Sobre as teses dos golpistas de 64

Por Diogo Costa

Comentário ao post “As razões para a queda de Jango

AS IMORREDOURAS E INJUSTIFICÁVEIS TESES DOS GOLPISTAS DE 64 – Há uma análise débil por parte de inúmeras pessoas e historiadores em geral, que tristemente sobrevive ao longo do tempo. Essa débil análise diz respeito ao longo e modorrento rol de “razões” que teriam dado causa à queda de João Goulart. Essas análises partem de uma premissa equivocada e insanavelmente equivocada, desde sempre. Qual seja, a premissa de que o rol de “razões”, sejam elas quais forem a respeito da hipotética ‘debilidade’ de Jango, foram a causa do golpe de 64. Isto é ampla, geral e irrestritamente falso!

Jango foi derrubado porque sofreu um golpe de estado, e ponto final. Todos os pontos finais existentes na face da Terra! Não interessa se o governo Jango era fraco, claudicante, indeciso, se não tinha apoio popular, se não tinha apoio ou sustentação política, etc. Isto não tem importância alguma! Mesmo se todas essas fictícias causas fossem verdade (e não são), o fato é que jamais, nunca se pode admitir, ontem ou hoje, que um governo caia porque é fraco, débil ou claudicante! Esta é a tese dos golpistas! Quer dizer então que o fato de um governo ser indeciso e não contar com apoio ou sustentação popular justifica golpes de estado contra este governo?

Mais do que isto, outra das estúpidas teses justificacionistas, dos golpistas, é a de dizer que Jango preparava um “golpe de esquerda”, e que por isso forças civis e militares anteciparam-se ao tal de “golpe de esquerda”… É outra pérola dos golpistas, enredados pelos próprios atos de brutalidade contra a democracia, a legalidade e a Constituição! Quer dizer então que os próprios golpistas admitem que utilizaram a tese do ‘golpe preventivo’! Para mim, foi isto mesmo. O golpe de 64 foi sim um ‘golpe preventivo’, não pelas razões apresentadas pelos golpistas, o que veremos logo a seguir.

Ocorre que este discurso, além de canalha ao extremo, é a porta aberta para as já conhecidas invasões do Iraque, derrubadas de governos como o de Salvador Allende e do próprio Jango. Este mequetrefe discurso de ‘golpe preventivo’ é uma ode ao golpismo e não é possível que ainda hoje pessoas com um mínimo de tirocínio político caiam nesta lábia fajuta! 

Voltando ao tal de “golpe preventivo”. Foi isto mesmo, mas não porque Jango planejasse dar um ‘golpe de esquerda’, mas sim porque o PTB, em que pese a brutalidade da oposição e da quadrilha máfio-midiática da época, vinha num crescente contínuo e progressivo desde a primeira eleição, em 1946, passando pela morte de Getúlio Vargas e culminando, nas eleições legislativas de 1962, com o estrondoso resultado eleitoral do partido de Jango, que desbancou pela primeira vez a UDN no parlamento e que conseguiu emparelhar com o até então imbatível PSD. Em 1962, o PSD elegeu 118 parlamentares e o PTB elegeu 116.

Ou seja, ao contrário das esdrúxulas e absolutamente fantasiosas teses de que Jango e o PTB não tinham apoio popular, a realidade concreta e objetiva dos fatos demonstra justamente o contrário! Jango tinha intenso apoio popular e o PTB crescia cada vez mais ao longo do tempo!

Por fim, e depois desta pequena e breve explanação, destaco que a própria democracia liberal burguesa, conhecida de todos pela alcunha de “Estado Democrático de Direito”, prevê maneiras legais de interromper um mandato popular. Porque não fizeram com Jango o que fizeram com Collor em 1992 (impeachment)? Seria perfeitamente legal e não representaria golpe algum! E se o governo Jango era assim tão débil, porque não esperaram a eleição de 1965? Não esperaram porque JK do PSD era o favorito, porque Lacerda da UDN jamais seria eleito (a UDN é que estava desmoronando, igual ao PSDB atual) e porque o PTB, com Jango ou Brizola, vinha com força total para o pleito seguinte, ameaçando inclusive a eleição do supostamente imbatível Juscelino Kubitschek.

