A foto, a história da foto e uma dúvida: quem é esse estudante?, por Rogério Marques

A foto, a história da foto e uma dúvida: quem é esse estudante?

por Rogério Marques

Hoje, 28 de agosto, a Lei da Anistia completa 40 anos sem que as atrocidades da ditadura militar tenham sido punidas, como aconteceu em outros países que viveram situações parecidas, como Argentina e Uruguai.

Importante lembrar que o atual ocupante do Palácio do Planalto já defendeu a tortura e a ditadura militar publicamente, e tem como ídolo um notório torturador daquele período, o coronel do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-chefe do sinistro Doi-Codi do II Exército, em São Paulo.

Aproveito a data para rever esta foto do grande Evandro Teixeira, que por mais de 40 anos foi repórter fotográfico do saudoso Jornal do Brasil. É um flagrante espetacular, nas manifestações estudantis de 1968 — o ano que acabou com o Ato 5 sendo decretado, o que resultou na fascistização total da ditadura.

Reparem que os óculos do estudante saltaram do rosto e estão no ar, em frente ao braço esquerdo dele.

Estive ontem em um evento promovido pela Arfoc — Associação Profissional dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos do Rio de Janeiro, no Museu da República. Evandro e um timaço de fotógrafos estavam presentes, um ótimo evento. Quando o debate foi aberto à plateia, aproveitei para saber do Evandro Teixeira sobre as circunstâncias dessa foto.

Evandro confirmou que o estudante morreu. Naquele momento, ao tentar fugir, ele foi atingido pelo cassetete de madeira de um dos PMs. Na queda, bateu com a cabeça no meio-fio e ficou agonizando na avenida. Somente uma semana depois a família teria ficado sabendo de sua morte.

Mas ficou uma dúvida, que não deu tempo de esclarecer: esse rapaz foi identificado? Alguém sabe seu nome, um pouco da sua história e da sua família? Já pesquisei sobre isso e nada encontrei.

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Redação

Redação

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    • O estudante da imagem chama-se Mário Fagundes, estudava na atual Faculdade de Medicina da UFRJ, antiga Faculdade Nacional de Medicina, que na época funcionava em prédio na Praia Vermelha.
      Região que com outras faculdades e a reitoria da Universidade do Brasil (hoje UFRJ), foi cenário de muitas lutas estudantis de resistência à ditadura militar.
      A foto, de 1968, mostra o momento em que foi espancado e preso, depois levado para a carceragem do DOPS da Rua da Relação. Tinha 21 anos.
      Formou-se em medicina no ano de 1970. Psiquiatra radicou-se em Carangola, Minas Gerais, com sua família.
      Muito querido na cidade e prestigiado como psiquiatra foi homenageado em 2007 pela Câmara Municipal de Carangola que denominou um Centro de Atenção Psico-Social, com o nome de “CAPS I Livre Mente Dr Mário Fagundes” situado a Rua Xenofonte Mercadante, 67 – Centro. (https://bit.ly/2V22vnf )
      Faleceu, vítima de acidente automobilístico, com cerca de 60 anos.

      • Agora eu fiquei na dúvida, afinal, morreu na hora da manifestação, ou muitos anos depois? Eu não consegui acesso ao link indicado.

  • Absurdo!! O estudante morreu!!! Eu não sabia. Meu Deus, este é o último momento dele vivo! Sabemos que a ditadura matou muitos, mas ver uma foto como esta, de um jovem cheio de vida que só queria democracia e liberdade, e saber que ele foi condenado sumariamente à morte por um bando de trogloditas que nosso atual presidente ama e defende. É inexprimível minha tristeza e minha revolta. O Brasil não podia abrir mão das apurações rigorosas dessas atrocidades cometidas por suas forças armadas. Os generais que comandavam as mesmas, por tratarem-se de chefes militares, estavam, como os nazistas, completamente enquadrados na teoria do "domínio do fato", deveriam ter sido punidos de forma exemplar e tratados como bandidos e traidores da Pátria. Pagamos hoje pelo preço de nossa pusilanimidade e pelo peso de todas essas mortes que carregamos na alma da nação. Somos um povo bunda e sem brio.

  • Fiquei emocionada e muito triste ao ler esse post. Por várias ocasiões nos últimos anos temos visto essa foto. E sempre ficava curiosa quanto ao personagem e, não sei porque, a foto sempre me remetia ao Lula. Talvez por semelhança física. É com tristeza que tomo conhecimento de que o estudante morreu!

