Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
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A Gripe Espanhola de 1918, por Andre Motta Araujo

Não existem estatísticas oficiais de mortes pela gripe, as estimativas vão de 17 milhões até 100 milhões, sendo na época a população mundial 2 bilhões de habitantes, os números mais aceitos são de 50 milhões de mortos

A Gripe Espanhola de 1918

por Andre Motta Araujo

A chamada “gripe espanhola” de 1918 sempre esteve na minha memória porque minha avó paterna, nascida em 1899, foi testemunha da morte de pessoas próximas e sempre relatou essa vivência. Numa família conhecida morreram pai, mãe e filhos. A gripe, propagada por vírus da família H1N1 foi um fecho da Grande Guerra de 1914-1918, que a antecedeu e criou as condições de propagação da pandemia.

Segundo historiadores da pandemia, o epicentro foi o acampamento hospitalar de tropas britânicas na França em Etaples, onde se registraram os primeiros casos, as camas eram muito próximas e o vírus lá encontrou plenas condições de espalhamento e extrapolação entre soldados já debilitados pelo conflito, doentes por outras causas.

A denominação de “gripe espanhola” vem do fato de que os grandes países em conflito, Inglaterra, França, Alemanha, Itália, tinham censura de imprensa e a epidemia não foi noticiada para não atingir a moral das tropas e da população, mas a Espanha era neutra e a imprensa espanhola divulgou com destaque a epidemia, além do fato do Rei Alfonso XIII,  bisavô do atual Rei Felipe VI, ter contraído a gripe, da qual se recuperou.

A GUERRA CRIOU O AMBIENTE DE PROPAGAÇÃO

Historiadores recentes atribuem às debilidades de alimentação e higiene entre as tropas as condições primeiras de propagação do vírus, com origem, segundo eles, em aves trazidas aos acampamentos de soldados na França, onde os leitos eram praticamente colados e as condições de higiene péssimas.

O vírus atingiu especialmente adultos jovens com índices altíssimos de mortalidade. Dos soldados, a gripe passou aos civis das cidades próximas aos acampamentos e ai se espalhou por toda a Europa e depois para os EUA, Austrália e China, chegando ao Brasil, especialmente a São Paulo e Rio.

Não existem estatísticas oficiais de mortes pela gripe, as estimativas vão de 17 milhões até 100 milhões, sendo na época a população mundial 2 bilhões de habitantes, os números mais aceitos são de 50 milhões de mortos, alguns pequenos países muito atingidos, como o Líbano, que sofreu forte deficiência de alimentação durante a Grande Guerra. Nos EUA a estimativa de mortes ficou entre 500 a 700 mil e no Brasil em 300 mil.

Da mesma forma que surgiu com violência, a Gripe Espanhola acabou abruptamente em novembro de 1918, após uma segunda onda de rebrote em setembro e outubro. Uma particularidade foi atingir especialmente mulheres grávidas, até hoje uma questão de pesquisa de cientistas.

A única avaliação pacífica entre os pesquisadores foi a de que as condições de enfraquecimento físico, tanto de militares como de civis por causa da Guerra, criaram as condições ideais para a propagação do vírus. Não havendo na época medicamentos eficazes de combate ao vírus, usava-se quinino após a contaminação com resultados variáveis, mas, de modo geral sobreviveram aqueles com melhor resistência física.

Sobre os efeitos causados pela Gripe Espanhola na sociedade após seu fim escreverei artigo específico.

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

12 Comentários

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  1. Atenção: já não se consegue ver a lista de artigos do dia. O “link” estacou na último de ontem, intitulado “As políticas para o combate ao Covid-19: Experiência internacional e o Brasil”.

  2. Apenas um detalhe. Segundo historiadores que eu li em um livro sobre a guerra civil espanhola, a gripe na verdade nasceu nos USA, mais precisamente em NY. Dá gosto ler o artigos do AA. NO entanto, quando se trata de algo sobe os USA, é sempre prudente ficar com o “pé atrás”, dada a enorme simpatia dele por aquele país. Nada contra. Só uma observação. Aliás, a gripe, em 1918, foi alvo de uma enormidade de “FAke news. Nada de novo no front, portanto.

