Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
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A estratégia da imunidade coletiva contra o coronavírus, por Andre Motta Araujo

Muitas decisões sobre confinamento são racionais para evitar contágio, outras não são e outras, pior ainda, podem aumentar os riscos de contágio a pretexto de diminui-lo.

A estratégia da imunidade coletiva contra o coronavírus

por Andre Motta Araujo

Há duas escolas de enfrentamento da epidemia de Coronavírus, a do confinamento, que pode levar o mundo à sua pior crise econômica na História do Capitalismo, e a da IMUNIDADE COLETIVA, que é o oposto do confinamento. São duas visões, cada uma com sua lógica e seus riscos.

A estratégia do confinamento parece mais segura, mas seus custos são incalculáveis porque não se pode calcular o FATOR TEMPO, vai se confinar por semanas ou meses e quantos? A estratégia de “imunidade coletiva” é mais radical, mas não se pode calcular o FATOR LETALIDADE.

Cálculos que envolvem vidas humanas em estratégias de ação são mais complexos do que cálculos econômicos, estão no campo mais da física e da probabilística, envolvem conceitos sofisticados de avaliação e projeção de números que estão além do campo da medicina e da economia.

Na Segunda Guerra, existiam equipes que calculavam os efeitos dos bombardeios em massa sobre cidades alemãs que envolviam efeitos em mortalidade de civis, eram cálculos no campo da física. No pós guerra, o Governo dos EUA encomendou ao economista John Kenneth Galbraith um estudo sobre qual tinha sido o verdadeiro efeito dos bombardeios sobre a Alemanha para determinar a derrota do Terceiro Reich, estudo esse que ficou famoso.

Por esse estudo conclui-se que os bombardeios tiveram muito menor efeito na derrota da Alemanha do que imaginava. Foram causadas mortes de centenas de milhares de civis, só em Hamburgo numa única operação foram 73 mil, em Dresden 230 mil, sem que isso afetasse a produção bélica alemã, que estava espalhada fora das cidades. Em 1944, a Alemanha produziu mais aviões e artilharia do que em 1940, a Alemanha foi derrotada por exércitos de terra e nas duas frentes e não pelo massacre de civis em bombardeios que também custaram a vida de milhares de pilotos americanos e britânicos.

Estamos em meio a uma crise global que requer esse tipo de estudo de probabilística para que não se tomem caminhos errados ou cujo custo seja tão alto que ao final o remédio causa maior dano do que a doença. Uma crise econômica profunda pode também causar doenças de outra natureza e também tão mortais como o Coronavírus. É preciso cabeça fria, sem emocionalismos para com o uso da inteligência no seu sentido mais amplo se calcular e ponderar caminhos menos custosos para enfrentar essa mega crise do Século 21, nunca há um só caminho na guerra ou na crise sanitária.

Muitas decisões sobre confinamento são racionais para evitar contágio, outras não são e outras, pior ainda, podem aumentar os riscos de contágio a pretexto de diminui-lo. É preciso um Grupo de Análise de Riscos para avaliar decisões tão cruciais para a vida e a economia da população.

A disseminação de informação está sendo feita por atacado, com pouco filtro e do outro lado os que recebem as informações interpretam cada um a seu modo, aumentando a confusão que é decorrência natural de uma crise nova e imprevista, o que de imediato causa problemas visíveis, apenas dois exemplos simples:

  1. USO DE MÁSCARAS PARA EVITAR CONTÁGIO- A máscara usada de forma permanente não evita contágio em pessoas sãs que estão usando a máscara, mas é possível ver muitas pessoas sem nenhum sinal de doença usando máscaras pensando em não pegar a doença por causa dela. Esse uso inadequado retira do mercado máscaras que deveriam servir a QUEM REALMENTE PRECISA, especialmente os contaminados e o pessoal da saúde.

2.IDAS DESNECESSÁRIAS A HOSPITAIS E AMBULATÓRIOS – Pessoas sem febre e sem dificuldades de respiração, ao primeiro sinal de resfriado correm, por angústia, a centros de saúde para exame, OCUPANDO ESPAÇO DE CASOS REAIS e correndo muito maior risco de contágio no ambiente hospitalar.

Como nas guerras, o clima de crise sanitária é propício à DISSEMINAÇÃO DE BOATOS E FALSAS INFORMAÇÕES que vão perturbar as reais providências de combate ao vírus. Há grande confusão de recomendações de autoridades diversas e com isso é prejudicada a economia e o próprio combate ao vírus.

A AVALIAÇÃO DE ESTRATÉGIAS E DE MEDIDAS DEVEM SER PERMANENTES, COM CÁLCULO DE RISCOS E REVISÃO PERIÓDICA DE EFICÁCIA.

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

17 Comentários

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  1. Tudo muito bom, tudo muito bem.
    Mas este (des)governo que está aí tem esta capacidade de avaliação e tomada de decisão?
    Obviamente que não!
    Então estamos irremediavelmente perdidos…

  2. Ao propor a exposição da comunidade ao risco a fim de não perturbar o mercado, o André Araújo acaba, ainda que inconscientemente, dando a entender que o homem vive em função do mercado e não que o mercado existe em função do homem.

