Temer deve decidir se empurra Geddel ou se desce com ele, por José Roberto de Toledo

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
[email protected]

Resultado de imagem para geddel e temer
 
Jornal GGN – “Cabe a Michel Temer decidir se acompanhará seu ministro ladeira abaixo ou se vai dar um empurrão para a descida ser mais rápida”, publicou José Roberto de Toledo, em coluna no Estadão sobre a crise ministerial desencadeada com o Secretário de Governo, Geddel Vieira.
 
O jornalista lembra que a decisão do peemedebista não será fácil, considerando a histórica relação de confiança entre os dois, desde a “Turma do Pudim”, na era de Fernando Henrique Cardoso, em 1990, formada por Temer, Geddel, Renan, Eliseu Padilha e Jader Barbalho. “A Turma do Pudim continua onde sempre esteve: mandando e demandando”, completou.
 
Por José Roberto de Toledo
 
De ladeiras e pudins
 
Do Estadão
 

Lá vem o Geddel, descendo a ladeira – do “La Vue”. Cabe a Michel Temer decidir se acompanhará seu ministro ladeira abaixo ou se vai dar um empurrão para a descida ser mais rápida. Não é fácil, porém, para o presidente abandonar quem gerencia a articulação política (quando não está empenhado em aprovar projetos imobiliários no Iphan). O dilema de Temer deve-se menos ao futuro do que ao passado. Sua ligação com Vieira Lima sobrevive há duas décadas, passou por quatro presidentes da República.

Na era FHC, em meados dos anos 90 do século passado, ambos faziam parte da Turma do Pudim. Reunidos semanalmente em torno de um prato de comida, Temer, Geddel, Renan Calheiros, Eliseu Padilha e Jader Barbalho decidiam o que o PMDB queria do governo tucano. Quem transmitia os recados era Henrique Eduardo Alves.

Muito mudou na aparência da política brasileira desde então, mas a Turma do Pudim continua onde sempre esteve: mandando e demandando. Eles mudam de cargo, circulam do Legislativo para o Executivo, mas raramente largam o poder. No governo FHC, a disposição das cadeiras era outra, mas quem as ocupava não.

Como Renan hoje, Temer, à época, presidia uma das Casas do Congresso (a Câmara). O hoje presidente do Senado é quem estava no Executivo, comandando o Ministério da Justiça. Padilha era ministro então e é ministro agora, só mudou de prédio: do Ministério dos Transportes para o Palácio do Planalto. Geddel, que era líder do PMDB, agora é ministro. Barbalho era e é senador (além de ser pai do ex-ministro dos Portos de Dilma). Alves era deputado, foi um breve ministro e caiu.

Eles dividem o pudim desde 1995. Prestam favores ao governo -qualquer governo – e depois cobram a fatura na forma de cargos. Foi assim que Temer emplacou o presidente das Docas de Santos (Codesp), Marcelo Azeredo, no governo FHC, e que Geddel viu seu pai, Afrísio, assumir posição semelhante nas Docas da Bahia.

Na primeira configuração da turma, Temer era líder do PMDB na Câmara, e Geddel, seu vice. No mandato seguinte, Geddel coordenou a campanha de Temer a presidente da Câmara, que contou com o apoio informal de FHC. Não foi à toa. Meses depois naquele 1997, ambos ajudaram a viabilizar a aprovação da emenda constitucional que garantiu o direito à reeleição a FHC (o autor da emenda foi o hoje ministro da Educação, Mendonça Filho).

Não é, portanto, trivial a decisão que Temer tem à sua frente. Ele e Geddel dividiram mais do que sobremesas. Foram do couvert ao digestivo, passando por incontáveis pratos principais.

Maior sinal da dificuldade do presidente é sua demora para agir. Nada fez mesmo depois de informado pelo então ministro da Cultura, Marcelo Calero, sobre as pressões de Geddel para que o Iphan (a ele subordinado) desembargasse as obras do Condomínio La Vue, um espigão de 30 andares na ladeira do Porto da Barra, em Salvador, onde Geddel comprara apartamento “em andar alto”.

