A esquerda e o impeachment de Bolsonaro, por Luis Felipe Miguel

Defender a anulação das eleições de 2018 é a única maneira de defender a retomada da democracia e a retirada das tutelas vigentes sobre o exercício da soberania popular. Não se opõe ao impeachment de Bolsonaro, mas vai muito mais além.

A esquerda e o impeachment de Bolsonaro

por Luis Felipe Miguel

Nos últimos dias, Bolsonaro promoveu uma escalada em sua diarreia verbal. Foram agressões e ameaças a jornalistas e cientistas, defesas abertas da captura privada da coisa pública, manifestações de estupidez quase inimaginável, mentiras deslavadas e demonstrações brutais de desumanidade.

Os dois casos talvez mais chocantes – é difícil fazer uma escolha – mostraram, nos seus desdobramentos, um padrão de comportamento abjeto que é característico de Bolsonaro.

A fala racista contra os nordestinos foi captada sem que ele soubesse, mas ele se recusou a qualquer pedido de desculpas. Depois abordou indiretamente o tema com a lembrança hipócrita dos ancestrais de sua mulher.

A declaração agressiva sobre o pai do atual presidente da OAB novamente não levou a nenhuma retratação, mas ao vídeo em que improvisou uma explicação farsesca sobe o que estaria querendo dizer.

É difícil saber se o ex-capitão persegue alguma estratégia ou simplesmente está se sentindo mais solto. Seja como for, é grande o desconforto de seus aliados envergonhados, na elite política e na mídia. E voltou-se a falar de impeachment.

É uma ideia que parece ganhar trânsito entre parlamentares do Centrão, chefes militares e colunistas da imprensa conservadora.

Afinal, o crime de responsabilidade está caracterizado com clareza – ao contrário do que aconteceu no caso da presidente Dilma Rousseff, aliás. “Quebrar o decoro” é a atividade principal de Biroliro.

Há um debate aberto na esquerda sobre o que fazer com essa bandeira. Um impeachment significaria, na prática, entregar a presidência ao general Mourão: não, não há previsão constitucional de convocação de novas eleições, mesmo que o impedimento ocorra no início do mandato, já que as ações imputadas não envolvem o vice.

Mourão aprendeu a se conter quando fala. Deixou no passado suas declarações racistas, não perde tempo com a “guerra cultural” que anima Bolsonaro, parece surpreendentemente sensato e até amistoso.

Seria um presidente muito melhor: sobretudo para implantar a agenda de retração de direitos, paulada na classe trabalhadora e entreguismo, que é a dos apoiadores envergonhados do atual governo.

Isso não quer dizer que a retirada de Bolsonaro da presidência não faça qualquer diferença. Alguém que entende que não pode parecer racista, homofóbico, misógino ou apologeta da tortura em público é melhor que alguém que não entende isso.

Também não creio que tenha sentido pensar que é melhor deixar Bolsonaro “se desgastar” no cargo. Vamos aguentar mais quantos anos disso? Com qual custo?

E ele não está “se desgastando” ou, ao menos, não está só se desgastando: está consolidando uma vasta extrema-direita hidrófoba, capturando parte do Estado em favor de seus milicianos e aviltando ainda mais a convivência política no Brasil.

É difícil, portanto, ser contra a retirada de Bolsonaro da presidência.

Isso significa que o campo democrático e popular deve aderir à bandeira do impeachment? Também creio que não.

Nossa oposição à falta de compostura de Bolsonaro é una com nossa oposição ao desmonte do país e ao sacrifício do povo. Ficar a reboque da semi-oposição conservadora é aceitar uma hierarquia de prioridades que não é a nossa.

Há elementos mais do que suficientes para defender a anulação das eleições de 2018 – cuja legitimidade foi ferida de morte não só pelo golpe de 2016, mas também pela conspiração levada a cabo por Sérgio Moro e por integrantes do MPF para impedir que a vontade popular se manifestasse nas urnas. Lembrando, aliás, que as ações mais recentes do ex-juiz só podem ser interpretadas como uma confissão de culpa.

Defender a anulação das eleições de 2018 é a única maneira de defender a retomada da democracia e a retirada das tutelas vigentes sobre o exercício da soberania popular. Não se opõe ao impeachment de Bolsonaro, mas vai muito mais além.

Alguém pode dizer que não há clima político para uma campanha pela anulação das eleições. Mas se nós não colocarmos a bandeira na rua, nunca haverá.

A movimentação pelo impeachment de Bolsonaro, por parte dos conservadores constrangidos com a brutalidade de seu presidente, pode ser a oportunidade para lançar a defesa da anulação das eleições.

Luis Felipe Miguel

19 Comentários

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  1. A esquerda que não conseguiu defender o mandato de Dilma Rousseff, não evitou a prisão de Lula (nem consegue libertá-lo) e não elegeu Fernando Haddad. Mesmo assim, nos últimos dias tenho visto alguns “manos” de esquerda dizendo que deveríamos desistir do Impeachment de Bolsonaro. Seria melhor fazer uma revolução. Como? Sem controlar os meios de produção econômica, os instrumentos de repressão política e as ferramentas de construção do imaginário da população nenhuma revolução é possível. Desse jeito, esses nóias começarão a fazer arminha igualzinho o capitão amalucado.

    A direita aprendeu a dividir a esquerda. A esquerda precisa aprender a dividir a direita. Enfraquecer o inimigo é mais importante do que ficar tentando exterminá-lo quando isso não pode ser feito. Os “manos” de direita nunca cometem o erro de acreditar que a esquerda é um bloco monolítico. Os de esquerda precisam aprender a desconfiar de seus próprios desejos revolucionários ou a aprender as lições da história.

    Os jacobinos primeiro derrubaram o rei para só depois se voltar contra os girondinos. Os bolcheviques primeiro derrubaram o Czar para só depois expulsar os mencheviques da arena política.

    Mesmo numa revolução vitoriosa algumas etapas precisam ser ultrapassadas. A que se coloca diante de nós é derrubar o Bozo e diminuir a influência dos evangélicos na arena política. Simbora trabalhar nessa etapa, moçada.

  2. alguém dizendo ..NÃO há clima nem tempo pra se cancelar as eleições ..muito menos PODER pra se colocar o cancelamento das eleições como premissa ..afinal, que Instituição estaria a altura de tamanha propositura ?

    Já a retirada do BOZO escatológico ..com as OMISSAS ABI e OAB fazendo coro aos que estão com NOJO do que esta ocorrendo, é factível

    Desculpe, a ESQUERDA, com ou sem MOURÃO precisa ganhar no argumento, nas propostas, nos compromissos, e ser desapegada e MADURA o suficiente pra ter a certeza de que com BOZO o país perde DÉCADAS de praticas civilizatórias

    Que venha o Mourão ou R.Maia ..já que com um Congresso das bancadas dos 4 Bs (Bala, Bíblia, Bancos e Bois) pouco ou quase nada poderá ser feito pra deter a onda liberalizante (por enquanto)

  3. Impeachment, como CPI, eh golpe malandrissimo… DE DIREITA. Os unicos beneficiados estao SEMPRE aa direita.

    Minha experiencia com o que os governos se tornaram depois de 1980 se resume a isso: ate pra ter “boas” intencoes eles tem mas intencoes. Surpresa nao eh: boas intencoes sao sempre celulares, e nao acarretam um unico beneficio pra vitimas, no entanto, toda acao INSTITUCIONAL eh essencialmente diabolical. Literalmente.

    Quem ta falando em impeachment tem boas intencoes celulares SEM notar o quanto o sistema esta corrompido -e corrupto. A nivel institucional, a anulacao das eleicoes corrigiria erros tecnicos dos mais escabrosos da historia das instituicoes do Brasil.

    NAO esperem um “futuro melhor” com um impeachment: ele nao chegara jamais. Gostaria de estar falando SOMENTE do Brasil, por sinal. Mas a corrupcao das instituicoes eh global.

    A ultima vez que todas as instituicoes tomaram decisoes que nao eram diabolicas no planeta, alias, foi no governo de Lula, e isso… NO BRASIL! Isso sim, essa eh a grande surpresa que o Brasil ofereceu ao mundo nos ultimo 50 anos.

    Nao houve ninguem mais.

  4. “Há elementos mais do que suficientes para defender a anulação das eleições de 2018 – cuja legitimidade foi ferida de morte não só pelo golpe de 2016, mas também pela conspiração levada a cabo por Sérgio Moro e por integrantes do MPF para impedir que a vontade popular se manifestasse nas urnas. Lembrando, aliás, que as ações mais recentes do ex-juiz só podem ser interpretadas como uma confissão de culpa.”
    aRUMENTOCONVINCENTE – SAIRÍAMOS DA DEFENSIVA IINERME
    PARa UMA PROPOSTA DE RETOMADA DO PODERP ELO CAMPO
    progressista, TIPODIRERTAS-JÁ.
    É PRECISO CONSTRUIRT ESSAS IDEIA….

  5. A soberania popular foi exercida com a eleição do Coiso. Da mesma forma que ocorreu com a última eleição de Dilma – em que pese ambos terem sido estelionatos eleitorais, sendo a segunda que trouxe uma política econômica absurda com Levi, o breve e a primeira com o Bolso mesmo e sua diarreia… Mas o que não se deve fazer é vulgarizar o impedimento do eleito pois isso vai em detrimento do voto, por mais equivocado que seja. Querem trocar o Capiroto pelo que, se os progressistas não tem nem proposta nem lideranças alinhavadas. Uma coisa é saber o que não se quer e nem se deve; oposto a isso é a necessidade de se saber o que se propõe em lugar de…

  6. Por sinal: sobre a “dark psychic force” de Trump: Obama era o bonzinho que soltou mais bombas no mundo que qualquer presidente previo. Foi nisso que o premio Nobel da Paz foi terminar.

    Nao se iludam nem com a “bondade” de Obama nem com a “maldade” de Trump. E nem com a acusacao de dark psychic force. Nao lidem com energia cellular esparsa: AS INSTITUICOES ESTAO PODRES.

  7. “É difícil saber se o ex-capitão persegue alguma estratégia ou simplesmente está se sentindo mais solto.”

    Uma que, pessoalmente, esse Sr. Bolsonaro ascendeu ao poder fazendo exatamente o que continua fazendo, que é a única coisa que sabe fazer: sendo truculento, autoritário e nepotista. Não há uma pessoa que possa dizer que Bolsonaro, pessoalmente, está fazendo algo diferente do que fez a vida toda, todos, apoiadores ou não, sempre soubemos que essa é forma que esse cara faz as coisas.

    Agora creio que é importante para “defender a retomada da democracia e a retirada das tutelas vigentes sobre o exercício da soberania popular” entendermos as forças que mais do que mantêm Bolsonaro pessoalmente no poder. Nesse caminho um dos mais claros textos que tenho visto foi publicado ontem, por este GGN: https://jornalggn.com.br/politica/operacao-lava-jato-e-os-objetivos-dos-eua-para-america-latina-e-brasil/

    Enquanto não reconhecermos os EUA como inimigos, vai ser difícil recuperarmos a soberania popular. E me parece que o enfrentamento dessas forças no que é externo a nós é insensato: externamente eles são mais fortes que nós. Mas e internamente? Imagine que nenhuma propaganda que tente nos convencer, pessoalmente, de que os EUA não apenas são admiráveis como que não são nossos inimigo simplesmente caísse no vazio. Não é difícil anular os efeitos da propaganda quando temos consciência do que ela faz, dos métodos e recursos que usa, dos meios através dos quais chega a nós.

    Há um entrave: se efetivamente os EUA trabalham para sabotar nossa evolução como nação e, como consequência, nossa economia, há boas coisas feitas por aquele país. Nenhuma no sentido da não-sabotagem ao nosso país mas um monte de outras, a maioria delas no sentido de encantamento. As contas de vidro colorido oferecidas pelos portugueses são realmente bonitas. O entrave está, então, na opção entre abrirmos mão das belezas que nos prejudicam ou mantermo-nos encantados e prejudicados.

    “Alguém pode dizer que não” é tão fácil assim livramo-nos do que nos prejudica. “Mas se nós não” começarmos a nos conscientizar agora, nunca conseguiremos.

