O bicentenário da morte de Aleijadinho e curiosidades sobre o artista

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – Nesta terça-feira (18) celebra-se os 200 anos da morte de Aleijadinho. Em função disso, a reportagem do G1 publicou uma especial que traz detalhes e curiosidades da vida do artista, a partir da visão de um promotor e um médico que dedicam parte do tempo a pesquisar a trajetória e a obra do mineiro.   

Bicentenário de morte de Aleijadinho é celebrado nesta terça-feira

Do G1

Antônio Francisco Lisboa, artífice, nascido de pai português e mãe escrava forra [escrava liberta por carta de alforria] no século XVIII em Minas Gerais, criador de esculturas em madeira e pedra-sabão, mestre, pai, mundialmente conhecido como Aleijadinho.

Mestre Aleijadinho, um dos mais importantes nomes da arte barroca brasileira, tem nesta terça-feira (18) a celebração de 200 anos de sua morte. Enterrado em 1814 na Matriz Nossa Senhora da Conceição em Antônio Dias, bairro de Ouro Preto, o artista barroco marcou a história da arte no Brasil e no mundo.

Com trabalhos em madeira e pedra-sabão, o mestre deixou como legado importantes obras religiosas que ornam igrejas de várias cidades brasileiras. Uma das que mais se destaque é o conjunto do Santuário do Bom Jesus do Matosinhos, em Congonhas, onde estão os 12 profetas esculpidos em pedra-sabão e os passos da Paixão de Cristo. O conjunto foi elevado pela Unesco a Patrimônio Cultural da Humanidade, em 1985.

“Foi um homem que sempre se dedicou à produção do belo, sempre esmerou para fazer o melhor de si, mesmo com as diversidades de suas limitações, da sua doença. É um personagem fantástico, que de fato existiu e produziu muito, mas que há necessidade de pesquisas científicas sérias, mais aprofundadas, para que possamos melhor compreendê-lo”, disse o coordenador da Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Histórico, Cultural e Turístico do Ministério Público de Minas Gerais, Marcos Paulo Souza de Miranda, também estudioso da vida de Aleijadinho.

Desconstrução do mito

O promotor Marcos Paulo Souza de Miranda, estudioso da vida e da obra de Aleijadinho, diz que é possível desmitificar vários aspectos sobre a vida do artífice com pesquisas recentes.
Ele participou da Inconfidência Mineira?

Apesar de ser contemporâneo do movimento da Inconfidência [ou Conjuração] Mineira, acontecida em 1789, os pesquisadores não confirmam qualquer participação de Aleijadinho.

Ele teve ligação com a maçonaria?

Alguns estudos mais desatualizados chegaram a levantar a hipótese de Aleijadinho ter imprimido, em sua obra, ícones da maçonaria, mas nada disso é confirmado por pesquisadores atuais.

Aleijadinho era antissocial?

Segundo o promotor Marcos Paulo de Miranda, não. Essa áurea sombria criada sobre o mestre não é confirmada pelos relatos históricos.  “Ao contrário do que se apregoava até então, que Aleijadinho vivia às ocultas, às sombras, não. Ele tinha uma religiosidade muito forte e um grau de relação social enorme em Vila Rica. Ele fez parte da Irmandade de São José, fez parte da Irmandade da Boa Morte, que eram duas irmandades conceituadas em Vila Rica, e com um relacionamento social muito forte”, diz promotor.

Aleijadinho  realmente produziu todo o acervo a que lhe é atribuído?

Na verdade, sim. Como costume na época, Aleijadinho mantinha uma oficina, com empregados e aprendizes. Esta equipe aprendeu os detalhes da talha e da criação do mestre, sendo capazes de reproduzir, e portanto produzir, à exatidão as peças do mestre. O trabalho da oficina explica o grande volume de peças, igrejas, ornamentações atribuídas a Aleijadinho.

O que ainda não se sabe

Uma pintura que é considerada a “fotografia” de Aleijadinho, exposta no Museu Mineiro, em Belo Horizonte, ainda levanta dúvidas sobre como o mestre convivia com a doença que o deixou desforme.

“Em uma radiografia que foi feita deste quadro em 1965, na França, foi descoberto que a mão esquerda de Aleijadinho, que no quadro aparece debaixo do capote, houve uma repintura. Ou seja, o quadro original, de acordo com o raio-x, Aleijadinho teria a sua mão esquerda para fora do casaco e envolta em uma bandagem. Isso levanta uma hipótese: será que o aleijão se resumiria tão somente à mão esquerda, e que ao se deparar com essa pintura, segundo [primeiro biógrafo Rodrigo] Bretas, ele não gostava de ter suas deformidades observadas por terceiros, então teria pedido para esconder a mão defeituosa? Não sabemos”, diz o promotor.