Mesmo depois de o embrulho vir a público e de a versão preferida pelo Planalto (de que Calero havia caído por causa do projeto que regula a vaquejada) não ter emplacado, Temer não tomou nenhuma atitude em relação a seu ministro palaciano. Se, como diz Calero, Geddel de fato assediou o colega para agir em favor de seus interesses particulares, não há o que pensar. Se não é verdade, caberia então agir judicialmente contra Calero.

A inação não é uma opção por muito mais tempo. Mas a atitude que Temer vier a tomar não terá repercussões apenas sobre Geddel. Ela servirá de precedente para toda a Turma do Pudim.

Se o presidente entregar a cabeça do parceiro de confraria, os outros confrades saberão que, amanhã, dependendo das circunstâncias, pode ser a deles. Assim como o Iphan melou o pudim de Geddel, Renan, com seus 12 inquéritos no STF, tem o poder de embargar os principais projetos de Temer no Senado.

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

16 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Famiglia unida

    Temer, Cunha, Jucá, Geddel, MOreira, Padilha e toda a quadrilha que assaltou o poder da República para se livrar da cadeia é uma famiglia unida que, como toda boa máfia do mundo, controla portos, aeroportos e muitos negócios em todos os campos, como o imobiliário, em troca não apenas de cargos no governo, é óbvio. Temer mandou “Jucá estancar a sangria” de volta para o Congresso, onde lidera o governo, dado o impacto da denúncia do comparsa Machado no início deste desgoverno. Jucá tem foro privilegiado, Já Geddel saindo do Palácio perde o foro privilegiado. O parceiro parece que vai segurar o afogado até o fim.

  2. Mas que nada!
    Mas que nada/Sai da minha frente que eu quero passar/O samba está animado/Que eu quero sambar… Temer só precisa continuar sambando. Ninguém irá às ruas pedindo a saída do Geddel. Ninguém baterá panelas por isso, ninguém vai achar que é corrupção. A mídia não vai fazer editoriais furiosos, vai ser tudo morninho como esse texto do José Roberto de Toledo. Geddel já ganhou salvo-conduto nesse imbróglio de todos os líderes governistas, inclusive dos presidentes da Câmara e do Senado. A pena máxima que a Comissão de Ética pode aplicar é de advertência. Ou seja: esse assunto já morreu. Como acabou de dizer Renan Calheiros…

    1. Só um reparo

      A comissão pode recomendar a exoneração ao superior imediato do investigado. O pepino passa para Mi Shell que assume o ônus de não acatar a recomendação.

      1. Pepino? Temer faz uma salada…

        E você acha que isso será problema para o Temer? Quando Dilma nomeou Lula ministro a Justiça impediu, sob a alegação de que Dilma queria atrapalhar as investigações dando foro privilegiado ao Lula. Você viu algum ministro desse governo investigado por isso? Renan foi ao menos arranhado por seus 12 provessos?

        Então…

  3. Isso ai tem jeito não

    A turma do pudim sabe tantos podres uns dos outros que vão morrer no abraço dos afogados. Se um caisse e começasse a delatar, acabaria com o PMDB tal qual o conhecemos.

  4. Isso desmente a fala

    Isso desmente a fala recorrente de que não houve golpe!

    Na democracia exige decoro!

    Eles não estão mais se lixando para imagem!

    Se serão ou não compreendidos como corruptos, eles nem querem saber!

    Por mais um pouco cairemos de vez na ditadura, com controle de internet e tudo isso!

    Essa atitude dos deputados revelou que a corrupção anda solta ao se solidarizar com o gedel!

    Todo mundo deve estar fazendo o mesmo ou pior, o fato é que gedel pode ter sido pego num ato onde a grande imprensa fala olhando para nós que isso é feio, só por que estamos olhando, daqui a pouco isso passa e nem tocam mais no assunto…

    Vão desaparecer bilhões!

