Aldo Fornazieri
Cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política.
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A derrota das esquerdas e 2022, por Aldo Fornazieri

As esquerdas não se organizaram na base, levantaram bandeiras equivocadas e enfrentaram Bolsonaro de forma errada

A derrota das esquerdas e 2022

por Aldo Fornazieri

As esquerdas saíram derrotadas das eleições municipais de 2020, mesmo com o crescimento do PSOL e o bom desempenho de Boulos no segundo turno em São Paulo, Não se pode torcer números para mascarar derrotas. Em termos efetivos, é preciso contar o número e a importância das prefeituras conquistadas e perdidas. Prefeituras constituem poder real por quatro anos. Votos de derrotados não são ativos estocáveis para eleições seguintes. Então, vitória é vitória e derrota é derrota. Para além disso, é pós-verdade. A análise precisa ser realista, por dolorida que possa ser. Mascarar derrotas consiste em persistir no erro e não corrigir rumos.

O PSOL obteve uma importante vitória em Belém, mas venceu em poucas prefeituras e também não elegeu grande número de vereadores. O PCdoB, além de não vencer em Porto Alegre, teve o grupo de Flávio Dino derrotado em São Luís. O PT foi o partido que mais perdeu – 71 prefeituras em relação a 2016. Foi pior mesmo do que aquele ano, quando o partido estava no foco da Lava Jato e do impeachment. Agora não venceu em nenhuma capital. As esquerdas, em geral, erraram muito no último período, mesmo com os desastres dos governos Temer e Bolsonaro. As esquerdas não se organizaram na base, levantaram bandeiras equivocadas e enfrentaram Bolsonaro de forma errada, como apontamos em sucessivos artigos. Estas eleições municipais ofereceram aos partidos de esquerda, principalmente ao PT, a ocasião da recuperação. Mas não souberam aproveitar.

Em São Paulo, em que pese o PT ter recuperado Diadema e Mauá, elegeu apenas quatro prefeitos – inadmissível no maior colégio eleitoral do país. O que resta às direções nacional e estadual do PT é colocar os cargos à disposição ou convocar um congresso partidário imediatamente para reorganizar o partido. Não é admissível que um partido que alcançou a importância que o PT atingiu seja destruído lentamente por direções burocráticas e incompetentes. O PT é um patrimônio do povo e precisa ser resgatado por uma direção competente que o renove e o coloque em linha com os novos tempos.

Os vencedores dessas eleições foram a direita fisiológica próxima de Bolsonaro – PP e PSD – e a centro-direita, destacando-se neste campo o DEM. O PSDB, em que pese ter mantido a prefeitura de São Paulo, perdeu um grande número de prefeituras, assim como MDB. A extrema-direita não se apresentou com partido próprio e os candidatos que Bolsonaro apoiou fracassaram. Os candidatos antipolíticos e o discurso da nova política também não colheram êxito.

Eleições municipais não têm um impacto determinante e resolutivo sobre eleições presidenciais. Elas constituem apenas sinalizações e conformam alguns campos possíveis, linhas de força. Dito isto, pode-se dizer que elas configuraram quatro grandes campos políticos: uma direta fisiológica, próxima de Bolsonaro; uma centro-direita, com destaque para o DEM; uma centro-esquerda, configurada em torno do PSB, do PDT e da Rede e uma esquerda, constituída pelo PSOL, PT e PCdoB.

O espaço da extrema-direita bolsonarista se estreitou e a única alternativa para Bolsonaro chegar competitivo em 2022 consiste em ser aceito e aceitar se aliar aos partidos de direita do centrão. A centro-direita deverá ter um candidato próprio. Neste campo, com o fortalecimento de alguns partidos, o espaço para Sérgio Moro e Luciano Huck também se estreitou. Esses partidos  devem fazer o cálculo de que vale o risco de tentar eleger um candidato partidário próprio do que eleger um candidato forasteiro com todos os problemas e idiossincrasias que este tipo de figura proporciona.

Com o fraco desempenho do PT, com a manutenção das duas capitais pelo PDT e com a ampliação do PSB para Maceió, além de manter Recife, o campo da centro-esquerda e a figura de Ciro Gomes se fortaleceram em relação à esquerda. Na própria esquerda, existem dois polos: um representando pelo PT e outro por Boulos e o PSOL.

As esquerdas deveriam descartar imediatamente a ideia de formar uma frente ampla contra Bolsonaro, mas lutar para formar uma frente progressista e popular abrangendo a centro-esquerda e a esquerda. A formação dessa frente depende de várias coisas. Entre elas, descartar a arrogância e a vaidade de partidos e dos potenciais candidatos, adotar prudência como guia, colocar os interesses do povo acima dos interesses dos partidos e calçar as sandálias da humildade de saber que as esquerdas vivem um momento de fraqueza e de defensiva.

Os partidos deveriam abrir um diálogo imediato entre si. Alguns pressupostos deveriam ser balizados: nenhum partido indicaria um nome neste momento, deveriam ser definidos métodos e objetivos, como a discussão de um programa e de um projeto para o Brasil e procedimentos para o relacionamento partidário. O que importa neste momento é definir um processo e ele deveria determinar o resultado. O mais provável é que formação da frente de esquerda e centro-esquerda dependa das condições de competitividade de Bolsonaro. Se Bolsonaro chegar muito enfraquecido em 2022, o que é uma possibilidade, dificilmente a frente progressista se formará. Mas se ele chegar forte, será um imperativo formar a frente, pois, caso contrário, o campo progressista corre o risco de ficar de fora do segundo turno.

Os partidos de esquerda devem agir para impedir que o campo de centro-esquerda forme uma frente com a centro-direita, o que é uma possibilidade. Para vencer uma eleição presidencial, é necessário agregar o máximo de forças políticas e sociais dentro dos parâmetros definidos pelo programa e pelos objetivos estratégicos. Se em eleições municipais os partidos devem priorizar seus interesses partidários e de construção, nas eleições presidenciais devem colocar acima de tudo os interesses do povo e do Brasil.

Aldo Fornazieri – Professor da Escola de Sociologia e Política (Fespsp).

Aldo Fornazieri

Cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política.

12 Comentários

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  1. Parabéns professor,vcs conseguiram,inclusive neste artigo,exaltando a DERROTA,deveria disfarçar mais e esquece a sua Faculdade cheia de alunos como nos tempos do Lula,não vem ao caso tb as disparidades entre pesquisas e os resultados das urnas e nem os nulos,brancos altíssimos(é só baixar o etítulo e justificar,simples)não vem ao caso os milhares de casos de pessoas q foram votar e surpreendentemente ficaram sabendo q INEXPLICAVELMENTE(ou sim)suas seções de votação mudaram,aliás,deve ser verdade q toda a periferia de SP virou TUCANA(kkk)PARABÉNS !!!!
    OBS:BOLSONARO PERDEU P O VÍRUS(O DA MAQUININHA)E PQ O PT NÃO GANHOU ENTÃO ?

    1. Caro sr. Aldo Fornazieri : “…É hora de ruptura. É hora de estilhaçar essa linguagem viciada, preguiçosa, falsamente estratégica, que se alimenta do próprio fracasso e que se vitimiza por conveniência..”. Não tente explicar a redundância, nem o óbvio para Doutrinados. São 90 anos de Esquerdopatia. Dom Sebastião voltará !!!! E temos certeza !!!! Pobre país rico. A culpa? Esta, deve ser dos outros. Ditatorial. Caudilhista. Absolutista. Assassino. Esquerdopata. Fascista. Mas de muito fácil explicação. (P.S. Seria até cômico senão fosse trágico)

  2. Análise coerente para quem gosta de participar de programas de jornalismo do satélite da mais golpista das emissoras.
    Distorcer os números é colocar,por exemplo,o prefeito eleito de Maceió pelo PSB,como centro esquerda. Um sujeito que tem vergonha de colocar o nome e se intitula JHC para que não lembrem de quem é filho.Em Recife,outro exemplo citado,o também candidato do PSB utilizou-se das mesmas e sujas táticas utilizadas pelo ocupante do palácio do Planalto,inclusive a misoginia,nada diferente do ocorrido em Porto Alegre onde a candidata do PC do B foi vitíma do mesmo expediente,com outro partido ,o MDB como usuário desta tática. O PSB,hoje,é um partido guarda-chuva e não pode ser considerado centro-esquerda e ,assim como o PDT,parece ter dono.
    Chega a ser aviltante o comentário de um professor de ignorar votos de derrotados como se não fosse capital político. Talvez tenha se esquecido do processo de acumulação de forças,resultado das más companhias.
    Agora,o triste mesmo é coadunar com as análises porcas da direita golpista e de seus instrumentos de divulgação.
    O Resultado das eleições não foi em desacordo com o que poderia ter sido feito. Esquece-se o brilhante analista da peculiaridade do atual momento,com pandemia,com censura absurda nos meios de comunicação tanto do processo eleitoral como,e principalmente, do PT e de seu principal expoente,o presidente Lula.
    Esquece-se também,que o tempo televisivo foi reduzido,assim como o intervalo entre o primeiro e o segundo turno.
    Isso não quer dizer que os partidos de esquerda não façam suas análises. Fazem,e fazem constantemente,coisa que talvez não seja de conhecimento do professor por se informar preferencialmente nos canais da mídia golpista que,como já lembramos,estão sob censura prévia dos editores.
    Também,é sempre bom lembrar,hoje,nossa democracia está completamente deteriorada. O financismo que antes mandava indiretamente nessa mídia,hoje o faz de forma direta,comprando editoras que até ontem ostentavam os maiores títulos de periódicos ditos formadores de opinião. Logicamente também censurados.
    Além disso,de forma descarada,municia os adversários dos partidos populares com todo tipo de pesquisa,constituindo-se em uma verdadeira fraude tanto no sistema eleitoral como no sistema político,já que não aparece na contabilidade desses beneficiados,sendo,portanto,uma nova forma de caixa 2.
    A esquerda,pelo que tem sido vítima,tem se mostrado com um vigor extremado. Vale lembrar que,só para ficarmos no PT,quase toda sua direção foi,de uma forma ou de outra,retirada da vida pública.Como isso não foi suficiente,tiveram que encarcerar a maior liderança política da história desse país,o presidente Lula. Talvez o professor não se lembre disso.
    A esquerda está viva. Bem viva. Ganhar eleição é sempre conjuntura e somente teremos frente não se o sujeito que ocupa a presidência da república estiver forte,teremos frente se a manobra da direita no sentido de isolar completamente a esquerda der certo e conseguir,com a ajuda de incautos,emplacar seu candidato engomadinho para competir com o candidato selvagem.
    Aí teríamos,como observado nessas eleições,um número absurdo de abstenções e outro igual de votos brancos e nulos,o que fará do establishment o grande vencedor,com a necrose total do sistema político.

  3. Tem muita gente querendo usar o PT como muleta, mas a verdade é que eles não conseguem nem andar com as próprias pernas, como vão usar muleta?
    Se insistirem nessa ilusão, vão cair todos eles abraçados em 2022.

    PS: Eleições para Presidente é muito diferente da de Prefeitos, lá o jogo é outro.

  4. O PT carrega uma base eleitoral suficiente para levá-lo ao segundo turno, mas não o tirando de lá. O bolsonarismo tb carregava uma base eleitoral suficiente pra isso, mas pra ir além disso tb contou com a transferência de votos dos adversários. Porém, o PT justamente por carregar também uma enorme rejeição, repele eleitores decisivos para sua vitória no segundo turno, ainda que sua base eleitoral esteja entre as maiores. Os votos de partidos de esquerda como psol, pcdob, pco, pstu e em parte de partidos como pdt, etc. nem sempre são o suficiente para eleger o pt no segundo turno. Muita gente diz que tem ‘petista que virou bozominion’, mas nunca foram petistas, era uma quantidade considerável de gente de centro-direita que votou por um tempo no pt no segundo turno e ajudou a dar vitória ao pt, mas depois caíram fora ou preferem votar nulo. E hoje com o avanço do centrão, a maioria dessa gente não deve votar mais na esquerda no segundo turno por um bom tempo. Então, o pt (e alguns casos o psol), deve pensar mais em ganhar no 1º turno, festejar a ida ao 2º turno se tornou uma armadilha perigosa e ilusória pq precisa de muitos votos dos candidatos derrotados.

  5. O de sempre….o profexô bate no pt pra passar a mão na cabeça no amigaço dos coronéis cearenses, tucano enrustido e outrora viajante fujão….tá chato, hein….

  6. A moça da Globo ontem quase teve um orgasmo falando que o PT perdeu 71 prefeituras. Em 5 minutos de “análise” ela pronunciou 28 vezes a sigla PT. É evidente que eles medo do povo. Fazem de tudo para manter o povo desorganizado e fraco. A população inerte, passiva, dentro de casa assistindo novelas e futebol vira gado, fácil de controlar. Do outro lado temos a Record mantendo o povo evanjegue dentro das “igrejas” dando dinheiro aos “pastores” que prometem uma prosperidade que nunca vem. Não conseguimos nos comunicar. Vejo pessoas desempregadas votando em canditados de direita e centro-direita. Não falamos uma linguagem que as pessoas conseguem entender. Em português claro: estamos fodidos.

  7. Com a briga intestina dos primos em Recife e o ciúme doentio que Ciro tem de Lula, parece improvável uma aliança PSB/PT/PDT em 2022. Caso Dino migre para o PSB, isso isolaria Ciro e facilitaria uma composição Dino/Haddad.

    Parece-me que o segundo turno será um candidato do centrão (provavelmente Doria) x Bolsonaro. Se for Huck/Moro x Bolsonaro, ai quem vai ganhar será o voto nulo!

  8. E o Moro?
    Teve sua primeira derrota, o candidato dele, para o qual gravou até vídeo pedindo votos (Cap.Wagner ), perdeu a eleição à prefeitura de Fortaleza!
    Ninguém está comentando.

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