Reforma ministerial é compra, sem garantia, da governabilidade, por Matheus Pichonelli

Enviado por Gilberto Cruvinel

Do Yahoo

A reforma ministerial e a venda (sem garantia) da governabilidade

Por Matheus Pichonelli, no Yahoo! Notícias

Em oito anos de governo Lula, Aloizio Mercadante, um dos principais quadros do PT no período, jamais foi nomeado ministro. O agora ex-braço-direito de Dilma Rousseff tinha uma explicação para o desencontro: entre 2003 e 2010, a incumbência dada a ele pelo ex-presidente era trabalhar, estrategicamente, na liderança do governo no Senado.

Na versão acredita quem quiser, mas a ascensão controversa de Mercadante no governo Dilma dá a noção das diferenças de propostas da presidenta e de seu antecessor. Duas vezes derrotado na disputa pelo governo paulista, o ex-senador chegou à Esplanada como ministro da Ciência e Tecnologia e, pouco depois, da Educação.

Professor licenciado de Economia da PUC-SP e da Unicamp, Mercadante foi alçado a gerente do governo em janeiro de 2014, quando Gleisi Hoffman, então titular da Casa Civil, foi cuidar da campanha (fracassada) ao governo do Paraná.

A dobradinha Dilma-Mercadante alimentou, a partir de então, relatos diários sobre conflitos entre aliados dentro do governo e fora dele. A imagem da suposta (e noticiada) má vontade da dupla em relação ao PMDB, que se articulava para tomar o controle do Congresso antes de avançar sobre o governo, foi flagrada em fevereiro deste ano pelo fotógrafo Sergio Lima, da Folhapress, quando Mercadante estendeu, em aparente contragosto, a mão em cumprimento a Eduardo Cunha, que acabava de se eleger presidente da Câmara.

Cunha jamais engoliu o esforço do governo em barrar a sua ascensão, que se solidificava à revelia das suspeitas de seu envolvimento na Lava Jato (até agora, nada menos do que cinco investigados citaram as suas digitais nos crimes apurados).

Quando a relação azedou de vez, o vice Michel Temer tentou atuar como bombeiro ao assumir para si a articulação política, mas Mercadante seguiu, sempre segundo o noticiário, como o contraponto da distensão. Em quase dois anos, o ex-senador já não tinha apoio de qualquer ala peemedebista, e passou a ser fritado por colegas do próprio PT. Agora entende-se por que Lula, aparentemente pouco simpático ao ex-senador, jamais o nomeou ministro.

Em pouco tempo, a antipatia da base aliada com a dupla Dilma-Mercadante virou aversão e a aversão, um gatilho para introjetar, entre as fileiras de deputados inimigos e apoiadores pero no mucho, a tese de impeachment. Dissolvida, a base parlamentar deixava de servir como barreira de segurança da presidenta à medida que a crise econômica avançava, Dilma se contrariava, sua popularidade definhava e os grupos oposicionistas se organizavam e tomavam as ruas.

O enfraquecimento de Dilma era a hora certa para o PMDB aumentar o pedido de resgate e remover do caminho um dos últimos obstáculos de suas pretensões. A aposta do Planalto agora é que Jaques Wagner, substituto de Mercadante na Casa Civil, sirva como aparador dos pontos de tensão. Um deles começa a ser desmontado: em troca do cessar-fogo, a ala peemedebista da Câmara está prestes a levar o Ministério da Saúde, cujo antigo titular, Arthur Chioro, acaba de ser demitido por telefone. Em seu lugar deve assumir um novato cuja principal credencial é ser amigo de Eduardo Cunha, a quem Mercadante (que deve voltar para a Educação) dera as mãos a contragosto. (leia mais aqui)

O rearranjo ministerial, agora costurado por Lula, é a compra, sem qualquer garantia, da governabilidade a um mandato que não começou.

Redação

7 Comentários

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  1. Ze Eduardo continua? 
    Nenhuma

    Ze Eduardo continua? 

    Nenhuma palavra que eu dissesse sobre a atitude de Dilma com essa inutilidade na Justiça, você colocaria. Seriam, apenas, palavrões de baixo calão, tamanha é minha raiva.

    Nem FHC conseguiu a proeza de tamanha vaidade e falta de noção.

  2. Prezados,
    Nunca entendi esse

    Prezados,

    Nunca entendi esse apego da Dilma ao Mercadante. Se precisa dele ao seu redor, por que ele não poderia receber um cargo de secretário, relações públicas, acompanhante, ou coisas do gênero? Por que tem de receber cargo de ministro?

    Para falar a verdade, só reparei nele na época do incêndio da boate Kiss em Santa Maria. Na época, ele era ministro da educação e foi, junto com a Dilma, visitar o local da tragédia. O que um ministro da educação estaria fazendo naquele local? O que isso tinha a ver com a pasta?

    É uma patetada após outra. Criam slogan de “pátria educadora” em ano de crise quando só tem dinheiro para pagar os comerciais da tv. Fazem do ministério da educação um cargo tão sem importância que qualquer um pode assumir.  

    A bem da verdade, a única sorte da Dilma é que as opções na oposição conseguem ser ainda piores que ela.

  3.  
    Não entendi porque publicar

     

    Não entendi porque publicar “ipsis litteris” um artigo de dois dias atrás, sendo que era praticamente um esforço de quiromância e que hoje, dois dias depois se demonstrou estar errado,

    O ponto nevralgido do artigo era supor que o novo ministro da saúde seria da cota de Eduardo Cunha (e, claro, era por isso que não trazia garantia alguma de governabilidade) e hoje se viu que o novo ministro não é um novato como o artigo de advinhação disse e muito menos é do grupo de Cunha, pelo contrário, o novo ministro nessa legislatura mesmo enfrentou Eduardo Cunha duramente no plenário da Câmara.

    Ora, se foi nomeado um Ministro da Justiça que não é da cota do Cunha, ao contrário, é um deputado do próprio PMDB que o enfrenta de pú lico, fica claro que o poder de Cunha fica esvaziado e assim aumenta muito o nível de governabilidade de Dilma, pois a maioria do PMDB aderiu a reforma, diferente do que queria Eduardo Cunha.

    Então fica a questão de porque se publicou hoje esse artigo de dois dias atrás e que não acertou seu exercício de quiromância?

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