Não há nada que justifique o golpe de 64, nada, absolutamente nada! O Brasil vivia em perfeitas condições legais, democráticas, a eleição de 1965 estava logo ali e se o governo Jango era débil (mentira cabal e absoluta), bastava aos golpistas esperar o próximo pleito ou praticar um impeachment contra Jango, por dentro das vias legais e constitucionais. Não entrei na questão internacional, mas também é inegável a participação dos EUA no golpe, com financiamentos a campanhas eleitorais da direita através do IBAD (comprovado via CPI em 1963), com subornos a empresários e militares golpistas e com o apoio operacional, político e logístico (vide os telefonemas trocados pelo embaixador Lincoln Gordon com os presidentes norte-americanos).

O golpe de 64 foi ‘preventivo’, foi utilizado para barrar o avanço das forças populares que só faziam crescer, de forma ininterrupta, desde 1946. E é injustificável sob qualquer ponto de vista por onde se queira analisá-lo.

Redação

10 Comentários

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  1. Touchè, Diogo! Mas é bem

    Touchè, Diogo! Mas é bem brasileiro, bem estouro da manada, justificar o estupro das leis, do direito, com a desqualificação do “inimigo”. Lula q o diga

  2. Muito bom

    Excelente comentário que finalmente vai contra o lugar-comum das análises que culpam a própria vítima.

    Na verdade trata-se da velha história do lobo e do cordeiro bebendo água no rio.

    Apenas uma desculpa, qualquer uma, seria o suficiente para se subverter a ordem democrática.

    Ainda temos uma grande etapa de consolidação a vencer, mas o que se pode ser visto agora já é o fonômeno de adesão à parte das conquistas sociais que tiveram sua interrupção frustrada em 1964, mas que em 2006 e principalmente em 2010 foram reafirmadas pelo voto.

    Veja que o discurso do PSDB agora é o de consolidar e até reclamar para si a autoria dos prgramas assistenciais que, de forma inequívoca, foram aumentados e que deram tão certo no Brasil pós-Lula.

    Isto é exatamente o que se queria evitar lá atrás, em 1964.

    Que o voto se tornasse exigênte, que todo e qualquer poder forsse dirigido às demandas da maioria da população.

    Hoje o que vemos é o resultado do que teria ocorrido se o golpe de 64 não tivesse êxito. Retoma-se, 50 anos depois, a voz das urnas para a população.

    Veja como os partidos ditos de oposição estaão se tornando cada vez menores e ainda longe de encontrar um discurso que concilie suas atitudes mercadológicas ao cuidado com as demandas populares.

    O texto mostra claramente isso. É o canto do cisne, a tentativa de manutenção de parte de seu poder. Já que o povo vai escolher os outros, que se dane o povo.

    Trazida à situação atual, este mesmo ambiente que a imprensa insiste em carregar, só causa um efeito: deixa com mais raiva, quem já não gosta da esquerda – leia-se PT.

    A eleição da prefeitura paulistana foi uma reedição de algo falido contra um projeto – mesmo que não se pense ser este projeto o ideal. O resultado não poderia ter sido mais emblemático.

    A continuar esse discurso de ódio que na verdade é o velho embate de classes, as eleições do ano que vem serão as mais fáceis ( mas não as menso sujas ) para o PT.

  3. Meu caro Diogo, historiador

    Meu caro Diogo, historiador escreve Historia, não defesas apaixonadas. Jango caiu porque não tinha força politica para se sustentar. Thomas Skidmore em seu classico “”Brasil de Getulio a Castelo” é um historiador de primeira linha, professor tirular de Historia da Brown University, de Rhode Island, uma das maia antigas dos EUA. Não adianta historia planqueira, Historia é uma tentativa de percepção da realidade passada.

    1.Jango caiu porque não era um politico vocacional. Entrou na politica porque era o filho do vizinho de fazenda de Getulio em São Borja e no periodo do exilio interno de Getulio, entre 45 e 49, Getulio não tinha companhia, estava politicamente isolado e Jango era seu companheiro de todas as tardes, fez-se ai uma solida amaizade e dessa amizade saiu o companheirismo politico que levou Jango ao Ministerio do Trabalho e à vida politica.

    2.Em 1954 a correlação de forças no Pais era desfavoravel a Getulio por varias razões. Getulio persiguiu e prendeu muita gente, fechou jornais, é claro que tinha muitos inimigos. Os militares sustentaram o Estado Novo mas o depuseram em 1945, haviam feridas reciprocas, por ironia mais na Aeronautica, arma criada por Getulio em 1941. Havia razões profundas e historicas para o anti-Getulismo, não era um simples “golpismo”.

