Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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A meritocracia se não é, pode ser fraudada

De Alfred Hitchcock, 1955

Sempre tive profunda antipatia por avaliações de obras de arte através de qualificativos nominais ou gráficos. Acho raso, de péssimo gosto, reducionista, burro, ou seja, sinal de qualquer nota, preguiça, coisa que o valha do agente classificador.

No Rio de Janeiro, prefere-se bonequinhos em posições de aplauso ou cabisbaixos. Na província paulistana, de magnificência estelar, claro, o dourado das estrelas, globos de ouro.

Excelente, quase excelente, ótimo, se fosse um pouco melhor quase ótimo, muito bom, do bom para melhor, regular quando muro ou o autor é uma bosta, mas amigo do crítico.

Se o feito é de um inimigo, mesmo sendo considerado bom pelo público, será tratado como péssimo, sofrível, ruim.

Há quem ensaie palavras, resenha, algum texto – editoria e remuneração exigem – apenas para rechear os bonequinhos ou estrelas.

Podem haver por aí diferentes simbologias que eu desconheça. Posso até sugerir: base no estado de decomposição de frutas – sadia, muito madura, verde travoso, porosa, podre; base em odores – Jacques Fath, Calvin Klein, Balenciaga, Patchouli, aterro sanitário, incenso de umbanda, peido fedido.

Deixo a diversificação para a criatividade dos editores dos Cadernos de Arte. Penso ter visto o cacoete até mesmo na “The New Yorker”. Não estou certo. Em “Nouvel Observateur”, juro que não.

Meu filho conta existir um comércio de “likes”, “recomendar”, “curtir”, na internet. Se você, sua empresa, ideia, quiserem ser ovacionados ou, assim, brindar sua amada ou a sogra, basta comprar o pacote. Todos se sentirão gostosos e gostados.

A intensidade você decide. Quantos quiser por mês – 200, 500, um milhão. Caso se ache feioso, faça sua foto ser admirada como a de Alain Delon nos melhores anos. Mulheres o disputarão a dentadas. Suas marcas, produtos, invenções parecerão conquistar o planeta.

Dizem que o truque não sai muito caro. Da mesma forma que, em 1998, saiu barato comprar votos para a reeleição, e de barato foi dado o estelionato eleitoral com o câmbio, alguns meses depois. Daí o luminar sociólogo viver gargalhando.

Até aí, tudo bem. Dentro do esperado crescimento de rameiras do capitalismo. Mera idiossincrasia, talvez. Até que …

Comigo não, violão! Ouço que no GGN, o radiante Blog, no aclamado Luís Nassif Online, que me cedem um agradável quartinho na edícula, aquelas estrelinhas douradas, abaixo do que você posta, podem ser manipuladas por qualquer desafeto seu a bel prazer.

Confesso que nunca tive curiosidade em conhecer seus usos, significados, ou para que servem. Critério de conquista, talvez. Como via que variavam, achei que um júri decidia se os textos e opiniões postados deveriam ir para o ralo ou não.

Até que recebi a dica. Nos textos e comentários em que levo bomba – uma, duas, vá lá, três estrelas – é por obra melíflua de meus amigos Juncal, Raí, Romério, Saraiva, Troncoso, RobertoG, Mário Mendonça, Odonir, Anna, Désirée, e sabe-se lá mais quem.

Quer dizer, desocupados que são e sem nada melhor a fazer, ficam a me roubar estrelas sorrateiramente?

Não que eu fosse fazer grande uso delas, afinal nossas inserções correm espaçadas em ritmo de ponte-aérea São Paulo-Rio, e nenhum editor me aceitaria apenas pelas estrelas que aqui recebo.

Mas fica a pergunta: pra quê as es(n)trelinhas douradas? Rola alguma grana, prêmio no fim do ano, meia hora de chope com o José Serra? Se nada disso, repito, pra quê? Os comentários ou a ausência deles já não bastam?

Se verdade e assim praticada, penso em pedir a intervenção do camicia nera, Dr. Moro. Caso de corrupção e peço meu prêmio pela delação.

Ou então vou à guerra. Preparem-se, pois, amigos supracitados. Vestirei a casaca de Cary Grant e roubar-lhes-ei tantas estrelas quanto merecidas.

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

6 Comentários

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  1. “Podem me prender, podem me bater que eu não mudo de opinião”

    (Rui, estou aguardando moderação, talvez demore um pouco).

