A democracia como afronta ao sistema de dominação, por Franklin Jr

 

não tem ninguém que mereça
não tem coração que esqueça
não tem jeito mesmo
não tem dó no peito

(Zé Ramalho e Geraldo Azevedo in: Bicho de Sete Cabeças) 

por Franklin Jr

O ministro do STF, Ricardo Lewandowski, admitiu que o impeachment foi um “tropeço na democracia”. Foi mesmo, e o ministro foi modesto na adjetivação.

Na verdade, o impeachment, essa farsa grotesca que apunhalou a Constituição, assaltou a soberania popular e sequestrou a democracia, foi um verdadeiro atentado civilizatório, um golpe!

Mas sob a ótica da Casa Grande (dos oligarcas, plutocratas e cleptocratas) os anos de democracia – principalmente os últimos 13 anos de democracia de maior intensidade social (erradicação da fome, da miséria + políticas públicas reparatórias, inclusivas, participativas, emancipatórias, transformadoras, distributivas e redistributivas) – é que representam um tropeço, senão uma afronta ao sistema de dominação e opressão.

Agora está espantosamente nítido que a escalada golpista é uma investida de muitas faces, de muitos tentáculos, aparelhada principalmente nos sistemas político (sabotagens, traições), midiático (espetacularização, achaques e chantagens), econômico (rapinagem financeira e comercial) e de “justiça” (despotismo judicial, intimidações, persecuções e violência policial), integrando a geopolítica do saque (ao pré-sal e demais riquezas naturais), minando o nosso potencial de nação emergente, autodeterminada e soberana.

Estamos no olho do furacão da ‘Guerra Híbrida’ (saiba mais aqui e aqui) e a democracia é um obstáculo que precisa ser removido (sob a ótica da dominação e do saque). No máximo, os usurpadores são capazes de tolerar uma proto-democracia, formal e procedimental, de baixíssima intensidade, um simulacro, ou uma democracia sem povo. Ficou claro que a democracia substancial, de alta intensidade, com emancipação social, é algo insuportável para a Casa Grande e a cobiça imperial. Filósofos e poetas costumam ser visionários, Marilena Chauí já havia detectado a magnitude do problema com aguda lucidez, denominando a conspirata como sendo “o prelúdio de uma sinfonia de destruição da soberania nacional”, confira aqui neste link: https://www.youtube.com/watch?v=AQXw8B0lN2c.

A investida golpista se arma, prepara outros golpes contra a educação e a saúde pública, contra os direitos trabalhistas, contra as garantias constitucionais, contra os direitos humanos e contra todas as conquistas populares e civilizatórias (saiba mais aqui e aqui). Eles são poucos e lucram (e muito) com a barbárie.

A resistência democrática precisa aprender urgentemente com os erros (identificá-los, admiti-los, superá-los e minimizá-los) e com os acertos (potencializá-los), precisa forjar uma unicidade social e política, uma unidade na diversidade: trabalhadores, mulheres, juventudes, lgbts, quilombolas, indígenas, camponeses, estudantes, intelectuais, políticos, artistas… e preparar a contra-ofensiva ao ‘bicho de sete cabeças’, à “hidra golpista”, para retomar o rumo da história de nossa reconstrução democrática. Os problemas da democracia se resolve com mais democracia.

É preciso resistir contra a arquitetura da destruição erigida pela Casa Grande. Sejamos todxs quilombolas!

 

Redação

4 Comentários

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  1. Democracia
    É justamente o sistema escolhido pela dominação para exercer sua força.

    Mas se vc acha que passando uma LEI, que proíbe doações de empresas, vai segurar tudo isso e fazer do Brasil uma das únicas democracias do mundo….. Aí é com vc.

    Eles só respeitam a força.

    Precisamos da bomba e é só. O resto é papo furado talvez até comprado pela dominação!
    Quer dizer que vc é contra a bomba porque é feio?
    É a democracia não é? Quem te paga?

  2. Como se resolvem os problemas da democracia

    Mais democracia deveria resolver os problemas da democracia. Mas, a duras penas, vamos aprendendo que neste sistema econômico dominante não pode haver mais democracia do que as migalhas dela que vivemos por lapsos.

     

     

  3. mais que unidade

    Excelente texto!

    De fato, precisamos muito de unidade na diversidade, de convergência de lutas democráticas e populares.

    Entretanto, não podemos ignorar que as pessoas convencidas dos elementos básicos de um projeto popular e democrático não passam de 20% da população.

    A organicidade e hegemonia do projeto de direita com os sistemas econômico, judiciário, financeiro, político, tributário e a mídia, exige de nós mais que articulação. A onda conservadora, de ordem mundial, parece ainda mais forte no Brasil. Agregada a elementos religiosos e até fascistas, vemos a população concordar com perda de ativos públicos e legitimar a redução de políticas sociais e de direitos trabalhistas.

    Ou encontramos caminhos nos campos da comunicação de massa e educação política de base, ou a perspectivas de retrocessos sera ainda muito mais sombria.

     

    1. o caminho é mesmo por aí, temos q reconstruí-lo…

      É isso, Luiz Ferraro, ótimo comentário!.. o caminho é mesmo por aí (comunicação de massa + educação política de base), temos q reconstruí-lo!

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