Temporada de caça à Dilma, por Helena Chagas

Do Fato Online

Helena Chagas: Temporada de caça à Dilma
 
Destituir um presidente eleito há menos de um ano pode ser mais traumático do que se imagina, principalmente quando não se sabe o que se vai colocar no lugar e nem o que se vai fazer com o país
 
O nome do jogo agora é “Caça à Dilma”. Por ora, o verbo adequado parece ser mesmo caçar, de caçada, e não o cassar, relativo a mandatos. É que ainda se busca uma arma para o abate – ops!, um instrumento jurídico para o impeachment. Nos últimos dias, porém, o establishment político começou a falar sem inibições na possibilidade de afastamento da presidente da República, embora não se tenha também, além da base legal, a indispensável pactuação das forças políticas em torno do dia seguinte e nem o ingrediente mais importante: um claro e inequívoco clamor das ruas pedindo essa solução.

Mas o impeachment virou conversa nos corredores do Poder e nas mesas dos bares. Poderia vir, segundo a narrativa, pelas pedaladas do TCU, pelas irregularidades no financiamento de campanha levantadas pela Lava-Jato ou por qualquer outro caminho que venha a aparecer. Aparentemente, o que se busca é um motivo que atenda às conveniências dos atuais protagonistas do cenário político.

Não há como negar que o pano de fundo é uma crise preocupante, que junta impopularidade do governo, fragilidade e falta de controle no Congresso, o maior escândalo de corrupção da história, a economia estagnada e a máquina administrativa em ritmo devagar quase parando. Só que o que impulsiona hoje, de verdade, os principais integrantes do establishment político nas articulações pelo afastamento de Dilma é, acima de tudo, um movimento para salvar a própria pele.

A cada dia, esse movimento ganha mais urgência. É que agosto será um mês fatídico não só para o Planalto, mas também para o PMDB dos acusados na Lava-Jato, entre os quais os presidentes da Câmara e do Senado, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Renan Calheiros (PMDB-AL). Tudo indica que serão  denunciados pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal.

Nada mais oportuno para eles, portanto, do que ter na rua, ao mesmo tempo, um processo de impeachment presidencial ou algo semelhante para desviar de alvo o canhão da mídia e da opinião pública. Cunha, Renan e outros, que controlam o Congresso, teriam chance de passar de acusados a acusadores, tudo em meio ao clima de confusão que toma conta do país num momento em que se tenta afastar um presidente da República.

Coincidência ou não, o PMDB de Renan e Cunha é o mesmo de Michel Temer, que já foi o vice fraco de um governo forte e hoje é o vice forte de um governo fraco. Numa situação-limite, o vice lutará com unhas e dentes para não ser cassado junto com Dilma, o que ocorreria no caso da cassação do diploma por irregularidades no financiamento da campanha. E é claro que, no caso de impeachment pela rejeição das pedaladas – que não foram inventadas pelo atual governo – assumiria a presidência da República.

Temer é um político à moda antiga, correto e leal. Então, espera para ver como é que fica. Sabe que, se deixar a articulação política nas atuais condições de temperatura e pressão, jogará Dilma num isolamento tal que o impeachment poderá ser o próximo passo. Vai seguindo na função, sob forte pressão do próprio partido, porque lhe foi prometido que não sofrerá mais sabotagem dos petistas e terá carta branca para cumprir os compromissos em relação a cargos e emendas.

Enquanto Temer permanecer na articulação, há chance de um acordo com o PMDB para sustentar o governo até 2018. Mas é um equilíbrio delicado. Isso implicaria mais e mais poderes aos peemedebistas, quase um parlamentarismo branco. E há outra parte do trato, envolvendo a Lava-Jato, que a presidente dificilmente poderia cumprir por não estar a seu alcance.

Talvez de olho nesse acordo, que asseguraria a sobrevivência do governo do PT, e percebendo que suas declarações recentes só fizeram enfraquecer a presidente, o governo e o partido, o ex-presidente Lula esteve em Brasília. Se achou, porém, que seria o protagonista das conversas, enganou-se. Foi tratado como coadjuvante pelos peemedebistas, que no dia seguinte infligiram nova e acachapante derrota ao Planalto ao aprovar o  aumento dos servidores do Judiciário.

Uma outra perna do PMDB já negocia com a oposição, que sonha com o afastamento de Dilma, mas tem sérias divergências quanto ao dia seguinte. Aécio Neves  trabalha pela solução TSE, que afastaria presidente e vice para convocar novas eleições, que teria boas chances de vencer.