  • Cipó de Aroeira
    (Geraldo Vandré)

    Vim de longe, vou mais longe
    Quem tem fé vai me esperar
    Escrevendo numa conta
    Pra junto a gente cobrar
    No dia que já vem vindo
    Que esse mundo vai virar

    Noite e dia vem de longe
    Branco e preto a trabalhar
    E o dono senhor de tudo
    Sentado mandando dar
    E a gente fazendo conta
    Pro dia que vai chegar

    Marinheiro, marinheiro
    Quero ver você no mar
    Eu também sou marinheiro
    Eu também sei governar
    Madeira de dar em doido
    Vai descer até quebrar
    É a volta do cipó de aroeira
    No lombo de quem mandou dar

  • Com todo respeito, fotógrafo sabemos ter um 'quezinho' de pescador para valorizar, a estória, o do anzol, a foto, o da câmera.
    Se há uma foto fantástica, ícone do movimento estudantil no Brasil, em 68, 'o ano que não terminou', tirada com o estudante no ar, por que não haveria a sequência de fotos fotografando-o caído no meio fio, em agonia?
    Se fosse tu, continuava à procura, ainda mais hoje, com face, instagram, whatsapp, telegram (o preferido por onze em cada dez 'procuradores') e por aí vai a rede de captação de informações das NSA's pelo mundo.

    • Quantos anos vc tem? Não deve nem imaginar como era pra tirar fotografias com os recursos tecnológicos em 1968. Está tão acostumado com as facilidades de hj que acha que conseguiria tirar fotos sequenciadas em meio a um tumulto.

  • Tudo isto é conversa fiada.
    A foto não passa de uma montagem bem feita, ninguém sofreu nada, ninguém apanhou, ninguém morreu, o Ustra é um herói nacional e, por este conjunto de fatores, que ninguém foi punido neste brasilsil pacífico desde sempre.
    Tem uma turma pelaí que insiste em afirmar que o número de eliminados e/ ou torturados pelo grupo de revolucionários do bem chegou a 400 pessoas, algo próximo à quantidade de cadeiras de um cinema de shopping -center.
    De 1968, AI-5, a 1981, Riocentro, foram 23 anos de paz e harmonia dentro dos quartéis, ou seja, foram cerca de 18 vítimas ao ano, apenas menos de duas por mês, isto para um time de torturadores de primeira qualidade, tudo perfeitamente lógico.
    A partir de 2040 não terá existido aquele período, e quem tocar no assunto será taxado como louco.

  • deve ter outros(as) cujos pais tiveram medo de procurar, pois era preciso ter muita coragem para entrar numa delegacia e perguntar, tudo dominado, ameaçador, a mando dos milicos

    68, eu, 12 ou 13 anos. estudava na Cultura Alemã da Av Rio Branco, sempre sozinho, porque pegava o ônibus na Ilha do Governador e saltava no ponto final, no antigo Castelo, onde hoje é o Ed Garagem, e caminhava até a Rio branco. Num daqueles dias de porradaria geral em todo mundo, vários jovens tentaram se esconder naquelas ruelas em volta do Castelo. Parece que algum infiltrado dedurou que corriam da Rio Branco e se escondiam naquelas ruas e vi 3 rapazes e uma moça com as cabeças................... Acredito que soldados estavam esperando por eles e elas.

    aqui já saiu uma foto da portaria da antiga Ag Central do Banerj, com vários jovens tentando se proteger...............onde, acredito.................era bom trazer de volta, mostrar novamente as fotos do trecho entre Rio Branco e Castelo, e de outros locais de desaparecimento, ou indicar um site que tenha. Me separei de......................................................................
    estas fotos são muito importantes para os que se separaram dos seus e deixo aqui agradecimentos para os jornalistas e fotógrafos que arriscaram suas vidas na cobertura de tanta crueldade

    • Com certeza um arruaceiro que soltou uma bomba em algum órgão publico ou local privado e destruindo propriedade matando e ferindo pessoas. Se houve ditadura no Brasil, me aponte o nome do ditador.

      • Maria Luisa, o pão, o café que a senhora pôs à mesa nesta manhã, foi produto do teu trabalho, assim são as demais coisas necessárias pra tua vida. Algumas coisas são produto de nosso trabalho individual, outras muito maiores são produtos, consequências do trabalho, esforços de muito . Desde 1988 temos uma Constituição, retornamos ao Estado Democrático de Direito, recuperando a Democracia pós anistia em 79 e eleições livres em 89. Essas coisas, não subiram a nossa mesa, sozinhas. Como o café da manhã foi produto de teu trabalho. Este estudante que você chama de arruaceiro, lutou, trabalhou, deu a sua própria vida para que tivéssemos democracia neste país e a senhora está inclusa nessa 1ª pessoa do plural. Se a senhora abrir livros de História posterior a 1964, verá resposta para a última frase de teu texto.

      • Humberto de Alencar Castello Branco; Arthur da Costa e Silva; Emílio Garrastazu Médici; Ernesto Geisel; João Baptista Figueiredo

  • Usei muito esta foto é outras na aulas de História com meus alunos. Nunca pensei que o estudante tivesse morrido e esta foto imortaliza seus últimos momentos. Mesmo 40 anos depois doi muito saber.

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