Francisco Celso Calmon
Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral - E o PT com isso?; Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula.
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A esquerda precisa ganhar as eleições de 2020, mas não basta, por Francisco Celso Calmon

A luta contra o nazifascismo do governo bolsonarista pode ser a bandeira unificadora da esquerda e dos democratas em geral.

A esquerda precisa ganhar as eleições de 2020, mas não basta

por Francisco Celso Calmon

Resgatar a democracia para um salto de qualidade, para uma democracia revolucionária, ou seja: aquela que impulsiona e garante a soberania popular como protagonista do destino do país, capaz, pois, de revolucionar as estruturas que geram exploração e tirania à maioria esmagadora de um povo.

O governo bolsonarista está em declínio e este fenômeno deve influir nas eleições, como a história já demonstrou em ocasiões passadas.

A campanha eleitoral deve visar conquistar o máximo de prefeituras e vereadores, mas deve, sobretudo, promover a organização e conscientização do povo para derrotar o bolsonarismo nazifascista.   

As eleições municipais deste ano serão tão ou mais vitoriosas se, para além do quantitativo de mandatos, a esquerda construir trincheiras (comitês democráticos contra o nazifascismo) na guerra contra o bolsonarismo. Comitês que continuarão a refrega sem trégua contra o Estado policial, de ideologia totalitária, racista e subserviente aos EUA e ao mercado financeiro.

Quanto mais polarizada forem estas eleições, maior será a contribuição para resgatar a democracia combalida e a soberania súdita, vassala. 

Por mais que Bolsonaro e seus biltres pareçam histriônicos (e são), eles professam o nazifascismo como ideologia. Bolsonaro tem o DNA nazista e declarou em entrevista que se fosse alemão teria se alistado no exército de Hitler.

O bolsonarismo vira e mexe se entrega como um governo protonazifascista, entretanto, os principais líderes da esquerda reagem e exploram politicamente muito pouco e mal. 

Em qualidade, o exterior reagiu melhor do que no Brasil às declarações do exonerado secretário da cultura. É espantoso, mas no exterior estão enxergando o óbvio mais lucidamente do que nós.

Acho que isso ocorre pelo viés estreito do corredor eleitoral. Não enxergam pelas lentes amplas da luta de classes. 

Além de visar conquistar mandatos é essencial denunciar o sistema.  Como postou um camarada no meu grupo virtual Resistência Carbonária: “Houve uma época em que a esquerda usava da eleição pra denunciar o sistema! Hoje é pra fazer bancada, no sistema!” 

A luta contra o nazifascismo do governo bolsonarista pode ser a bandeira unificadora da esquerda e dos democratas em geral.

Se as lideranças não enxergarem essa possibilidade, será pelas bitolas do leito eleitoral.

Na ditadura militar também houve exonerações e nem por isso deixou de ser uma ditadura sanguinária. 

Valorizar a polarização nesta conjuntura e fazer o que a esquerda abdicou desde a queda do muro de Berlim e da globalização econômica, que foi a de não travar a luta ideológica. A luta pelos valores da igualdade de oportunidades, pela solidariedade, pela soberania nacional e popular, pela justa distribuição de rendas, por saúde e educação de qualidade para todo o povo brasileiro, pelo fim do analfabetismo basal e funcional, pelo respeito aos direitos humanos, pelo fim das policias militarizadas, pela coexistências pacificas entre os diferentes, pela dialógica com meio de convencimento, em resumo: pela concretização do artigo terceiro Da Carta Magna.

As forças democráticas e anticapitalistas devem travar a disputa de valores da civilização no campo político-cultural. Formação e disputa pelo poder devem andar juntas; havendo divórcio o resultado é o peleguismo da conciliação de classes e do populismo.

Assim como o nazismo desmudou a luta de classes em luta de preconceitos satanizados, estigmatizados em judeus, comunistas, ciganos, homossexuais, o bolsonarismo procura eleger o petismo, os indígenas, os artistas, os jornalistas, os lgbts …, como os causadores dos males do capitalismo nesta conjuntura.  Tática velha mas capaz de seduzir incautos.