    1. Embora haja teses cruzadas de origem da “espanhola” (que graças à liberdade de imprensa, pagou o pato), até na China, a mais disseminada relata que o primeiro caso registrado foi numa base MILITAR no Kansas.
      Esta tese é reforçada pelo fato que nesta época intensificava-se o envio de soldados americanos para as trincheiras (na França), e daí a explosão da “spanish flu”, já que a Espanha neutra não tinha censura de imprensa, como os EEUU, Grã-Bretanha, França, Alemanha e demais envolvidos.
      Aí “ganhou a fama e deitou na cama”, embora os próprios espanhóis a chamassem de gripe “francesa”, principal teatro da guerra de trincheiras, com tropas americanas, inglesas, alemãs, austríacas, etc.
      Ultimamente, acirrada pela guerra politico-econômica entre EUA e China, há tentativas de “livrar” os americanos da “culpa”.
      Apenas uma bobagem de propaganda, onde a História acaba sendo contada pelos “vencedores”.

      Abaixo um dos muitos links que referenciam a base militar do Kansas como origem:
      https://www.history.com/news/why-was-it-called-the-spanish-flu

  3. A abrangência da gripe “espanhola” (~2018 – ~1920) pode ser compreendida com os seguintes fatos:
    1) Como já mencionado no post, soldados de DIVERSAS nacionalidades estavam “juntinhos e misturados” em lamacentas trincheiras de péssimas condições sanitárias, climáticas, de higiene, de nutrição, de saúde, ferimentos, etc.
    2) Apesar de não haver a mobilidade que existe hoje, houve um surto de tráfego dos soldados de e (principalmente) para seus países de origem, alguns tão longe como Oriente Médio, Austrália, Índia e a volta dos americanos.
    3) Por esta mobilidade ser menos ágil que hoje (basicamente navios e terrestre, trens), mas bem ampla, a expansão foi mais lenta e a duração foi de algo mais de 2 anos (coronavírus, temos ~4 meses, a maioria estimando 8 a 10 meses totais).
    4) A ciência, tecnologia e recursos (leitos, remédios, coms, transporte, etc.) menos avançados (a penicilina, por ex., embora não fosse cura direta, foi descoberta em 1928 e disseminada a partir de 1939).
    5) As comunicações mais lentas, embora já houvesse rádio, telégrafo, cabos submarinos, telefone, etc. a sua checagem e publicação tinha um ciclo bem maior do qa web de hoje, onde o assassinato de Bin Laden é noticiado extra-oficialmente antes da mídia oficial.
    6) Assumindo 500 milhões de casos e 50 milhões de mortes, a letalidade média da “espanhola” terá sido de 10%. A da Covid está em 4,5% (mas subindo).
    7) Da mesma forma, se apenas multiplicássemos linearmente (sabemos que é exponencial) os atuais ~420 mil casos em ~120 dias) pelo tempo da espanhola (~1030 dias), teríamos o equivalente a quase 9 vezes mais, ou 420 x 9 =~ 3,8 milhões (LINEARES). Com letalidade mantida em 4,5%, daria uma “equivalência” (sempre linear) de 171 mil. Como sabemos que (1) é exponencial e (2) não durará o mesmo tempo, (3) as variáveis mudaram e os tempos e são outros, o que se pode concluir é que comparar estatísticas da “espanhola” com a Covid, não leva a conclusões comparativas muito úteis.
    Se os crescimentos (casos e taxas de letalidade) continuarem exponenciais e não conseguirmos equacionar a cura ou criarmos auto-resistência natural, os números serão muito piores. Quanto?
    Nem os melhores institutos podem prever, embora os que o o fizeram trazem números assombrosos, como 2,2 milhões de mortos só na (ainda) maior potência mundial!