  8. Enfim, a luz.
    Até aqui estava dividido entre o prazer mórbido e masoquista de assistir Bolsonaro a desmilinguir-se – enquanto leva junto essa pseudo elite e os bolsodiotas que o completam – e a inevitável consciência de que o Brasil não suportaria mais 3 e meio anos de balbúrdia. Não vejo no impeachment uma saída boa. Em primeiro pela inevitável quebra do processo democrático. Rasgam-se mais de 50 milhões de votos, outra vez. Isso tem consequências e, como vimos, não são boas. Por outro lado, o impeachment significa a continuidade de um projeto de governo com o qual discordo em absoluto. Mourão é um troglodita. Está na moita, aguardando a vez e posando de democrata. Difere na forma, mas alinha-se em conteúdo com o radicalismo político e o neoliberalismo sevalgem de Bolsonaro. Seu passado, as manifestações que fez antes, durante e logo após a eleição o condenam.
    Tendo que está caracterizada uma série de ilegalidades na campanha eleitoral está dada a base legal e moral para uma ação judicial de anulação da eleição. Há notórias ilegalidades praticadas desde o caixa 2 que impulsionou redes sociais com robots e financiou uma estrutura de TI agindo em cover operations, passando pelo uso de laranjas quando fundos partidário usados de forma ilícita irrigaram a campanha do PSL e, no ápice da transgressão, a interferência do Judiciário, do MPF, da PF e do EB na eliminação da candidatura Lula. Interferências patentes como a notória declaração do General Villas Boas ameaçando o STF e as práticas de Sérgio Moro favorecendo Bolsonaro.
    Todo essa conjuntura, agora publicizada de maneira inequívoca com a Vaza Jato, de Glenn Greenwald e The Intercept, confirma a ilegitimidade da eleição presidencial e deste governo.
    Concluo ser, como única via possível de legitimidade a um próximo governo, indispensável a anulação da eleição presidencial e a convocação de uma nova eleição. É um caminho difícil e uma tarefa imensa de êxito duvidoso, mas vale a pena tentarmos.
    Estou dentro!

  9. FORA DE PAUTA
    ISSO É UMA DESPEDIDA
    Saudações a/os colegas de blogue, com quem tanto aprendi nesse tempo de troca de ideias, e por vezes, de farpas, rs. Aprendi mesmo, mais do que é possível agradecer em palavras, e já sinto a falta do ambiente de debate democrático e horizontal da melhor seção de comentários da mídia digital (blogosfera e redes sociais).
    O mundo anda um veneno só. Como os alimentos, dos quais não podemos prescindir mesmo cheios de veneno – agrotóxico e não pesticida -, a liberdade, autonomia e instantaneidade das redes sociais me obrigaram, entre outros motivos, a trocar blogues pelo veneno das redes sociais, no caso, o Twitter. Assim como os alimentos agrotoxificados que comemos por falta de opção ou de acesso às que existem, enquanto os gênios da informática não criarem formas orgânicas de comunicação, tentarei usar a força do adversário contra ele: roubam meus dados, é verdade, mas todo mundo nos rouba um pouco, até nós mesmos. E por enquanto servirá para que eu poste minhas opiniões sobre o que me interessa – o que, apesar dos prejuízos, tem sido uma forma de aprendizagem de que não pretendo abrir mão, por enquanto.
    Segue meu perfil da rede social Twitter, para quem quiser manter contato:
    Cristiane N. Vieira – @RehemNascimento

    Tenho um canal sem fins lucrativos no youtube onde tenho playlists e vídeos que legendei, principalmente relacionados à revolução ecológica que é minha pauta de estimação, rs.
    Canal no youtube – https://www.youtube.com/channel/UC2TVB3qbEkguWwvcB9CkmHg

    Fico devendo o vídeo legendado do Harrison Ford que prometi aqui mas em breve estará no canal.

    Como despedida, um po(br)ema (tanto o problema com a pronúncia popular quanto um poema pobre, rs) sobre estes tempos e sobre esta despedida.

    https://medium.com/@christyyclaire/da-arte-de-furtar-se-5157c3d8be73

    Obrigada a todos que me deram o prêmio de sua atenção e de sua crítica, cedo ou tarde aprendemos que tudo pode ser aproveitado.
    Obrigada ao blogue GGN pelo espaço, gratuito, para expor minhas opiniões e conhecer tantas pessoas interessantes, entre articulistas e comentaristas. Serei grata apesar de tudo.
    Desculpem pelos incômodos, que devem ter sido muitos; a intenção foi sempre a melhor possível.

    Sampa/SP, 31/07/2019 – 12:42

    1. JAMAIS coloque um video no seu canal sem postar link no FdP e Mm aqui. E various outros blogs te aceitariam (e seus links) com todo prazer tambem.

      Nao tenho Twitter e so sigo links ocasionalmente la, mas ele (aviso importante) eh pra quem consegue entender 3 ou 4 sentences sem jamais captar a essencia de qualquer assunto –vide Trump e Bolsonaro. Voce vai estar muito mal servida la… eh um aviso e nao um desejo.

      Um abraco e boa sorte com o canal do YouTube, Cristiane!!!

      1. Obrigada, rs.
        1 – Sobre o twitter: pensei no que você disse sobre o Trump e outros polemistas baratos; se o Trump domina o negócio é mau sinal. Comecei no domingo e minha impressão até agora é que a rede parece ter dupla função: uma vitrine para RP (relações públicas sem intermediários) de pessoas conhecidas e suas bolhas (geralmente os mais velhos e ‘profissionais’ da vida pública – política, social ou cultural), onde os seguidores são apenas manada que não recebe atenção; e para pessoas que têm sua própria turma (geralmente jovens) usarem como um orkut moderno. E eu não me encaixo em nenhuma delas, rs. Já está perdendo a graça porque NÃO HÁ DEBATE – o que mais se aproxima é bate-boca. Ou seja, a rede é uma plataforma de RP para “adultos” e playground para “adolescentes” de qq idade fingirem que são adultos… e fazerem em público suas conversas de recreio, todo mundo lacrando, a seu modo… Definitivamente, não é meu perfil. Até tentei uma frases curtas, rs, mas sem debate é melhor conversar com o espelho ou voltar a assistir séries no streaming.

        2 – Sobre o canal do youtube, é o que eu já usava; e só passei a postar vídeos, sempre de terceiro/as, para ter como anexar o link em comentários. Nisso não há novidade, não vou virar youtuber, rs. Apenas informei sobre o canal para quem ainda não conhece, se tiver interesse, ter onde procurar, já que não farei mais comentários no GGN.
        Finalmente, muito grata, de verdade, pela gentileza de suas palavras. Espero estar, algum dia, à altura dos elogios.
        Tenho interesse em ter um blogue para postar meus comentários e falar de revolução ecológica – ei, a ecochata… -, mas sem nenhuma pretensão jornalística – conheço meus limites, acho -, apenas para ter onde centralizar minhas inquietações e ter um espaço para debate e troca de ideias. Tentei isso no twitter mas já vi que não é ambiente pra mim. Então, até o blogue, se um dia ele sair do projeto – há alguns sérios empecilhos para que ele nasça agora.
        Siga firme no debate porque um dia as esquerdas ouvirão o povo e os comentaristas de blogues que fazem o controle externo do jornalismo e deveriam ser melhor considerados.
        Valeu pela força.
        P.S. Só respondi agora porque estava andando- vida de desempregado/a é isso aí – pela cidade de São Paulo, batendo boca com bolsominions no ônibus (você acredita que um cara com uniforme dos Correios teve a coragem de repetir a infâmia de que Lula deveria ser alvejado e a família pagar a bala? – e isso depois de choramingar ‘que a situação tá difícil, os preços do mercado só sobem, o salário tá baixo’… mas bastou um otário vir com essas fakes de whats sobre o desemprego ter sido pior nos anos de Lula, e eu tê-lo interpelado, que o amarelinho rasgou a fantasia de “trabalhador consciente” em antipetista fascistóide. FDP fascista! Aí meu sangue subiu (ele não é de barata!) e fiz um “teatro do oprimido” no busão, rs – até perdi meu fone de ouvido, @#$%&*; aviso às esquerdas: quando vocês mobilizam a consciência das pessoas sobre os “argumentos” dos fascistas e da extrema-direita, o povo parece que, pelo menos, ouve e faz de cara de que está pensando, circunspecto… Depois, segurança da CPTM folgado na chegada tarde em casa… Vida de periférico/a metido/a a socialista tem desses perrengues, rs. Digo isso para agradecer pelo seu comentário, que faz respirar fundo e pensar que lutar ainda vale a pena porque não estamos sozinhos na labuta. São Paulo é um soco na cara (os fascistas soltinhos e chamando pra briga) e outro no estômago (a revolta que está “nos olhos de quem vê o grande monstro [o desalento, a miséria dos que não tem ninguém pra brigar por eles – todos nós, no fundo -, e a normalização da barbárie] se criar” (Paralamas do Sucesso). Tá osso e cada vez mais duro de roer e de aceitar. Tenho pensando muito na alienação útil de que falou Norbert Elias, que preciso ler para entender e ver se vale a pena, porque o desgaste é brutal, literalmente. Desculpe pelo desabafo mas acho que é consequência do que estamos vivendo, a interdição dos mal-estares, da verbalização do que incomoda, do debate mesmo da vida real, uma sensação de impasse para o sufoco e de que tudo aqui, inaceitavelmente, sofre uma rápida adaptação e normalização, é só do que é pior – ninguém se adapta a pobre ter direitos e melhorar de vida, a oprimidos se levantarem e se defenderem, a respeitar a Natureza que já dá sinais de esgotamento, mas ninguém se incomoda que bancos lucrem, cada um, 2 bilhões por mês, enquanto o país morre – quanto valerá a carcaça do Brasil? O país que se discute nos blogues, as angústias, as tragédias, parecem não existir para a/o cidadão comum! É quase a existência de mundos paralelos, o país não está na boca do povo! E quando está, os bárbaros intimidam o resto que olha de lado e faz de conta que não é com ele. Insuportável. Parece que a alienação consciente de si – do Elias – é a saída pra não partir para uma guerra civil. Uma manada seguindo orgulhosa para o matadouro? E as esquerdas com isso? Cada um vendendo seu peixe e fazendo sua biografia? Quem realmente se importa com esse país, se é que ele existe ainda? Qual o limite para a autopreservação diante do que não podemos mudar sozinhos e quando vira conivência e comodismo? É difícil acompanhar a panela ferver sabendo quem o cozido está sendo você. Desculpe de novo, é que como falei em outro comentário há alguns dias em artigo do dono do blogue, para alguns a vida ainda reserva a espuma do milk shake, mas para quem está na ponta do iceberg que derrete, ou do liquidificador na velocidade máxima, sobra apenas o tranco, e ele é corrosivo das melhores intenções e esperanças.