    3.A ideia de manobras dos EUA em 1954 é falsa. A cooperação entre os EUA e o governo democratico de Getulio 1950-1954 era completa, estava funcionando a pleno vapor a Comissão Mista Brasil EUA, tambem conhecida como Comissão Abbink, que gerou o Plano Salte, dessa missão americana saiu o BNDE, com os EUA doando o saldo do chamado Fundo do Trigo para o capital do Banco. De 1945 a 1952 o trigo consumido no Brasil era vendido pelos EUA, retirando dos estoques do Departamento da Agricutura, era pago em cruzeiros qu ficavam depositados em um fundo nio Banco do Brasil para ser usado em projetos de infra estrutura no Brasil. O governo americano doou esse saldo, que era enorme para formação do BNDE.

    Em outra ocasião, o Brasil estava SEM RESERVAS e com muitos atrasados comerciais, o Federal Reserve Bank of New York emprestou ao Tesouro brasileiro US$300 milhões, isso em 1953, o que demonstra absoluto apoio ao Governo Vargas pelo governo Eisenhower, os EUA tinham enorme simpatia pelo Brasil por causa da aliança da Segunda Guerra e o aliado era o proprio Vargas, que tinha crédito duradouro em Washington.

    4.A queda de Jango deveu-se ao excesso de radicalização provocada por Brizola e não porJjango. Jango no exilio teve consciencia disso ao romper com Brizola. O erro de Jango foi não ter isolado Brizola, que foi a real causa que

    viabilizou o movimento civil-militar de 64. Brizola inviabilizou o goberno Jango, há unanimidade entre os historiadores sobre esse ponto. A sociedade brasileira em sua maioria, representada pelas forças armadas, não aceitava a agitação provocada por Brizola, isso criou o clima que possibilitou a ação militar.

    Naquela época eu estava no Rio e fui ao comicio da Central e ouvi discursos revolucionarios do palanque janguista,

    todos que ouviram tiveram a sensação de que aquele discurso iria desencadear alguma coisa. Janga incitava motim nas forças armadas, em que Pais isso não gera uma super crise?

  4. Não  há  argumentos  que 

    Não  há  argumentos  que  defendam a realização do golpe de 64, a deposição ( abortada pelo suicídio) de Getúlio,  e  a pantomina jurídico-midiática de 2013. O post  é  perfeito. Em todas as ocasiões  há uma tentativa da aliança yankees/elites conservadoras/mídia podre de impedir a preponderância dos governos progressistas e populares sobre os colonizados.

  5. A Fábula

    “Se não foi culpa do Goulart que era fraco, seguramente foi culpa do Brizola que era agitador”

     

    É a versáo gorila da fábula do Lobo e o Cordeiro.

     

    Trata-se, então, do nosso  “Charles-Maurice de Talleyrand-Périgord,digo, do Tiête”   ou  apareceu o novo   “Jean de La Fontaine, digo,  Le Tiête” ?

  6. O golpe ocorreria de qualquer forma

    Há também de se considerar que os militares também tentaram dar o golpe contra JK, por exemplo, e só não conseguiram por causa do marechal Lott e de outros militares legalistas. E do que acusariam JK, que, em uma dessas tentativas, sequer ainda tinha assumido o poder? os militares diriam que JK era comunista, também?

    É mais do que evidente para quem estudou o período que os militares estavam sedentos pelo governo, manietados pelos donos do poder para fazerem o serviço sujo para eles.

    Há de se destacar que não cabe aos militares avalizar, legitimar ou dar força a política de governo algum. Seu papel é a defesa militar da nação, para isto eles são pagos.

     

    De qualquer modo, por cá a história se repete como farsa: antes os donos do poder utilizaram a imprensa marrom para trazer os militares para seu lado. Hoje, utilizaram esta mesma imprensa marrom para trazer o STF, o MP, a estrutura judiciária como um todo, para seu lado. E conseguiram, mais uma vez.

     

  7. A falta de votos da Direita Golpista e o Golpe de 64!

    Para mim, todo esse papo de ‘comunismo’, ‘corrupção’, ‘baderna’ é tudo conversa fiada para boi dormir. Até porque nada contribui mais para a expansão do comunismo do que a miséria da população. Kennedy sabia disso, aliás. E por isso criou a Aliança para o Progresso.  

    Quanto à corrupção, nenhuma força política e social organizada é mais corrupta do que a Direita. 

    Quanto à baderna, grande parte desta foi criada pelas próprias forças golpistas. Criaram a baderna e depois a usaram como pretexto para o Golpe.

    Qualquer semelhança com Black Blocs e assemelhados não é mera coincidência.

