A gestão Doria: vender SP, por Simão Pedro

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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A gestão Doria: vender SP

por Simão Pedro

Próximo de completar apenas 100 dias à frente da prefeitura de SP, já é possível perceber que as intensas ações de marketing populista de Dória têm um objetivo principal que é se cacifar para disputa à presidência da república em 2018, ou para governador do estado, com ajuda de grandes empresários. Essa lógica com DNA tucano – Serra também largou a prefeitura em 2006 – traz prejuízos aos paulistanos já que o foco principal são as estratégias para vencer as eleições, o que inclui essencialmente o repasse para a iniciativa privada de serviços e  patrimônio público, e deixar de lado o cuidado em resolver os principais problemas da cidade.

Dória vem se articulando com empresas em diversos ramos, realizando encontros, jantares e em troca, quer agraciar o setor com uma política agressiva de venda do patrimônio público. No  seu Plano de privatizações, conforme matéria do dia 29/03 do jornal O Estado de São Paulo, está claro que atual prefeito não vai medir esforços para atingir o objetivo. Em fevereiro já havia lançado um vídeo, em um encontro internacional em Dubai, em que oferecia para a iniciativa privada diversos equipamentos públicos, como o Autódromo de Interlagos, o Complexo do Anhembi, o Estádio do Pacaembu, o Parque do Ibirapuera e o Mercado Municipal, os 29 terminais de ônibus, o Bilhete Único, a iluminação pública e até o Serviço Funerário.

Porém, pelo de Plano de privatizações essa lista aumentou consideravelmente com acréscimo de  serviços essenciais, entre outros, como gestão de resíduos sólidos, coleta e centrais de reciclagem; serviço de varrição e limpeza urbana; equipamentos e serviços de educação infantil; serviços hospitalares e de atendimento da rede de saúde;  hospitais municipais, habitação de interesse social; sistema de drenagem urbana; manutenção e requalificação de vias, passarelas, pontes e viadutos;  Infraestrutura cicloviária; requalificação e manutenção de passeios públicos e calçadas e  corredores de ônibus.

As privatizações pretendidas por Dória, por conta da sua obsessão política, o  transformou  apenas em um vendedor que expõe os produtos considerados mais reluzentes na vitrine. Não há um plano ou planejamento de como as ações de entrega  terão impacto na vida da população paulistana ou no orçamento do município. Mesmo afirmando supostos valores que as vendas poderão gerar, não houve nenhum cuidado em divulgar como e onde seriam aplicados os recursos. Dória no fundo repete a fórmula que o PSDB utilizou durante os anos FHC e o vem fazendo nas sucessivas  gestões tucanas à frente dos governos no estado de SP: venda de patrimônio e serviços públicos que não resultaram em melhoria da vida da população, mas apenas das empresas. E ainda viraram foco de suspeita de corrupção e malversação do dinheiro público como é caso do Metrô e CPTM.

Como secretário de Serviços da gestão Haddad, considero uma temeridade a entrega, por exemplo, da gestão  dos resíduos sólidos, da coleta, da varrição e limpeza e centrais de triagem e toda sua gama de complexidade para a iniciativa privada. A execução da coleta já foi concedida até 2024. O atual regime de concessão que rege os serviços das empresas contratadas mantém a obrigatoriedade da gestão, planejamento  e fiscalização em mãos da  prefeitura municipal, via Autoridade Municipal de Limpeza Urbana (Amlurb), autarquia criada para exercer  essa responsabilidade.

No Edital que publicamos em 2014 para a ova contratação de serviços de varrição, prevíamos centralizar a fiscalização dos serviços de varrição para a Amlurb, retirando essa função das Subprefeituras como ainda é feito  hoje. Por isso, realizamos um concurso público para reforçar a capacidade de fiscalização da Autarquia. Se a gestão Dória pretende reforçar a ação das prefeituras regionais, como ele vem chamando a antiga subprefeitura então me parece contraditório alienar a gestão para a iniciativa privada. Pela sua lógica, deveria permitir que cada prefeitura regional tivesse um contrato e o fiscalizasse.