        Sampa/SP, 01/08/2019 – 01:04

  10. Anulação de eleições e impeachment são dois processos bem distintos. E cada um com seus complicadores particulares.
    A anulação das eleições seria um processo político ou jurídico? Se for um processo jurídico, como seria? Seria de modo amplo, para todas as instâncias de poder ou apenas para o executivo federal? Se for um processo político, quais as forças políticas que estariam nesta empreitada? Estas forças políticas teriam energia para colocar o povo na rua e exigir eleições?
    Reconheço que o Bozo é um troço ruim de aguentar. Ainda mais por quatro anos. Ele fala um rol de bobagens, mas, desculpem, para isso a um impeachment… Bom, tem ainda o Congresso, o Mourão, que teríamos que amargar. Sobre eleições gerais, a oposição não tem gás suficiente, acho. Claro, há esperanças, mas seria necessário um pacto republicano e civilizatório até mesmo com setores da direita. A fala do Janine Ribeiro, recentemente, aponta pra isso; mas haverá essa possibilidade?
    Até que ponto se sabe qual o sentido de tamanha boçalidade vinda de um cara só? Enquanto ele age de modo boçal, esconde o principal, ser um governo que não resolve problemas reais e as suas “soluções” só tendem a piorar a situação.
    Sobre as declarações recentes sobre a ditadura e os desaparecimentos forçados, que seja chamado às falas e (desculpem-me) queixar-se em tom de “que vergonha, presidente blablabla” só alimenta o monstro. Falar da dor das famílias para essa gente parecida com o Bozo é música, só alimenta o sadismo dessa gente.
    Na oposição não tem gente tola. Então, não aja como se fosse.

    1. “A anulação das eleições seria um processo político ou jurídico?”:
      Juridico, com a porra de “judiciario” brasileiro.

      “Se for um processo jurídico, como seria?”
      Corrupto como o judiciario brasileiro.

      “Seria de modo amplo, para todas as instâncias de poder ou apenas para o executivo federal?”
      Traduzir em portugues.

      “Se for um processo político, quais as forças políticas que estariam nesta empreitada?”
      Nao eh.