    Diogo Costa resumiu bem quando disse que:

    “O golpe de 64 foi ‘preventivo’, foi utilizado para barrar o avanço das forças populares que só faziam crescer, de forma ininterrupta, desde 1946. E é injustificável sob qualquer ponto de vista por onde se queira analisá-lo.”.

    E como seria possível, para as forças mais conservadoras, barrar esses processo cada vez mais forte de lutas populares se:

    1) Não havia apoio político e nem popular suficiente para se promover um processo de Impeachment contra Jango, que era um presidente bastante popular e cujas ‘Reformas de Base’ tinham a simpatia de, pelo menos, 80% dos brasileiros da época;

    2) Em eleições diretas, previstas para Novembro de 1965, os grandes favoritos eram JK e Jango. E depois deles vinha Brizola. Somente daí é que apareciam Lacerda, Adhemar de Barros…

    Aliás, já nas eleições parlamentares de 1962 (nas quais a CIA e o governo dos EUA injetaram milhões de dólares para eleger políticos conservadores e direitistas) o PTB tinha sido o partido que mais crescera, elegendo quase o mesmo número de deputados federais que o PSD. E a UDN estava em franco processo de enfraquecimento (qualquer semelhança com o que ocorre, hoje, com o PSDB-DEM-PPS também não é mera coincidência). 

    Vendo que caminhavam, inevitavelmente, para sofrer mais uma derrota fragorosa na eleição presidencial de 1965, as Direitas apelaram para o Golpe de Estado, oras.

    Afinal, quem não tem voto (seja popular ou no Parlamento) apela para Golpes. 

    Agora, o Golpe era inevitável? O Golpe em si, era, pois o mesmo já havia sido tentado anteriormente em 1954, 1955, 1956, 1959 e em 1961 e já tinha sido decidido e planejado pelo governo Kennedy. E o governo de Lyndon Johnson deu sequência aos planos golpistas contra Jango.

    Mas entendo que a vitória do Golpe somente se deu porque as Esquerdas Radicais da época (CGT, UNE, Ligas Camponesas, PTB Brizolista) atuaram no sentido de enfraquecer o governo Jango. E conseguiram, o que abriu caminho para a vitória do Golpe. 

    Qualquer semelhança com o que o PSOL-PSTU tentam fazer, hoje, com o PT também é não é mera coincidência. 

    A diferença é que, felizmente, atualmente as Esquerdas Radicais tem um penetração ainda reduzida junto aos movimentos sociais e aos trabalhadores e a sua expressão política e eleitoral ainda é ridícula (quando comparada com a do PT-PCdoB) para que possa ter maior impacto sobre os destinos do país.

    Felizmente.

    E que continue assim. 

     

     

     

     

     

  8. Não há justificativa possível para golpe de Estado.

    Nas democracias, governo fraco, claudicante, sem base social se derruba nas urnas, pelo voto popular.

    Para presidente que desrespeita a Constituição ou comete crime de responsabilidade comprovado pelo Congresso Nacional existe o instituto do impeachment, cujo ritual sempre esteve detalhado e previsto no ordenamento jurídico brasileiro. Tanto na Constituição rasgada pelos militares, como na Constituiçao vigente desde 1988.

    O golpe de 1964 foi a vitória da barbárie e da violência sobre a civilização e o Direito. O Presidente da República, eleito pelo povo, é o chefe supremo das Forças Armadas. Jamais poderia ou poderá ser deposto pelo seus generais e almirantes subordinados em conluio com civis golpistas e governos de estados estrangeiros. Isso é, e sempre será, crime de lesa-pátria.

    A Constituição Federal, no  art. 5, XLII admite apenas dois crimes inafiançáveis (há outros) e IMPRESCRITÍVEIS: racismo e ação de grupos armados contra o Estado e a ordem democrática. 

    Desde 1988, tentativas de golpe e golpes de Estado são crimes inafiançáveis e imprescritíveis. Caso essa norma constitucional seja violada por selvagens insanos, resta a via da resistência e da guerra civil. Quem, nos dias de hoje,  acredita que a população e a juventude brasileira  aceitarão passivamente um novo terrorismo de Estado, acredita em tudo. As chances de uma vitória de Pirro são de quase 100%.

    A quem interessa um país conflagrado e um baita banho de sangue?

  9. A falta de votos da Direita,

    A falta de votos da Direita, as Esquerdas Radicais, o Golpe de 64 e os Governos Lula-Dilma – por Marcos Doniseti!

