Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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‘Revelação’ de Bonner é o tautismo da Globo marchando para o fim, por Wilson Ferreira

Em crise financeira e vivendo do rentismo, a Globo tenta salvar a imagem do seu jornalismo no mercado de notícias, fazendo um controle de danos das suas intervenções políticas, para manter a sua marca valorizada à espera de um comprador.

‘Revelação’ de Bonner é o tautismo da Globo marchando para o fim

por Wilson Ferreira

Desde cedo, nas redes sociais, William Bonner fez suspense: faria uma “revelação” na bancada do JN naquela noite. Até que o telejornal da Globo foi ao ar e a bombástica “revelação” nada mais era do que uma campanha para “humanizar” os jornalistas da Globo: nos intervalos, serão mostrados exemplos motivacionais da intimidade dos jornalistas e suas conversas fora do ar. Comprovar que apesar da “missão” os jornalistas são “humanos” também. Tudo pode parecer apenas uma canastríssima autopromoção, com direito a lágrimas e voz embargada de Renata Vasconcellos no final. Quando o jornalista vira o protagonista da informação é que a própria informação deixou de existir… virou autorreferência, metalinguagem, tautismo (autismo midiático + tautologia). Análogo ao processo catabólico de degradação onde o corpo começa a consumir seu próprio tecido muscular. Em crise financeira e vivendo do rentismo, a Globo tenta salvar a imagem do seu jornalismo no mercado de notícias, fazendo um controle de danos das suas intervenções políticas, para manter a sua marca valorizada à espera de um comprador.

O saudoso jornalista Paulo Henrique Amorim costumava dizer que a TV Globo morreria gorda. 

Com isso queria dizer que a emissora tem uma estrutura gigantesca que já não é mais sustentável por um mercado publicitário pulverizado – o outrora confortável modelo de negócios em que detinha 80% do mercado publicitário na base do esquema de BV (bonificação por volume) que mantinha com agências de publicidade desapareceu. 

A Globo perdeu um em cada três espectadores diante da concorrência, por exemplo, dos serviços de streaming como Netflix. Além dos celulares como novo meio hegemônico – se a TV chega a 97% dos lares, o celular alcança 94%: redes sociais como Youtube, Facebook e WhatsApp acabam ajudando a pulverizar a recepção das mídias.

Porém, a estrutura gigantesca da Globo foi construída num modelo ultrapassado de Studio System criado por Hollywood na sua fase áurea e abandonado pela Globalização – modelo de integração vertical e horizontal de gigantescos estúdios e cidades cenográficas que viram verdadeiras indústrias com atores, equipes técnicas e artísticas e produção como assalariados numa cadeia de valor desde o argumento até a exibição.

Para a Globo, hoje esse gigantesco ativo virou um passivo insustentável na atual mudança na estrutura de negócios. E complicando ainda mais com a retração econômica (cujo ponta pé inicial foi dado pela própria Globo com o bate bumbo da Operação Lava Jato que destruiu a cadeia produtiva nacional) e piorando ainda mais com a pandemia Covid-19.

Resultado: a família Marinho tornou-se uma rentista e a Globo está à venda, à espera de algum conglomerado internacional que compre o abacaxi – quem sabe, o bilionário mexicano Carlos Slim, empresário que no Brasil já controla a Claro, Net e a Embratel. Pelo menos o filho de Carlos Slim, Carlos Slim Domit, anunciou em reunião com Bolsonaro em 2019 que pretende investir R$ 30 bilhões no Brasil entre 2020 e 2022.

Não por menos, a Globo bancou o impeachment de 2016: primeiro, para adiar a entrada das gigantes tecnológicas Google e Facebook no Brasil; e segundo, para favorecer a banca financeira e o rentismo, do qual ainda sobrevive enquanto tenta se livrar do seu Studio System ultrapassado.

Controle de danos

O problema é manter a política de controle de danos à imagem da Globo, desde o golpe de 2016 – tentar limpar as mãos da lama psíquica da nação que teve que revolver trazendo para tona o “Brasil Profundo” para engrossar as massas de verde amarelo contra Dilma: pequenos escroques, acadêmicos e intelectuais obscuros, músicos que fizeram sucesso no passado e que foram esquecidos, ex-anônimos que confundiam militância profissional com fundamentalismo religioso e oportunistas, racistas, homofóbicos e saudosos do militarismo de toda sorte.

Depois, controle de danos: demitiu William Waack por racismo, promoveu jornalistas negros para o estrelato jornalístico da casa, inventou uma coisa chamada “afro-empreendedorismo” e turbinou pautas identitárias no telejornalismo.

Mas a sua atual estratégia de morde-assopra num jogo conjunto com a psyop da guerra híbrida militar que sustenta Bolsonaro (o atual presidente ainda é a única solução para implementar a agenda de reformas da Banca financeira) está cobrando um preço muito alto para o jornalismo da Globo – sobre isso clique aqui

Ódio e polarização política voltam-se contra a emissora: de um lado, os bolsomínios e a hashtag“#GloboLixo”; e do outro, as históricas críticas do campo progressista contra as manipulações do jornalismo da emissora desde o golpe militar de 1964. 

A sua reação é o tautismo (autismo midiático + tautologia), estratégia desesperada para as Organizações Globo criar um “fechamento operacional” que proteja o jornalismo da realidade ameaçadora e, ao mesmo tempo, transforme o jornalismo numa espécie de propaganda de si mesmo – esquema autopromocional para valorizar o jornalismo global no mercado de notícias. E manter a um Globo uma marca atraente para possíveis compradores. 

A “revelação” de Bonner

Dessa maneira, a linguagem jornalística transforma-se radicalmente: vira auterreferencial, metalinguística, na qual o jornalista vira o protagonista da própria informação. E a função referencial da notícia se perde ao virar propaganda de si mesma.

Continue lendo no Cinegnose.

Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

2 Comentários

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  1. Wilson Ferreira. Nunca ouvi falar mas deve ter renome. Mas atacar a direita chamando-os de bolsominions nao seria criancisse demais?
    Entrando na onda, creio ser ele, portanto, um pandeminion. Subam as hashstags.

  2. Boa a matéria do Wilson. Ontem assistindo o programa “Papo de Homem”, achei estranho a participação da Jornalista Maju. Durante o programa vi q lançaram a tal campanha com os “jornalistas chorando”, não entendi bem o conteúdo. Esta Globo, jornal Estadão me deixam cada vez mais afastada de notícias sem conteúdo de qualidade, sem marketing direcionado, etc. Imagino que ser jornalista Global é uma missão, nada fácil ! Chorar é humano mas usar de melodramas expondo jornalistas é complicado. obrigada

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