Armando Coelho Neto
Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.
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A Internacional Populista. A esquerda precisa, urgente, de estrategista, por Armando Coelho Neto

A regra da Internacional populista é inflamar paixões entre grupelhos, adicioná-los, mesmo à revelia destes nas redes sociais.

A Internacional Populista. A esquerda precisa, urgente, de estrategista

por Armando Rodrigues Coelho Neto

Sorria. Você está sendo manipulado. Entre mentiras e verdades, um vídeo editado, Moro mente ou distorce, a imprensa repercute. Bozo escrotiza temas importantes e Mourão surge como tecla SAP para tentar consertar. Uma notícia falsa aqui, outra ali, um link com algo de real. Portarias ministeriais publicadas com “erro de digitação”, o dito e o desdito. De repente, a verdade se transforma em mera questão de ponto de vista. Democrático, não?

Enquanto isso, atentados contra a democracia, agressões contra profissionais da saúde, da imprensa, contra educadores e populares. Ministros do STF ultrajados, atos pró-ditadura com apoio presidencial. Crimes comuns e de responsabilidade do “presidente” são escancarados. Há suspeitas de fraude num teste de Covid-19 do Bozo. No ar, uma campanha subliminar pró-genocídio. Em meio a uma briga entre quadrilhas, o ex-ministro Sérgio Moro trai seu parceiro de golpe e desembarca na PF de Curitiba como delator sem prêmio. Será? Meros pontos de vista.

Por menos que isso, no golpe de 2016 viaturas policiais atropelaram pessoas, policiais bateram, feriram, torturaram, soltaram bombas, prenderam pessoas.

Neste GGN, especulamos sobre manipulação com textos inspirados em documentários como O Século do Ego, Muito Além do Cidadão Kane, baseados nas tramoias de Steve Bannon, edições criminosas de matéria pela TV Globo.

Volto ao assunto. Por sugestão virtual de João Pedro Stédile, estou começando a ler Os engenheiros do caos, escrito por Giuliano Da Empoli – cientista político franco-italiano. Ele debate fake news, teorias de conspiração e algoritmos utilizados para disseminar ódio, medo e influenciar eleições. No Brasil, por exemplo, serviu para consolidar a fraude eleitoral capitaneada pela Farsa Jato, levando o atual “presidente” da República a comandar o desastre nacional.

Na obra, Milo Yiannopoulos (blogueiro inglês) é apontado como aquele que mudou o foco da transgressão. Nos anos 1960, as manifestações visavam atingir a moral comum e quebrar os tabus conservadores. Hoje, o nacional-populismo trilha sentido oposto: quebrar os códigos das esquerdas e do politicamente correto é a regra número um de sua comunicação. Arthur Finkelstein (judeu homossexual de Nova York), conselheiro de Viktor Orban (porta-estandarte da Europa reacionária) está em cena. Na lista, Steve Bannon – baluarte do populismo americano. Eles seriam engenheiros do caos que reinventam a propaganda na era dos selfies e das redes sociais.

Para transformar a natureza do jogo democrático, trabalham com o avesso das regras estabelecidas. O que soa como defeitos e vícios dos líderes populistas se transformam, aos olhos dos eleitores, em qualidades. A inexperiência serve de prova de que não pertencem ao círculo corrompido das elites. A incompetência é garantia de autenticidade. “Erramos” porque não somos do sistema. Olha o Bozo aí, gente!

Da leitura se deduz ser um jogo, Bozo e seus asseclas provocando tensões internacionais – assacar a China, a Venezuela, se imiscuir na questão Palestina na contramão da ONU. Soariam como prova de independência, ímpetos de soberania. Pelo mesmo algoritmo, as fake news seriam a marca de sua liberdade de espírito.

O autor lembra que, no mundo de Donald Trump, de Boris Johnson e de Jair Bolsonaro, cada novo dia nasce com uma gafe, uma polêmica, a eclosão de um escândalo. Mal se comenta um evento, diz o autor, o assunto já é eclipsado por um outro, numa espiral infinita que catalisa a atenção e satura a cena midiática.

