A juventude se interessa por política porque se interessa pelo Brasil, por Pedro Gorki

Essas "coincidências" com o passado mostram o quanto estão atrasados nossos governantes. E nós, da UBES, não aceitamos ser robôs do mercado.

A juventude se interessa por política porque se interessa pelo Brasil

por Pedro Gorki

Não tem problema se você não se interessar por política. Mas saiba que será governado por quem gosta. A frase, de Platão, aquele filósofo grego, aluno de Sócrates, serve de contraponto à declaração do presidente que afirmou, ao dar posse ao novo ministro da Educação, querer para o Brasil “uma molecada que não se interessa por política”.

A declaração de Bolsonaro mostra o rumo que pretende seguir. Quer aprofundar a ignorância que reina em parte da população para governar sem questionamentos e aprofundar os retrocessos que já começaram desde que assumiu. Enormes retrocessos na educação e na cultura, dois pilares fundamentais na formação da minha e das próximas gerações.

No melhor exemplo do “faça o que eu digo mas não faça o que eu faço”, Bolsonaro grita que a “molecada” não deve se interessar por política mas seus três filhos vivem da política desde muito cedo. São três parlamentares, sendo que um se elegeu aos 17 anos. Porque os filhos dele podem se interessar por política, e hoje terem enorme influência no governo, e os filhos dos demais brasileiros devem ignorar o que acontece no país e cuidar apenas de suas vidas? Porque essa é a lógica de Bolsonaro. Tudo e o melhor para a elite. Nada para a população que depende das políticas públicas, entre elas a educação.

Admirador dos militares, Bolsonaro quer a volta do ensino tecnicista, o mesmo que a reforma feita pelos militares do golpe de 64 subordinou aos interesses econômicos

Em 1964, militares, empresários e pensadores implementaram mudanças na política educacional brasileira, bem aos moldes do pensamento do atual governo. Passaram-se 55 anos, estamos no século 21, mas as políticas e a forma de pensar do atual governo nos remete ao século passado ou anterior.

Essa história do “ensino tecnicista começou na ditadura militar e agora temos um governo que pretende aprofundar esse problema. Ao mesmo tempo em que defende que a juventude não deve se interessar por política, vai varrendo do ensino médio e das universidades públicas, o ensino de história, filosofia, sociologia. Essa política pode vir a formar técnicos razoáveis mas serão cidadãos sem a mínima visão de conjunto sobre os problemas do país, sem visão humanística. Essa política direciona a ação profissional para a classe média e a elite, num país com esmagadora maioria de pobres.

Em 1961, um grupo de empresários formou o Instituto de Estudos Políticos e Sociais (Ipes) decisivo para a derrubada do governo Jango e para a organização da política educacional do período militar. O Ipes considerava que os investimentos na educação eram essenciais para assegurar o aumento da produtividade.

No artigo “O legado educacional da ditadura militar”, Dermeval Saviani afirma que “em torno dessa meta, a própria escola primária deveria capacitar para a realização de determinada atividade prática; o ensino médio teria como objetivo a preparação dos profissionais necessários ao desenvolvimento econômico e social do país; e ao ensino superior eram atribuídas as funções de formar mão-de-obra especializada requerida pelas empresas”. Nada de pensar o país, exatamente como propões hoje o governo. Ou melhor dizendo, nada de pensar ou se interessar por política.

Ainda sobre as semelhanças com o passado, o professor Celso Carvalho conclui que o Ipes se dedicou a pensar como a educação poderia ser organizada de forma a ajudar os interesses dos empresários, subordinando assim, a política educacional aos interesses econômicos. Com base nessa ideia, em 1971 foi aprovada a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) que alterou completamente a estrutura da educação pública, abriu a educação para o ensino privado e obrigou o ensino médio a formar estudantes em cursos técnicos.

Essas “coincidências” com o passado mostram o quanto estão atrasados nossos governantes. E nós, da UBES, não aceitamos ser robôs do mercado. A juventude cumpre um importante papel ao pensar o Brasil. Por isso, vamos continuar nos interessando por política e por políticas que contribuam para que nosso país seja soberano, desenvolvido e com condições de oferecer um futuro melhor para sua juventude.

Pedro Gorki – presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas

Redação

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