    A imunidade de rebanho já foi descartada pelo governo inglês quando um estudo de uma instituição de ensino superior demonstrou que os riscos humanos e, portanto, econômicos da infecção controlada de parte da população para se imunizar a outra parte, são piores do que o confinamento.

    O confinamento para quem pensa primeiro na vida e só depois no patrimônio, é a solução menos ruim.

    1. Caro Rui. Sem querer defender o autor do texto, pois acho que ele mesmo o fará em breve, mas no texto já tem isso meio explicado:
      “Uma crise econômica profunda pode também causar doenças de outra natureza e também tão mortais como o Coronavírus” .

      E mais, você falou: “não perturbar o mercado”. Acho que o autor do texto está se referindo a bem mais do que uma simples “perturbação”.

    2. De modo algum me refiro a proteger o mercado e sim ao ganha pão de 40 milhões de informais que
      serão os primeiros a sofrer a paralisação das ruas, dos eventos, dos botecos, dos ubers.

  3. Caro André, você se dignaria a fazer uma leitura dum trecho do Fragmento das Máquinas, de Marx?

    O impacto negativo do confinamento sobre a economia pode ser minimizado. Tudo depende de vontade política, tanto do estado, como da sociedade civil e do mercado.

    Transcrevo um trecho do Fragmento das Máquinas:

    “(…)
    Ora, à medida que se desenvolve a grande indústria, A CRIAÇÃO DE RIQUEZAS DEPENDE CADA VEZ MENOS DO TEMPO DE TRABALHO E DA QUANTIDADE DE TRABALHO UTILIZADA, e cada vez mais do poder dos agentes mecânicos postos em movimento durante a duração do trabalho. A enorme eficiência destes agentes, por sua vez, não tem qualquer relação com o tempo de trabalho imediato que custa a sua produção. Depende, antes, do nível geral da ciência e do progresso da tecnologia, ou da aplicação dessa ciência à produção. (O desenvolvimento das ciências – entre as quais as da natureza, bem como todas as outras – é, certamente, função do desenvolvimento da produção material). A agricultura, por exemplo, torna-se uma simples aplicação da ciência do metabolismo material e o modo mais vantajoso da sua regulação para o conjunto do corpo social. A riqueza social manifesta-se mais – e isto revela-o a grande indústria – na enorme desproporção entre o tempo de trabalho utilizado e o seu produto, assim como na desproporção qualitativa entre o trabalho, reduzido a uma pura abstracção, e o poder do processo de produção que ele controla. O TRABALHO JÁ NÃO SURGE TANTO COMO UMA PARTE CONSTITUTIVA DO PROCESSO DE PRODUÇÃO; ao invés, o homem comporta-se mais como um vigilante e um regulador face ao processo de produção. (Isto é válido não só para a maquinaria, como também para a combinação das actividades humanas e o desenvolvimento do intercâmbio humano). O trabalhador não mais introduz a matéria natural modificada (em ferramenta) como intermediário entre si e a matéria; antes introduz o processo natural – transformado num processo industrial – como intermediário entre si e toda a natureza inorgânica, dominando-a. Ele próprio coloca-se ao lado do processo de produção, em vez de ser o seu agente principal. Com esta transformação, não é o tempo de trabalho realizado, nem o trabalho imediato efectuado pelo homem, que surgem como o fundamento principal da produção de riqueza; é, sim, a apropriação do seu poder produtivo geral, do seu entendimento da natureza e da sua faculdade de a dominar, graças à sua existência como corpo social; numa palavra, é o desenvolvimento do indivíduo social que aparece como a pedra angular da produção e da riqueza. O roubo do tempo de trabalho de outrem sobre o qual assenta a riqueza actual surge como uma base miserável relativamente à base nova, criada e desenvolvida pela própria grande indústria. Logo que o trabalho, na sua forma imediata, deixe de ser a fonte principal da riqueza, o tempo de trabalho deixa e deve deixar de ser a sua medida, e o valor de troca deixa portanto de ser a medida do valor de uso. O trabalho excedente das grandes massas deixa de ser a condição do desenvolvimento da riqueza geral, tal como o não-trabalho de alguns poucos, deixa de ser a condição do desenvolvimento dos poderes gerais do cérebro humano. Por essa razão, desmorona-se a produção baseada no valor de troca, e o processo de produção material imediato acha-se despojado da sua forma mesquinha, miserável e antagónica, ocorrendo então o livre desenvolvimento das individualidades. E assim, não mais a redução do tempo de trabalho necessário para produzir trabalho excedente, mas antes a redução geral do trabalho necessário da sociedade a um mínimo, correspondendo isso a um desenvolvimento artístico, científico, etc. dos indivíduos no tempo finalmente tornado livre, e graças aos meios criados, para todos. O capital é em si mesmo uma contradição em processo, [pelo facto de] que tende a reduzir o tempo de trabalho a um mínimo, enquanto, por outro lado, coloca o tempo de trabalho como a única medida e fonte de riqueza. Assim que, diminui o tempo de trabalho na forma necessária para aumentá-lo na sua forma excedente; coloca portanto, o trabalho excedente, em medida crescente, como uma condição – questão de vida ou de morte – para o necessário. Por um lado, o capital convoca todos os poderes da ciência e da natureza, assim como da cooperação social e intercâmbio social, com o fim de tornar a criação de riqueza independente (em termos relativos) do tempo de trabalho empregado nela. Por outro lado, o capital necessita de utilizar o tempo de trabalho como unidade de medida das gigantescas forças sociais entretanto criadas desta maneira, e para as confinar dentro dos limites requeridos para manter o valor já criado como valor. As forças de produção e as relações sociais – dois aspectos diferentes do desenvolvimento do indivíduo social – aparecem ao capital como meros meios, e não são para ele mais que meios para produzir apoiando-se na sua base limitada. Na verdade, contudo, elas são as condições materiais para rebentar com essas mesmas bases. “Uma nação é verdadeiramente rica quando em vez de 12 horas se trabalha apenas 6. Riqueza não é dispor de tempo de trabalho excedente” (riqueza efectiva), “mas de tempo disponível, para além do usado na produção imediata, para cada indivíduo e para toda a sociedade”. [The Source and Remedy, etc., 1821, p.6.]

