Temer, Lava Jato e economia ruim fizeram Lula “renascer eleitoralmente”, diz jornalista do Estadão

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Foto: Divulgação

Jornal GGN – Lula atingiu três marcos no Ibope divulgado nesta quinta (20): é o único entre nove candidatos – incluindo os quatro tucanos Joao Doria, Aécio Neves, José Serra e Geraldo Alckmin – a reunir maior potencial de votos, maior eleitorado cativo e maior queda na taxa de rejeição.

A pesquisa foi feita antes da divulgação da chamada lista de Fachin e, consequentemente, antes de Lula ganhar 33 minutos de matérias negativas no Jornal Nacional. Mas, para José Roberto Toledo, do Estadão, “paradoxalmente”, a Lava Jato está entre os três fatores que fizeram Lula “renascer eleitoralmente”. 

“A Lava Jato acabou por nivelar o campo da corrupção. Se todos são moralmente iguais, o custo-benefício favorece Lula”, avaliou Toledo.
 
Para ele, o péssimo desempenho de Michel Temer na presidência e a atual crise econômica – que faz o eleitor resgatar os anos dourados com Lula – também favorecem o petista.
 
 
Por José Roberto Toledo
 
Páscoa eleitoral de Lula
 
No Estadão
 
Lula da Silva tem o maior eleitorado cativo entre possíveis candidatos a presidente. Segundo pesquisa inédita do Ibope, publicada aqui com exclusividade, 19% votariam “com certeza” nele e em mais ninguém – além de outros 11% que dizem que votariam com certeza não só nele, mas em outros também. Para se comparar, o segundo maior eleitorado exclusivo é o do ex-ministro do Supremo Joaquim Barbosa: 4%, um quarto do de Lula.
 
Considerando-se os que votariam com certeza e quem poderia votar em cada nome testado pelo Ibope, Lula chega a 47%; Marina Silva (Rede) tem 33%; Jose Serra (PSDB), 25%; Joaquim Barbosa, 24%; Geraldo Alckmin e Aécio Neves, 22% cada; Ciro Gomes (PDT), 18%; Jair Bolsonaro (PSC), 17%; e João Doria (PSDB), 16%. Mas Doria, Bolsonaro e Joaquim são desconhecidos para 40% ou mais do eleitorado e, por isso, sofrem menos com a rejeição.
 
Lula é o único cujo potencial de voto (30% que votariam com certeza nele mais 17% que poderiam votar) quase iguala sua rejeição: 47% a 51% – a diferença está no limite da margem de erro. Para Aécio e Ciro, por exemplo, seu potencial é cerca de um terço de sua rejeição. Quem se aproxima mais de Lula nessa taxa é Barbosa: seu potencial equivale a 75% de sua rejeição.
 
Lula renasceu eleitoralmente por três motivos: o governo Temer, a memória do bolso do eleitor, e, paradoxalmente, a Lava Jato – que respingou em quase todo político relevante. A pesquisa Ibope foi feita antes de o Jornal Nacional dedicar 33 minutos ao petista na cobertura da Lista de Fachin. Se Lula continuará vivo na disputa até 2018 é questão para pitonisas forenses.
 
Quanto pior é a avaliação do governo Temer, maior fica o capital político acumulado por Lula. Todo tropeço presidencial – das gafes em discursos sobre mulheres até o jeito de apresentar a reforma da Previdência – acaba virando ponto para o petista. O desemprego em massa, é claro, também ajuda.
 
Aos eleitores pobres, do Nordeste e de outras partes do interior do Brasil, pouco importa que a crise econômica tenha começado com Dilma Rousseff. Quando se lembram da última vez em que seu bolso não esteve vazio, que tinham emprego e podiam comprar de tudo à prestação, eles se lembram do governo Lula. O bolso tem memória comparativa – e votar é comparar, sempre.
 
“Lula é investigado por corrupção”. Ele e, desde a semana passada, uma centena de políticos de quase todos os partidos, como mostram as delações da Odebrecht. “Com ele a corrupção foi maior”. Pode ser, mas, para o eleitor do Brasil profundo, se todos roubam, ao menos sob Lula sobrava algo para ele. Isso explica o fato de o petista estar com rejeição menor que os três ex-candidatos a presidente do PSDB, Serra, Alckmin e Aécio.
 
A Lava Jato acabou por nivelar o campo da corrupção. Se todos são moralmente iguais, o custo-benefício favorece Lula. O raciocínio cínico de parte do eleitorado que se notabilizou com Adhemar de Barros e ganhou força com Paulo Maluf está agora sendo ressuscitado para Lula. E se aparecer um adversário novo? Alguém não nivelado pela Lava Jato? Será o antípoda do petista. Por ora, os candidatos ao papel são Bolsonaro e Doria.
 
A menor intersecção do potencial de voto em Lula é com ambos: 13% e 10%, respectivamente. Quase ninguém que votaria no petista votaria neles também. É porque são menos conhecidos, mas isso é uma vantagem: dos que não votariam de jeito nenhum em Lula, 37% não conhecem Bolsonaro e 41% não conhecem Doria o suficiente para opinar sobre eles. Significa que ambos podem somar até 20 pontos a seus potenciais de voto cativando quem rejeita Lula. Seria o suficiente para levar um deles ao segundo turno.
 
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

5 Comentários

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  1. Se não fosse uma certa

    Se não fosse uma certa morosidade do Governo Temer, o petista estaria de volta às origens. Mas, as coisas agora estão acontecendo e óbviamente que o petista cairá num certo esquecimento, com novos horizontes mais claros e fortalecendo o já fortalecido João Doria, cotadíssimo para a presidência em 2018 segundo pesquisas internas do seu partido, dessa semana.

  2. estadão golpista? Tudo a ver

    estadão golpista? Tudo a ver com um jornaleco da nossa cidade! Lá escrevia um jornalista comentarista de futebol, muito amigo do atacante perna de pau do time local e desavençado com o exímio goleiro. As poucas vezes que seu amigo fazia gol, escrevia supervalorizando e enaltecendo suas qualidades e, todas as vezes que o goleiro fazia defesa sensacional, escrevia destacando as péssimas qualidades dos atacantes adversários.

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