Um balanço de 2017, por Leonardo Avritzer

Foto Arquivo Google

Um balanço de 2017

por Leonardo Avritzer

Um balanço de 2017. O ano não foi um bom ano para as forças de esquerda na medida em que a derrota de 2016 com o impeachment de Dilma Rousseff se transformou em políticas que afetaram profundamente a vida da população. A PEC 55 de dezembro de 2016 ainda não mostrou todos os seus efeitos deletérios mas eles ainda irão se manifestar. A reforma trabalhista já mostra a que veio, permitindo dispensas e recontratações que irão rebaixar os salários da parcela da população que tem uma inserção mais precária no mercado de trabalho.

Ainda assim, é possível afirmar que 2017 foi melhor do que 2016. A reação às políticas conservadoras está disseminada em todos os espaços, da reação a Temer à crítica a Lava Jato. As forças conservadoras que se utilizam destes dois instrumentos, uma maioria conservadora em um congresso completamente tomado pela corrupção e a ação da Lava Jato tentando redefinir os espaços políticos encontraram forte reação em 2017. A Lava Jato não é mais o que era, mas não está ferida de morte. Sofreu diversas derrotas, algumas impingidas pelo próprio governo Temer e outras pelo STF através de Gilmar Mendes. Eles não tem o mesmo apoio na PGR e encontram problemas na manutenção do método condução coercitiva mais prisões preventivas para forçar a delação. Tudo indica que o fim da Lava Jato está próximo e ocorrerá e 2018, ainda que os danos estejam aí e nós teremos que conviver com eles por um longo período.

No campo da esquerda algumas vitórias importantes já se manifestam. O aumento da identificação com o P.T. que havia caído de quase 30% para 8%, agora está em 20% mostrando uma forte recuperação. Mas o mais importante é a queda da rejeição ao ex-presidente Lula especialmente nas classes A e B que mostra um mudança de postura das classes médias no Brasil que parecem ser no campo da opinião a força decisiva. Eu ainda apontara com importante avanço no campo da esquerda a influência e o espaço midiático conquistado por Boulos e pelo MTST. Toda esta recuperação mostra que a política de resistência do governo federal no período Dilma Rousseff esteve equivocada nas duas principais questões que pautam esta conjuntura desde 2013, a economia e a questão jurídica. Dilma errou nas duas, na maneira como tentou realizar o choque econômico ortodoxo e na maneira como deixou de tentar influir na Lava Jato negando a sua politização. A reação à estas duas forças sem a presença no governo está se mostrando mais profícua do que no período anterior por que tem se concentrado na esfera pública e nas mídias sociais e tem permitido uma recuperação de hegemonia política.

A grande incógnita de 2018 é o poder judiciário. Desde 2012, o poder judiciário assumiu uma nova configuração na sociedade brasileira. Ativo em todas as questões, decide sobre tudo e se pronuncia sobre tudo, ao mesmo tempo que acumula privilégios corporativos inconcebíveis. Tudo indica que o auge desta nova postura irá se manifestar em 2018, mas é possível que auge e decadência ocorram simultaneamente. O judiciário se tornou 11 ilhas completamente independentes entre si e estas ilhas se enfrentarão violentamente em 2018, principalmente o grupo liderado por Gilmar Mendes e o grupo liderado por Luis Roberto Barroso. Todos os dois grupos desgastam o poder judiciário com a sua atuação e começam a receber fortes críticas na mídia e na opinião pública (vide editorial do Estadão desta semana criticando Barroso). A chave da conjuntura continua residindo no mesmo lugar de sempre, na recuperação de uma proposta política progressista que conte com o apoio de um centro que sumiu da política brasileira desde que Aécio Neves e Eduardo Cunha se juntaram para contestar o resultado eleitoral e derrubar a presidente eleita. As forças de esquerda para se recuperarem precisam ter um candidato presidencial viável, mas principalmente uma representação mais forte no Congresso que impeça a farra de emendas constitucionais conservadoras e que permita uma afirmação do sistema politico frente ao poder judiciário. Somente esta nova configuração poderá recolocar o país no rumo de uma política democrática.

Leonardo Avritzer

4 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. um….

    “…E o Judiciário tornou-se 11 ilhas…” ‘Será qie o correto não seria: ‘O Verbo se fez Carne’. Na realidade até que enfim o Judiciário tornou-se !!! Uma fantasia virou realidade. Uma estrutura que só existia para comportar a sua parte na Capitania Hereditária que é seu Feudo na Representação Política Tupiniquim.  Agora holofotes, perguntas, decisões, Cidadãos à sua porta… “E agora? temos que decidir? Temos que realmente ler aquele livro? Como é mesmo o seu título?  – Constituição Brasileira, se não me engano. E agora, Masmorras Medievais por todos os lados !! Alguém tem que resolver isto? Quem? O Judiciário, na parte que lhe cabe? NOS?!!! – Meu Deus ! Estávamos preparados para isto? 500 e poucos anos foi tempo suficiente?! Finalmente. O Verbo se fez Carne. E a Nação se faz Estado. E os Anjos dizem Amém.   

  2. população brasileira dividida

    O mecanismo estatal para solução de conflitos conhecido como Poder Judiciário, depois de anos de trapaça a engendrar conflitos insuperáveis diante de toda e qualquer câmera, conseguiu fazer a população brasileira chegar ao fatídico ano de 2018 radicalmente dividida entre pessoas inteligentes e pessoas contribuintes, as últimas subdivididas ainda entre bestas traídas e bestas traidoras. Logo a fiscalização em todos os níveis realizará seu trabalho também dividida entre o medo e a vergonha. Cargos da fiscalização precisarão então ser providos por concurso interno das forças de segurança. Um judiciário estadista em cruzada protagônica tem resultado: “o estado que aí está… o estado a que chegamos”.

  3. 11 ILHAS???
     
    Vou ali

    11 ILHAS???

     

    Vou ali pesquisar outras coisas que o judiciario supremo do Brasil me lembra pois acho que elas boiam tambem…

  4. Só espero que o Boulos não cometa o equívoco de se candidatar à

    Só espero que o Boulos não cometa o equívoco de se candidatar à presidência pelo PSOL em 2018. Além de fragmentar a esquerda e dificultar uma eventual vitória do Lula no 1º turno, a sua candidatura será uma forma do PSOL instrumentalizar o MTST e fazer com que o movimento se torne sectário.

    A palavra de ordem no PSOL é derrotar o PT e o lulismo. A legenda não tem perspectiva de poder e muito menos programa político viável. Se o MTST for apropriado pela legenda estará se distanciando de boa parte da esquerda ligada ao PT.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador