A crise estrutural no Estado do Espírito Santo, por Rodrigo Medeiros

A crise estrutural no Estado do Espírito Santo

Por Rodrigo Medeiros*

Tendo acumulado passivos sociais e ambientais, o Estado do Espírito Santo precisa repensar os caminhos do seu desenvolvimento. A grave crise da segurança pública capixaba, que estourou em fevereiro, sinalizou para o fato de que devemos estar bem atentos para os problemas estruturais acumulados. Nesse sentido, diálogo, debate plural e responsabilidade social ganham um grande destaque na articulação de políticas públicas.

O documento construído pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), o “Atlas da Violência 2017”, mostrou que o Espírito Santo conseguiu reduzir sua taxa de homicídios entre 2005 e 2015, em 21,5%. Essa taxa, de 36,9 por 100 mil habitantes, ainda está acima da ruim média brasileira, que é de 28,9 por 100 mil habitantes. Esse dramático quadro é considerado como de guerra civil pelos especialistas no assunto. Portanto, não deveria causar espanto que a produtividade da economia não cresça nesse contexto de violência e que as instituições funcionem insatisfatoriamente (aqui).

Em 1952, o governador Jones dos Santos Neves, discursando em Colatina, lançou a advertência de que os galhos dos cafezais eram frágeis para sustentar nossos sonhos de progresso. Grandes projetos de industrialização foram relevantes para alavancar o segundo ciclo de desenvolvimento capixaba. O terceiro ciclo de desenvolvimento chegou nos anos 2000, a partir da diversificação dos serviços, porém ele coexistiu com uma base produtiva tomadora de preços. A queda dos preços globais das commodities, em meados de 2014, coincide com o início da recessão brasileira e expôs a fragilidade dessa estratégia de inserção externa.

O Espírito Santo empobreceu e as receitas dos seus municípios retrocederam ao patamar de 2010. Dificilmente se pode dizer, fora da publicidade oficial, que houve grandes avanços na qualidade dos serviços públicos prestados à população. Com carga tributária regressiva, elevada sonegação fiscal e renúncias fiscais que não têm transparência, a população mais vulnerável, os trabalhadores e muitos negócios sofreram bastante. Obras públicas paradas somam um prejuízo de 1,6 bilhão no Espírito Santo, nos governos estadual e municipais (aqui). Nesse sentido, o equilíbrio nas contas públicas precisa conciliar esforços permanentes e razoáveis de equilíbrio na conta corrente, considerando-se a relevância social dos estabilizadores automáticos, com variações anticíclicas na conta de capital. Solilóquios apenas garantem aplausos fáceis para poucos, algo que não contribui para a democracia e o desenvolvimento sustentável capixaba.

*Rodrigo Medeiros é professor do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes)

 

Rodrigo Medeiros

2 Comentários

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  1. Grande Rio de Janeiro

    É o que acontece em toda a periferia do RJ. Espírito Santo é um grande bairro nordestino do grande Rio. Governado pelo PMDB e com senador Magno Malta, defendido pelas hostes evangélicas que são extremamente fortes no Estado, assim como no restante da periferia de Rio de Janeiro.

    Espírito Santo é a praia dos mineiros e como uma Rocinha baiana, com os mesmos índices de violência.

    É tão certa esta observação que o atual Governador do ES, Hartung, planeja agora se candidatar na casa grande do Espírito Santo, ou seja, no próprio Estado de RJ

    http://www.gazetaonline.com.br/cbn_vitoria/reportagens/2017/09/paulo-hartung-pode-ser-candidato-ao-governo-do-rio-diz-colunista-1014100336.html

  2. É verdade, o ES é um bairo do

    É verdade, o ES é um bairo do RJ.

    E as coisas pioraram muito por aqui a partir do momento que os bandidos da sede do município invadiram o bairro para praticar crimes, principalmente o tráfico de drogas.

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