Paris, os loucos anos vinte, por Jota A. Botelho

Por Jota A. Botelho

Um parêntese de liberdade, um momento mágico entre as duas guerras mundiais, os felizes anos 20 que só durou uma década, numa época que Paris viveu uma intensidade criativa e uma efervescência nunca visto antes. A noite temática da RTV Espanhola investiga esta história da capital francesa no documentário Paris, os loucos anos vinte, onde se vendiam sonhos todos os dias e noites pela Cidade Luz, e que Hemingway a descreveu na sua obra Paris é uma Festa

OS LOUCOS ANOS VINTE EM PARIS

Na realidade, a noite temática é um documentário francês, com cerca de 84 minutos, realizado por Fabien Béziat, em 2013, que nos oferece uma oportunidade única para vermos imagens de um tempo quase esquecido. Recolhido de arquivos de videotecas de todo o mundo, colorizado e sonorizado para nos proporcionar um maior realismo, o resultado final é uma obra de arte que constrói um retrato sem precedentes de uma época.

Artistas de todo o mundo e de todas as áreas, aristocratas e milionários, pessoas comuns e boêmios, todos queriam fazer parte da efervescência que se apoderou da capital francesa no final da Primeira Guerra Mundial. Todos eles queriam esquecer os horrores vividos naquele brutal episódio e inventar um novo mundo sem guerras, um mundo de risos e prazeres.

Deslumbrantes, espirituosos, engenhosos e insolentes, os loucos anos 20 são um momento mágico na história de Paris. A capital francesa se converteu, durante essa década, em um turbilhão de festas, laboratórios de vanguardistas da arte e num centro da revolução social e cultural do mundo.

A maravilhosa Cidade Luz de então ficou conhecida por ser um celeiro de novos artistas e movimentos artísticos, onde as vanguardas passaram a viver seu nascimento com jovens promissores como Picasso, Modigliani, Man Ray, Matisse, Miró, que apostaram numa nova técnica e estilos rompendo assim com a velha tradição. Também libertados da opressão com o fim da Primeira Guerra, muitos norte-americanos foram seduzidos pela velha Europa, longe da proibição promulgada pela Lei Seca no governo de Woodrow Wilson (1913-1921) e do puritanismo do presidente Warren Harding (1921-1923), misturando o artístico com a cultura boêmia.


Gertrude Stein ao lado de seu quadro pintado por Picasso e Sylvia Beach na entrada de sua livraria Shakespeare and Company.

A casa de Gertrude Stein tornou-se o lugar de reunião dos melhores artistas do momento. Ela que era amante das artes acolheu e promoveu Picasso, Matisse e Braque dentre tantos outros. Uma noite na casa de Madame Stein era o local ideal para avaliar a nova arte, ter conversações entre escritores como Hemingway, Ezra Pound, Scott Fitzgerald, John dos Passos, jovens escritores que ela cunhou como sendo “a geração perdida”. Podemos imaginar as discussões que tiveram naquele ambiente e temas interessantes que foram discutidos. Outro “point” era a livraria de Sylvia Beach, frequentada por James Joyce, onde publicou sua obra Ulisses e os primeiros trabalhos de Beckett.


Le Dome Café, em Montparnasse.

Em cafés como o Le Dome e o La Coupole se reuniam escritores e poetas, muitas vezes a nata da intelectualidade, estrangeiros e locais coexistiam em um ambiente descontraído, conversando, trocando ideias e enchendo a cara. 


O grupo dos surrealistas, dentre eles Buñuel e Salvador Dalí.

Neste período, os surrealistas emergiram como um movimento sem precedentes em Paris, onde lançaram o Manifesto Surrealista, que daria origem ao movimento. Nada menos que Luis Buñuel, Salvador Dalí, André Breton e Antonin Artuad.

Os terraços de Montparnasse, os clubes de jazz, os estúdios dos artistas, todos contribuíram para a criação dessa energia que corria pela cidade. Estes são os anos das transgressões, da emancipação das mulheres, da libertação sexual e da revolução cultural.


Josephine Baker, a Vênus Negra que conquistou Paris.

Neste documentário se descobre a energia mágica e cultural da cidade de Paris, consagrado na rivalidade entre dois distritos: Montmartre, da classe trabalhadora e dos rebeldes, favorito dos artistas, onde podíamos encontrar galerias, exposições e escolas de arte, frente a Montparnasse, que abrigava o mundo intelectual e boêmio. Desde ícones como Josephine Baker, Picasso, Kiki de Montparnasse, Coco Chanel e tantos outros.

Sem dúvida, Paris era a cidade favorita para os artistas, poetas, escritores, atraídos por uma atmosfera libertária e bela, mas finalmente veio a crise de 29 e a festa acabou. A tragédia então se alastrou por todos os cantos. Já esses tempos sombrios são outra história. Aqui vamos reviver o frenesi dos dourados anos 20.
   

https://www.youtube.com/watch?v=1hoApYpwz3g align:center
___

Jota Botelho

1 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador