Aldo Fornazieri
Cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política.
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A esquerda, a advertência e a promessa, por Aldo Fornazieri

A esquerda, a advertência e a promessa

por Aldo Fornazieri

Não resta dúvida de que a esquerda, nas suas diversas matizes e pluralidades, vive uma crise que se projetou ao longo do século XX, com o stalinismo e com a socialdemocracia, que se prolonga no tempo e que se agrava nos dias de hoje. O colapso soviético, os rumos do comunismo chinês, o adesismo socialdemocrata ao liberalismo e os descaminhos da esquerda latino-americana deixaram pouco mais que escombros de uma tradição socialista e, em geral, marxista, que se pretendeu redentora da humanidade, radicada na promessa de uma terra de igualdade, justiça e liberdade.

Existem várias causas e várias explicações para o fracasso e crise da esquerda. Mas, talvez, uma delas, quem sabe a mais importante, tenha sua origem genética na forma com que a esquerda vê o ser humano e o processo histórico. A rigor, o pensamento político antigo e moderno se inscreve em duas grandes linhas constitutivas: a realista e a utópica. A forma como essas duas linhas percebem o ser humano e a história e os dois elementos incontornáveis da política – a advertência e a promessa ou o medo e a esperança – são praticamente divergentes.

No mundo grego, Platão, seguindo Sócrates, projetou o ideal de uma polis perfeita, governada por filósofos-reis, operadores de uma ciência verdadeira, retratado na República. Em que pese em obras posteriores Platão ter manifestado um certo desencanto com a possibilidade de um competente único existir e governar sem arbítrio acima das leis, coube a Aristóteles indicar que a ciência pouco opera na política e que esta está mais afeta à vontade e às escolhas, situando-se no terreno da contingência e da imprevisibilidade. Mais realista, não é por acaso que Aristóteles irá resgatar vários temas da tragédia colocando a ênfase na necessidade da prudência. A tragédia, de fato, é um canto à condição humana radicada no seu final infeliz, ao caráter muitas vezes violento da morte no âmbito das disputas e à incapacidade dos seres humanos dominarem seu próprio destino que, com frequência, os aprisiona nas armadilhas do imprevisto. Tanto na tragédia quanto em Aristóteles o espaço para o otimismo é exíguo: o mundo é sempre inacabado, pleno de lacunas e cabe aos homens tentar acabá-lo num processo sempre inconcluso.

A Jeremiada Política

Mas é na Bíblia, através do profeta Jeremias onde os pares antípodas da advertência e da promessa e do temor e da esperança adquirem uma hierarquização de contornos dramáticos. Herarquização que se projetará no discurso político do republicanismo moderno que emerge no final da Idade Média no norte da Itália e se afirmará na colonização puritana dos Estados Unidos e na ideologia que conformará a sua independência e o seu constitucionalismo.

O sentido manifesto da jeremiada política é a ênfase na advertência. A persistência no pecado, no erro, na indolência, resultará na punição, na tragédia, no cativeiro, na perda da liberdade e na destruição de Jerusalém. Foi isso que aconteceu aos hebreus pela sua vida no pecado, pela idolatria, pela devassidão e pelos seus erros políticos. Os babilônios os escravizaram e destruíram o templo de Salomão e a sua cidade. Os estudiosos da jeremiada a sintetizam nos seguintes termos: descrição de degeneração e decadência; anúncio de um fim iminente que se manifestará como um apocalipse, uma destruição; convocação para a transformação reformadora, conversão, revolução,ação para as boas obras.

Os primeiros termos dessa equação rementem para a advertência e, os segundos, para a promessa. Há uma clara hierarquia da advertência sobre a promessa, do temor sobre a esperança. A promessa e a esperança só se efetivarão se a advertência e o medo do castigo forem observados. Em termos políticos coloca-se a ênfase na crítica e na autocrítica com apelo para a renovação moral e espiritual. As exortações definem a identidade comunitária ou política e conformam a unidade capaz de transformar e renovar o mundo, de fundamentar o desejo de uma nova ordem, estabelecendo o momento afirmativo da promessa e da esperança.

A jeremiada cria a disciplina para o processo de empreendimento a ser conquistado e gera uma ansiedade pelo futuro. Mas o futuro da jeremiada não é uma certeza utópica, um estado ideal, uma completa felicidade, uma harmonia absoluta. O futuro da jeremiada é ambivalente: nele está o medo e a esperança. O futuro se manifesta como um processo permanente de construção baseado na fé, mas nunca estará inteiramente ao nosso alcance e não há certeza de salvação. O que move os humanos para a busca da segurança, da justiça, da igualdade e da liberdade é essa insegurança permanente e o temor do castigo e da decadência. Os líderes autênticos, os líderes virtuosos, colocarão sempre a ênfase na advertência e apresentarão a promessa em termos condicionais.

A Republicanização da Jeremiada

Os republicanos do norte da Itália e, particularmente, Maquiavel, compreenderam perfeitamente o significado da jeremiada política. Maquiavel, entre outros, propôs uma república fundada na advertência. Esta proposição tinha sua raiz fincada na avaliação negativa da natureza humana: os homens são pérfidos, ambiciosos, covardes e simuladores e o mundo está dominado pelos malvados. Por isso, quando o legislador fizer as leis deve partir do pressuposto de que todos os homens são malvados, mesmo que na prática todos não o sejam. Os homens só fazem o bem por necessidade ou quando são coagidos a fazê-lo, adverte o escritor florentino.

Os líderes dos colonizadores puritanos da Nova Inglaterra valeram-se exaustivamente da jeremiada, tanto para levar os deserdados religiosos da Europa para a América, quanto para organizar a vida nas colônias. A vida de sacrifícios, de privações e de provações sempre foi enfatizada como condição para alcançar a nova Canaã, de ser o novo povo eleito, de construir a nova Jerusalém no alto da colina para guiar o mundo.

No processo de independência e de criação da Federação e aprovação da Constituição, a jeremiada foi laicizada com forte ênfase na advertência: o que estaria em jogo com a República e a Federação não seria apenas o destino dos trezes estados tornados independentes, mas o destino da humanidade; era preciso lutar contra o destino dissoluto das repúblicas; os homens são “ambiciosos, vingativos e gananciosos”; as tendências do futuro apontavam para um mundo envolvido em guerras por disputas comerciais; era preciso limitar e controlar o poder para evitar que este atentasse contra a liberdade; a própria necessidade do governo existir é a maior crítica que se pode fazer à natureza humana; somente um governo forte, equilibrado e limitado poderia garantir a justiça e a liberdade; somente observando esses preceitos os Estados Unidos poderiam se tornar líderes e contribuir para com os outros povos.