    Faz, uns 4 meses sofro, em meus posts, constantes rebaixamentos de estrelinhas.

    Acredite, até quando são trabalhos do Clubinho da Leitura, fotos de crianças em atividades lúdicas de leitura, realizadas por mim em um trabalho voluntário em Barbacena- isso ocorre.

    Cheguei a escrever um comentário em um desses posts, deixando um recado ao(s) rebaixador(es) de estrelinhas que não perdessem tempo com aquilo não. Monitorei isso por semanas e constatei o ocorrido. Como o tenho feito ao observar comentários subjetivos, mordazes, depreciadores do me proponho a criar e a escrever aqui no blog há alguns meses, apenas.

    Entendi que estava me expondo muito e isso despertava paixões, nem sempre acalentadas por todos. Sequer por mim.

    Penso assim: a pessoa NÃO GOSTOU DO POST, ou do comentário deveria se posicionar, escrevendo alguma crítica, sei lá, participando de forma interessante. Omite(m)-se e apenas pune(m) tirando estrelinhas.

    Para que serviriam as estrelinhas… para nos mostrar o quão populares somos, com nossos amigos, colegas navegantes parceiros?

    Sei lá de novo.

    Espero poder ser lida por você.

    Acho que serei sim.Desculpe se lhe tiram estrelinhas, talvez, por minha causa. Não gostaria que acontecesse. 

    NARA LEÃO, minha marca aqui no blog, por ene posts publicados e apreciados por bastante gente, me emprestou os versos de “OPINIÃO”, ok.

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=sRpcc65lQZE%5D

  2. Claro, Odonir,

    mas creio que somente você. Quando este mundo, o do Blog, não entende que, vez ou outra perdemos as estribeiras e erramos, é por que está na hora de parar, recolher-se em casa com Lunas e Filós, e deixar que esses sábios deem um jeito no mundo. Agora, por exemplo, faço planilhas Excel para acionistas não me deixarem morrer de fome. Justo eu, que criei um patrimônio, fui enganado, e poderia hoje estar conversando com meus livros, amigos e discos, vendo ovelhas pastarem solenes em meu jardim.

  3. Para não haver dúvida:
    05 estrelas sempre para você Rui !
    Agora, sério: é de uma infantilidade difícil de acreditar. E o pior: quem faz, considera que o outro faria também. Aí é o caos.
    Quando não gosto Rui, evito comentar; a menos que uma crítica caiba e pertinente, seja relevante.
    É muito comum deixar registrado apenas um elogio – me apraz o incentivo em todas as esferas da vida – e espero poder voltar sempre aqui para trocarmos impressões e brincarmos suavemente.
    Aproveito a oportunidade para deixar um abraço para você e Odonir, desejando que as Festas Natalinas e o Novo Ano transcorram na Paz e no Amor.
    Até 2016.
    Abraço.

    1. Anna,

      não sei colocar ou tirar estrelas. Nunca farei questão de saber. Pouco me incomodam. Incomoda-me quando se usa este espaço para invasão de privacidade. Aliás, nosso hospedeiro já passou por isso e sabe bem as consequências más que daí podem vir. Roubar estrelas é o mínimo, uma bobeira, infantilidade. Vemos um País, hoje, onde pouco se argumenta. Quando feita, vem por frases curtas, de pouco estudo e leitura, pior, com carinhas de choro, raiva, alegria. A isso ficaram reduzidas as emoções. Retribuo seus votos com muito carinho.

  4. Prezado Rui Daher,

    ando por aqui, diariamente, há alguns anos (é por onde me informo, após as 20:00h).

    De uns tempos para hoje, observo que este espaço plural está se tornando uma espécie de “feiciburro” (já postei pedido de socorro, inclusive!).

    As “estrelinhas” que alguns sentem necessidade de “receber (?) servem, apenas, para “embalar vaidades” (um vai-e-vem de sentimentos inexplicáveis).

    Acompanho suas postagens e comentários, não apenas, aqui, neste espaço… seu conhecimento não precisa ser “abalizado” por estrelinhas e/ou outro tipo de avaliação.

    Saudações

     

    1. Saber que

      existem pessoas que pensam como você, Maria, dá-me força para continuar construindo planilhas Excel e relatórios chatos para viver e ainda escrever algo por aqui sem ligar para as estrelinhas. Abraços

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