A intrigante mente do aluno universitário, por Gi Oliveira

A intrigante mente do aluno universitário, por Gi Oliveira

Nos últimos dias tenho conversado com alguns estudantes universitários e percebi algo intrigante: a grande maioria desses jovens ainda não atua no mercado de trabalho para o qual está estudando e não se deu conta da necessidade de desenvolver uma estratégia de carreira.

Vou ser mais clara: a pessoa sai de casa (ou do emprego) e vai para a sala de aula com a mesma disposição de quem vai ao cinema. Não demonstra a mínima preocupação com o tema da aula, não procura saber o assunto específico a ser tratado naquele encontro, não tem dúvida, curiosidade ou algo a acrescentar. Chega no horário previsto apenas se o professor conferir a presença com a infame “chamada” e só mantém a atenção se o assunto “cair na prova”.

Aulas noturnas recebem alunos cansados por um longo dia de trabalho, ou chateados por estar perdendo um capítulo da novela ou série preferida. As vestimentas são um capítulo à parte. Se a aula for pela manhã, a escolha pode recair sobre um par de chinelos de dedos combinado com bermuda e camiseta. Na versão feminina temos um microshortinho jeans ou um vestido de veraneio. Tudo bem à vontade. A noite podemos ver looks de baladas, futebol ou novamente as despretensiosas havaianas.

Arrumar-se para quê? Pesquisar o quê? O professor é pago para isso, para ler os livros e trazer à aula mastigado o que interessa saber. É como um processador de informações: pega tudo o que há para ser dito, passa por sua crítica peneira e entrega o que é relevante neste encontro enfadonho chamado aula. Se algum colega faz diferente e se interessa pela matéria, é logo taxado de puxa-saco e fica mal visto pelos demais. Quem ousa ir mais adequadamente trajado é vítima de piadinhas sobre festas, exames de saúde e coisas do tipo.

Mas quer saber o que me intriga? Por que um ser racional sai de sua casa para encontrar-se com uma fonte de conhecimentos, com a possibilidade de conhecer outros mundos, novas formas de pensar e agir e simplesmente não consegue reconhecê-la quando está bem a sua frente? Se é possível passar duas, três e até quatro horas diante de um manancial de informações, por que rejeitar essa oportunidade, dia após dia, por no mínimo quatro anos?

Parece-me tão óbvio que aquela pessoa ali adiante, detentora do título de professor, também pode ser a responsável pela indicação para uma sonhada vaga no mercado de trabalho, que fica difícil acreditar no desprezo com que é tratada diuturnamente. Sim, porque este texto trata exatamente disto: O aluno está pagando (em forma de impostos ou de mensalidades) para ocupar uma carteira e apenas levar um diploma ao final do curso? Não quer ter uma carreira? Um emprego ou um negócio próprio? Por que não pensar no professor como um olheiro? Ele pode ter a chave para abrir a primeira porta.

O batido discurso de que as faculdades não formam profissionais porque os cursos são apenas teóricos precisa ser esclarecido: As faculdades precisam primeiro apresentar os institutos, os conceitos e conteúdos para que o aluno possa identificar quais teorias e ferramentas serão úteis nas situações práticas. Não dá para fazer um bolo sem identificar quais são os ingredientes que o compõem. Estamos vivendo tempos de muita velocidade e pouca assimilação. Aprender fazendo pode parecer mais divertido, só não é o mais eficiente quando se sabe que outros já experimentaram diversas fórmulas e podem nos ajudar a encurtar os caminhos e nos poupar das frustrações do fracasso, apenas com uma leitura ou uma audição atenta às palavras do professor.

A dica de hoje para esse aluno: aproveite que já está ali, que coincidentemente o professor também está presente e que passarão algum tempo juntos e procure saber alguma coisa sobre o seu curso ou aquela disciplina, mesmo que não “caia na prova”, porque essas informações e o seu interesse talvez possam lhe ajudar a ter uma carreira, a “subir na vida”!

Gi Oliveira é Consultora de Imagem Profissional

Redação

2 Comentários

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  1. a intrigante….

    Isto faz parte do DNA do cidadão brasileiro. Décadas de falta de informação com mais décadas de ideologias baratas.  E o pior, estes garotos serão em breve a máquina propulsora do país. Para se ter empregos é necessário ter empregadores e empresas. Quanto mais próxima as profissões estiverem do circulo de comando maiores as remunerações. E para isto é necessário as empresas serem nacionais. Caso contrário os centros de pesquisas  e profissionais capacitados virão do país de origenm da empresa. Mas nada disto realmente afeta as aulas nos barzinhos em volta das faculdades às quintas e sextas. Grande formção acadêmica. Estamos produzindo a  consciência nacional  

  2. Coração de estudante

    Francamente não mudou muito de minha época para ca. Falo dos anos 90. Acho que a unica diferença mais concreta era a indumentaria: ninguém ia nessa época à facul de havaianas nem de short…. De resto, todos mais ou menos antenados de que dali iria depender, em boa parte, seu futuro. Mas os jovens são mais ou menos assim mesmo, todas as gerações acham que a passada foi melhor que a presente… Mas vale sempre um texto, como esse, dando um toque para os estudantes se ligarem enquanto têm bastante tempo para ler e aprender.

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