O Otimismo da Esquerda

As filosofias marxistas e socialistas, de modo geral, são utópicas. A sua ênfase é na promessa e na esperança. A humanidade conhecerá um fim da história onde haverá um reencontro entre o homem e o homem, entre o homem e a natureza. O proletariado aparece como sujeito imanente da história e a revolução será inevitável. Mesmo que essas filosofias sejam críticas da brutal realidade do capitalismo, todo o foco é posto na promessa.

A certeza do advento do socialismo se funda na visão otimista do progresso na história. O otimismo, por sua vez, gera uma disponibilidade subjetiva para o engajamento em um empreendimento estratégico que será necessariamente vitorioso. As filosofias de esquerda recusam terminantemente a possibilidade de uma natureza humana, pois o homem seria pura criação social e histórica. Já que a história se move por leis, as leis do progresso, não há razão para se preocupar com a advertência.

Embora marxistas como Antônio Gramsci tenham tentado reposicionar o pensamento de esquerda com a máxima “pessimismo da razão, otimismo da vontade” e com a ideia de que a história deve ser vista como drama e não como evolução, o fato é que a prática política desses movimentos e partidos se recusa, sistematicamente, em ver as contingências dos processos históricos e sociais e os riscos eminentemente trágicos incursos na humanidade, particularmente no mundo de hoje.

Quando no governo, a esquerda não só exaspera a promessa e a esperança, mas se torna ufanista, irresponsável e, dai, oportunista e mentirosa. Se fracassa, a culpa será sempre dos outros, o que constitui um grave pecado político, pois a esquerda se afoga na autocomplacência, na autocondescendência e na autovitimização. O recente descrédito dos governos de esquerda latino-americanos advém desse descuido com os erros, dessa falta de crítica e autocrítica, dessa adesão à condição degenerada e degeneradora do capitalismo, desse comodismo em face da normalidade e da naturalização da tragédia humana. Por isso, se a esquerda quiser dar um primeiro passo para se reinventar, pois os paradigmas que estão aí são escombros e ruínas, precisa enfatizar a advertência e moderar a promessa. Afinal de contas estamos numa encruzilhada civilizatória e os riscos da humanidade, do planeta, da democracia, da justiça e da liberdade são superlativos.

Aldo Fornazieri – Professor da Escola de Sociologia e Política de São Paulo.

Aldo Fornazieri

Cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política.

26 Comentários

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  1. De realista vejo, antes de
    De realista há, antes de qualquer ideologia, o fracasso da política.

    O mundo tem visto alternância de poder, como pode ser visto no ano passado quando os canadenses derrubaram o conservadorismo que governava por mais de uma década. Neste ano, o ambientalista Alexander Van der Bellen, vence na Áustria. Mesmo não tendo ganhado da máquina dos Clinton, Bernie Sanders, o candidato de esquerda injetou muita adrenalina nas disputas americanas.

    E os movimentos de 2013 que pipocaram em todo o mundo, atingindo governos de direita e esquerda?

    Quais foram as propostas das populações nas ruas?

    Occupy Wall Street, melhoria dos serviços públicos, são temas vitoriosos da direita?

  2. Otimismo

    Gosto de me repetir sempre que esse assunto vem à baila.

    Quando vejo inúmeras críticas à administração petista noto que elas ignoram completamente a força contrária.

    Seria como não houvesse oposição, congressistas como aí estão, imprensa tendenciosa, Fiesp…

    Não seria otimismo esperar que os governos de esquerda pudessem agir com autonomia impondo seus programas de forma a atender as necessidades da população mais carente?

    Ao fazer o texto o autor também não estaria fazendo uma autocrítica de sua ingenuidade esperançosa?

    Longe aqui de inocentar “esquerdistas” que se deslumbraram e se deslumbram com o brilho do poder.

    1. A vitimização que não resolve a questão

      “Seria como não houvesse oposição, congressistas como aí estão, imprensa tendenciosa, Fies”

      Neste ponto percebo o quão forte, articulado e coeso é o oponente da esquerda, que tem todos os motivos para por o rabo entre as pernas e viver de lamúrias. É claro que esta é uma escolha, a mais fácil, mas não a única.

      uma grande covardia seria perder a oportunidade de refletir sobre possíveis erros, o que deve ser mudado, novos procedimentos para atingir novos resultados… mas quem sou eu para julgar? Cada um e cada grupo político tem a liberdade de se posicionar como quiser, como vítima ou autor da própria história 

       

  3. A esquerda, a advertência e a promessa

    NA história é a evolução da humanidade, basta ler os livros de história que temos aos montes e de variada extração.

    É verdade que a esquerda tem dificuldade em conciliar a república utópica da liberdade, igualdade e fraternidade com a natureza humana e suas virtudes e falhas.

    A esquerda, mais precisamente aqui no Brasil, não se deu conta disso.

    Todos os governos esquerdistas que tivemos, depostos que foram pelo conservadorismo reacionário, não levaram para o governo suas bandeiras erguidas no período eleitoral. Tradicionalmente, fizeram acordos com o que chamamos de elite, na crença que acordos justos e respeitados haveriam. A crença na utopia do “homem bom” levou aos fracassos que hoje vemos.

    Não se dorme com o inimigo.

    Na democracia o vencedor leva as fichas e deve governar por inteiro. Claro que nisso sempre haverá o jogo democrático com a oposição que balizará o andar da carruagem mas sem esquecer de quem venceu nas urnas. As esquerdas sempre foram cheias de pudores e receios, estabelecendo grandes margem de manobra para o conservadorismo, aqui no Brasil feroz e sem peias na consumação de seus objetivos ou no ataque as esquerdas.  Prova disso é a dominância de várias instituições e poderes pelos áulicose capitães do mato dos 1%.

    Várias instituições e poderes da República estão tomados pelos operadores do conservadorismo.  Legislação, prisões, aparelho repressor, educação, finança são claramente feitos por quem dela se beneficia e detrimento do povo em geral. Para tanto basta olhar o noticiário.

     

     

     

     

     

     

  4. Aldo, sempre Aldo…

    Uma coisa que não se pode acusar Aldo é de incoerência…Ele sempre bate na mesmíssima tecla, embora como possuidor de extenso cabedal intelectual, nos brinde com filigranas e contorcionismos teóricos para justificar o bate-rebate desse catinho de esquerda que se acha portadora da mensagem pura e utópica que ele proclamou em seu empolado texto.

    A outra parte da esquerda, os pragmáticos, resta o fracasso de terem se corrompido no caminho.

    Tão bom que a lógica e a política subsistissem nesse campo binário.

    Primeiro vamos recuperar a noção de “esquerda”, assim da forma clássica como entendemos, um fenômeno moderno e recentíssimo (data de 1789), se considerarmos a História como um todo.

    Não seria exagero dizer que a noção de esquerda nasce antes da ideia de socialismo ou de teorias anti-capitalistas, logo, não é incomum à esquerda a impregnação de conceitos e cacoetes que adotam noções capítalistas e liberais em seu arcabouço teórico.

    Marx apresenta suas teses como contradição necessária ao capitalismo e não o contrário.

    Primeiro cacoete de nossa esquerda mundial: O economicismo, que só vai sendo superado aos poucos. Nossa noção de igualdade e justiça está fortemente calcada em aspectos econômicos, apesar dos devaneios existencialistas do Aldo.

    Porém não é um cacoete acidental ou caprichoso:

    A Política é tudo, mas ela é Tudo para resolver questões econômicas desde a Antiguidade, pois grupos e pessoas sempre se reuniram para decidir como lidar com recursos, sejam commodities, swaps, fundos ou câmbio, sejam a quantidade de sementes da próxima coleita, a pela extraída dos mamutes, a quantidade de pedra lascada que dispunham contra inimigos naturais.

    Então, Aldo, essa armadilha na qual o PT se enredou é própria da História da Humanidade: Como ampliar a distribuição de riqueza, garantindo a todos a participação nas decisões sobre esse processo, em contraposição ao modelo que a evolução se encarrega de tudo.

    A urgência provocada pelas desigualdades capitalistas, seus diferentes arranjos locais (nacionais) que extrapolam essas desigualdades e dão aos países uma hierarquia vinculada aos seus processos históricos e escolhas (sim, as nossas foram todas sempre ruins e covardes), e a intensa e inesgotável capacidade capitalista de se reinventar e arrochar e esganar enormes contingentes de gente a cada volta da História, com seus fluxos e refluxos de capitais, deixam a esquerda sempre a questão:

    Melhorar a vida de um montão de pobres enquanto tenta apresentar algum programa reestruturante, ou abandonar pobres à própria miséria, esperando que sua condição leve-os a alguma ressurrreição que possa ser capitaneada por alguma vanguarda iluminada (do tipo que o Aldo representa)?

    Ou seja, como trocar o pneu com o carro andando?

    E durante esse estranho e intrincado caminhar da História, o que fazer com instituições, mídias, as concepções de liberdade de expressão e de imprensa, estamento normativos, direitos humanos, liberdades individuais, etc, etc, etc?

    O que fazer com a oposição e o direito dela de manipular e arregimentar conglomerados de mídia na luta pela hegemonia (como nos ensinou Gramsci)?

    Censura? Fechamos o Congresso?

    Ou declaramos guerra aos EUA?

    Claro, claro, claro, eu sei que jogar a culpa na História não nos absolverá. Mas é essa a questão, não buscamos absolvição, queremos que nos digam como fazer diferente…e a í, Aldo?

    Como lidar com uma sociedade racista, sexista, homfóbica, com forte inclinação mística-religiosa, que passou anos e anos controlada por monopólios de mídia, e que tolera o extermínio atual de 50 mil jovens pretos e pobres, enquanto vocifera hipocrisia na questão de drogas, aborto, etc?

    Como lidar com uma sociedade que tem como matriz ideológica o capitalismo estadunidense, e que só quer, no fritar dos ovos, dois carros na garagem da casa própria, passagens de avião no fim do ano, e TV a cabo?

    É tudo isso que Aldo & Cia esperava que os governos do PT dessem conta em 12, 16 ou 20 anos.

    É isso que gente como você e Mino Carta não entendem, enquanto ele sonha desiludido que fóssemos a reinvenção tropical de seusa delírios romanos.

    Uai, aquela gente votava em Berslusconi e adorava seus mafiosos…urgh! 

    Eu leio esse blog há anos e tem coisas que naõ entendo.

    Pessoas bem esclarecidas aqui, como o Aldo, sabem exatemente como as coisas funcionam (até em disputas eleitorais dentro de Universidades, não é Aldo?), sabem que existe uma abissal diferença entre pessoas ligadas a grupo políticos que utilizam esquemas de poder para auferir vantagens pessoais e ambições personalíssimas de poder, e o uso desses mesmos esquemas de financiamento de campanhas políticas, que não por coincidência foram retiradas das ruas e confinadas em cada vez mais caros estúdios de agências de publicidade, institutos de pesquisas, etc.

    O que Aldo esperava de PT e petistas, que continuássemos a vender estrelinhas, camisas, etc, nos diretórios para custear campanhas de 80, 100 milhões de reais?

    Ou esperava que o 1% de cada filiado, mais as contribuições de parlamentares  e outros detentores de mandato (como prevê o Estatuto do PT) nos desse a grana para disputar eleições?

    Mas todas essas pessoas fingem que não sabem disso. E fazem coro com os golpistas e nos jogam na vala comum de criminosos comuns, enquanto nossos desvios “éticos” (diagmos assim) foi jogar o jogo eleitoral com ele exigia.

    Fingem não saber que é essa a base da diferença de tamanho e de importância entre PT e PSOL (e não sejamos levianos, para o bem e para o mal).

    Com todo respeito pela retidão do ótimo Chico Alencar, do Valente e outros, eu não creio que tais atributos pessoais vão fazer alguma diferença na História.

    Entre Zé Dirceu e Genoíno e Aldo e que tais, não tenho a menor dúvida: Fico com os primeiros.

    1. Segurei para não rir.

      “É tudo isso que Aldo & Cia esperava que os governos do PT dessem conta em 12, 16 ou 20 anos.

      É isso que gente como você e Mino Carta não entendem, enquanto ele sonha desiludido que fóssemos a reinvenção tropical de seusa delírios romanos.”

      O povo ainda chora de raiva por causa do Bolsa Família. não tem ninguém protestando contra o desmonte do SUS…

      1. Des…desculpe…

        Me perdoe por não escrever algo que faça você levar a sério.

        Mas eu vou tentar…

        A conexão teleológica pretendida por você, ou seja, protesto = instatisfação + capital político é sofrível.

        O erro economicista da esquerda já foi desvendado, há muito tempo, assim como o erro de entender a dinâmcia política com algo linear (teleológico).

        Ora, a resistência dos índices de Lula como uma ameaça ao desmonte que se avizinha no horizonte é indício robusto que as coisas nem sempre são como parecem.

        Lógico que esse simbolismo não avança senão a adoração ou idolatria, mas considerando a carga de preconceitos acumulada ideologicamente contra Lula, seus méritos não são poucos, mas carregam em si, a paradoxal imobilidade que os mitos trazem aos processos políticos e à História.

        Só que não resolvem nada, ou resolvem pouco.

        Em 2018, a base parlamentar tende a aumentar seu viés conservador, mesmo que Lula triunfe. Só o PT vai ficar de fora do financiamento caixa 2 (você não acredita que não haverá grana por fora, não é?), porque foi empurrado pela alcateia moralista, inclusive nas hostes da esquerda.

        Resultado? O tutu virá de fora, com forte viés internacionalista, a cevar a base entreguista.

        A população, a seu modo, reage como enxerga o jogo… e ela nunca enxergou-se na ação política como protagonista, a não ser refletlida na saga do nordestino que desceu de pau-de-arara, e subiu a rampa do Planalto.

        A população, ainda que a maior beneficiária de programas sociais e de serviços públicos, nunca os enxerga como tais, seja pela propaganda de que se é público é ruim, seja pela propaganda que difunde a estigamtização do usuário dos serviços públicos como “peso morto” ou “dependentes de um sistema meritocrático”.

        E de certa forma, não é só simbolismo, porque ele sabe a diferença do atendimento de um médico dentro de um consultório SUS e dentro de um elegante consultório “particular”.

        Todo mundo sabe que o SUS é uma merda, embora seja uma merda totalmente indispensável.

        Só alguns poucos não sabem que o problema é subfinanciamento com a industrialização da medicina associada às indústrias farmmacológicas e de equipamentos, naquilo que se conhece como hospitalocentrismo.

        60% dos casos se resolve com exame clínico na primeira consulta, sem exames, sem remédios, só ouvido e toque do médico (fonte: OMS), e por aí vamos.

        Claro que o pobre não sabe, e o rico esconde, que o serviço médico é público (no SUS) ou subvencionado no caso privado (com deduções fiscais).

        Mas isso não repercute na realidade e na luta política.

        Mais ou menos como fizeram com as negras beneficiárias do Food Stamps nos EUA.

        Assim, cria-se a ideologia da negação, onde pobres têm horror a protestar pelos seus direitos, porque tais direitos são difundidos como “favores”…

        É um jogo muito mais sofisticado que seus humores, meu (minha) caro (a)…

        1. Querida Hydra, vejo que o seu

          Querida Hydra, vejo que o seu post traz a raiz do problema que deve ser encarado, antes tarde do que nunca:

           

          “A população, a seu modo, reage como enxerga o jogo… e ela nunca enxergou-se na ação política como protagonista”

          Perceba que o PT, ciente das regras do jogo político e disposto colocar de lado qualquer viés ético/moralista, tornou-se pragmático ao extremo e fez chegar aos desfavorecidos suas políticas de inclusão. E porque toda essa massa beneficiada não se rebelou contra essa novela enfadonha do mensalão/lava jato/deposição de Dilma? O povo é o elemento que desequilibra o jogo e não há como esperar que ele “enxergue” por si só. Políticos são comunicadores, existe uma ferramenta chamada internet e o PT no governo tinha o MEC… então concluo que o pragmatismo do PT foi falho ao extremo, pois todos os benefícios sociais promovidos poderão ser retirados agora sem que a massa beneficiada se dê conta e reaja (!!)

          Você postou informações relevantes, segredos de coxia, cuja difusão ampla é a única forma de fazer com que toda esta informação não seja inútil. A desinformação é a arma mais poderosa usada pelo consórcio que quer destruir não só o PT, mas qualquer projeto de esquerda nos próximos anos. Aí está a chave, o desafio maior para a sobrevivência/reinvenção da esquerda .

          Autocrítica não serve para reconhecer culpas, serve para corrigir rumos, porque os dados estão sempre rolando. É certo que vão detonar as conquistas sociais e o que o PT estará fazendo nesta ocasião?

          1. Os dados estão sempre rolando…

            Minha cara, me deculpe: Se há alguma intenção de criticar para corrigir rumos aqui, sinceramente, ficou tão bem escondida, mas tão bem escondida que quiçá o autor será capaz de achá-la.

            Sua concepção de que o pragmatismo petista se deslegitima porque há forças capazes de retirar o que foi ganho com ele não merece réplica, pois é só um questão de fé.

            Então Lincoln deveria ser crucificado porque seu pragmatismo aboliu a escravidão, mas os negros americanos conitnuaram pendurados em árvores.

            Uai, não tem mais ninguém para jogar dados?

            Onde estava a esquerda-Alice enquanto nos “sujávamos” sendo pragmáticos e conquistando direitos?

            Ahhhh, tocava na bandinha da nova udn…

             

            Vou repetir, colocar a culpa na Dilma e no PT, ou em Lula, é como criminalizar a vítima por ter sido estuprada.

        2. Deu preguiça.

          Minha vontade de rir, veio do fato de eu concordar com você, e pelo fato de ter vindo rapidamente destruindo as platitudes do texto com obviedades que sempre são ditas pela metade de acordo com a ocasião (não por você, mas por nossos catedráticos colunistas). Digo obviedades, pois de uma forma ou de outra os leitores já entraram em contato com estes argumentos, mesmo que fragmentadamente ao longo dos anos. 

          Não discordo nem mesmo dos argumentos utilizados no desenvolvimento de sua resposta verborrágica ao meu comentário factual. Só não reaja tão rápido, eu já havia votado favoravelmente no seu cometnário e pinçado a parte que para mim tinha sido a cereja do bolo. 