“Se você quer fazer progressos em política, não contrate experts ou comunicadores. É melhor utilizar os físicos”, diz Dominic Cummings, diretor da campanha do Brexit. Assim, ideólogos e, cada vez mais, cientistas especializados em Big Data criam o jogo ilusório que permite o triunfo do novo populismo. Nos processos eleitorais, trabalham com dados capazes de atingir milhões de eleitores indecisos.

A regra da Internacional populista é inflamar paixões entre grupelhos, adicioná-los, mesmo à revelia destes nas redes sociais. Trabalha com emoções negativas (revolta, ódio, frustração, decepção) para garantir maior participação. Isso explicaria o sucesso das fake news e das teorias da conspiração. Abre espaço para a fúria latente que quer arma e protagoniza as cenas lá de cima.

Giuliano Da Empoli, autor da obra, alerta que, para combater a grande onda populista é preciso, primeiro, compreendê-la e não se limitar a condená-la. Ela se alimenta de ingredientes irracionais como a cólera em seios populares, que se fundamenta em causas sociais e econômicas reais. Anseios convertidos em dados operados por algoritmos. Por trás disso, uma grande máquina que, digo eu, tentamos operá-la de forma nanica por simples concessão de seus donos, na ilusão de resistência.

Na obra, é fácil ver o papel da Farsa Jato. Empoli diz que a Itália do início dos anos 1990 inaugurou a interminável era da rejeição às elites e da fuga da política. A Operação Mãos Limpas, a pretexto de implantar a nova ordem moralista, quis acabar e demonizar a classe política. Líderes foram presos, outros fugiram para o exterior, partidos políticos tradicionais desapareceram. Aquilo, diz ele, já ali era uma abordagem populista. Juízes contra as elites corruptas se transformaram em políticos, fundaram partidos. O caminho trilhado por Sérgio Moro é coincidência?

Os italianos saíram em busca de elites alternativas para governar. Os políticos profissionais (de forma justa ou não) foram desacreditados, viraram corruptos e incompetentes. Surgiu o mito de uma “sociedade civil” virtuosa e não corrompida, até aparecer Berlusconi para dizer que o país deveria ser gerido pelos empresários, gestores (Olha João Dória aí, gente!). O país deveria ser gerido pelos “verdadeiros produtores da riqueza do país” que, lógico, não seriam os trabalhadores (Olha o Guedes aí, gente!).

A internacional populista avança. Precisa ser combatida. Um controvertido poeta português disse no passado que ao nascer as frases que salvariam a humanidade já estavam prontas. Só faltava salvar a humanidade. A obra Engenheiros do Caos, entre outras, estão fartas de diagnósticos na leitura do caos instalado no País. A esquerda precisa urgente de estrategistas, sob pena de naufragar. Unir esquerdas, criar frentes, comprar pastores (!?), reformular linguagem… Nessas horas, como faz falta um José Dirceu… entre outros, claro!

Armando Rodrigues Coelho Neto – jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.

Armando Coelho Neto

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.

11 Comentários

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  1. Prezado, esta galera responsável por estas espirais — que lembram as espirais “Durma Bem”, pois quando olhamos a ponta já queimou — tem muito dinheiro e posição. Ou seja: não tem cachorro de pouca pulga neste meio. Este status, aumenta muito a difículdade de combate-los no mesmo campo.
    Por esta razao, sou mais o corpo a corpo com o povão, utilizando o método Covid: cada um contamina rapidamente pelo menos outros dois com a verdade.
    O apoio destes canalhas nao tem base nos vagabundos pagos com pasta de amendoim que, com roupas da cbf e bandeiras dos eua e israel, se aglomeram na rampa do planalto. Os 30% resistentes nas pesquisas são sustentados na crença dos inocentes, diuturnamente explorada por mercadores da fé que empoleirados nas lideranças de algumas seitas neopentecostais promovem em seus sermões distorcidos a blasfemia de exaltar uma politica genocida.
    Desestabilizar bozo é facil; basta prender um filho. Ou todos, pois motivos parecem nao faltar. Porém, linterromper o processo de ódio e negação que se implantou apesar de mais dificil não é impossível; basta gerar uma pequena fratura na base que sustenta os 30%.
    Este é o desafio, que acho nao ser apenas da esquerda, mas de qualquer brasileiro que entenda a democracia (a do povo) como o único sistema válido.