São Paulo, segundo dados da ONU, é a 12ª maior cidade do mundo com 12 milhões de habitantes. Todos os dias para atender a demanda para o recolhimento de 20 mil toneladas de  lixo, são necessários a utilização de 16 mil coletores e mais de 500 caminhões compactadores que percorrem uma área de 1,5 milhões de Km quadrados em 96 distritos. Além disso, a prefeitura também é responsável pela varrição das ruas, pintura de sarjetas, limpeza e lavagem das feiras, capinagem de matos, limpeza de bueiros, bocas de lobos, etc..Essas ações obrigam o poder público a manter um padrão de organização e coordenação contínua, além de respeitar padrões ambientais. Um planejamento complexo e diário que visa atender a universalização da coleta de lixo e os serviços de limpeza pública. Isso tudo tem um preço que pede um investimento no setor em torno de R$ 2,4 bilhões somente na coleta e destinação dos resíduos sólidos, por exemplo.

Em 2014, Haddad sancionou o Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PGIRS) de São Paulo, que representa um marco regulatório de extrema importância na definição de metas do setor. Abarca todos os tipos de resíduos produzidos na cidade, definindo ações e rota tecnológica para os próximos 20 anos e que, aplicadas, reduzirá o envio para os aterros de cerca de 80% desses resíduos. Todas as fases que resultaram na elaboração do Plano Municipal contou com  participação de cerca de 7 mil pessoas na definição de estratégias a serem adotadas pela cidade de São Paulo, tanto pelo poder público quanto por geradores privados de lixo.

Não tenho dúvidas em afirmar que a partir de  ações estruturantes e planejadas   melhoramos muito a zeladoria do município em relação à gestão Kassab. As praças das cidades recebiam manutenção pelo menos uma vez por mês, enquanto que hoje esse serviço já tem três meses que não é feito; implantamos seis mutirões aos sábados e domingos nas marginais e principais vias da cidade; melhoramos a varrição no Centro e implantamos a coleta aos domingos na região; criamos os programas de Educação Ambiental Varre Vila e Minha Vida Limpa que contam com a participação de moradores de várias localidades da capital. Hoje, o que vemos é o abandono crescente com o cuidado da cidade de SP, conforme atestou a reportagem da Folha de São Paulo do dia 27/03.

Além disso, investimos em ações estruturantes: ampliamos a coleta seletiva para todos os distritos da cidade; construímos duas centrais de triagem mecanizadas; criamos programas de compostagem de lixo; dobramos o número de Ecopontos; fortalecemos a fiscalização; durante a gestão Haddad a categoria dos trabalhadores de limpeza teve aumento real de 46% nos salários e mantivemos uma negociação permanente com seus sindicatos.

O serviço relacionado aos resíduos sólidos, limpeza e manutenção de São Paulo exige constante atenção, fiscalização e planejamento para que siga atendendo à população com eficiência. Além disso, precisa levar em conta os vários atores, como catadores e suas cooperativas, entidades ambientalistas, trabalhadores, além dos empresários. Ou seja, entregar sua gestão para a iniciativa privada que tem como objetivo somente a geração de lucros para empresas e seus acionistas, seria abrir mão da cidadania controlar essa área estratégica. Dória em menos de 100 dias demonstrou que não tem apego algum por São Paulo e muito menos pelos paulistanos da periferia e classe média. Seu único objetivo é chegar mais longe politicamente, usar a cidade como trampolim e vestir outra fantasia.