          Be cool.

          1. Des…desculpe 2

            Por estar em dúvida, a minha réplica não atacou frontalmente, mas de fato, às vezes é melhor perguntar antes…

            E nesse ambiente, às vezes os nervos traem a percepção…Um abraço…

  5. Star Wars

    Nassif: repetindo —

    “A ESQUEDA BRASILEIRA SÓ FICA JUNTA QUANDO VAI EM CANA”

    Isto, é lógico, quando se trata de “esquerda autêntica”. Aquela nominal (PPS, BSD, PSB, Freire, Goldman e Aluísio), que debandou  para o lado sombrio da Luz e trocou a convivência com o Povão pela cumplicidade com FHC, Cunha, Gilmar, grande midia e Dart-Veder/Temer, essa, com diz o Verdugu de Curitiba, “não vem ao caso”.

  6. a esquerda….

    A esquerda é uma força antagônica e realista em relação à outras forças de poder. Mas é uma força a cobrar. A realizar sempre é uma força de direita. As respostas das cobranças socialistas que varreram a Europa no começo do século passado foram dadas pelo plano de reconstrução deste continente, idealizado pelos norte americanos depois da Segunda Guerra. Bem estar social pacificou todo continente. Da mesma forma, as revoluções e exigências que minavam o estado de SP, no mesmo período, foram realizadas pelo governo de Getulio Vargas. A pacificação veio com a implantação de vários direitos civis e trabalhistas. Mas o poder, assim como na Europa, não ficou nem com forças, nem representantes socialistas. A Presidenta Dilma libertou a esquerda para poder elevar seu nível de exigências. Deste período de redemocratização se esgotaram. E os resultados da sua implantação não estão sendo colhidos por quem implantou. É exigido uma evolução. 

  7. É incrível como o PT, um

    É incrível como o PT, um partido composto por intelectuais, permitiu, por exemplo, que Lula e Dilma não vissem a importância fundamental de escolher BEM os ministros do STF. A fortuna permitiu a ambos que pudessem escolher uma quantidade grande dos 11 que compõe o STF [ acho que só 4 são escolhas de outros presidentes], mas não tiveram a virtú de escolher os melhores. Os 7 somados não vale um Gilmar Mendes, escolhe acertadíssima [ para os tucanos, claro, e não para o país] de FHC. Só para se ter uma ideia, Roosevelt não teria feita o new deal sem a ajuda dos juízes que pôde escolher para a Suprema Corte Americana. Ou então os intelectuais do partido até alertaram, mas ao estilo da tragédia Antígona, Lula e Dilma  agiram como o rei Creonte, que não deu ouvidos ao conselho de seu filho e do sábio Tirésias e até do amendrotado coro [ a voz do povo] e quando se deu conta, já era tarde de mais, o mal não poderia ser consertado, Antígona estava morta. Que a direita brasileira é sem escrúpulos, isso não me surpreende; mas que a esquerda agisse de modo tão equivocado, com decisões erradas no campo político e econômico somadas a decisões certas mas totalmente fora do tempo, isso me surpreendeu. E o marco zero disso foram as manifestações de 2013, em que o pt não soube atrair para si o descontentamento das ruas , e assim, quase que por gravidade, esse acabou no colo da direita, que estava esfacelada depois da derrota eleitoral acachapante das eleições de 2010e 2012. O poder dado a Dilma por 54 milhões de pessoas foi de mão beijada, sem um voto e nem um tiro das forças armadas, pro que há de mais reacionário não só da política mas no pensamento do país. Os fds dos militares, vendo isso lá no inferno em que tem que estar, devem morrer de inveja. O mais perfeito golpe foi dado e não teve que derramar uma gota de sangue e nem encher as cadeias. E se a corja que tomou o poder tiver um mínimo de competência, eles passam um parlamentarismo de araque que vai reeditar a nova republica, em que a elite escolhia o presidente e depois ‘fazia’ o povo retificar a decisão dela, dando um carimbo de democracia. Talvez estejamos no caminho de um PRI abaixo do Equador. 

  8. “Existem várias causas e

    “Existem várias causas e várias explicações para o fracasso e crise da esquerda”.

    E existem mesmo, só que o autor se esqueceu de mencionar no artigo. Em nenhum momento ele menciona o cerco econômico que todo e qualquer governo de esquerda enfrenta. Desde a Revolução bolchevique até o governo Dilma. Se esquece de mencionar o quanto de influência teve o cerco capitalista no fechamento dos regimes de esquerda, com todas as suas variantes. E em alguns casos o cerco foi com guerra mesmo destruindo a economia desses paises. 

    E se esquece também que a esquerda “vê o ser humano e o processo histórico”. O capitalismo não vê o ser humano, o transforma em máquina,  e impõe pela força o processo histórico. Basta o sociólogo olhar em volta e ver esse processo em construção no Brasil.

    As conquistas sociais não foram concedidas, foram conquistadas por essa mesma esquerda que o autor insiste em desqualificar. Então o ser humano, embora eu reconheça a sua imensa inclinação para o mal, tem redenção e só a esquerda, com o seu humanismo, pode valorizá-lo . Não fosse assim não teríamos civilização.

    Agora numa coisa a direita é superior a esquerda. Eu nunca vi um artigo de FHC, Bolivar Lamonier e sociólogos de direita reconhecendo erros nas ações deletérias que esse espectro político causou o país. De sociólogos à esquerda vejo artigos toda semana e alguns tem a qualidade de procurar “pelo em ovo”  culpando os governos de esquerda por conta de conspiradores corruptos e ditatorias, aliados a potencias estrangeiras, derrubarem governantes legitimamente eleitos.

    Quanto a jeremiada: “Os líderes autênticos, os líderes virtuosos, colocarão sempre a ênfase na advertência e apresentarão a promessa em termos condicionais.” Esse líder ideal se for de esquerda é ditador, se for de direita é um estadista. E viva os Kenedys, os Bushs, os Blairs e os Temers. E abaixo Lenin, Tito, Fidel, Lula e Dilma. Pelo menos é assim que a imprensa dominada pelos capitalistas, hoje denominado neoliberais, os classificam.