  2. A engenharia de dados com suas ferramentas de acesso e identificação de perfis, monta grupos e od vai sutilmente no início, moldando seus juízos de valor. Isto tudo graças a necessidade humana de se apoiar no pertencimento.
    Há muito mais do que engenharia de dados aí, mas profissionais habilidosos, da área de entendimento da psique humana, e conscientes que são, se revelam os monstros encarnados de pretéritas literatura de ficções.

  3. Parabéns caro Armando Coelho, por trazer a tona, esse tema das esquerdas do Brasil.
    Infelizmente, o povo brasileiro além de experimentar a desumanidade neoliberal e sofrer com o egoísmo e com as maldades da direita do país, tem que tolerar também, uma esquerda sem unidade, sem ideias e sem estrategistas e pior, sem um Projeto Único de Governo Democrático de Desenvolvimento Pleno e Sustentável para o Brasil, que todos defendam e sejam capazes de discutirem e convencerem o povo.
    Quanto a nós brasileiros, com a CF que temos, que é uma das melhores e mais humanas do mundo, poderíamos ser o povo mais desenvolvido e mais feliz da terra mas, nos falta fraternidade, dignidade, sentimento de respeito a à pátria e de consciência cidadãp; nos falta amor e respeito ao ser humano e à natureza; nos falta amor à pátria e respeito ao estado de direito democrático; nos faltam ética responsabilidade e respeito à CF e às instituições democráticas, pelos ilustres cidadãos dos 03 Poderes, eleitos pelo povo ou nomeados nos termos da CF.
    Também nos faltam um Plano Estratégico de Desenvolvimento Pleno da Nação Brasileira, que leve em conta as peculiaridades regionais e foquem no fortalecimento do mercado interno, na eliminação das desigualdades, da pobreza e da miséria e com visão de futuro, transforme o Brasil de fato, numa grande e respeitável nação;
    Nos faltam também, coragem para ousar e valorizar o trabalhador brasileiro com um Salário Mínimo Justo que, partindo-se do equivalente a U$ 400,00, se projete chegar no fim de 04 anos, a pelo menos, U$800,00 dólares americanos;
    Nos falta seriedade para compreendermos que, uma Política Pública com foco nos Artigos 3°, 4°, 5° e 6° da CF, dentre outros, jamais poderiam ser atacadas por quem quer que seja, sem que esse, fosse punido na forma da CF mas, sim, essas Políticas Públicas podem sim, serem aperfeiçoadas sempre que necessário, para atenderem interesses do povo e do país e não, interesses estranhos;
    Nos falta o povo entender e ter consciência de que o poder constitucional é seu, conforme o Parágrafo Único do Artigo 1º da Constituição Federal e que, todas as autoridades e demais servidores públicos, são seus servidores e, existem, para promoverem e garantirem o seu bem-estar, a paz social, a justiça imparcial ágil, a segurança pública e a soberania do Estado Brasileiro;
    Finalmente etc, nos falta justiça imparcial em tempo real, isso, é sim, o nosso país o Brasil, historicamente e real, na atualidade.
    No Nordeste se, especialmente em algumas paragens do Ceará, existe um ditado sábio para se tomar decisões frente a assombrações, que diz o seguinte:”se ficarmos parados o bicho pega, se corrermos o bicho come mas, se nos unirmos prá nos defendermos, o bicho foge”
    São essas, as nossas considerações e sugestões sobre o assunto da matéria com foco, na realidade brasileira.
    Sebastião Farias
    Um brasileiro nordestinamazônida