  4. Huuum interessante,militares envolvidos,só faltou escrever q o q matou milhões foi a vacina,haaa,esqueci,isso não vai estar em docs ou relatos oficiais,desculpa aí Ojuara !!

  5. Andy , a gripe espanhola de 1918 surgiu no Fort Riley, Kansas, quartel do US Army, casa da “The Big Red One”. (Spanish Influenza in North America, 1918–1919, https://web.archive.org/web/20161120072220/http://ocp.hul.harvard.edu/contagion/influenza.html). Isso em 1917.
    (http://limpia.centroeu.com/how-the-us-army-infected-the-world-with-spanish-flu/).
    Houve uma epidemia de gripe, que foi considerada normal, em vários quartéis estadunidenses. Isso em no outono (hemisfério norte) de 1017. Passou desapercebida!
    Segundo alguns autores houve três ondas pandêmicas entre 1918-1920.
    Uma curiosidade é que a gripe espanhola matou mais pessoas em seus poucos anos de pandemia do que a AIDS em 24 anos!
    E outra “herança” da pandemia de gripe espanhola foi o surto de encefalite letárgica entre o final dos anos 1910 até meados doa anos 20 (Sacks, Oliver (1990). Awakenings (1st Vintage Books ed.). New York: HarperPerennial. pp. 12–13)

    Apesar do viés, o artigo da NG dá uma ideia do que foi a pandemia. (https://www.nationalgeographic.com/history/magazine/2018/03-04/history-spanish-flu-pandemic/)

    Minha avó materna contava histórias escabrosas sobre a “morte em três dias”, devido a gripe de 18!

    1. A tese de que se iniciou no Kansas, meio oeste dos EUA, me parece fragil. As pessimas condições de alimentação e higiene estavam na s trincheiras e nos acampamentos da França e não no interior dos EUA, lugar sadio, com boa alimentação e boas condições de higiene, porque o virus nasceria la´?

      1. Prezado Andy,
        Houve uma epidemia de gripe em 1917, iniciou-se em 1917, no Kansas, em Fort Riley e em Haskell County, espalhou-se por 14 bases do USArmy. (http://limpia.centroeu.com/how-the-us-army-infected-the-world-with-spanish-flu/) e (https://www.kshs.org/kansapedia/flu-epidemic-of-1918/17805), foi subnotificada,(https://www.army.mil/article/1880/scientists_learn_history_of_spanish_flu_at_fort_riley). É expande-se para a Europa com a entrada do EUA na 1ª Guerra Mundial.
        As preparatórias para a entrada no conflito (dos EUA) com as alojamentos lotados e o movimentos maciços de tropas disseminou a doença no resto dos EUA e para solo europeu e de lá para o resto do mundo.
        As péssimas condições na Europa só aceleraram a taxa de propagação da Gripe Espanhola.
        Não podemos esquecer que a primeira pandemia devidamente documentada foi a Gripe Russa de 1889/90 (que também atingiu o Brasil)(https://pt.wikipedia.org/wiki/Gripe_russa).
        Sds
        Paulo

        1. Se a epidemia nasceu nos EUA porque só foi noticiada pela imprensa espanhola? Não havia guerra em solo americano, a epidemia deveria então ser conhecida como “” gripe americana”, a impensa americana era livre para noticia-la.

          1. “Não havia guerra em solo americano”
            Mas havia a expectativa de entrada dos EUA no conflito.
            E foi notificada inicialmente na imprensa espanhola pois esta estava livre de censura, pois era um pais neutro!
            Veja a fonte: Kansas Historical Society !

  6. Eu estava esperando a seguinte conclusão:
    Logo, vamos voltar ao trabalho e às compras a fim de que mantenhamos a nossa força e resistência e, dessa forma, derrotaram os o vírus.

    Mas parece que a ficha do AA tá caindo. Ele reconhece que foi a proximidade física ( dos Soldados em Etaples ) que potencializou a disseminação da gripe espanhola, que, segundo Ele, é franco-britanica

    Parabéns, AA

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