Simão Pedro é  secretário de Formação do PT/SP,  foi deputado estadual e secretário de Serviços da gestão Haddad

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

12 Comentários

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  1. Claro que tudo é VENDA DE

    Claro que tudo é VENDA DE PATRIMONIO PÚBLICO pra pagar a conta DUM MÊS  ..enquanto a divida continua 

    Nunca se esqueçam que DORIA era ninguém  ..fê-lo famoso a INCOMPETÊNCIA e arrogância dum Haddad (ajudado por DILMA tb)

    Os equipamentos públicos em SP, graças ao CORPORATIVISMO e preguiça dos servidores públicos, sempre foram MAL versados, subutilizados e mantidos em condições precárias

    A ESQUERDA INCOMPETEMTE tb não soube versar melhor os parques, Autódromo, Pacaembu , Ibira etc  ..nem CMTC

    ..aí, deu chance pra aventureiros e corsários ousarem e atuarem

    PIOR mesmo, já que provado ABSURDAMENTE RENTÀVEIS e sem risco, foi a privataria da CVRD e o que estão fazendo hoje com a PETROBRÁS

    1. haddad não era incompetente

      Hadda não era incompetente, talvez, exceto, na questão de comuinicação e propaganda: Fez um governo inovador com ótimas medidas, mas o povão não ficou sabendo. Me deparei agora, depois qeu ele já saiu, de dois belos programas de inclusão social … que eu nemsabia que exisitiam.

      mas nem tudo é culpa dele: Como se comunicar  com um Globo te perseguindo e toda mídia te negando espaço? E a situação piora com um povão ignorante e burro, que só se informa na Globo, alem de ser embrutecido e incapaz de entender como certas medidas eram corretíssimas e úteis. Basta ler a reportagem da carta capital sobre os motivos de moradores de bairros que sempre foram petistas, em votar no Dória: Quer tentar alguem não político, quer algo novo, o País está todo errado (país, não município, veja a ignorâncai de quem, tenta cobra o país pelo prefeito), muita insegurança (de novo, ignorância de povão qeu naõ sabe que polícia é obrigação estadual)…

  2. DÓRIA, O GARI, O PEDREIRO, O

    DÓRIA, O GARI, O PEDREIRO, O LIXEIRO, O CADEIRANTE, O GALO DE BRIGA

    Dória, populista, político de boutique, superficial, retórico da moralidade, marqueteiro, criador de factóides e imagens publicitárias (perseguidor de moradores de rua e pichadores, repleto de discuros de meritocracia, de cidade limpa, onde vale mais divulgar uma imagem, uma reunião com o secretariado, uma ordem de acordarem cedo e coisa que valha esse nível do que se preocupar com o social, com a humanização da cidade) tudo bem a gosto do cidadão mediano, urbano e do Homer Simpsons. Dória – um Serra atualizado – maneja, manipula e navega num clima de sonambulismo e de hipnose coletiva inaudível e de pós-verdades, São Paulo.

    Ver neste site a matéria “Entra em campo o fator Dória” de Luis Nassif (06/03/2017)

  3. A candidatura Doria será um

    A candidatura Doria será um teste de fogo para o Brasil. Se ele ganhar na base do marketing e de vendedor de carro de luxo, será a prova definitiva de que o país fracassou como uma sociedade pensante

  4. É um viadão, com todo o

    É um viadão, com todo o respeito, mas, comercialmente falando, arregaça-se prá qualquer um que tenha o cacife bem grande. Não pode ver um norte americano que já vai logo doando, com precinho lá em baixo nos tornozelos, as cuéquinhas japonêsas confeccionadas com sêda de Bastos. É cria do mafioso golpista vendilhão fernando henrique cardoso clinton, todos demotucanos seguidores do grande Cacique Morubichada Xupapauaçu de cocar nas cores da bandeira dos eua:

    Aos que roubam, só nos reta chamar de ladrões saqueadores. Roubaram os nossos votos democráticos derrubando nossa Presidenta eleita por 55 milhões de brasileiro! Alem de vendilhões piratas saqueadores, são violentos e armados, pelo que, diria Teori, podemos apostar que são assassinos frios e calculistas de seus adversários. Queremos os nossos votos de volta porque filhodaputa nenhum é mais do que nós prá meterem a mão no sufrágio democrático! Queremos a nossa presidência democrática de volta e cadeia prá todos os golpistas ditadores que estão arrasando com o Brasil! 

