Bruno Lima Rocha
Bruno Lima Rocha Beaklini é jornalista formado pela UFRJ, doutor e mestre em ciência política pela UFRGS, professor de relações internacionais. Editor do portal Estratégia & Análise (no ar desde setembro 2005), comentarista de portais nacionais e internacionais, produtor de canal estrangeiro e editor do Radiojornal dos Trabalhadores.
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Três comentários após a pesquisa de intenção de votos do Datafolha, por Bruno Lima Rocha

O primeiro reforça a rejeição e o segundo é o mais rejeitado

Três comentários após a pesquisa de intenção de votos do Datafolha de 09 e 10 de junho de 2018 

por Bruno Lima Rocha

No texto abaixo, realizo três comentários rápidos a respeito desta situação inusitada, onde a democracia indireta, liberal, representativa e delegativa no Brasil pós-golpe coxinha pode levar a um protofascista ao segundo turno, e quiçá, ao Palácio do Planalto.

Primeiro comentário, o fator Bolsonaro

Como quase todos do ramo fui chamado a opinar sobre a pesquisa do Datafolha lançada no final de semana de 09 e 10 de junho. Desta derivaram alguns números e outras reflexões. Como dos números tanto eu já falei em certos veículos de comunicação do Rio Grande do Sul, assim como dezenas de colegas, me atenho às reflexões.

A primeira é mais óbvia: estamos diante de um fenômeno eleitoral protofascista ou neofascista chamado Jair Bolsonaro. O capitão de artilharia da reserva do Exército, deputado federal hoje no PSL-RJ, além de ter feito das redes sociais a antessala do manicômio judiciário e haver eleito sua prole de machos supostamente alfas (isso até terem de debater ao vivo na TV), não tem estrutura político-partidária, carece de base social concreta de apoio e caso seja eleito, a probabilidade de uma convulsão social, concomitante a um colapso econômico e a convocatória de uma constituinte exclusiva com a intervenção do estamento togado é enorme. Ou seja, mesmo as agrupações à esquerda da esquerda que não estão no jogo eleitoral, acabam estando no anti-jogo, diante da possível presença de um discurso de corte fascistoide, misógino, racista, homofobico, a favor da violência policial, condescendente com execuções extra-judiciais e para culminar, entreguista e pró-EUA. Jair Bolsonaro é todo o chorume ao mesmo tempo agora, e pode polarizar o pleito brasileiro.

Não se trata de alarmismo, mas sim de alerta. Proporcionalmente a Ação Integralista Brasileira (AIB) e os “galinhas verdes” de Plínio Salgado seriam mais complicados, com razoável inserção social e penetração no aparelho de Estado do governo pós-34 até 1938. Mas, o problema maior dos apoiadores de Bolsonaro é sua dispersão através do comportamento enfermo nas redes sociais e o limite da racionalidade como a confirmação de identidades sociais de tipo pós-colonial, com toda a carga genocida e de extermínio que isso pode significar. Mesmo bufão e manipulando bases patológicas, Bolsonaro está na disputa e não há como negar a possibilidade absurda deste protofascista chegar ao segundo turno.

 

Segundo comentário, o efeito Temer

A segunda reflexão é o fator Michel Temer. Toda correlação com este governo, que hoje bate 82% de rejeição, ultrapassando o governo Sarney e Collor nos seus piores momentos, reflete a afirmação do Brasil em Transe. Todo governo eleito em democracia liberal tem um grau elevado de frustração e não realização dos atos prometidos. O sistema liberal é paradoxal. Feito por e para a burguesia ascendente nas ilhas britânicas após a “Revolução Gloriosa”, foi estruturado para um governo de classe – burguesia nacional, quando esta ainda existia em sua forma predominante – e desenvolveu suas instituições para a projeção de poder da potência ultramarina.

Ainda assim, com os votos de massas e a expansão dos direitos políticos, os processos legítimos de escolha do governo – não do exercício pleno dos poderes no capitalismo ou em sua etapa atual, talvez de transição para outro modelo de domínio e exclusão – tendem a acalmar a maioria. Enfim, justificando que a escolha foi justa, dura mais tempo a perda de capital político quando a maioria se dá conta que o governo não exerce o Bom Governo e não provê o Bem Comum mas sim as vantagens para setores de sempre, e com uma postura com maior ou menor subordinação dentro do Sistema Internacional. Temer junta o pior dos mundos e quem grudar seu nome como candidato ou candidata ao período MT verá sua campanha transformada em fiasco. Usando a mesóclise de costume, Meirelles afundar-se-á na corrida eleitoral assim como ele e Pedro Pullen Parente deixaram o país na bancarrota.