     

    Lula e Dilma promoveram melhorias que beneficiaram dezenas de milhões de brasileiros, que passaram a ter emprego com carteira assinada, acesso ao crédito, ao consumo e a bens e serviços que antes nem sonhavam que poderiam usufruir.

     

    Um dos principais argumentos usados pelos reacionários e direitistas estúpidos para justificar o Golpe de 1964, que derrubou o governo legítmo e constitucional de João Goulart, era a de que havia muita corrupção no país, que Jango estava conduzindo o Brasil para o Comunismo e que a baderna havia tomado conta do país.

     

    Para mim, todo esse papo de ‘comunismo’, ‘corrupção’, ‘baderna’ é tudo conversa fiada para boi dormir. Até porque nada contribui mais para a expansão do comunismo do que a miséria da população. John Kennedy sabia disso, aliás. E por isso ele criou a ‘Aliança para o Progresso’.  

     

    Quanto à corrupção, nenhuma força política e social organizada é mais corrupta do que a Direita. Basta ver o verdadeiro festival de corrupção que tivemos durante a Ditadura Militar (1964-1985), por exemplo, para confirmar isso. 

     

    Tivemos tanta roubalheira durante o periodo da Ditadura Militar que inúmeras obras faraônicas iniciadas pela mesma nunca ficaram prontas (9 Usinas Nucleares, Transamazônica, Ferrovia do Aço) ou somente ficaram prontas após o fim da Ditadura (exemplo: Usina Hidrelétrica de Itaipu). 

     

     

    Ditadura Militar investiu cerca de US$ 30 bilhões no projeto nuclear e não conseguiu concluir nenhuma usina em 21 anos. Haja incompetência e corrupção. 

     

    Quanto à baderna, grande parte desta foi criada pelas próprias forças golpistas. Elas criaram a baderna no país (infiltrando agentes provocadores em movimentos sociais) e depois a usaram como pretexto para o Golpe.

     

    Qualquer semelhança com os Black Blocs e assemelhados não é mera coincidência.

     

    Diogo Costa resumiu bem, em seu texto, quando disse que:

     

    “O golpe de 64 foi ‘preventivo’, foi utilizado para barrar o avanço das forças populares que só faziam crescer, de forma ininterrupta, desde 1946. E é injustificável sob qualquer ponto de vista por onde se queira analisá-lo.”.

     

    E como seria possível, para as forças mais conservadoras, barrar esses processo cada vez mais forte de lutas populares se:

     

    1) Não havia apoio político e nem popular suficiente para se promover um processo de Impeachment contra Jango, que era um presidente bastante popular e cujas ‘Reformas de Base’ tinham a simpatia de, pelo menos, 80% dos brasileiros da época?

     

    2) Em eleições diretas, previstas para Novembro de 1965, os grandes favoritos eram JK e Jango? E depois deles vinha Brizola. Somente daí é que apareciam Lacerda, Adhemar de Barros…

     

    Já imaginaram se Jango, mesmo não sendo candidato, decidisse apoiar JK ou mesmo Brizola? A derrota da Direita na eleição presidencial de Novembro de 1965 estava mais do que garantida, portanto. 

     

    Aliás, já nas eleições parlamentares de 1962 (nas quais a CIA e o governo dos EUA injetaram muitos milhões de dólares para eleger políticos conservadores e direitistas) o PTB tinha sido o partido que mais crescera, elegendo quase o mesmo número de deputados federais que o PSD. 

     

    E a UDN estava em franco processo de enfraquecimento (qualquer semelhança com o que ocorre, hoje, com o PSDB-DEM-PPS também não é mera coincidência). 

     

    Vendo que caminhavam, inevitavelmente, para sofrer mais uma derrota fragorosa na eleição presidencial de 1965, as Direitas apelaram para o Golpe de Estado, oras.

     

    Afinal, quem não tem voto (seja popular ou no Parlamento) apela para Golpes. 

     

    Agora, o Golpe era inevitável? O Golpe em si, era, pois o mesmo já havia sido tentado anteriormente em 1954, 1955, 1956, 1959 e em 1961 e já tinha sido decidido e vinha sendo planejado pelo governo John Kennedy desde 1962. E após o assassinato de Kennedy o seu sucessor, Lyndon Johnson, deu sequência aos planos golpistas contra Jango.

     

    Mas entendo que a vitória do Golpe somente se deu porque as Esquerdas Radicais da época (CGT, UNE, Ligas Camponesas, PTB Brizolista) atuaram no sentido de enfraquecer o governo Jango. E conseguiram. E foi isso que abriu caminho para a vitória do Golpe. 

