Borodino Noir em Brasília – mais um episódio da série Talibãsonaro

A imprensa diz que o apoio dos policiais às manifestações do Talibãsonaro declinou apesar das convocações virtuais terem aumentado. Mobilizar robôs virtuais é fácil, mas colocá-los nas ruas é algo impossível

Por Fabio de Oliveira Ribeiro

Quem está acostumado a ler meus textos já deve ter notado que eu realmente gosto de História. Mas eu também gosto de Política. E assim como a guerra é a continuação da política por outros meios (como disse Carl von Clausewitz), podemos dizer que a História é construída por ambas. Algumas vezes, porém, ocorre exatamente o oposto. Uma versão da história interdita a política e provoca conflitos armados. É exatamente isso o que pode ocorrer no Brasil.

Jair Bolsonaro e seus minions acreditam que a Ditadura Militar encerrada em 1988 pode ser ressuscitada. Nesse momento, porém, as condições históricas se levantam contra essa hipótese. A Igreja Católica, os barões da mídia, os banqueiros privados, a maioria dos governadores e dos parlamentares, a cúpula do Judiciário e uma parcela dos militares não aceitará aventuras golpistas. 

João Goulart renunciou porque temia uma guerra civil que em 1964 era absolutamente impossível. Incapaz de renunciar, Bolsonaro parece fadado a iniciar um conflito armado que provocará tanto o colapso total da economia brasileira como uma desgraça de proporções bíblicas. Os evangélicos que o seguirem certamente não ficarão impunes. 

“A noite de 7 de setembro foi terrível. Nós a passamos na lama, sem fogueiras, cercados por mortos e feridos cujos gritos queixosos partiam o coração.”

Não, essa não é uma descrição fiel do golpe de Jair Bolsonaro. 

Essas são as palavras de um oficial dos Granadeiros da Velha Guarda do exército de Napoleão após a carnificina de Borodino (1812 – A marcha fatal de Napoleão rumo a Moscou, Adam Zamoyski, editora Record, 2013, p. 279). No caso do Brasil ainda é possível impedir que o Napoleão de Manicômio (que já foi abandonado por banqueiros e desautorizado por generais) dê o primeiro tiro. Mas para que isso ocorra seria necessário o STF afasta-lo do cargo antes antes do dia 07/09/2021. Se isso ocorrer, a Batalha de Borodino em Brasília será mais parecida como a Fake Battle of Itararé.

Após se reunirem com Bolsonaro, os norte-americanos, – que não acreditam em Fake Batlles – disseram que estão preocupados a democracia brasileira. A Embaixada dos EUA não ajudou Michel Temer a derrubar Dilma Roussef porque tinha algum compromisso com nosso regime democrático. E em caso de guerra, os norte-americanos certamente venderiam armas para os dois lados.  O que nos leva à próxima questão.

Em alguns momentos, o enredo político do Brasil parece uma Chanchada dos anos 1940. Em outros podemos dizer que estamos vivendo dentro de um filme Noir dos anos 1950, cuja principal característica é a ganância, a violência criminosa e uma certa dose de ironia. Primeiro surge uma oportunidade de lucro, depois ocorre a traição inesperada. 

Os Bancos privados lucraram muito com o golpe de 2016 disfarçado de Impeachment. Essa semana eles traíram Jair Bolsonaro. Alguns generais estão em dúvida. Outros não, mas fazem de conta que estão para ganhar algo mais. Aqueles que deixaram a canoa furada do mito parecem dispostos a  amarra-lo nos escombros da ponte que caiu no Rio Ribeira em Eldorado SP.  

A imprensa diz que o apoio dos policiais às manifestações do Talibãsonaro declinou apesar das convocações virtuais terem aumentado. Mobilizar robôs virtuais é fácil, mas colocá-los nas ruas é algo impossível. O que Bolsonaro oferece aos seus seguidores é apenas ilusão. Cada policial que violar seu respectivo Regulamento Disciplinar no dia 07/09/2021 poderá ser ser punido. E não há nada que o mito poderá fazer para salvar as carreiras deles. Aliás, Bolsonaro é conhecido por abandonar à própria sorte os aliados que caem em desgraça. 

O problema do presidente brasileiro é acreditar na sua própria propaganda. Ele vive numa bolha em que a vontade dele é soberana. E acredita naqueles que alimentam sua auto-ilusão tratando-o como se ele fosse a corporificação do Estado. Esse certamente é o caso dos jornalistas que, segundo Mônica Bergamo, inventaram uma nova modalidade de jornalismo: COMENTARISTA DE LIVE DO BOLSONARO. 

Suponho que isso pode ser considerado uma espécie restauração da “cerimônia do beija-mão” dos tempos do Império. O comentarista de live beija virtualmente a mão do mito, assegurando a bem querença do presidente-imperador numa terra arrasada que se expande no mundo real. Sempre que fala, Bolsonaro procura um inimigo e ameaça iniciar uma tempestade de tiros. Ele foi expulso do Exército por causa desse cacoete adquirido na caserna. Se não for logo expulso da presidência ele conseguirá iniciar uma guerra indesejada. O problema: depois que uma guerra começa, terminá-la nem sempre é uma tarefa fácil. 

Fábio de Oliveira Ribeiro, 22/11/1964, advogado desde 1990. Inimigo do fascismo e do fundamentalismo religioso. Defensor das causas perdidas. Estudioso incansável de tudo aquilo que nos transforma em seres realmente humanos.

Este texto não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Fábio de Oliveira Ribeiro

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