquidez no mercado internacional, como no final de 2008, no início de 2014 quando o FED anunciou a mudança na política monetária, e como   agora que o FED está iniciando o processo de aumento dos juros americanos.

    Logo não se deve utilizar as Reservas Cambiais para outros fins, com investimento público por exemplo, além disso investimento tem  prazo definido, e as crises de liquidez não, podem ocorrer a qualquer momento, e sempre quando menos se espera.

    Se o BC tivesse vendido dólar quando o dólar bateu em R$ 3,50, provavelmente o dólar não teria chegado em R$ 4,00, e a inflação hoje seria bem menor.

    Mas agora tem que aproveitar que o dólar atingiu R$ 4,00, temos que tentar manter uma relativa estabilidade cambial neste patamar, vendendo dólares no mercado à vista a R$ 4,20 e comprando dólares  a R$ 3,60.

    O atual patamar da taxa de câmbio é mais do que suficiente para gerar superávit na balança comercial e manter o equilíbrio nas contas externas.

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