      “Estas forças políticas teriam energia para colocar o povo na rua e exigir eleições?”
      Nao. Se a putada do judiciario tivesse feito o que eh REGIAMENTE paga pra fazer o Brasil nao estaria onde esta. A verdade eh que essa putada judicialha canalha tem mais poder que todo o congresso. Isso eh, a putalha faz a propria politica… e insider trading na surdina, quando a remuneracao eh maior que o risco.

  11. SÓ QUANDO DESLIGAREM OS HOLOFOTES APÓS A SEGUNDA VOTAÇÃO DA PREVIDÊNCIA E O DEVIDO REGISTRO DE QUEM É QUEM NISTO TD,AÍ CONVERSAREMOS(EU) SOBRE A JUSTA E PRA ONTEM ANULAÇÃO DAS ELEIÇÕES,AGORA SE TODOS OS BLOGS DE ESQUERDA FICAREM INSISTINDO EM IMPEACHMENT NUNCA MAIS VOU LER NENHUM,NÃO SOU TROUXA,SEI Q É DIVERSIONISMO E QUEM INSISTIR NISSO TÁ SENDO MAL INTENCIONADO,A SOLUÇÃO NÃO É MAIS INSTITUCIONAL E SIM POR PRESSÃO DAS RUAS SEM CAIR EM PROVOCAÇÕES (fazer manifestação pq aconteceu tal coisa provocada artificialmente pela direita e por isso não pode ficar sem resposta da esquerda isso é cair q nem patinho)JÁ DISSE ISSO AQUI, A ESQUERDA PRECISA SE FECHAR EM SI MESMA E SE ORGANIZAR E PLANEJAR O FUTURO DELA PRÓPRIA,A DIREITA TEM MAIORIA E VAI APROVAR TUDO Q QUEIRAM,AÍ OS TROUXAS AQUI VÃO FICAR DISCUTINDO BOÇALIDADES Q NÃO VÃO CHEGAR A LUGAR NENHUM,ORA,ORA A ESQUERDA ESTÁ SENDO COMIDA POR DENTRO !!

  12. que esquerda o quê? não existe isso.. ‘a esquerda’ se resume a gente ligada a sindicatos, alguns intelectuais e um outro ‘esclarecido’ da classe média média e classe média baixa. Não sei como aconteceram aquelas polarizações nas eleições presidenciais, mas sei q elas iludem muita gente a pensar q há uma esquerda de fato. Mas não tem. Houvesse a dita cuja Moro não faria o q fez e as ruas estariam cheias de protestos. No entanto…

  13. Conta simples:
    Anular eleições: apoio só da esquerda. E sem chance do TSE e STF anularem (ou anulam lá em 2023, depois do fim do mandato). Então probabilidade zero.
    Impeachment: apoio da esquerda, do centrão, da direita orfã de FHC (parte do PSDB+DEM), das FFAA (troca um mau capitão por general), do STF, do mercado (que prefere o Mourão) e da Globo. Probabilidade: altíssima.

    Ganhos da esquerda:
    – oposição mais forte, governo mais fraco;
    – mobilização popular com disputa da agenda política;
    – revitaliza a luta dos movimentos sociais e recupera protagonismo ao defender causas populares;
    – visibilidade das propostas e das lideranças de oposição existentes, surgimento de novas lideranças;
    – retomada do debate sobre o pobre no orçamento e projeto nacional obscurecido na campanha de 2018;
    – Com Mourão a oposição consegue mostrar ao povo as medidas de governo que ferram o cidadão, em vez da cortina de fumaça diversionista do Bozo;
    – Mourão faz menos estragos na política externa, deixando um legado um pouco menos danoso;
    – Será o 3o. governo seguido de direita a ferrar o povo. Em 2022 não dá para dizer que o problema foi de um imbecil de direita no governo, e não as políticas neoliberais em si.

  14. Concordo que essa pauta é melhor. De fato, não é factível, mas o impeachment é pior por ser mais factível. Não seria se fosse possível impulsionarmos o impeachment a partir de nossas próprias forças, mas sabendo que caso ele venha a ocorrer será mais por disputas internas à direita, pegar carona em brigas que não são nossas é perigoso, ilusório e contraproducente. De fato, neste momento o que temos pra fazer é comer feijão, investir em esclarecimento e formação. Pra isso, as pautas precisam ser coerentes, não necessariamente factíveis.

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