  5. Vendedor x Gestor

    Ele se apresentou como um excelente gestor , mas esta mostrando que é um péssimo vendedor  alias ,  mostra eficiencia pedindo, vive pedindo ´´doaçoes´´, carros ,motos, livros remedios, materiais para banheiros perfumados , mesmo tendo herdado um caixa de 6 bilhoes !

  6. 100 dias de desgoverno
    Na entrevista do @SimãoPedro é muito esclarecedora Parabenizo Simão Pedro pela análise mas principalmente pela gestão empreendedora e revolucionária quando esteve afrente da Secretária de Serviços, agora vou ser econômico ao falar do atual governo dá cidade de São Paulo assim como este desgoverno está sendo com a cidade, muito marketing e pouco trabalho além de privatizador Dória é um fiasco com gestor a minha impressão é que a cidade está abandonada não tem zeladoria, lixo espalhado em toda parte, falta varrição​, a iluminação da cidade voltou a ter problemas, a retirada de benefícios dá população no leite e no transporte em fim Dória é a maior enganação desde Celso Pitta

  7. Só sei que Dória está

    Só sei que Dória está deixando os petistas à beira de um ataque de nervos, fica difícil atacar um prefeito com 70% de aprovação… Dória conta com amplo apoio dos paulistanos nos seus projetos, para se medir esse apoio basta ver o tamanho do desespero do petista do Catacra Livre Gilberto Dimenstein que apostou todas as suas fichas em Haddad.

    É normal opsitores chamarem de populistas autoridades com amplo apoio do povo, faz parte do jogo.

  8. SP: Cem dias sem prefeito

    Parabéns Simão Pedro pela análise do quase 100 dias da gestão Dória, pelo que você apresenta a cidade de SP está 100 dias sem prefeito, pois além de apenas criticar o presidente Lula, para repercutir na mídia, ainda falta para o Dória vestir a roupa de prefeito e administrar a cidade, de acordo com o interesse público e não privado. O pior é que recente pesquisa da Fundação Perseu Abramo identificou que esse discurso da eficiência da iniciativa privada gerindo o que deveria ser público está na mente e corações do cidadão que mora na periferia e que seria o mais prejudicado com essa política. Nosso desafio atual é combater o desmonte do serviço público em SP, e ao mesmo tempo disputar a hegemonia capitalista predominante na sociedade, principalmente na classe trabalhadora da periferia.

    1. SP….

      Carga Tributária a 40%. E vender patrimônio público para fechar as contas. Grande Projeto de país?! E a sociedade e a cidadania? A volta das Privatarias é projeto apontado por Temer para a chegada de Picolé de Chuchu ao Planalto. Como já começa a fazer fumaça antes do lançamento especula-se um Presidente Aventureiro. Eu tenho que relembrar: o que esta gente toda prometia no final dos anos de 1970 começo de 1980, com a volta do Exílio, Redemocratização e nova Constituição? Nada como um dia após o outro. Canalhas revelados. Pena que levou quase meio século. Entra Prefeito sai Prefeito, porque o Tiete, Pinheiros, Tamanduateí não estão despoluidos depois de tantas décadas? Por que não exitem trens ou metrô nas Marginais que interligam toda a cidade? Por que não tem ciclovias e ciclofaixas nas mesmas Marginais percorrendo um percurso de mais de 120 Km dentro da cidade? Por que estes serviços só existem na Marginal Pinheiros defronte aos bairros de “gente diferenciada” entre os Jardins e a Berrini? Por que mesmo com Marta, Erundina ou Haddad, isto nunca foi implementado? Por que não se resolveu o problema de vagas em creches, se neste mesmo período, as famílias passaram da média de 3 filhos para mens de 1?      

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