Armando Coelho Neto
Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.
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Sem exército cubano e Foro de São Paulo, a PF precisa cair na real, por Armando Coelho Neto

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por Armando Coelho Neto
 
Vivi mais da metade de minha vida dentro da Polícia Federal e fui além do tempo necessário para aposentadoria forçada. Para surpresa de muitos, se tivesse que eleger meus piores dias na instituição (pessoal e profissional), certamente foi durante a gestão do Partido dos Trabalhadores. Se de um lado sofri, hoje, aquele infortúnio me serve como selo de isenção no que digo sobre o PT. Não tenho saudade de governo algum, nem de PF alguma antes de Lula/Dilma. Tenho sérias dúvidas quanto a coerência moral e cidadã dos que dizem o contrário, e mais incertezas ainda quanto ao caráter idôneo dos que dentro ou fora daquela instituição gritou “Fora Dilma”.
 
Nasci pobre e continuo pobre. Se ser corrupto é ter dinheiro roubado não o tenho. Na PF, atuei entre outras áreas na corregedoria, unidade na qual busquei o aprimoramento ético e moral dos servidores e melhores resultados da atividade fim. Como representante sindical, transformar aquela autarquia em serviço público e em polícia cidadã foi uma obsessão utópica nunca negligenciada. Dentro da PF, combati as ingerências políticas e não foram raros os momentos nos quais entrei em choque com a administração, contrariei interesses de chefes de plantão. 

 
Nesse sentido, não sei o que passa na cabeça de aparentes homens de bem,de dentro ou de fora da PF, até no seio de minha família, quando imaginam que defendo corrupto e/ou a corrupção. Só mesmo o ódio disseminado pelo coronelismo eletrônico pode ser determinante para esse travamento mental. Sequer se dão ao trabalho de elaborar questões elementares, do gênero: se ele não é ladrão, o que esse cidadão está querendo dizer? Se teve uma vida assim ou assado, qual sua real preocupação? Por que não incensa Sérgio Moro e sua equipe? Por que não assina os abaixo-assinados oriundos da legião messiânica da Republiqueta de Curitiba?
 
Não sou jurista, intelectual, nem aceito rótulos. Sou um cidadão inquieto diante das injustiças sociais, atormentado com o descaso quanto à base da pirâmide de Maslow. O secular flagelo humano é meu eixo de pensamento, pano de fundo, questão preliminar em minhas análises conjunturais. Desse modo, não consigo me desconectar de uma ideia: se 500 anos não foram suficientes para tornar nossa sociedade mais justa, os tímidos doze anos petistas menos ainda. Mas, certamente, são doze anos que entram para a história como a mais fértil semente de justiça lançada sobre o solo pindorama. Diante disso, a pior fase de minha história pessoal e funcional dentro da PF perde em importância.
 
Não sou um órfão do PT nem de gestão nenhuma. Nunca perdi “boquinha” na PF e quanto mais o tempo passa, mais vejo gatos nas tubas da PF. Quaisquer sons que delas brotam saem um “word behind words” (palavras por trás das palavras), como dizem os ingleses. Os delegados perderam o discurso e a burra ideia de que o problema do Brasil é o PT faliu. Não afinam um discurso sólido diante da evidência do golpe. A “Farsa Jato” veio para destruir Lula/PT e os rumores de abafa são para salvar Temer/PSDB. O novo impostor da pasta da Justiça não reconhece a instituição e para ele Farsa Jato é Ministério Público – uma afronta aos delegados que carregam o piano. 
 
Portanto, caríssimos, o “Fora Leandro Daiello” perdeu força e um magote de puxa-saco já o defende. Daiello seria a garantia da caça ao PT e de impunidade de Fora Temer. A luta para que a Farsa Jato seja “erga omnes” (para todos) é tão utópica quanto a esperança de que o ex-stf retome a ordem democrática e anule o golpe. Desse modo, enquanto o lixo se acumula, os urubus vagueiam lá no alto. O obscuro urubu que sobrevoa o céu do Brasil se confunde com o preto-toga e o preto colete-federal. Eis a estranha metáfora que os delegados da PF se recusam a entender. 
 
