A armadilha dos grupos online que ‘vão derrubar’ a presidente, por Danilo Strano

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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A armadilha dos grupos online que vão derrubar a presidenta
 
por Danilo Strano
 
Em recente visita a Burgos, cidade espanhola, o sociólogo Zygmunt Bauman concedeu entrevista onde falou sobre os protestos ocorridos na Espanha, em maio de 2011, e suas consequências. A vida curta e a fragilidade em proposições, apontadas, tem um paralelo significativo com o atual caso brasileiro.
 
As manifestações ocorridas em 2011, na Espanha, e as iniciadas em junho de 2013, no Brasil, foram maximizadas e organizadas nas redes sociais. E isso é de extrema importância para suas consequências e seus limites. 
 
Observemos a análise de Bauman sobre o uso das redes:
 
“As redes sociais não ensinam a dialogar porque é muito fácil evitar a controvérsia… Muita gente as usa não para unir, não para ampliar seus horizontes, mas ao contrário, para se fechar no que eu chamo de zonas de conforto, onde o único som que escutam é o eco de suas próprias vozes. As redes são muito úteis, oferecem serviços muito prazerosos, mas são uma armadilha.”
 
Como o sociólogo diz, o contrário é evitado nas redes, o que impede a construção de qualquer projeto. Os usuários procuram outros que ecoem suas posições. Eles formam esses grupos pela indignação com algum fato, não por uma homogeneidade ideológica.

 
No caso brasileiro, a indignação que começou pelo aumento da tarifa do ônibus, foi canalizada para uma bandeira mais genérica, contra corrupção e por fim, pela queda da presidenta Dilma. Esse movimento é encabeçado por três principais grupos nas redes sociais: Vem Pra Rua, Movimento Brasil Livre e Revoltados On Line. 
 
Apesar da capacidade de mobilização desses grupos, nenhum projeto foi apresentado, inclusive, por essa dificuldade em discutir projetos, políticos de qualquer partido são rejeitados, pois não existe algo sólido na união dos membros, apenas bandeiras genéricas. 
 
“O povo esqueceu suas diferenças por um tempo, reunido na praça por um propósito comum. Se a razão é negativa, como se indispor com alguém, as possibilidades de êxito são mais altas. De certa forma, foi uma explosão de solidariedade, mas as explosões são muito potentes e muito breves”
 
Nesse ponto, a análise de Bauman sobre o caso Espanhol é perfeitamente transportada para o caso brasileiro. Por um lado, as diferenças foram esquecidas para derrubar a presidenta. Grupos que defendem a ditadura, a monarquia e a democracia, caminharam juntos. Por outro, a força dessa “explosão” vem perdendo força. Desde a aceitação da abertura do impeachment na câmara dos deputados, não se vê mais manifestações como antes, o sentimento de dever cumprido tomou conta desses grupos, não existe a proposição de soluções e novas construções.
 
 
Link da entrevista:
 
 
Danilo Strano – 28 anos, cientista político, especializado em comunicação e redes sociais
 
Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

13 Comentários

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  1. Acontece que estamos vendo

    Acontece que estamos vendo nosso País numa cama de hospital, ainda saudável, mas que ao lado dele há um médico e um corpo de enfermeiros sem dizer-lhe o que vai acontecer: se ele vai para a UTI, se volta pra casa nos próximos dias, ou se está em vias de morrer. É um doente sem norte, sem perspectivas, dependendo muito mais da sorte, ou do azar.

    Tô com medo! É a única coisa que sinto:medo.

    1. Medo e Ruptura

      Maria

      Seu medo é sua resposta interior à sua percepção correta da realidade.

      O Brasil vai entrar num processo de ruptura social e política, com consequências imprevisíveis.

  2. Estou começando a achar que não é nada disso

    o que o pessoal quer mesmo é o PSDB de volta ao poder em Brasília , mantendo os governos dos principais estados.

    É isso que esses grupos , formados ou apoiados pela classe média tradicional e a elite querem.

    Pode ver que o PSDB pode fazer qualquer coisa que nunca tem nenhuma reclamação , denúncia  ou investigação séria sobre eles.

    Se eles estão no poder , para esse pessoal não importa o que acontecer (eles podem roubar até merenda escolar), o Brasil vai estar sempre uma maravilha.

    Infelizmente acho que é isso.

    1. Carlos tem um texto do Walter

      Carlos tem um texto do Walter Benjamin que fala sobre a sociedade estar anestesiada. Infelizmnete não lembro o nome, desculpe, mas assim que tiver um tempo vou procurar  reler porque acho que é o que acontece e, não é de hoje, Benjamin já percebia.

  3. Desesperar, jamais. Por mais

    Desesperar, jamais. Por mais longa que seja a noite ela nao pode impedir o nascer do sol. A luta por um pais mais justo e solidario sera constante. A derrota de hoje sera apenas o fortalecimento para a vitoria de amanha. A natureza, como ja foi dito, nao da saltos. É preciso subir degrau por degrau. Aprender com os erros, comemorar cada acerto, cada avanço por mais pequeno que possa parecer.

  4. Lembro de ter lido um texto

    Lembro de ter lido um texto (não tenho o link) informarndo que o caos sírio começou com uma simples mensagem numa rede social qualquer, disparada por algum mercenário treinado por interesses americanos…um kataguri sem noção mas que tem lá seus interesses particulares e ideológicos…a tática dos EUA é difundir o discurso do combate à corrupção, aliás, esse modus operandi e antigo, já foi usado contra Vargas, o que apenas prova que os americanos não interrompem sua longa experiência geopolitica baseada nos interesses nacionais deles, em especial do fortalecimento de suas empresas…

    Sobre o uso das redes sociais na primavera egipcia

    http://spingolpista.blogspot.com.br/2016/05/interesses-americanos-e-o-uso-das-redes.html

     

     

    1. Sociedade do controle…. e

      Sociedade do controle…. e um pouco do espetáculo. Mas o controle sempe, de diferentes maneiras, com diferentes técnicas e tecnologias ,  tão up to date, as novas tecnologias. Pena que poucas pessoas percebam o quanto são controladas e o que isto acarreta e pode  acarretar para suas vidas pessoais e sociais.

  5. Ou seja, são as redes

    Ou seja, são as redes antissociais!

    Mas as tais manifestações seriam quase nada se não fosse a propaganda permanente delas no radio, TV, jornal e revista.

    1. nem se houvesse um

      nem se houvesse um dinheirinho usado exclusivamente para aliciar prosélitos (redundancia mesmo) com apoio de logistica e planejamento de ionstituições a decadas promovendo golpes em tudo quanto é canto que não seja alinhado com o império.

  6. ótima análise….
    mas as

    ótima análise….

    mas as controvérsias não se dão na rede, mas nas conversas pessoais…

    dessa dialética, suirgirá novas opções e pensamenos e sentimntos, acho eu…

    há o medo,claro, mas a luta diminuiirá  o medo dos

    que são a favor da democracia,,..,.

    a maioria não aceitará vover ilimitadamnete num estado de exceção…

     

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