  9. advertência e promessa e um pouco mais

    Há lógica irrefutável na argumentação do Prof. Fornazieri e clara e inequívoca relação entre essa lógica e o comportamento das esquerdas em governos recentes no Brasil e na AL. Obviamente, isso não explica, por si, o fracasso  desses governos em manter o apoio da sociedade e consolidar seus projetos. Mas, sem dúvida é fator contribuitivo para que, em dado momento, a reação de seus opositores e a rejeição de seu público-alvo somem forças,o que termina ou isolando-os da sociedade que governam ou alijando-os do poder.

    Contudo, essa pode não ser a questão essencial que se nos apresenta. O conceito do que sejam esquerda e direita e os interesses que as aglutinam em blocos distintos precisam ser revistos. Há crescente dificuldade – ao menos no terreno da prática da Politica, nos programas e na representtividade partidária – para rotular, pelos moldes clássicos, governos como de esquerda ou direita. Vemos governos e partidos tidos como de esquerda assumirem valores e ações à direita e, embora, com menor frequencia e ênfase, à direita se verificam movimentos tidos como de esquerda. Além do mais, essa classficação, também, é relativa na medida que responde a questões do ethos politico de cada sociedade. Tal difusão dos pontos que dão identidade à ideologia política, traz, como efeito, dificuldade para as pessoas formarem a sua própria posição ideologica e, em consequencia, dificuldades maiores em como se posicionar perante determinado programa partidário, proposta ou ação política.

    Não seria isto um sintoma de que há uma grande distorção no sistema, a qual resultaria da total falência da política tradiciona e de como ora é vista e interpretada?

    Creio que isso se reduz à questão do poder real, quem o detém, como o exerce e de que forma. Abre-se a grande questão: a Politica enquanto meio, forma de representação e exercício dos interesses dos povos ainda existe? Teriam outras forças, assumido integralmente esse poder? A geo-política está sendo apagada? As divergências e mesmo os conflitos bélicos entre os povos são alinhados por conta dos interesses desses detentores do poder real,, submetendo governos e pessoas e direcionanando-os para seus própriios objetivos? Sendo o caso, esse poder supranacional tem uma estrutura concreta, organização hierarquica e planejamento centralizado? Ou seria difuso e suas ações se sincronizam e criam sinergia direcionadas por objetivos individuais coincidentes?

    Finalmente, estariámos, então,  presos em uma visão limitada da Política, baseada em paradigmas que não mais se aplicam, em teorias e modelos de análise tradicionais para tentar entender uma realidade que se estende muito mais além?

    Para onde estamos indo, por quem e por quê?

  10. Uma caricatura ‘escolástica’ do marxismo.

    Me parece que o resumo da história do post é: a esquerda deve abandonar o marxismo e o socialismo.Me pergunto adotar o que no lugar?, o neoliberalismo? o fundamentalismo religioso? o neofacismo? Na França, os que votavam na esquerda que abandonou o socialismo, hoje votam em grande parte na Frente Nacional de Le Pen. Fica a ‘advertencia realista’ ao professor…

    O marxismo do ‘professor’ no entanto é uma caricatura, e se for para abandonar a caricatura eu apoio. Mas infelizmente o professor não diferencia a obra de Marx da caricatura do marxismo  encontrável em manuais stalinistas e em textos da extrema direita aos quais faz eco com o post. Vamos por partes:

    1) utopia versus realismo.É espantoso que um professor de ciencia politica nunca tenha lido – ou se leu, esqueceu – o “Manifesto Comunista” em que Marx ataca e se diferencia do ‘socialismo utópico’. O socialismo utópico faz grandes ‘planos’ para a sociedade futura com base em um ‘ideal’. Marx pouquissimo escreveu sobre como seria uma possivel sociedade comunista. Marx escreveu “O Capital” e não “O Comunismo”, outro ‘esquecimento’ lamentável do professor. Em outras palavras,a obra de toda a vida de Marx, é sobre as contradições e possiibilidades (as promessas) não realizadas da sociedade presente. Marx era profundamente realista sem ser conformista.

    2) fim da história. Marx fala de começo da história, e não em fim, em uma possivel sociedade comunista . E se há história é porque há movimento e se há movimento é porque continuam existindo contradições – essa é a parte da dialética. Em outras palavras o comunismo (uso o termo aqui no sentido de MArx, nada a ver com o stalinismo!) não é céu nem paraiso, até porque Marx, sendo ateu, não acreditava em paraiso celestial nem terrestre. Marx apenas aponta  para a possibilidade do fim da divisão da sociedade em classes. Possibilidade, pois a luta ‘pode acabar em ruina das duas classes’, uma frase (uma advertência?) de Marx em “O Manifesto Comunista” .O professor talvez tenha confundido Marx com Adam Smith – para esse sim, na sociedade mercantil o homem encontra a sua natureza e a historia acaba.

    4) Natureza humana. O uso comum das palavras nos diz muito mais sobre o significado da ‘natureza humana’ do que conceitos escolásticos(um pouco de “pragmática’ professor…). Natureza significa o que temos em comum com todo os outros animais: comer, manter nossa sobrevivencia fisica individual e em grupo contra potenciais inimigos e intempéries naturais, e nos reproduzir como espércie,. Essa ‘natureza’ é insuperável e não há ‘reecontro’ com ela, pois perdê-la significa deixar de existir. A natureza não está no fim da história, está no começo.

    O que faz nossa ‘natureza’ ser ‘humana’ não pode ser apenas o que temos em comum com outros animais, senão a expressão não tem sentido, é uma abstração escolástica. E dizer que é parte da natureza o que não temos em comum como outros animais – o mercado, por exemplo – é uma falácia, um erro lógico. O que nos fáz ‘humanos’ é o elemento histórico e social, a forma como comemos (com pratos e talheres), nos defendemos (como armas e com palavras, inventando o Estado), nos reproduzimos (inseminação aritificial, pilula anticoncepcional, camisinha) e como produzimos coisas que não existem na ‘natureza’ de outros animais – inclusive teorias politicas. E teorias politicas  – bem como o uso de talheres, a inseminação artificial e a forma como nos organizamos em sociedade- são historicas, não são insuperáveis como a necessidade de comer.

    4) Leis de ferro da história.É a velha lenga lenga do suposto ‘determinismo’ de Marx e das ‘leis de ferro da história e do progresso’, compartilhado pelo professor com luminares do neoliberalismo como Karl Popper.

    A  história se move por leis, mas leis dialéticas – a parte do “Marx e Hegel” que o professor ‘esqueceu’. O progresso é algo contraditório, traz coisas melhores e outras tão ruim quanto ou piores do que antes. Basta pensar na internet – nem tudo que trouxe é bom, mas nem por isso não é um progresso objetivo

    E o progresso não é linear, podem haver regressões e ‘becos sem saida’ no meio do caminho.Nas leis dialéticas, o necessário é apenas uma possibilidade real. Em outros termos, a revolução é apenas uma possibildade detectável por uma análise da sociedade atual que seja realista e não utópica. E seu objetivo é bem definido: acabar com a exploração e não a utopia irrealizável de criar o paraiso na terra – isso é com a Biblia e não com Marx.

  11. Um adendo aos comentários

    oLendo os comentários, apesar da beocidade que me caracteriza e descrendencia, vi-me na obrigação de dar um bitaco.

    Obviamente não tenho por nome Boeotorum Brasiliensis ou por apelido Beócio, ao ponto que meu pai nâo era sádico o suficiente e minha amada mãe, nunca permitiria. Uso-os mais como auto-reprimenda e como uma constante lembrança de que somos, em suma, desinformados, ignorantes, preconcentuosos e, principalmente, arrogantes. Logo, o pseudômino tem mais como objetivo me manter dentro da minha insignificância do que esconder identidade, embora, também, desejável.

    Explico que participo destes debates em nome do prazer pela polêmica, pela dialética, enfim, pela contraposição de idéias, muito embora, isso tenha como pano de fundo compensar a frustração por não ter espaço em outros espaços onde nossa voz “trovejasse e fosse ouvida nas cidades e nos rincões” (citação de alguém, não lembro quem).

    Logo, entendo que todo e qualquer pensamento, ideologia ou crença possa e deva ser criticado, nunca o faço criticando o autor. Primeiro porque se discute e se debate conceitos e posicionamentos, não quem os apresenta. Desqualificar o interlocutor desqualifica o debate. Não sou defensor constituído pelo Prof. Fornazieri, mas penso que, ele ou qualquer pessoa que contribua com sua opinão ao debate, não mereça ser atacado como o foi em alguns dos comentários. Além do mais, quando queremos ou precisamos criticar alguém em termos pessoais, nunca o façamos escondidos atrás de um álias, usemos nome e sobrenome.

    Deixo um apelo aos que aqui comentam e outro aos que administram este espaço.

    Proponho colaborarmos para mantermos a cordialidade nos comentários e, principalmente, o respeito à civilidade no trato com as pessoas. Podemos fazer isso sem “apelar” e, inclusive, com ênfase na crítica, humor e ironia. “Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás” (CG, todos sabem).

    Vejo em outros sites democráticos – ao lado de grandes contribuições vindas tanto dos autores, quanto de quem os comenta – uma crescente “folhatização” nos comentários. A linguagem do ódio, do sectarismo e do preconceito tomando conta. Isso tem dois efeitos imediatos, afasta pessoas que se sentem constragidas ou ofendidas e reduz as idéais postas em debate. No conjunto resulta na desqualificação do conjunto da obra. Lembro-me de um termo muito usado há alguns anos, “democracia corintiana”, quando  se referia à confusão entre liberdade democrática e bagunça. Penso que um “código de ética”, a que todos os que aqui escrevem e comentam deveriam se submeter, não seria má idéia. Nada muito amplo, nem excessivamente normativo, apenas suficiente para orientar, sem doutrinar.

    Saudações beócias.

  12. Um platônico e maquiavélico professor de educação moral e cívica

    Os textos do “professor” Aldo não falham nunca…

    É sempre um fervor de moralismo carola e de idealismo pseudo científico. Surge agora com a tese, entre hilária e estapafúrdia, de que o suposto fracasso da esquerda se deve a “origem genética” de como essa mesma esquerda vê o ser o humano e o processo histórico! Pasmem! 

    Sincera e honestamente, não vou entrar em nenhumas “jeremiadas” e em outras parvoíces exaradas pelo douto “professor” de moralismo seletivo e de visão anti-histórica da humanidade. Mais importante que isso é rememorar algumas premissas básicas do desenvolvimento econômico da humanidade. Vejamos. 

    A burguesia é hoje a classe dominante no Planeta Terra. É desde sempre? Evidentemente que não. É, mais precisamente, a classe dominante desde o século XVII e XVIII. O modo de produção capitalista, e por conseguinte a burguesia, que maneja seus cordeis, foi um modelo que demorou séculos para se afirmar (pelo menos 700 anos de renhidas lutas contra o modo de produção feudal). 

    A burguesia foi uma classe altamente revolucionária em seu tempo, segundo reconhece o próprio Karl Marx. Os burgueses ficaram sob o jugo do clero, da nobreza e do modo de produção feudal durante séculos e mais séculos! Nenhum modo de produção supera outro sem que existam as condições materiais para tanto. 

    A burguesia teve que evoluir dos pequenos burgos intramuros, e de alianças várias com a nobreza e o clero, para acumular força ao longo do tempo até que conseguisse estabelecer a excelência do seu modo de produção – infinitamente mais produtivo que o modo de produção feudal. Isto não se fez sem inúmeras guerras civis, inssurreições, sublevações diversas, etc. 

    E mesmo um modo de produção, seja ele o modo de produção escravista, servil, feudal ou capitalista, nunca é hegemônico em sua totalidade. Um modo de produção dominante convive durante séculos com os resquícios do modo de produção que suplantou mediante a violência (uma classe social dominante nunca cai sem antes lutar ferozmente pela sua sobrevivência). 

    Todo este intróito serve apenas para desmistificar essa tese derrotista e anti-histórica que pretende proclamar, a plenos pulmões na ausência de plenitude cerebral, o fim ou o fracasso da esquerda. 

    Em termos históricos, se considerarmos a edição do Manifesto Comunista, em 1848, a luta da esquerda tem apenas 168 anos de existência. Óbvio que a luta contra o capital é anterior e que o marco de 1848 é uma referência pois foi aí que se deu caráter científico para a luta contra a burguesia. 

    Se considerarmos de outra forma, tendo como marco a primeira experiência de violenta ruptura com a burguesia, podemos citar a Comuna de Paris de 1871. Foi uma efêmera experiência assassinada num banho de sangue inesquecível e desprezível. Tendo este marco como ponto de partida, a luta pela superação do capitalismo teria então somente 145 anos. 

    É possível considerar outro ponto de inflexão na luta comunista/socialista e aí este ponto é sem dúvida a irrupção da Revolução Russa em 1917. Partindo desse pressuposto urge reconhecer que a luta pela emancipação do capital não tem sequer 100 anos de idade! 

    Vejam vocês que a burguesia, como foi demonstrado logo acima, lutou encarniçadamente contra o feudalismo durante mais de 700 anos. Foi acumulando forças e expandindo o seu modo de produção numa caminhada tortuosa e cheia de avanços, de recuos e de paralisias. Cheia de contradições e de alianças táticas com o clero e a nobreza. 

    Como o “professor” Aldo é capaz de bancar uma tese de “fracasso” da esquerda, sendo que a esquerda comunista, que bebe na fonte científica da compreensão histórica da luta de classes, tem apenas 99, 145 ou 168 anos de lutas?

    Ao contrário do que o professor de educação moral e cívica fantasiado, de nome Aldo, propugna, vejo que a luta da esquerda avançou e muito nos últimos 150 anos. Não a ponto da ruptura pois não surgiu ainda um modo de produção mais eficaz e capaz de suplantar o modo de produção capitalista na hegemonia por ele detida. 

    Ou o platônico professor Aldo desconhece que a previdência social, a jornada de 08 horas diárias, o trabalho das mulheres, o sufrágio universal e outros tantos institutos foram conquistados a ferro, fogo e sangue nos últimos 120 anos? Não foram dádivas de bons burgueses preocupados com a salubridade de seus autômatos e sim conquistas da luta socialista e comunista!

    O que existe hoje é uma luta pela superação do capitalismo enquanto modo de produção e da burguesia enquanto classe dominante. A luta de classes é esta. A meu juízo não é possível superar atualmente o modo de produção capitalista pois este ainda apresenta fôlego e capacidade de acumulação. 

    Isto não quer dizer que a luta da esquerda fracassou. Quer dizer, ao contrário disso, que as condições objetivas e subjetivas, e, portanto, materiais – da produção de mercadorias – não estão maduras para que se concretize uma ruptura com o modo de produção capitalismo e a sua substituição por um modo de produção superior.

    Não queira o maquiavélico professor Aldo repassar aos seus leitores uma visão anti-histórica da humanidade. A burguesia demorou 700 anos para se afirmar enquanto classe dominante e a superação do capitalismo não deve ser motivo de apreensões porque ainda não veio (sendo que a luta pela sua superação tem algo em torno de somente 150 anos). 

    Se o platônico e maquiavélico professor de educação moral e cívica da USP começasse a militar tendo como base o materialismo e a dialética, ao invés de defender teses moralistas, teríamos uma perspectiva menos sombria e equivocada dos processos históricos. 

    1. Então devemos crer que o

      Então devemos crer que o nazismo de acordo com o seu texto não deu certo porque ainda é imaturo, não é porque é imoral.

      O muro de Berlin caiu sabia se atualize.

      .

       

    2. A fruta já amadureceu. Tanto que caiu do galho.

      De seu discurso, o que vejo de novidade é a superação da retórica moralista anti-corrupção que o PT sempre brandiu até chegar ao poder. A esquerda de verdade nunca se submeteu a uma moral burguesa, e de fato sempre se considerou acima de qualquer moral, porque acredita não dever satisfação a ninguém. Típico da mentalidade totalitária.

      De resto, a repetição de certos esquematismos que até o século 19 faziam algum sentido, mas que hoje já estão mais desmentidos do que a crença de que o sol girava em torno da terra. Começando por este conceito de burguesia revolucionária. Foi uma invenção dos marxistas do século 19, que se referiam às revoluções do passado como “revoluções burguesas” a fim de criar uma dicotomia com as futuras “revoluções proletárias” que queriam ensejar. Mas a burguesia nunca foi revolucionária. Não eram gordos banqueiros nem impávidos comerciantes que ficavam atrás das barricadas na revolução francesa – só quem faz isso é quem não tem nada a perder. Desde o século 17 a nobreza e a burguesia vinham se fundindo em uma única classe sem se enfrentarem – a Inglaterra da Revolução Gloriosa é um bom exemplo deste processo. Burgueses compravam títulos de nobreza, e nobres tornavam-se negociantes, com frequência unindo-se por casamento. A impressão de que a burguesia havia chegado ao poder no bojo das revoluções da virada do século 18 para o 19 origina-se de um paradigma de ascenção social que foi rotulado de “burguês” – não era a burguesia que assaltava os palácios, eram os revolucionários que aburguesavam-se após ascender ao poder. Tal como duzentos anos depois os petistas aburguesaram-se ao chegar ao poder. Nada de novo sob o sol.

      E assim como não houve burgueses na vanguarda das revoluções burguesas, tampouco houve proletários na vanguarda das revoluções proletárias – os revolucionários socialistas eram todos intelectuais militantes que mais tarde converteram-se em burocratas com estilo de vida de todo enquadrável no paradigma burguês. E essa época já passou. A revolução não está no futuro, está no passado – é pura sandice achar que o capitalismo está superado neste momento em que mais de um bilhão de chineses estão entrando com toda a força no capitalismo, e o mesmo acontece com Cuba. Quem ainda espera a revolução está parado na plataforma da estação esperando por um trem que já passou.

    3. Proposta de autocrítica…

      Sua análise histórica não é invalidada pelo texto.

      Talvez Aldo até concorde, em alguma medida, com sua perspectiva. Que a mim parece brilhante.

      Ele apenas entende que deve haver uma autocrítica da esquerda e propõe um caminho.

      O fim da miséria e o pleno emprego produziram muitos avanços que perceberemos melhor no médio e longo prazo, mas dialeticamente produziu fanatismos de direita, individualismo entre parcela dos beneficiários, empoderamento de uma burguesia gestora coxinha que ocupou a PF, MPF e o Judiciário.

      Reconheçamos a tragédia.

      O trabalhador não é apenas um bom selvagem a ser libertado da opressão que o corrompe.

      Há mais caroço nesse angu.

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