Os delegados da PF precisam de humildade para reconhecer que foram usados. Precisam provar que não são Patos da Fiesp e abrir seus arquivos! Organizem-se, conversem com a delegacia de combate aos crimes ambientais e mostrem quem compra ilhas, polui os rios, devasta nossas florestas e contrabandeia nossos biomas. Dialoguem com a delegacia de crimes fazendários e mostrem por que a rua 25 de Março sonega num dia o faturamento de muitos municípios em um mês. Mostrem por que se apreende mais droga que vai para o exterior do que a destinada ao consumo interno.
 
Já que Sérgio Moro banalizou a quebra de sigilo em nome do interesse público, até os de natureza presidencial, esqueçam as tubas. Ponham a boca no trombone. Abram os arquivos da delegacia de repressão ao crime organizado e de combate à corrupção. Mostrem ao país quem são os verdadeiros cânceres do Brasil, sem balelas de comunismo, Foro de São Paulo, exército Cubano ou Chinês. Provem que os interesses nacionais vão além do pedalinho e do game dos netos do Lula, do tríplex, cujo real dono já está sendo executado para pagar condomínio e imposto. Lula/Dilma/PT nunca foram problemas para o Brasil. Mas, se pensar isso lhes dói, melhor brincar de “Fora Leandro” e pensar que defendo corrupto, que sou um esquerdopata…
 
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Armando Coelho Neto

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.

19 Comentários

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  1. Texto esclarecedor. Enquanto
    Texto esclarecedor. Enquanto se brinca de “pegalula”, os tubarões passeiam no mar de lama.
    Remete ao filme “os infiltrados” com Do Caprio, onde organização criminosa promove seus pupilos para alcançarem órgãos de investigação e controle. No final, a famosa queima de arquivo. Fazer analogia ao Brasil do tempo presente não é mera teoria dá conspiração.
    Seria possível reverter tal situação? Acho difícil.

  2. Verdade. Endosso todos

    Verdade. Endosso todos pensamentos do colega, menos os que dizem respeito às esperanças em relação à polícia federal e acreditamos que êle vai entender os motivos, infelizmente. Estamos na pior ditadura já vivida por aqui. Os ditadores de sempre voltaram a dominar o país de cabo a rabo, organizados que são mobilizaram-se, uniram-se e deram mais um golpe de estado cagando novamente nas cabeças de todos os brasileiros, de esquerda, de direita, de centro esquerda, de centro direita e os diasbos a quatro! Estão infiltrandos e dominando na rédea curta os 3 poderes e suas ramificações estaduais/municipais. São apátridas perversos picaretas saqueadores, os quais nos levam a sentir vergonha da raça humana, principalmente pelas atrocidades e os crimes bárbaros hediondos. Queremos os nossos votos de volta! Filhodaputa nenhum é mais do que nós para roubar os nossos votos democráticos e o nosso projeto de democracia! Fora fernando henrique cardoso clinton e toda os seus bandidos da máfia demo tucana peemedebista! 

  3. Feridos de morte.
    Não sou nenhum especialista, mas a mim o texto expressa a prática do desenvolvimento natural do senso crítico dos delegados. É uma consequência natural de amadurecimento político pós reflexão, o tempo em se achar algo de fato contra Lula é o imenso contraste com os crimes dos outros, a sociedade também vendo isso ser aceito descaradamente, enfim, isso pesa muito na reflexão e acaba por ferir de morte o ego ruim, baseado apenas numa vaidade do status da posição social, porém, esclarecedor ao próprio ego que pode se libertar pelo entendimento da experiencia, inclusive, sendo mecanismo ou arma a novas manipulações a este nível. Delegado que entender esse texto só tende a melhorar como profissional e brasileiro.

    Um ótimo texto.

  4. Texto sincero… Mas ingênuo.

    Nada do que disse o ex-delegado é fruto de interesse pessoal; isso é fato… Mas parece-me que foge um pouco ao autor do texto, o entendimento de que as Instituições que de alguma forma controlam o Brasil são frutos do desejo e da vontade de uma plutocracia que jamais iria estruturar o País contra os seus interesses. E a PF não poderia ser diferente. Nomes, aqui e acolá, são meros artifícios… Se não for um Daiello, será outro qualquer. Da mesma forma que uma Satiagraha não deu em nada, a Lava-Jato vai atingindo seu mais alto objetivo. E a explicação é muito simples… A Satiagraha ia contra os interesses da Plutocracia brasileira; e a Lava-Jato vai fazendo o trabalho que as urnas, até agora, não conseguiram… 

  5. Por que a PF não faz isso?

    Se a PF “abrir os arquivos” e mostrar quem realmente prejudica o país, isso não vai aparecer no Jornal Nacional.