     

    Obs: Qualquer semelhança com o que o PSOL-PSTU tentam fazer, hoje, com o PT-Lula-Dilma também é não é mera coincidência. 

     

    A diferença é que, felizmente, atualmente as Esquerdas Radicais tem uma penetração ainda reduzida junto aos movimentos sociais e aos trabalhadores e a sua expressão política e eleitoral ainda é ridícula (quando comparada com a do PT-PCdoB, por exemplo) para que possa ter maior impacto sobre os destinos do país. 

     

    Já no período 1961-1964 essas mesmas Esquerdas Radicais vinham se fortalecendo bastante, tanto na sua influência juntos aos movimentos sociais (sindicatos, estudantes, camponeses, intelectuais), bem como também estava crescendo política e eleitoralmente. As Esquerdas Radicais daquele período, embora tivessem outro projeto de Nação (o que as Esquerdas Radicais de hoje sequer possuem, limitando-se a praticar um lacerdismo neo-udenista de quinta categoria), eram muito mais fortes e influentes na sociedade do que as atuais. 

     

     

    Movimentos sociais tiveram um cresimento expressivo durante o periodo 1945-1964. O Golpe de 64 e a implantação da Ditadura Militar tiveram neles os seus principais alvos. 

     

     

    Quando chegou às vésperas do Golpe, o fato é que Jango não era mais a principal liderança política e popular junto aos movimentos sociais organizados, mas ele ainda era o político progressista (Trabalhista e Nacionalista) mais popular do país. 

     

    Mas sem uma base política própria e organizada, que fosse suficientemente forte para promover as ‘Reformas de Base’ de maneira legal e constitucional (que era o grande objetivo de seu governo), Jango ficou sem sustentação popular organizada que pudesse levar o seu governo a bom termo. E isso na verdade não apenas inviabilizou o projeto Janguista (promover as ‘Reformas de Base’ dentro do marco legal da época), como abriu caminho para a sua derrubada por forças das Direitas Golpistas. 

     

    Aliás, pesquisas feitas na época, pelo Ibope, mostravam que a estratégia Janguista era a preferida da maioria absoluta da população brasileira. Esta apoiava as ‘Refomas de Base’ de forma maciça (em torno de 70% a 80% concordavam com elas), mas queriam que elas fossem feitas dentro da lei. E era exatamente isso que Jango queria. 

     

    Porém, a estratégia das Esquerdas Radicais era outra: ‘Reformas de Base na Lei ou na Marra’ era o seu lema. Tal política tornou-se a preferida dos movimentos sociais organizados e dominados pelas Esquerdas Radicais (estudantil, camponês, intelectuais, sindical), mas não encontrava apoio junto à maioria da população, que discordava do processo de radicalização promovido pelas mesmas. A imensa maioria dos brasileiros apoiava a estratégia janguista (Reformas dentro da Lei). 

    Assim, por exemplo, a defesa do fechamento do Congresso Nacional e a sua substituição por uma Assembleia Constituinte exclusivamente formada pelos esquerdistas e nacionalistas radicais, era a grande bandeira de luta das Esquerdas Radicais. Mas tal ideia era repudiada pela imensa maioria da população.

     

    Daí, ficamos na seguinte situação: Um presidente da República muito popular, afinado com a vontade da maioria absoluta da população (que desejava as ‘Reformas de Base’), mas que não tinha mais a liderança junto aos movimentos sociais organizados.

     

    Reforma na Lei ou na Marra: Esse era o lema fundamental das forças esquerdistas radicais no período 1961-1964. Mas a maioria da população brasileira não concordavam. Daí, os movimentos sociais se afastaram da população, facilitando a vitória dos Golpistas em 1964.

     

    E, simultaneamente, tínhamos movimentos sociais organizados promovendo uma estratégia de crescente radicalização em defesa das ‘Reformas de Base’, mas que não tinha apoio popular mínimo para levar adiante tal política. 

     

    Com isso, entendo que surgiu uma espécie de ‘vazio de poder’ na República Democrática brasileira da época, com um Presidente da República popular, mas que não mais governava (suas ordens não eram mais obedecidas por vários dos seus ministros, que eram ligados às Esquerdas Radicais), e Movimentos Sociais radicalizados que haviam se tornado hegemônicos dentro das forças progressistas do período, mas que haviam se distanciado muito da vontade da maioria da população, que repudiava a radicalização defendida pelos mesmos. 