Só que outros tucanos, como José Serra, articulam com o PMDB do Senado e com Temer apoio e participação num eventual governo de transição do vice, nos moldes do que foi o de Itamar Franco. Serra é citado como possível ministro da Fazenda, uma espécie de Fernando Henrique do Temer, ou seja, futuro candidato a sucessor. Há controvérsias. Alguns acham que o FH de Temer, se este vier a assumir, seria o próprio Temer – a quem a lei facultaria a reeleição. Mas isso é assunto para bola de cristal.

Na realidade tucana de hoje, há um  terceiro complicador, o governador Geraldo Alckmin, também candidato a candidato em 2018. Para ele, o melhor seria as coisas ficarem como estão, com Dilma enfraquecida mas viva até lá.

Como se vê, muita espuma para pouco chope. O certo é que, entre as forças políticas que querem se livrar de Dilma, ainda não há consenso e nem a formulação obrigatória de uma alternativa para o futuro. Seria preciso também combinar com os russos: convencer os brasileiros de que as coisas vão, de fato, melhorar com os políticos que assumiriam – os mesmos de sempre, tão impopulares quanto Dilma nas pesquisas.

Destituir constitucionalmente um presidente da República eleito há menos de um ano, sem justificativa cabal, pode ser mais traumático do que se imagina – principalmente quando não se sabe o que se vai colocar no lugar e nem o que se vai fazer. Acima de tudo, é preciso ter um projeto para o país. Até agora, porém, só há projetos pessoais.

 

Redação

13 Comentários

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  1. TORTURA EM PRAÇA PÚBLICA – O PATÍBULO DE UM POVO

    Ou ela parte pra briga ou passará para a história não como heroína, mas como patético adesivo de bomba de gasolina. Getúlio deu um tiro no peito e adiou o golpe por 10 anos. Ninguém espera da presidente este ato insano. Queremos apenas que ela chame o povo pra rua, denuncie as injustiças, parta pra briga de peito aberto. Nem nos anos de chumbo Dilma foi tão humilhada assim. O cárcere era privado, a dor e a humilhação intensas, mas tudo, tudo era dolorosamente PRIVADO. Mas agora, a esculhambação e a tortura são públicas, à luz do dia. E em cada calúnia, em cada estupro, sofremos todos nós que apostamos em um país mais justo. Chega de enfiarem coisas ruins na nossa cabeça e entre as nossas pernas, não merecemos isso Coração Valente! Meu Deus, Dilma, reaja ou todos morreremos.

    1. Resposta ao Luiz Claudio Pontes

      Concordo com Luiz Claudio Pontes,

       

      Espero q estes tucanos briguem por poder e rosnem enquanto a banda passa. Dilma agora sim torço por você, por ser mãe, avó e mulher e está sendo achincalhada por estes inescrupulosos. Falta de respeito com a Presidente, absurdo toda esta corja, isto é golpismo. Este mineiro desvairado que não aceitou a derrota. Você e nem esta corja me representa.

  2. Fico abismado com a

    Fico abismado com a tranquilidade que aparentam diante de um golpe.

    Creiam analistas que correrá muito sangue no solo do Brasil.

  3. Não é fácil, até surreal,

    Não é fácil, até surreal, assistirmos raposas – sem tornozeleiras – arquitetando com a maior desfazatez a deposição de uma mulher decente. E logo num momento onde a decência, para os poderes e burocracia estável, parece abolida, não de seus discursos.

  4. REPAREM QUE A ANALISTA,

    REPAREM QUE A ANALISTA, EMPREGADA DA GLOBO, APARENTEMENTE DÁ A DERRUBADA DA DILMA COMO FAVAS CONTADAS.

    SE A DILMA CONTINUAR A FAZER DE CONTA QUE NADA ESTÁ ACONTECENDO NÃO VAI DURAR MUITO NÃO.

    PARA NOSSA IMENSA VERGONHA PERANTE O MUNDO.

    TODOS PENSARÃO, E COM RAZÂO: “ERA MESMO UMA REPUBLIQUETA DE BANANAS. FRUTAS E PESSOAS.”

  5. E ……………………..

    É a náu dos insensatos querendo afundar o País e seu povo !!!!!!!!!!!!!

    Mas, se estão pensando em sairem vitoriosos, estão redondamente enganados, pois uma guerra civil, pode até beneficiar interesses estrangeiros e entreguistas notórios, mas pode também levá-los de roldão na temmpestade que estão querndo provocar !!!!!!!!!!!!!

  6. O que o PMDB ganha?

    Tirando a opção do Temer assumir o governo, até o momento eu não consegui entender o que o PMDB ganha com a queda da Dilma?

    O partido vai apoiar a retirada da presidente que ele mesmo ajudou a eleger para colocar um tucano no lugar?

    É isso mesmo?

    Vai deixar de ser coadjuvante de um para voltar a ser de outro?

    O PMDB está com todas as armas na mão para assumir o protagonismo político no Brasil.

    Pode permanecer no governo até o ano da eleição, com o argumento da governabilidade, e após isso encabeçar uma chapa de coalizão, deixando o PT a ver navios.

     

  7. Outra  I N Ú T I L  !!Esta

    Outra  I N Ú T I L  !!

    Esta inação de membros do governo (ou cumplicidade com os conspiradores ?) teve início quando esta inútil ocupava a Secom .

    É provável que num eventual debacle do governo Dilma este estrupício retornará às editorias do jornal o globells .

    Estou enojado com tudo isso !!

  8. Achei que o texto suscita

    Achei que o texto suscita abordagens interessantes e uma visão satisfatória da complexidade envolvida. Coisa chata essa de rotular texto de “coxinha” por divergir de mera opinião… esse tipo de leitura superficial é que desencadeia Mainardis, Reizinhos e Mervais da vida. 

    A meu sentir o governo Dilma é um zumbi: morto em pé.

    Contra o fato consumado não se luta. É uma questão de tempo e instrumental jurídico para a queda do Planalto. Será um espetáculo deprimente, mas a história costuma pagar os pecados através das virtudes. Dilma será sacrificada por suas qualidades e não seus defeitos. Contribui, também, a falta de coragem ao promover esse ajuste fiscal a la Moddy’s, pensando que reverteria opiniões do mercado e seus aulicos congressistas. Perdeu o eleitorado, assiste sua única corda de salvação (o pleno emprego) indo para o brejo… Lula, nesse momento, suscita mais a imagem dos vícios do PT do que aquela esperança de coisas novas que sempre lhe atribuiram os eleitores.  

    Vivemos em tempos de narcisismo, consumismo, era do descarte (como bem coloca Francisco), e nada mais natural ao olhos de um eleitor bestificado por informações manietadas que a substituição de quem não lhe serve mais aos propósitos de ascenção social. Recentemente, frei Beto foi criticado por ter afirmado que o erro do “lulismo” foi ter proporcionado apenas satisfação consumista. Numa interpretação extensiva dessa fala, penso que Lula, sobremodo após enfraquecimento pelo mensalão, deitou mãos de qualquer ideologia progressista, que demandasse enquadrar a mídia e fomentasse a confluência de forças sociais mais engajadas numa visão política crítica e participativa. Apenas surfou sua popularidade nas ondas da estabilidae econômica, relegando a luta, o momento de confronto com as bases conservadoras da sociedade estamental brasileira, para um momento posterior de fortalecimento que não ocorreu nem ocorrerá. A verdade é que o discurso da direita, se concentrou no ataque ao poder central, deixando de ser atordoado por bolsa família, FIEs, cotas, superou estes pontos, por entende-los como acessórios se a causa principal for debelada. Começa aí o discurso bolivariano (notem que esmaecem os ataques à Bolsa família), sendo que tal vertente de ataque se consolida com o Mais Médicos, como se o material humano de Cuba legitimasse a sede dos arautos da minoria. Foi se formando um caldo efervescente, a reviravolta da classe média que não consegue mais empregar seus filhos diplomados no mesmo status de outrora, as forças conservadoras se unem, tendo como reflexo direto a vista grossa (apoio?) do PSDB ao 18 de Brumário de Eduardo Cunha. Qual Governo pode se suster com um câncer partidário chamado PMDB? Durou muito essa aliança. Como diz um grande advogado, e se aplica muito bem ao contexto dessa (ex)aliança: “não adianta chamar puta de etaira, que a ntureza das coisas não muda.”

    Somente um fato novo, fora da curva das expectativas e a favor de Dilma poderia reverter o estado de ânimo da massa. Aí, já estamos na esfera do imponderável (Jango), da “fortuna” de Maquiavel.

  9. caça a Dilma

    E o GGN ainda dá espaço para uma matéria dessas? Devaneios que talvez tenha aprendido na Globo. Enquanto estava na SECOM não fazia nada.

  10. Olá Heleninha,
    Que falta você faz no governo. Tivesse continuado a dar aquela dinheirada toda pro PIG talvez eles esivessem mais mansinhos. Desprazer em reve la dona mídia técnica!

  11. Olá Heleninha,
    Que falta você faz no governo. Tivesse continuado a dar aquela dinheirada toda pro PIG talvez eles esivessem mais mansinhos. Desprazer em reve la dona mídia técnica!

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