Responsabilidade social: reflexões sobre o caso capixaba, por Rodrigo Medeiros

Responsabilidade social: reflexões sobre o caso capixaba, por Rodrigo Medeiros

O documento construído pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) merece maior reflexão entre nós. O “Atlas da Violência 2017” traz informações relevantes para a formulação de políticas públicas que prezem pela responsabilidade social. A publicação adota os dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, que traz informações sobre incidentes até ano de 2015. O dramático episódio da crise da segurança pública capixaba, de fevereiro deste ano, é citado como um exemplo da fragilidade das políticas públicas nesse campo.

O Espírito Santo conseguiu reduzir a sua taxa de homicídios entre 2005 e 2015, em 21,5%. No entanto, essa taxa, de 36,9 por 100 mil habitantes, está acima da ruim média brasileira, que é de 28,9 por 100 mil habitantes. Esse dramático quadro é considerado como de guerra civil pelos especialistas no assunto. Portanto, não deveria causar espanto que a produtividade sistêmica da economia brasileira não cresça nesse contexto de violência e tampouco que as instituições funcionem mal.

Uma seção do documento que merece especial atenção é aquela que versa sobre a juventude perdida. O Espírito Santo conseguiu reduzir a taxa de homicídios de jovens entre 2005 e 2015, em 9,4%. No entanto, essa taxa é de 83,8 por 100 mil habitantes no Espírito Santo. Essa taxa de homicídio brasileira é de 60,9 por 100 mil habitantes. Quando se considera a base de 100 mil habitantes jovens, pessoas entre 15 e 29 anos, as taxas são assustadoras.

Segundo o documento, “de cada 100 pessoas que sofrem homicídio no Brasil, 71 são negras. Jovens e negros do sexo masculino continuam sendo assassinados todos os anos como se vivessem em situação de guerra”. A taxa de homicídios por 100 mil habitantes negros é de 37,7 no Brasil, enquanto essa taxa é de 51,3 no Espírito Santo. Em relação aos homicídios por 100 mil habitantes não negros, a taxa é de 15,3 para o Brasil e de 11,2 para o Espírito Santo.

De acordo com o documento, um dos canais pelo qual o desempenho econômico pode afetar a taxa de criminalidade nas cidades é “quando as transformações urbanas e sociais acontecem rapidamente e sem as devidas políticas públicas preventivas e de controle, não apenas no campo da segurança pública, mas também do ordenamento urbano e prevenção social, que envolve educação, assistência social, cultura e saúde”. Responsabilidade social é algo fundamental. 

Em uma das principais colunas jornalísticas sobre política no Espírito Santo, a seguinte reflexão mereceu destaque na crise da segurança pública capixaba: “talvez seja chegado o momento de se rediscutir até que ponto é válida e adequada uma defesa intransigente da austeridade fiscal e do Estado mínimo, na medida em que estes alimentam insatisfações de categorias do funcionalismo público – bomba-relógio que, cedo ou tarde, volta-se contra o governo e a população” (aqui).

Segundo o cientista político e professor Vitor de Angelo, a “marca da conjuntura atual é a crise no serviço público como um todo, e não uma crise na segurança pública, em particular” (aqui). O professor questionou então as fragilidades do ajuste fiscal estadual, no sentido de que o mesmo, por si só, não ser capaz de garantir serviços públicos melhores. As receitas dos municípios capiixabas recuaram ao patamar de 2010 e houve um empobrecimento geral no Espírito Santo desde 2015. Desde então, os solilóquios institucionais amparam o frágil marketing governamental.   

Rodrigo Medeiros é professor do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes)

 

Rodrigo Medeiros

3 Comentários

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  1. Do jeito que está, e se nada

    Do jeito que está, e se nada for feito, o extermínio de pobres e negros seguirá crescendo e a guerra civil se tornará mais visível. Nesse contexto, a violência social e Bolsonaros se alimentam mutuamente.  O neoliberalismo e sua gangue acionaram a bomba-relógio da ruptura social. 

  2. “As receitas dos municípios

    “As receitas dos municípios capiixabas recuaram ao patamar de 2010 e houve um empobrecimento geral no Espírito Santo desde 2015. Desde então, os solilóquios institucionais amparam o frágil marketing governamental. “

    Não por acaso a desgraça dos capixabas e dos brasileiros em geral começou após a operação delenda Dilma e PT comandada pelo consórcio golpista formado pelo psdb/judiciário/globo e a destruição do pré-sal e da indústria de construção pesada feita pela lava jato a  partir de 2014.

    Serão mais 50 anos de atraso, pelo menos, só para tirar o PT do governo.

    Valeu a pena?

    Não seria melhor esperar 2018 e tentar ganhar no voto?

    Os índices econômicos do governo Dilma começaram a melhorar no início de 2016 após a saída do tal Joaquim Levy do governo. Será que ficaram com mêdo de perder outra vez em 2018?

     

  3. Ainda assim, muita gente

    Ainda assim, muita gente desinformada pela imprensa segue repetindo que a situação no Rio de Janeiro é pior do que na Sìria, Iêmem, Afeganistão, Iraque…

    E o pior: não se perguntam como uma política antinacional porque baseada na transferência de recursos nocionais para os rentistas pode melhorar essa situação.

    Uma vez mais, aqui entra o jogo pesado da imprensa que bloqueia esse debate com sessões de jornalismo catástrofe, futebol, novela e etc.

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