     

    Foi nessa situação de ‘vazio de poder’ que as Direitas Golpistas aproveitaram erros brutais cometidos pelas Esquerdas Radicais, como a de apoiar movimentos de insubordinação dentro das Forças Armadas (o que jogou a imensa maioria da oficialidade, que era legalista até aquele momento, no braços das Direitas Golpistas) para derrubar um Presidente que não mais governava, embora fosse muito popular e estivesse afinado com a vontade da maioria dos brasileiros de sua época. 

     

    Felizmente, hoje, as forças das Esquerdas Radicais não tem sequer uma fração mínima daquela que os grupos esquerdistas e nacionalistas radicais do período 1961-1964 possuíam. Digo felizmente porque, se isso acontecesse, não tenho a menor dúvida de que o Presidente Lula sequer teria concluído o seu primeiro mandato.

     

    No fim das contas, foi a manutenção do apoio popular organizado (sindical, camponês, estudantil, sem-teto, LGBT, negro, mulheres, etc), junto com a simpatia pelo governo por parte da ‘maioria desorganizada’ da população (o subproletariado que odeia baderna e bagunça, como diz o André Singer em seu estudo ‘Os Sentidos do Lulismo’), que fez a diferença em favor de Lula e que faz o mesmo, agora, em benefício do Governo Dilma. 

     

    Embora fosse um Presidente com elevado índice de aprovação popular, Jango ficou sem movimentos sociais organizados que pudessem dar sustentação à sua política de promover as ‘Reformas de Base’ dento do marco legal e constitucional da época. Infelizmente.

     

    Lembro de uma entrevista concedida pelo Tasso Jereissatti, meses após a decisão da oposição de não pedir o Impeachment de Lula (optando por fazer o governo deste ‘sangrar’), na qual ele explicava o porque eles haviam feito isso (não pedir o Impeachment de Lula) e a resposta dele foi bem esclarecedora: É que não havia apoio popular, de fato, para tal iniciativa. 

     

    E na verdade, reconhecia Tasso na entrevista, entre os mais pobres o Presidente Lula mantinha-se extremamente popular. E ele concluía que se a oposição conservadora pedisse o Impeachment de Lula, os pobres nunca os perdoariam. 

     

    Tasso reconhecia que a oposição jamais voltaria a ganhar uma eleição (presidencial, é claro), já que os mais pobres são a maioria da população e eles ficariam com ódio pelo fato deles, oposição conservadora, derrubarem um governo que, no fim das contas, beneficiava os segmentos mais pobres da população com uma combinação de políticas de inclusão social (Bolsa Família, Luz Para Todos, ProUni), geração de empregos com carteira assinada, aumento real de salário mínimo, entre outras. 

     

    Desde tempos imemoriais que o país não tinha um governo que olhasse para os mais pobres, e que adotasse políticas que os beneficiavam e, agora que isso acontecia, derrubavam esse governo? Isso era demais para a oposição, por mais que esta desejasse propor o Impeacment de Lula. 
     

     

    Onde termina Lula e onde começa o Povo? Vá saber… O apoio decisivo dos mais pobres deu ao Presidente Lula as condições para resistir à ofensiva golpista da Direita Reacionária, se reeleger em 2006 e ainda conseguir eleger Dilma em 2010. 

     

    Então, que a história sirva de lição e que as Esquerdas, os movimentos sociais e os partidos e lideranças progressistas brasileiras não se esqueçam de uma frase que era dita e pichada nos muros das cidades chilenas durante o governo de Salvador Allende, que era: ‘Este governo pode ser uma merda, mas é meu!’. 

     

    E penso que os governos de Lula e Dilma estão, de fato, muito, mas muito longe, mesmo, de serem ‘uma merda’. 

     

    Suas realizações na área social, por exemplo, são muito mais significativas do que as de qualquer governo brasileiro do período pós-Golpe de 64. Redução da taxa de desemprego pela metade, inflação controlada (está em 6% ao ano, em média, desde 2005), aumento do poder de compra do salário mínimo em mais de 70%, geração de 20 milhões de empregos com carteira assinada, redução da concentração de renda (medida pelo índice de Gini) para o menor patamar da história do país, são algumas das principais realizações de ambos. 

     

    E mesmo os governos anteriores (Vargas, JK e Jango) a este, embora tenham tido realizações impressionantes na área econômica-industrial, não conseguiram promover, em momento algum, benefícios sociais tão amplos quanto os que os governo de Lula e Dilma já conseguiram. 