 

Terceiro comentário, o efeito MT ampliado

Ainda no efeito MT, as chances do tucanato são pequenas com Geraldo Alckmin, mas muito diminutas se o ex-ministro da Fazenda de Temer, ex-CEO da J&F e ex-presidente do Banco Central nos dois governos de Lula, Henrique Meirelles, insistir em concorrer como cabeça de chapa. Caso isto ocorra, os preciosos minutos da campanha expressa – apenas 45 dias – serão atirados ao léu, fortalecendo ainda mais a máquina política que conseguir operar a partir da internet. Hoje, o MDB em escala nacional seria mais prudente – para seus próprios interesses e, logicamente, para a mazela do país – se ficasse escondido em uma grande aliança de “centro” (ou seja, de direita envergonhada) e fortalecesse uma candidatura leal aos capitais paulistas, como seria uma chapa Marina e Alckmin.

Já a capacidade de transferência de votos e reputação dos tucanos foi corroída pelo efeito Aécio Neves, ainda que o senador pelas Gerais tenha sido devidamente fritado pelo diretório paulista, especificamente pelos “correligionários” de Serra e cia. FHC de sua parte, parece insistir em triturar a candidatura de Geraldo – sim, acreditem, o médico de Pindamonhangaba já usou o primeiro nome em 2006 – e buscar saídas midiáticas, como o do já ex-prefeito e arrivista político João Dória Jr ou o apresentador de TV Luciano Huck. Surpreende que as baterias da Força Tarefa começaram a vazar emails e comunicações privadas de Fernando Henrique Cardoso, dando a crer que a relação entre o estamento togado e o Principado de Higienópolis já não opera como antes, nos idos de 2014 até o ano passado, quando da aventura de Joesley Batista e o grampo do presidente que disse “para manter isso aí, viu”. Será que o defensor explícito do desgoverno Michel Temer, o jornalista também vazado pela Lava-Jato, Reinaldo Azevedo, está certo ao afirmar que os lavajateiros e adjacências defendem a candidatura de Bolsonaro para assim poderem usufruir de mais e mais prerrogativas considerando que seu hipotético governo provavelmente mal comece e sequer termine?

Bruno Lima Rocha é pós-doutorando em economia política, doutor e mestre em ciência politica (pós-graduações pela UFRGS) e professor de relações internacionais e jornalismo e membro do Grupo de Pesquisa Capital e Estado.

Contato: (estrategiaeanaliseblog.com /  [email protected] / t.meestrategiaeanalise)

13 de junho, Bruno Lima Rocha

Bruno Lima Rocha

Bruno Lima Rocha Beaklini é jornalista formado pela UFRJ, doutor e mestre em ciência política pela UFRGS, professor de relações internacionais. Editor do portal Estratégia & Análise (no ar desde setembro 2005), comentarista de portais nacionais e internacionais, produtor de canal estrangeiro e editor do Radiojornal dos Trabalhadores.

8 Comentários

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  1. Patético ..inceridos e

    Patético ..inceridos e dominados por um golpe truculento que nos ESTUPRA todo dia ..estando humilhados o tempo todo por golpistas partidos do judiciário com apoio dos militares e insuflados pela mídia conservadora..

    ..e ainda tem articulista que bota fé nessa democracia, nesse processo eleitoral cujo maior líder se encontra, injusta e criminosamente preso. A estes otimistas DELIRANTES que fazem analises superficiais, agindo como se vivêssemos numa normalidade democrática eu diria: CUIDEM-SE, pois vocês não estão bem da cabeça ! 

    ..o golpe esta em andamento e as eleições – com toda esta HIPOCRISIA tentando negar esta realidade tão sofrida –  NÂO nos devolverá a paz sonhada  ..Democracia não é presente, ou você luta e cuida dela a todo momento, ou te calam pra sempre.

    Por LULA livre e eleições limpas – pela volta da democracia no Brasil – pela punição aos golpistas 

  2. Lula Livre!

    Eleição sem Lula é fraude! Achei brilhante a frase ou slogan do PT e a razão é simples: A retirada do Lula do pleito mostra que o GOLPE vai se alogando, primeiro retiramos a Dilma, ninguém explica o crime, depois, prendamos o Lula com aquelas provas montadas e inviabilizemos ele como candidato. O debate nasce aqui: Alguém tem dúvida que o PT ganhará as eleições? Por isso, tem inteligente querendo que o Lula indique Ciro. Vou lembrar uma coisa do PT: Em eleições presidenciais o 30% é garantido, será que o Lula consegue transferir mais votos? Resta perguntar: E deixarão o representante do voto governar? Quem nos garante que vai ter eleições?

    Olhem, o ativismo policial está gingantesco, o Bolsonaro poderá crescer se, e somente se, a criminalidade aumentar, a coisa ficar cada vez mais bárbara, olhem para o que está acontecendo no estado da Bahia, eleição praticamente definida, ocorre um assassinato brutal de um PM e em seguida surgem inúmeras mortes como resposta, a plataforma do fascista, dificil de ser implementada na práica, é que cada indivíduo possa fazer a sua própria defesa pelo uso de armas de fogo. Tirando este fato, o fascista não mete medo em ninguém, quando começa a falar mostra a sua estupidez e falta de trato com a inteligência. 