Em sua pesquisa, o promotor Marcos Paulo de Miranda encontrou, em Cachoeira do Campo,  distrito de Ouro Preto onde Aleijadinho nasceu, um registro de batismo cujas informações podem levar a considerar o documento como o real registro de batismo do mestre.

Segundo o promotor, o registro é datado de 26 de junho de 1737. Àquela época, as crianças eram batizadas até oito dias depois de seu nascimento, o que torna possível estimar o nascimento de Aleijadinho entre 18 e 25 de junho. Mas, a data real do nascimento ainda não está confirmada.

Descendentes

É fato que Aleijadinho teve um filho, Manoel Francisco Lisboa, batizado com o mesmo nome do avô. E também é fato que Manoel casou-se com Joana, moradora de Ouro Preto. Os dois se separaram quando Manoel foi morar no Rio de Janeiro. Segundo o promotor, sabe-se também que ele teria deixados dois netos de Aleijadinho, Francisco de Paula e Ana, mas o rastro e registros dos descendentes destes não foram encontrados.

Características das obras

Algumas características das peças talhadas por Aleijadinho ou por sua oficina são consideradas marcas, como se fossem assinaturas, do seu trabalho. Esse conjunto característicos dos artistas é então chamado de estilema.
Segundo o promotor Marcos Paulo de Miranda, chamam atenção nas obras de Aleijadinho:

– Olhos amendoados
– Barba em arremate de caracol sempre partindo das orelhas
– Má implantação do polegar
– Unhas sempre em formato geométricos, normalmente quadrados

Rosto recriado

O dermatologista Geraldo Barroso estudou a vida, e principalmente, a morte de Aleijadinho. E diante das suspeitas de que ele tenha morrido vítima de uma hanseníase o médico e o escultor Luciomar de Jesus, também estudioso do mestre, tentam recriar o rosto de Aleijadinho já no fim da vida, com a hanseníase avançada. Deformações no rosto são características de pacientes deste mal.

O resultado do rosto recriado do artista, que é uma representação artística, ficou muito próximo do que foi Aleijadinho nos seus últimos anos, segundo Barroso. O chapéu foi acrescentado como uma forma do mestre se proteger.

Morte

Apesar de a morte de Aleijadinho datar 1814, até os dias de hoje não existe um estudo que ateste qual doença o acometeu em vida e que o tenha levado à morte. Especialistas já exumaram o corpo dele várias vezes em busca de resposta.

O dermatologista Geraldo Barroso que participou de uma das exumações, realizada em 1998, afirma que Aleijadinho morreu de hanseníase. “A nora do Aleijadinho afirmou que ele apresentava mutilações na mãos, que ficou só  com dois dedos e perdeu os dos pés. e ela descreveu muito bem uma paralisia facial […]. Eu não tenho a menor dúvida e nenhum colega meu tem. Todos concordam que ele foi portador de hanseníase”, diz.

Aleijadinho pode ter tido também uma outra doença: a porfiria. Os indícios são os ossos avermelhados. “O que o estudo mostrou é que os ossos têm uma carga elevada de ferro. A única doença que pode levar a isso é a porfiria”, explica Barroso.

Mas ele destaca que a terra em Ouro Preto é rica em metais o que pode ter sobrecarregado os ossos. “Um estudo de DNA seria mais adequado”, conclui.

Certo e consenso entre todos os historiadores é que Aleijadinho contribuiu enormemente para o reconhecimento e desenvolvimento da arte brasileira, criando até uma modernidade muito particular em suas obras. Seu legado o fizeram reconhecido Patrono das Artes no Brasil.
Novos achados
 

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

6 Comentários

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  1. Aleijadinho

    Excelente registro. Há de se complementar a institucionalização do Dia do Barroco Mineiro, a ser comemorado todo dia 18 de novembro.

     

  2. OBRAS PRIMAS

    Tive a oportunidade de conhecer um pouco da sua obra graças as réplicas que haviam na faculdade. Não é jabá, mas a Faap, sempre ostentou suas réplicas dos Profetas de Aleijadinho no saguão das faculdade de artes plásticas. Um show de escala e expressão nas esculturas. Tive 3 experiências as quais me sinto contemplado de poder estudar e aprender pela faculdade:

    A  Escola Bauhaus, Kandinsky e Aleijadinho. Este último, chamado de Michellangelo Brasileiro. 

     

     

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