    Se não aparecer no Jornal Nacional, não aconteceu.

  6. comentário de artista popular

    Os militares de 64, não a cúpula que foi cooptada e comprada parte dela pelos americanos, depois descobriram que foram usados para um projeto imperialista de desestabilizar um governo e depois implantar um regime que permitisse o saque que fizeram no país, agora é a mesma coisa.

  7. Policia Federal

    Muito bem, delegado Amando Coelho Neto. Parece-me que dentre as instituições MPF e Judiciario, a PF pode ser a primeira a libertar-se do ranço de classe e tornar-se uma verdadeira instituição em prol do Brasil, e não mais se curvando à uma pseudo-elite.

  8. Qual é a explicação pela
    Qual é a explicação pela falência dá Petrobras? Porque o rombo do BNDES? Porque partidos políticos mudam tanto de nome? Quem é os verdadeiros vilões nessa trama? Porque a justiça é tão fraca e juízes tem alvos nas costas? Porque a polícia federal e a lava jato já se tornou uma novela mexicana? Porque esse país não cria vergonha na cara?

  9. Faxina Geral

    O que se espera é ação, deixando de lado os entretantos e partindo para os finalmentes, por parte das Forças Armadas!

    Tem que colocar um fim no golpe do palanque das Diretas Já e instalar a Comissão da “Verdadeira” Verdade, não se esquecendo que Cuba fuzilou seus opositores sem julgamento!

    Não falhem mais, MILITARES!

     

  10. será que querem mesmo aprender?

    Da palhaçada que foi o processo do Mensalão uma coisa ficou evidente: as campanhas publicitárias são uma mamata para desviar dinheiro. Não que tenham provado isto, mas foi a “tese” vencedora, que permitiu condenar com base na literatura e na conclusão de que só poderiam ter roubado já que sempre os achamos ladrões.

    Se a PF é capaz de aprender com as mutretas que investiga, deveria estar usando muito mais as lições para rastrear os gastos com propaganda. Por que será que falta dinheiro pra tudo mas para publicidade sempre é possível expandir? Ninguém mais se interessa por Bõnus Volume? Alguém foi investigar para ver que a mesma mamata é usada nas empresas privadas? Come se explica que empresas falidas sobrevivam e suas familhas proprietárias continuem desfrutando suas reputações?

  11. Congratulações

    Que texto corajoso!!!   Que arrojo de um ex-policial íntegro que nada tem a dever ou a explicar aos espertinhos que se consideram a Policia Politica do Golpe…

    Parabens Armando Coelho Neto.

     

    Nós, simples mortais, nos congratulamos com você.

  12. Poderes da República
    Não se pode esquecer ou informar que no Poder Judiciário todos os desembargadores e Ministros a partir do segundo grau, para serem nomeados precisabela de apoio político. Ou seja, é simples: se todos os políticos se elegem utilizando caixa dois e se todos magistrados a partir do segundo grau depende deles. Então é fácil se chegar a conclusão. Precisamos de uma assembléia constituinte exclusiva, para rever essas nomeações e cortar muitos penduricalhos no Poderestaurante da República, tais como carros com motoristas para todos, onde nos Estados Unidos só o presidente da Suprema corte tem tal direito, por exemplo. Se gasta milhões com combustível e manutenção para veículos. É uma coisa carona nos tempos atuais. Precisamos nos envergonhar destas coisas. Em Brasília se andarmos pelos ministérioseus vemos verdadeiras frotas de carros. Além é claro dos auxílios que são na verdade verbas remuneraterias.

  13. Depoimento sincero e

    Depoimento sincero e corajoso. Mas a polícia, civil e militar, sempre foi um poder à parte, sem qualquer controle democrático. Em última instância, é a guarda protetora da plutocracia. Alguns delegados ousaram fazer investigações para valer, esses acabaram sendo excluídos ou até processados,   O Brasil não experimentará uma democracia de verdade, enquanto não colocar sob o controle da sociedade civil,  a polícia, a mídia e a  justiça. Não é pouco, e talvez nunca aconteça, mas é o mínimo necessário para nos considerarmos uma nação.  

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