  3. Bolsonaro tem tudo para

    Bolsonaro tem tudo para ganhar essa farsa. É milico (o povo gosta), é fascista (o povo ama) e vai vender até as crianças para o capital estrangeiro (o mercado delira!). E é fiel aos EUA, mais um fator a seu favor.

    O único fator contra ele é a completa ignorância e falta de noção. Mas basta a Globo pintar ele como um homem inteligente que o povo cai na conversa. É, pra desespero dos progressitas e da nação, acho que vai ser Bolsonaro2018.

    Quem sabe a esquerda acorde finalmente para a realidade quando isso acontecer, mas eu duvido.

  4. A intricada eleição de 18

    Sera que Bolsonaro não conseguira “ser mantido” à frente do Executivo ? Quando Trump foi eleito muitas vozes disseram que ele não ficaria/ não se manteria por muito tempo. E parece que vai seguindo ai firme, não sei forte. Acho mais facil o establishement deixar um tipo como Bolsonaro, ultra liberal, no governo que a possibilidade da volta de Lula. Esse é o maior perigo. 

    De toda forma essa eleição sem Lula restara o voto no mal menor…

    1. Quem dará as cartas, são os que estão por detrás delle.

         Caso o Bollsonaro entre (TOC! TOC! TOC!), será apenas um “moleque de recados”. O Fantoche irá apenas subscrever qualquer coisa que seus chefes (mídia golpista, bancada evangélica e grandes capetalistas) impuserem. Se o Mico tentar fazer alguma coisa de moto próprio, será prontamente descartado.

       

         Devido à histeria “anti-política” espalhada entre os “patos amarelos”, o Bollsonaro (ou o seu marqueteiro) aproveitou-se do fato do mesmo ter sido um pária no Congresso, sendo lembrado somente pelas asneiras que defecava por sua boca, e colou uma imagem de “anti-tudo o que está aí” (ah, tá). A imagem perfeita (ainda que falsa) de “salvador da pátria”, para uma massa sebastianista que continua esperando o seu “Bruce Lee”, ou o seu “Rei Davi”.

       

      https://jornalggn.com.br/comment/1231720#comment-1231720

       

         Além disso, tem a questão, apresentada em outro artigo, dos evangélicos (conservadores nos costumes), que foram empurrados para a direita, devido a apresentação de “pautas progressistas” pela mídia golpista, como sendo “a esquerda”.

       

      https://jornalggn.com.br/comment/1231777#comment-1231777

       

         Como se não bastasse, o Fantoche já foi “beijar a mão” dos capetalistas.

       

      http://www.imprensaviva.com/2018/02/a-estranha-visita-de-bolsonaro-supos

      https://youtu.be/6nBvAuEM1Mc

      https://mobile.twitter.com/jairbolsonaro/status/918596903746580483?lang=en

      https://jornalggn.com.br/noticia/a-historia-esquecida-do-capitao-bolsonaro

       

         Talvez, se o povo tomar ciência de quem são os “aliados” do Fantoche (mais sujos do que pau de galinheiro), o Desastre possa ser adiado.

  5. Tenho outra opinião:

    1. “Fator Bolsonaro” –  o número de intenções de voto está diretamente ligado à capacidade de sua campanha deixa-lo calado. Como isso é impossível em uma candidatura presidencial, à medida em que aproxima-se a eleição sem fôlego, perderá. Sua figura fica para entender a História deste período.

    2. “Efeito MT” & pretensões do Tucanistão – Segue uma analogia curiosa de Bolsonaro. Se este tem virtudes na sua capacidade de manter-se calado, os Tucanistaneses não tem nada a falar. Nenhuma boa realização, nada que efetivamente possam orgulhar-se e apresentar, muito mais agravado pelo tempo no Poder.

    3. “Efeito MT 2” – Qualquer de quem Temer aproximar-se, este Midas do Mundo Bizarro, resta somente uma mesóclise óbvia: Foder-se-á.

    Perigo mesmo é o desejo de Ciro como disse em “fazer História”; pelas conversas e suas idas e vindas aparentam que está querendo mesmo é fazer História em tons maquiavélicos –  a qualquer custo – implicando em uma guinada à direita (o que menos se precisa nestes tempos emburrecidos) e ataques a Partidos progressistas.

  6. Cientista político q n sabe o
    Cientista político q n sabe o que eh facismo??? Eu gostaria de saber se sua análise política rebuscada, foi no msm sentido a respeito de Trump… Chora mais q tá bunitnhu de ver…kkk

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