Análise

Temer dá continuidade ao blefe da ‘Operação 7 de Setembro’, por Wilson Ferreira

Temer dá continuidade ao blefe da ‘Operação 7 de Setembro’

por Wilson Ferreira

O show deve continuar. Dando continuidade ao blefe da “Operação Sete de Setembro” entra em cena o “apaziguador” Michel Temer com direito a fotos do seu embarque triunfal para Brasília em avião da FAB, vídeo “vazado” e notas cuidadosamente plantadas nas colunas da imprensa corporativa. O mininistro  do STF Alexandre de Moraes “trocou uma ideia” com Temer, que “trocou uma ideia” com Bolsonaro, que “trocou uma ideia” com Alexandre de Moraes. Dessa maneira, Temer nos livrou do abismo do golpe para o qual Sérgio Reis, Zé Trovão e Batoré arrastavam a Nação. Como, no futuro, um professor de História conseguirá descrever esse melodrama tão inverossímil? Uma sequência de não-acontecimentos (dos blefes com dinheiro público ao estado da arte de um vídeo canastríssimo) que a grande mídia deu pernas, parceira das operações psicológicas que objetivam: (a) apagar rastros das próprias PsyOps militares; (b) criar a ilusão de que as “instituições que funcionam resistem ao golpe” (que já ocorreu, mas foi híbrido); (c) manter o ciclo vicioso de volatilidade política para as “sardinhas” se afogarem no mar da especulação financeira infestada de “tubarões” com informações privilegiadas. 

Colunistas (ou “colonistas”, como chamava o saudoso jornalista Paulo Henrique Amorim) servem, no contexto atual de guerra criptografada de informações, para uma única coisa: vazar informações e repercutir notas plantadas, criando o caos cognitivo na opinião pública.

Depois da assustadora expectativa de assistirmos a um golpe de Estado açodado por Bolsonaro e executado pelo inacreditável trio Sérgio Reis, Batoré e Zé Trovão, eis que ressurge do ostracismo Michel Temer. Com o marqueteiro Elsinho Mouco e com tudo, para cuidadosamente divulgar vídeos e plantar/vazar informações dos bastidores do dia em que a Nação foi salva de tão grave “crise institucional”. 

Sonia Racy, na sua coluna “Direto da Fonte”, com matéria sob manchete com o sujeito na voz ativa (“Temer CONDICIONOU ida a Brasília a garantia que Bolsonaro assinaria a carta”), a jornalista revelou os “bastidores” da solução da crise. Segundo ela, o “apaziguador” (SIC) “trocou uma ideia com Alexandre” (Alexandre de Moraes, ministro do STF) para depois “montar a carta” e enviar a Bolsonaro. Temer também falou por telefone a Bolsonaro que “pegava mal para ele falar mal de um ministro”.  

Leu a carta pelo celular a Bolsonaro, que “aceitou assiná-lo” e… “Trato feito”.

Após cuidadosamente postar nas redes fotos de seu triunfante embarque para Brasília em avião da FAB enviado pelo “politicamente isolado” Bolsonaro, o trabalho do incansável marqueteiro de Temer não acabou: divulgou um vídeo de um jantar na casa do “investidor” Naji Nahas em que Temer aparece ao lado de políticos e empresários rindo, enquanto André Marinho, filho do empresário Paulo Marinho, fazia uma imitação de Bolsonaro.

Mas, claro, o “apaziguador” não permitiria que um vídeo desse viralizasse sem explicações e, mais uma vez, deixasse a Nação ansiosa: prontamente ligou para o presidente e explicou que o humorista fez no jantar outras imitações de políticos, incluindo a do próprio Temer. E o atual chefe do Executivo minimizou tudo e “deixou pra lá”, como nos informa outro “colonista”, dessa vez Caio Junqueira da CNN. 

Ufa!!! Mais uma vez, Temer salvou o dia…

É tragicômico ver uma mídia, tanto corporativa quanto progressista, pautada por essa sucessão de blefes (“telecatchs”) ou, para ser academicamente mais preciso, “não-acontecimentos” (Jean Baudrillard); “pseudo-eventos” (Daniel Boorstin) estratégia indiretas de criação de simulacros para imediata repercussão midiática.

A canastrice do vídeo viral

Mas o pior de tudo é a canastrice dos personagens desses blefes: os “feios, sujos e malvados” personagens talibãs são mais verossímeis do que as bravatas da trinca Sérgio Reis/Batoré/Zé Trovão.

E para completar, a canastrice de Temer, cujos trejeitos e gestual emulam Silvio Santos e Raul Gil. Mais um exemplo da canastrice como ferramenta subliminar na política e tributária da hiper-realidade: a maneira pela qual personagens do mundo cotidiano (do CEO de uma empresa a políticos, presidentes e ministros) refletem a ficção midiática. E eleitores e opinião pública, acostumados com os simulacros televisivos e fílmicos, os veem como verossímeis e críveis… por serem iguais a personagens da ficção.

Ao mesmo tempo, a mídia progressista (que deveria ser a primeira a questionar todo esse overact) compra tudo isso: “Temer embarca para Brasília para ENQUADRAR Bolsonaro”, ou até se condoendo da “canalhice” de Temer – acusando-o de “mau caratismo” ao “humilhar um desesperado presidente” que “ofereceu-lhe sua intimidade”.

Mas quem estava no jantar viral? Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD; Johnny Saad, presidente do Grupo Bandeirantes; Roberto D’Ávila, jornalista e apresentador da GloboNews; Antonio Carlos Pereira, ex-editorialista do jornal O Estado de São Paulo; Naji Nahas, especulador e doleiro; Raul Cutait, cirurgião do hospital Sírio-Libanês; José Yunes, advogado e amigo pessoal de Temer.

Uma continuidade do não-acontecimento da “Operação 7 de Setembro”: mais reforçar o blefe de que o País esteve perigosamente à beira de um golpe de Estado perpetrado pelo próprio presidente (um Capitólio Tabajara), reunindo um punhado de cabeças brancas tão verossímeis quanto Zé Trovão e sua trupe – o “investidor” que quebrou a Bolsa do Rio de Janeiro em 1989 e preso pela PF na Operação Satiagraha em 2008 (Naji Nahas); os velhos jornalistas e empresários de guerra do golpe de 2016; o wannabe de ligação política do Centrão (Kassab) e o indefectível staff da comunidade libanesa.

Continue lendo no Cinegnose.

Este texto não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

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