    Estamos ferrados de vez!

  5. A cabeça

    dessa quadrilha (PMDB, PSDB, DEM, MPF, STF e PF) que assumiu o controle do país são as Organizações Globo. Esse Geddel é um batedor de carteira sujo, se deixar rouba até velhinhas. Quanto a SUPOSTA indignação desses colunistas sujos, é meramente charme. Amanha a Globo enquadra todo mundo e a quadrilha segue saqueando e o Barroso vai continuar vomitando as suas frases de efeito achando que vai mudar o mundo. Tudo farinha do mesmo saco.

  6. O mais abjeto nisso é saber

    O mais abjeto nisso é saber que um ministro de Estado foi demitido sumariamente por causa de um gasto de 8,00 numa tapioca com um cartão corporativo da presidência. A mídia em peso escandalizando e cobrando da palerma Dilma que o ministro fosse demitido. Agora diante de uma situação mais grave o presidente mantém Geddel no cargo. Definitivamente presidir o Brasil é coisa para profissionais.

  7. MP se move pra manter mordomias

    Os procuradores (os dallagnóis da vida), liderados pelo MP-PE,
    já se articulam para substituir o auxílio-moradia por outro penduricalho do
    mesmo valor caso seja considerado inconstitucional. São esses e os desembargadores
    que querem ficar acima da lei e com privilégios salariais muitas vezes maior
    que o teto constitucional:

    http://www.folhape.com.br/politica/politica/blog-da-folha/2016/11/21/BLG,1023,7,509,POLITICA,2419-MEMBRO-MPPE-SUGERE-JEITINHO-PARA-EVENTUAL-FIM-AUXILIO-MORADIA.aspx

    http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2012/01/desembargadores-do-tj-rj-ganham-supersalarios-de-ate-r-600-mil.html

  8. Esse governo golpista só cai

    Esse governo golpista só cai se não entregar o pacote que lhe foi mandado entregar.

    Dito de outro modo: quem vai derrubá-lo, a “esquerda”? Ora, esses não derrubam ninguém, só são derrubados.

    A “cidadania””, a “moral e os bons costumes”. a coxinhada boçal teleguiada? Pfff!

    A lava jato? Ora a lava jato está na xepa, ja fizeram o que queriam. De agora em diante é ficar fingindo com uma açãozinha aqui e outra ali para espetar o verno  golpisa que eles ajudaram a colocar no poder a entregar o que lhe foi mandado entregar.

    A rede globo? Ah, aí, sim. Se ela perder a paciência com esse governo golpista que eles colocaram no poder para entregar o que lhe foi mandado entregar, aí, sim.

    …Fora isso, o chororô é livre.

  9. “Se Geddel de fato assediou o colega”?????

    “Se, como diz Calero, Geddel de fato assediou o colega…”. Como assim “se”? Geddel confessou isto em entrevista à Folha. Disse que não pressionou, só pediu que o colega desse uma atenção especial…

    Disse Geddel na Folha: Eu fiz a ele uma ponderação, trazendo uma informação que esse era um empreendimento que já havia sido licenciado…” Ou seja, o ministro deveria interferir no trabalho do Iphan, para favorecer Geddel. Ou tem outra forma de entender  uma conversa entre um dos ministros mais fortes do governo e o titular da pasta que sempre foi a mais fraca, a não ser (talvez) quando Gilberto Gil estava em seu comando?

    Até para cobrar Temer, o Estadão não deixa que o colunista seja incisivo… Trabalhar para a mídia golpista está saindo muito caro para a dignidade dos jornalistas.

     

  10. Vermelho 27 – Geddel na frigideira

    Quando o Geddel estava com o dinheiro sujo de suas maracutaias, amigos a granel não lhe faltavam. Agora que a casa caiu, nem um cão entre os amigos vai encontrar. Vermelho 27, Velho Nelson.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador