A mão da tragédia conduzindo a política brasileira, por Sergio Saraiva

O que comove na morte de Teori Zavascki não é a morte em si. Homens morrem. O que comove na morte de Zavascki é a tragédia. Ou ainda, como a mão da tragédia molda a política brasileira.

A morte do ministro Teori Zavascki mudará a política brasileira. O Brasil seria um com ele à frente da relatoria da Lava Jato. Será outro, agora.

Teori Zavascki – juiz austero e experimentado era uma ilha de equilíbrio dentro do STF.

Os ministros do STF têm mostrado, em várias situações, facetas de suas personalidades que de modo algum tranquilizam a população. Alguns claramente partidários e boquirrotos, outros, extravagantes de várias formas ainda que formalmente enegrecidos em suas togas circunspectas. Outros ainda, simplesmente parecem frágeis demais ou influenciáveis demais para o cargo que ocupam.

Talvez o melhor elogio a Teori tenha vindo da boca de Romero Jucá: “um cara fechado”. Um dos “poucos caras ali”, no STF, com quem Jucá não mantinha relações de proximidade. Conhecendo minimamente Romero Juca, tal afirmação passa por atestado de idoneidade.

E de isenção, Teori não constava do grupo de “ministros” com os quais Jucá tramou o golpe para derrubar a presidente Dilma para “estancar a sangria da Lava Jato”.

Em relação à Lava Jato, o momento atual, quando se avalia as delações da Odebrecht que envolvem os verdadeiramente poderosos, entenda-se, os não-petistas, pede um magistrado experimentado em fazer frente ao poder.

Além de Zavascki, talvez somente Lewandowski tenha experimentado o que é isso. Quando do julgamento do “mensalão”. Zavascki pagou o preço de ter feito com que o juiz Moro atentasse-se ao devido processo legal.

Teve a si e à sua família perseguidos por celerados. Devia tê-los mandado prender, não fez. Mas manteve-se firme. Essa firmeza nos fará falta neste momento.

Porém, o que me comove é a tragédia. Como mais uma vez a tragédia molda a política brasileira. E vou buscar na memória outro momento crucial onde a tragédia moldou o Brasil.

A morte de Tancredo Neves. O Brasil não teria sido o que foi e talvez o que é se Tancredo tivesse governado. Dúvidas quanto a isso são difíceis de ter, basta lembrar que, com Tancredo vivo, não teríamos Sarney como presidente. Dúvidas quanto a outro Brasil que teríamos?

Agora a morte de Teori. Quem o substituirá na relatoria da Lava Jato? Um ministro indicado por Temer. Mas Temer é um dos implicados na Lava Jato. Temer escolherá seu próprio juiz. Um absurdo somado à tragédia tornando a ainda mais trágica.

Poderia se dizer que Joaquim Barbosa, indicado pelo PT, foi um juiz duríssimo contra o próprio PT. Mas não, aqui a ordem dos acontecimentos é tudo. Barbosa foi indicado antes para julgar depois. O juiz de Temer será indicado posteriormente a Temer ser envolvido na Lava Jato.

Alguém espera o republicanismo de Lula em Temer? Temer é tão republicano quanto FHC. Basta ver as indicações de FHC.

Que outro ministro atual do STF tem a têmpera de Zavascki para homologar as delações que envolvem alcunhas como o “Santo”, o “Careca” e o “Mineirinho”?

Uma nova política depende disso. Preocupações que me vêm à mente. A tragédia de Tancredo nos levou à tragédia de Sarney.

Uma nova política dependia de aonde nos levaria as indignações de 2013. Levou-nos ao golpe e a Temer.

A tragédia de Zavascki nos levará aonde?

 

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Redação

8 Comentários

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  1. O que me comove mesmo é como

    O que me comove mesmo é como o PSDB tem “sorte”.

    Documentos enviados do exterior sobre o trensalão, são inadvertidamente arquivados na pasta errada, gerando anos de atraso e colaborando para a prescrição dos processos.

    15 mil caixas de documentos do metrô de São Paulo viraram fumaça em um incêndio criminoso provocado por 9 mascarados em um galpão em Itu, onde os documentos estavam guardados.

    O policial Lucas Gomes Arcanjo, que fazia denúncias contra Aécio Neves, “se suicidou”, após ter sido vítima de QUATRO atentados.

    Agora, o juiz que estava prestes a homologar várias delações que atingiam em cheio não só o PMDB como seu aliado, o PSDB, morreu em um acidente aéreo.

    Esse partido deveria se chamar Partido Sortudo Do Brasil.

  2. Prezado Sergio, o Teori podia

    Prezado Sergio, o Teori podia ser tudo isso que tu arrolastes, mas para mim ele já entrou para a história como o resposável por 50% do famigerado golpe que afastou uma presidente legitimamente eleita e honesta. E olha que nunca votei nela; mas não abro mão do legalismo. Os outros 50% são do gânster cunha e sua trupe.

  3. Lamento sua morte e tinha por

    Lamento sua morte e tinha por ele simpatia. Mas fato é que ele acovardou-se diante da pressão, como todos os outros. Mas não se pode negar que teve atitudes corajosas aqui e ali, e era o mais indicada para estar naquele papel.

    Só consigo ver três ministros ali que mereciam estar lá. Ele, Lewandovski e Marco Aurélio. Agora, mesmo assim, estão longe do ideal. 

    1. Teori….

      Este próprio portal já revela que as biografias nacionais não suportam meia hora de investigação. O Brasil é isto que o Brasil é, porque? Como podemois chegar até aqui à porta do inferno, se conduzidos por mártires? Um tal outro aqui citado, a quem confiavámos ser mais um “Salvador da Pátria”,  segundo seus próprios correligionários. “Rato de Gabinete”. Onde tinha um “Cargo”, estava. Nessa elite que confiamos a mudança da nação? ( “Loucura e fazer as mesmas coisa sempre de forma igual e esperar resultados diferentes”). O Brasil se explica. 

  4. Qual teria sido a diferença

    Qual teria sido a diferença se Tancredo não tivesse morrido?Sarney manteve o gabinete do Tancredo, não teria sido muito diferente.

    Diferença teria havido se tivessemos, desde o início, eleições diretas para presidente, projeto que foi boicotado, dentre outros, pela politicagem profissional de figuras como o próprio Tancredo.

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