  4. Caramba, para escrever um texto desses precisa ter muito estofo e ter uma “capilaridade” abissal por assuntos que são vastos, pois para chegar a tal ponto e trazendo tudo isso, dessa magnitude com tamanha clareza somente sendo Armando Rodrigues Coelho

  5. Mas indo ao assunto de sempre, hoje vislumbramos uma necessidade mais que URGENTE de união factual entre todos da esquerda. Um novo partido? Como acabar com tamanhos sectarismos? (Não somente partidários, mas entre os movimentos e a própria população). Como seria uma comunicação unificada e direcionada nesse sentido? Os dirigentes dos partidos fariam algum movimento nesse sentido? Realmente gostariam disso? Que sanha distópica seria essa de liderar sem a corroboração e suporte de outros partidos. Vejo tudo isso como as investidas dos descobrimentos, com suas naus de países diversos, cada um hoje reivindicando ter chegado às Américas primeiro e ainda nada efetivamente se sabe quem foi o primeiro a pisar nas terrinhas “d’além maire”. Precisamos mesmo construir uma identidade unificada, primeiramente, com manutenção de uma cultura sólida e unificada. Isso leva tempo. Somente vemos essa força entre os cubanos e venezuelanos, nesse sentido… Tem muita terra batida para caminhar, pois enquanto a direita demonstra já estar pisando em Marte e a esquerda não ultrapassou nem o limite de seu próprio ego.

    1. André Bogdam, parabéns por sua observação e visão, em relação as esquerdas brasileiras.
      Em nosso comentário anterior, publicamos esse ditado nordestino, para incentivar os líderes das esquerdas raciocinarem, olharem para dentro de si, se projetarem no contexto político brasileiro e avaliarem suas possibilidades individuais e aí, acordarem para a realidade. Se individualmente não vencerão, por que não, juntos?
      TAÍ a dica:”se ficarmos parados o bicho pega, se corrermos o bicho come mas, se nos unirmos prá nos defendermos, o bicho foge”
      Sebastião Farias
      Um brasileiro nordestinamazônida

  6. Gostei do “comprar pastores”. Não deve ser dificil!
    Mas os democratas, progressistas, as esquerdas, precisam elaborar com os intelectuais que estudam a atualidade (temos varios), estratégias para mudar o rumo do jogo da extrema direita. Senão vamos continuar por bom tempo gritando “olha o lobo” e poucos acreditando.

  7. Parabéns pela frequente explanação da clareza dos fatos . Até quando teremos de ser espectadores desse circo de horrores e expectadores de medidas urgentes ? As receitas são muitas mas o bolo insiste em sair solado a cada fornada…

  8. Excelente texto do Armando

    Estou lendo, esse texto não é para iniciantes em leituras políticas. Tô tentando entender o que estar nas entrelinhas até PQ estou exercitando a leitura subliminar…

    No mais concordo com o Sebastião Farias:
    “se ficarmos parados o bicho pega, se corrermos o bicho come mas, se nos unirmos prá nos defendermos, o bicho foge”
    Quanto ao André Bogdan penso que é verdade, na Esquerda observamos mesmo uma briga de Ego é como se fosse no Mundo Animal, cada grupo defendendo o seu pedaço, deixando para trás a união tão necessária em tempos de PSICOPATAS e/ou de Milícias no PODER …
    É isso: #ForaBolsonaro?
    ##ForaJuizecoladrão?

  9. Excelente texto do Armando

    Estou lendo, esse texto não é para iniciantes em leituras políticas. Tô tentando entender o que estar nas entrelinhas até PQ estou exercitando a leitura subliminar…

    No mais concordo com o Sebastião Farias:
    “se ficarmos parados o bicho pega, se corrermos o bicho come mas, se nos unirmos prá nos defendermos, o bicho foge”
    Quanto ao André Bogdan penso que é verdade, na Esquerda observamos mesmo uma briga de Ego é como se fosse no Mundo Animal, cada grupo defendendo o seu pedaço, deixando para trás a união tão necessária em tempos de PSICOPATAS e/ou de Milícias no PODER …
    É isso: #ForaBolsonaro?
    ##ForaJuizecoladrão?

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