A socialdemocracia alemã em vez de enfrentar o nazismo crescente, optou por esperar as eleições, o resultado conhecemos: uma guerra de extermínio e devastação do mundo. 

Depositar as esperanças numa eleição é um risco abissal, pois, se a vitória não for alcançada, estará a narrativa da mídia radicando o bolsonarismo, se vitoriosa for, irá indicar que o caminho da vitória total será a próxima eleição, o que é não é garantia em se tratando da cadela do fascismo.

O nazifascismo é a tentativa de perpetuar a vigência do capitalismo usando o totalitarismo de medidas bestiais e anormais.

Inteligência não é não cometer erros, mas saber resolvê-los rapidamente. —  Bertolt Brecht.

O modelo passado não voltará, a história não caminha como caranguejo. E a melhor maneira de examinar (critica/autocrítica) é construir uma rede basilar de organização da sociedade brasileira, apontando para um projeto de nação não capitalista. Uma nação democraticamente socialista. Serão as forças vivas dos trabalhadores e estudantes os artífices dessa nação do futuro. Não pode haver mais a ilusão de contar com uma burguesia nacional democrática que não existe. José de Alencar era uma exceção! E não se constrói estratégia baseado em exceções.

Os fascistas podem temer um líder da oposição, mas isso não será capaz de detê-los. Pois, são capazes de eliminá-lo. Mas a massa de militantes, trabalhadores e estudantes, os fascistas são incapazes de detê-los. A repressão violenta ao mesmo tempo que embarreira circunstancialmente, atiça a correnteza a vir com mais força.

 A estratégia para enfrentar o Estado policial bolsonarista, mantido por milícias, militares e togas deformadas, é primeiramente fazer o reconhecimento das características do inimigo, e, segundo, fazer o enfrentamento no campo das ideias e no confronto direto.

A polarização real é uma oportunidade histórica para transformar ‘consumidores em cidadãos’; não é uma contenda esportiva. Não se senta na arquibancada da história para torcer, e, sim, participar, entrando em campo como lutadores de classe, como protagonistas do vir-a-ser de uma nova ordem democrática.

Francisco Celso Calmon é administrador, advogado, coordenador do Fórum Memória, Verdade e Justiça do ES; autor do livro Combates pela Democracia (2012) e autor de artigos nos livros A Resistência ao Golpe de 2016 (2016) e Comentários a uma Sentença Anunciada: O Processo Lula (2017).

2 Comentários

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  1. Excelentes reflexões, caro Francisco Calmon! Na capital do Rio Grande do Sul, onde acontece o Fórum das Resistências, começamos um processo importante! O coletivo Esquerda Unida em POA (gaúchos interessados: reunião dia 22 às 18 e 30 no Bar Ocidente…temos grupo no Facebook, já passando de mil integrantes) apresenta exatamente este perfil sugerido pelo articulista. Há que convencer as pessoas da necessidade de se unir para além das frentes eleitorais. É difícil? Há ranços? Há divergências sérias quanto a concepções e métodos? Evidente, mas são problemas que precisamos enfrentar. E por esta razão, existe o objetivo de continuarmos articulados, independentemente do cenário que pode se configurar no extremo sul do Brasil quanto ao pleito nos municípios. Movimentos sociais + Entidades de trabalhadores + Lutadorxs por diferentes causas civilizatórias + Coletivos de cidadãs e cidadãos progressistas + Quadros de alto nível organizados nos partidos de esquerda = Preparação e realização de um novo projeto para o país. Esta é a equação! Os agentes da extrema direita trabalham intensamente para consolidar e agregar sua base de massas. Vamos desanimar diante disso? Nem pensar! Além de explicar onde e quando for possível por que o bolsonarismo governando é uma catástrofe para a nação, devemos afirmar uma visão consistente, um caminho alternativo que o povo em geral compreenda, sem ficarmos reféns da liderança A ou B. Os que comandam o mercado se unificaram em torno de ideias-força que aprofundam o abismo social e desmontam a soberania do Estado. Se realmente acreditamos que vale a pena lutar pelos nossos valores, em 2020, podemos começar a “virar o jogo”! Quem sabe, já tenhamos iniciado isso em 2019!

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