     

    As leis trabalhistas da época, por exemplo, que foram uma grande e fundamental conquista dos trabalhadores (e após décadas de luta pela criação das mesmas) nunca chegaram a beneficiar a maioria absoluta dos trabalhadores, pois elas ficaram restritas aos trabalhadores urbanos, que eram uma minoria da população, visto que a maior parte dos brasileiros ainda vivia na área rural (a população urbana somente superou a rural em 1965, após o Golpe que derrubou Jango, portanto).
     

     

    O ProUni já beneficiou mais de 1.700.000 estudantes que, de outra maneira, não teriam como cursar uma faculdade.

     

     

    E quando o governo Jango decidiu levar adiante um processo de inclusão social e política em beneficio dos trabalhadores rurais (criando o Estatuto do Trabalhador Rural, estimulando a sindicalização dos trabalhadores do campo – o que resultou na criação de mais de 1500 sindicatos de trabalhadores rurais durante o seu governo) o mesmo foi derrubado pelos golpistas direitistas e que incluía entre os seus principais segmentos os… latifundiários, é claro. 

     

    Então, as realizações dos governos Lula-Dilma (redução da pobreza e da miséria, melhoria da distribuição de renda, política externa soberana, fortalecimento da integração latino-americana, melhoria substancial da situação econômica e financeira do país, etc) não devem ser negligenciadas. 

     

    Quem não valoriza o que já conquistou, e por mais que ainda tenha que ser feito no país para oferecer uma vida digna a todos os brasileiros, acaba ficando sem nada. 

    Assim, a Luta Continua!

      Link:  http://guerrilheirodoanoitecer.blogspot.com.br/2013/11/a-falta-de-votos-da-direita-as.html

  10. Impedimento e reformas

    Em primeiro lugar o artigo parece bom, mas acho que peca em dois quesitos, o do impedimento e não toca nas reformas de base.

    Não deixa claro em que condições o impedimento é acionado, só coloca que está na lei, na constituição. Será importante clarear a questão. O artigo está contra o golpe evidentemente. Mas deixa uma lacuna: deixa claro que o mecanismo poderia ser usado contra Jango. Jango cometeu algum crime que justificasse o impedimento? E justifica o da Dilma? Pelo que entendo é que o golpe militar veio por conta das Reformas de Base. Fundamental registrar isso com clareza. Ai entro no segundo quesito, os militares interromperam as Reformas de Base porque atingia certos pontos importantes do capitalismo que poderia repercutir nos interesses da burguesia nacional e internacional. como reforma agrária, reforma universitária de caráter popular, encampação das refinarias de petróleo privadas, reforma eleitoral, bancária, uma nova contituição que desse sustentação as reformas. Deixo claro que a burguesia brasileira não tolera subalternos no governo, como o PT, Jango era um latifundiário e para a burguesia quem da classe não defende os interesses dessa classe não serve. O caso do impedimento da presidente é diferente, a burguesia rompeu com o pacto social, com a conciliação de classes que o PT ofereceu e depois de aceito pela burguesia, impôs a classe trabalhadora, diferente do Pacto social negociado com a classe trabalhadora porposto pelo governo no no final da década de 80 do século passado, o  qual, o PT e a CUT rejeitam na ocasião. O PT fez o pacto colocando a goela abaixo da classe trabalhadora e o desenrolar dessa história acaba no rompimento do pacto por parte da burguesia com a crise que de marolinha virou um tsunami, porque o PT insistiu em fazer das demandas da classe trabalhadora, mercadoria e pensar somente em ganhar as eleições. Obviamente que a burguesia na crise quer reativar a economia de forma que a crise não abale tanto os seus lucros e a forma de fazer isso, de manter os lucros em patamares aceitaveis é acabar com a CLT, ou mantê-la mas como letra morta, como estão fazendo com a constituição de 88, saem com ela em braço erguido, ao mesmo tempo ignorando seu conteúdo. Nesse sentido o campo fica aberto para as terceirizações amplas, gerais e irrestrita, o que será o caos para a classe trabalhadora. Mais a reforma de previdência que na realidade é uma privaatização da saúde e das privatizações do que resta do patrimonio público. O governo Dilma pressentindo o golpe tratou nesse segundo governo de aderir a agenda aecista, a começar com o ajuste fiscal, não foi suficiente, a burguesia não que mais os servos no aparelho de Estado burguês, quer os originais um principe corrupto da burguesia.

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