A futura ascensão da direita, por Flávio Patrício Doro

Por Flávio Patrício Doro

Não sei quando nem como terminará o governo de Dilma Rousseff. Há diversas variáveis de difícil previsão que podem influir no desfecho.

Contudo, parece-me possível prever com razoável segurança ao menos uma consequência a médio e longo prazo: o fortalecimento do pensamento de direita.

A despeito de seu mérito inicial na promoção do crescimento econômico, os governos militares (1964-85) deixaram uma herança tão negativa que, nas décadas subsequentes à redemocratização, o ambiente político era tal que nenhum partido conservador conseguiu prosperar. A mística da esquerda e do centro-esquerda, leia-se PT, PMDB e PSDB, que haviam combatido a ditadura, era por demais dominante.

Acredito que agora ocorrerá o inverso. Em que pesem as conquistas obtidas nos primeiros anos, o legado de uma década e meia do PT no poder no imaginário da sociedade é comparável à do período autoritário, de tal sorte que vem se configurando um ambiente favorável a pensamentos e práticas completamente diferentes no próximo ciclo de poder.

Nesse contexto, pregações em defesa do Estado mínimo, da redução de tributos e da revisão dos programas sociais entram na ordem do dia.

Neste debate, assim como em todos os que envolvem decisões políticas, é necessário manter a serenidade. Simplificar e radicalizar não contribui à construção das soluções mais adequadas para a sociedade. Tanto a “esquerda” como a “direita”, seja lá o que isso signifique, têm contribuições válidas a oferecer.

Só para dar um exemplo, o Estado mínimo seria, a meu ver, um exagero. Um tremendo retrocesso. Educação, saúde e previdência devem ser universais, especialmente em um país como o nosso, ainda muito desigual. O que não significa, por outro lado, que não se deva buscar insistentemente a melhor relação custo-benefício. Não é aceitável que, neste país, o custo da saúde por habitante seja maior do que em outros com nível de desenvolvimento similar, ou a qualidade do serviço seja inferior ao de nações que gastam proporcionalmente a mesma coisa que nós. O mesmo vale em relação à educação. O regime de previdência, tanto pública como privada, em todas as esferas da federação, deve ser sólido e equilibrado do ponto de vista atuarial.

Em termos de gestão pública, o maior desafio, agora e nos próximos anos, é o equilíbrio fiscal. Se o próximo ciclo de governo for controlado pelas forças políticas que tiverem a proposta mais consistente para alcançar e manter tal equilíbrio, estaremos no bom caminho. Infelizmente, não há possibilidade de atingirmos esse estágio enquanto as lideranças e correntes políticas mais importantes estiverem entregues ao toma-lá-dá-cá e ao revanchismo desenfreados a que vimos assistindo. Novos e capacitados atores precisam se apresentar. E quanto antes o fizerem, melhor será.

Redação

8 Comentários

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  1. A ‘direita’ brasileira tem

    A ‘direita’ brasileira tem problemas sérios, que vem de longa data, dentre eles: a falta de nomes sérios e idéias bem fundamentadas, resumindo, a chamada direita ilustrada está ou muito acanhada ou desaparecendo. No fim, são atingidos pelo esgotamento do sistema político brasileiro.

  2. “Contudo, parece-me possível

    “Contudo, parece-me possível prever com razoável segurança ao menos uma consequência a médio e longo prazo: o fortalecimento do pensamento de direita.”

    O “pensamento” de direita, não; o terrorismo de direita. E não só no Brasil mas em boa parte do mundo: EUA e Europa ocidental. Tá difícil para os tais 1% de largarem o osso…

  3. Há um porém preocupante que o

    Há um porém preocupante que o autor do texto deixou passar. Como vocês brasileiros corretamente dizem a sua direita é “entreguista”, isso é fatal para qualquer país que pretenda ser soberano e atuar como parceiro de outros países ao invés de subalterno. Há verdade no dito popular de vocês que o sonho dos seus representantes de direita é “comprar uma casa em Miami e mudar para lá”, eles odeiam profundamente o Brasil e o seu povo.

  4. “Tanto a “esquerda” como a

    “Tanto a “esquerda” como a “direita”, seja lá o que isso signifique, têm contribuições válidas a oferecer”. É assim que começa, com esse tipo de colocaçao.

    Forçar a barra dizendo que já não existe mais esquerda ou direita é o jogo da direita. Eu não acredito em “novos” jogadores, a direita está sim, tomando a frente em todo o mundo e é facil compreender: ficaram um tempo em banho maria, mas agora estão ávidos para enfiar a mão no dinheiro de novo. Tudo é dinheiro. Mas ainda tem o fator povo, esquecido na análise como sempre nas análises escorregadias dos direitistas mais espertos.

    O mundo está em colapso e a direita avança para tentar dominar em meio ao caos. Vamos ver até quando o dedo aguenta a barragem.

  5. Análise lúcida

    Todo excesso de expectativa cria necessariamente falsas expectativas. Foi assim com a esquerda após a ressaca do regime militar. Uma das falsas expectativas criadas foi a de que a esquerda combateria a corrupção e pugnaria pela ética na política, o que a rigor não faz sentido algum: a condenação ao roubo deriva do tabu da inviolabilidade da propriedade privada, que não é reconhecido por indivíduos de formação marxista. A luta contra a corrupção endossa uma moral burguesa, e qualquer ideologia revolucionária (caso da esquerda, pois no Brasil a direita não é revolucionária) não reconhece moral alguma, pois tem a pretensão de submeter todos os meios a seus fins. Por este motivo não admira que o discurso moralista, no Brasil, tenha sido mais típico da direita, como a ex-UDN, e foi até criado o termo “udenismo” para denominar esta prática.

    Chegada ao poder, as ilusões caíram por terra, e a esquerda mostrou sua avidez por cargos e dinheiro. Seu projeto é basicamente formar uma elite de burocratas a partir desta tríade: militantes, empresários amigos-do-rei e sindicalistas pelegos. Esta elite seria o embrião da futura nomenklatura do regime após a implantação do socialismo, mas como não há mais esta possibilidade após a queda do muro, permanece sendo apenas aquilo que é. O discurso raivoso dos esquerdistas deste forum, sem nada do idealismo ingênuo de outros tempos, é bem característico de quem já sente que a teta lhe será retirada da boca.

    Quais serão as falsas expectativas criadas pela direita ora prestigiada? Só o futuro vai dizer.

  6. O autor acha q o Brasil só tem coxinhas

    PT comparável à ditadura no imaginário da sociedade? Querias, caríssimo. Mas como dizia meu pai, quer, vai querendo, passa a mao no chao e sai correndo.

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