    A natureza não produz máquinas, locomotivas, caminhos-de-ferro, telégrafos, etc. Estes são produtos da indústria humana; materiais naturais transformados em órgãos da vontade humana sobre a natureza, ou da participação humana na natureza. Eles são órgãos do cérebro humano, criados pela mão humana; o poder do conhecimento objectivado. O desenvolvimento do capital fixo indica até que ponto o conhecimento social geral se tornou uma força produtiva imediata, e, portanto, até que ponto, as condições do processo da própria vida social está sob o controlo do intelecto geral e foi transformado de acordo com ele. Até que ponto as forças produtivas sociais foram produzidas, não só sob a forma de conhecimento, mas também como órgãos imediatos da prática social, do processo vital real”.

  4. É Inverno no Hemisfério Norte. Onde os Invernos são rigorosos. Temperaturas muito baixas. Época de gripes. Países com Populações Idosas, como a Italia. As Populações destes países tem o habito da convivência em lugares fechados, principalmente nas casas. Confinar Populações em países tropicais como o Brasil, em época de temperaturas altas de Verão não deveriam ter sido melhor analisadas? Mas são 90 anos doutrinados ao cabresto e a falta de opinião própria. O que é bom para o resto do Mundo deve ser bom para o Brasil, defendem nossas Elites. Para que ter opinião? Sigamos a manada….

    1. Nos locais de trabalho, nas escolas, nas igrejas, nos estádios, nos transportes coletivos, as pessoas não estarão igualmente confinadas e aglomeradas em grande quantidade?

  5. Sobre o uso de máscaras, o ideal é que a máxima quantidade de pessoas possam usá-las, tanto para se proteger quanto para proteger as outras pessoas ao seu redor. É que tem muita gente com coronavirus mas sem sintomas. Esses são os que mais disseminam o covid-19. Então na dúvida, é melhor que o maior número possível de pessoas use máscaras.

    Eu estava pensando sobre isso hoje. De só usar se eu tivesse os sintomas. Mas se eu estiver infectado e não apresentar os sintomas?

    1. Ele sabe perfeitamente disso.
      Tal hipótese veio dos americanos, que pediram um estudo posterior a guerra e foram desmentidos pelo John Kenneth Galbraith.
      Qual a sua dificuldade de entender o texto?
      Ou está querendo simplesmente “trolar” o AA?
      Beleza, agora temos uma esquerda “quinta série”.

  6. O que ninguém fala a da Agenda 21 da ONU, o que ninguém fala a do tal “Event 201” feito em NY no ano passado em Outubro de 2019, patrocinado pela ONU, CIA, Melinda & Bill Gates Foundation, John Hopkins University, ninguém fala que nessa simulação de corona vírus em 2019 foram projetadas de 60 à 120 milhões de mortos, ninguém fala do papelão da FEMA (Federal Emergency Agency) o desenvolvimento de armas biológicas em Maryland, DC, e do aparecimento inexplicável do COVID-19 em Wuhan logo após os jogos mundiais militares sediados nesta cidade em outubro de 2019.

  7. “Derrota por exércitos de terra e nas duas frentes e não pelo massacre de civis em bombardeios que também custaram a vida de milhares de pilotos americanos e britânicos.”
    Vinte e quatro milhões de soviéticos!
    Total de britânicos e estadunidenses: um milhão e cem mil mortos (aproximadamente), incluídos canadenses, sul-africanos e neozelandeses.
    Dezoito milhões de chineses (pouco ou nada se fala deles!)
    Sangue , suor e lágrimas.
    Sem front oriental necas de pitibiriba!
    A China usou de medidas draconianas na emergência sanitária pois não há alternativas!
    Pessoas morrendo às dúzias não é boa propaganda nem para regimes capitalistas ou socialistas!

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