A ignorância matemática dos jornalistas não é um privilégio da direita, por Rogério Maestri

A ignorância dos comentaristas procura substituir a crença de religiosos, por uma afirmação de que o Instituto tal de uma universidade de um país que ninguém conhece disse divinamente que acontecerá isso e acontecerá aquilo.

A ignorância matemática dos jornalistas não é um privilégio da direita

por Rogério Maestri

Tenho um colega de segundo grau que nos últimos anos tenho encontrado eventualmente num dado estabelecimento comercial que revela com a sinceridade de um colega de escola um problema que assola toda a imprensa, a ignorância na capacidade de interpretação de dados, ele diz com todas as palavras que seguiu para o jornalismo simplesmente porque era fraco em matemática, em física, em biologia e demais ciências exatas e ciências da natureza, mas nos dias de hoje pagaremos caro pela ausência de jornalistas que tenham alguma noção destas ciências.

Meu irmão mais velho, me disse algo muito sábio há poucos dias atrás, como ele é um dos em grupos de risco e tem um conhecimento histórico razoável (não é meu irmão historiador) ele me chamou a atenção de uma fator de risco muito maior do que eu e ele temos, a ignorância. Além dos evangélicos no geral, como dos ministros do atual governo com seu chefe, a ignorância tem mostrado uma verdadeira aliada do Coronavirus, mas esta ignorância não pode ser restrita a estes grupos, pois deve ser expandida a um grupo que assume importância nesta nova peste da humanidade, os jornalistas.

Nas boas redações dos jornais do século passado existiam os jornalistas especialistas em ciência, deveriam ser seres exóticos na massa da ignorância científica que pululavam nas redações, entretanto tinham capacidade de conversar com acadêmicos ou técnicos de áreas científicas, nos dias atuais, os jornalistas que dão cobertura do caso da atual pandemia, não tem a mínima capacidade de interpretar os dados da mesma. Posso dar um exemplo, logo no início da pandemia comecei a pegar os dados de infectados e mortos na China, plotei simplesmente no Excel para divulgar numa espécie de Vlog que mantenho no Youtube, porém quando vi com um pouco mais de uma semana, ainda em janeiro que o crescimento era exponencial nem tive a coragem de publicá-los, devido a isso atrasei em poucos dias o vídeo que coloquei em meu Vlog (Coronavirus e um Estado sendo desmontado pelo governo Bolsonaro. O que nos espera? https://youtu.be/r-RQPbeP3Jg  coisa que só fui publicar em 29 de janeiro, que me arrependo amargamente). Porém nos dias de hoje, várias instituições acadêmicas ou mesmo de grupos de voluntários publicam dia a dia a evolução da pandemia, entretanto os jornalistas se atêm a olhar o número de casos no dia, apesar de nestes mesmos sites públicos são traçadas curvas que podem ser colocadas com eixos lineares ou logaritmos. Estas curvas se existissem alguns jornalistas que soubessem matemática do segundo grau, poderiam ser um excelente instrumento de análise e de explicação do fenômeno, porém eles como simplesmente nem sabem que uma curva plotada em coordenadas logarítmicas expressam o comportamento exponencial do crescimento da pandemia pela variação da declividade da curva logarítmica, ficam olhando como verdadeiros imbecis as curvas sem nem entenderem o que elas representam.

O pior de tudo é que a ignorância desses jornalistas é uma ignorância prepotente e mesmo quando estão entrevistando pessoas que possuem capacidade de análise, ficam perguntando platitudes, muito úteis para explicar os movimentos políticos ou mesmo futebolísticos do que para explicar os desafios que uma pandemia que estamos passando, como diria meu irmão, a ignorância mata.

Há inclusive nos sites “progressistas” ou mesmo de “esquerda” que criticam a falta de informação política do povo brasileiro, uma falta humildade para enxergar que a mesma ignorância política que criticam no povo brasileiro se reproduz plenamente na ignorância científica que os mesmos tem para explicar os cenários possíveis da progressão da pandemia. No máximo que falam é que o instituto científico não sei da onde previu que haverá um número X de mortos num determinado país, citando que estes estão fazendo um modelo complexo e cheio de variáveis que quando a situação progride como tem progredido pode ser explicado por simples curvas plotadas em um Excel em sua casa.

Ou seja, a ignorância dos comentaristas procura substituir a crença de religiosos, que procuram dizer que rezando deus protegerá a todos (como na idade média milhares de cidades não tivessem rezado ao máximo e não evitaram a peste negra), por uma afirmação de que o Instituto tal de uma universidade de um país que ninguém conhece disse divinamente que acontecerá isso e acontecerá aquilo.

Quando estava assistindo uma entrevista via YouTube de um jornalista veterano de uma pessoa por formação técnica poderia explicar a evolução da epidemia, este jornalista dava mais ênfase a perguntas que qualquer pessoa razoavelmente informada poderia responder, ou seja, platitudes, no lugar de aproveitar o conhecimento científico do entrevistado. Com o mecanismo de mandar perguntas pagando por número de caracteres tentei mudar a direção da conversa, porém para o jornalista era mais importante ver o que a Dona Maria estava perguntando do que passar a palavra ao técnico e fazer perguntas inteligentes, mas infelizmente como não fiz perguntas do tipo Seu João que ele entendia, simplesmente ainda fui considerado agressivo e não ser dotado de um espírito religioso naquele momento.

Voltando ao meu irmão, a ignorância vai ser o maior vetor de mortes nesta epidemia como as do passado.

Redação

6 Comentários

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  1. Nem li a artigo e já vou concordado com o cerne dele: enquanto jornalistas de direita ou “endireitados” valem-se da ignorância nata ou conveniente, os ditos de centro e esquerda o são por perigosas auto limitações, nas quais incluem-se a grave ignorância em História, quase desprezo, e a pouquíssima afeição em pesquisar.
    Um desastre!

    1. Quanto a regras gramaticais faço o máximo possível, entretanto os artigos que escrevo entre as duas horas da madrugada e as cinco, são grandes desastres (como esse). Já dar nome aos bois, não os darei, pois é falar de profissionais que dependem dos seus empregos, seria maldade.

  2. É isso mesmo.Estou cansado de ver os “estagiários” que se dizem ser jornalistas(fizeram algum curso que não exigia “pensar”). Não tem um mínimo de noção, só sabem entrevistar pessoas com o conhecimento mais baixo do que o seu….Vamos as pesquisas:um tal instituto,sala e banheiro,um dono com um.micro na mesa e uma mocinha de atendente,pronto,isso é a tal fonte, crível……
    Por isso a “galera” da (des) informação reclama dos leitores,hoje com smartphone e Google nas mãos….
    O embromês está em desuso.

  3. Tratando-se de deficiências de conhecimentos de jornalistas, aproveito para chamar a atenção para um outro detalhe, não necessariamente uma deficiência, mas talvez um comodismo: quando existe a necessidade de esclarecer determinado fato ou evento ou fazer entendê-lo ao seu público, as emissoras de rádio e de televisão preferem entrevistar muito mais alguns professores de instituições de ensino, do que as pessoas mais envolvidas com o tema.

    Esse comodismo parece que tem a ver com a dicção do entrevistado, pois professor que se preza sabe expor com bastante clareza seu ponto de vista, uma vez que vive disso. O problema é que boa parte dos professores entrevistados só fala o óbvio, não acrescentando muita coisa.

    Já quem convive diariamente com o tema a ser abordado poderia ilustrá-lo muito melhor.

    Isso, sem falar na incapacidade de um jornalista mediano saber a diferença entre milhão, bilhão e trilhão.

  4. Eu como professor fui entrevistado algumas vezes, quando o assunto era muito polêmico simplesmente as entrevistas eram editadas e retiradas as partes principais, ou seja, não é sempre que os professores falam somente o óbvio, porém falam muitas vezes o que não querem ouvir.

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